Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Mulheres 1 - Rita Ribeiro (06'25'')

05/03/2007 - 00h00

  • Especial Mulheres 1 - Rita Ribeiro (06'25'')

Mulher, nordestina, e longe da efervescência cultural do eixo Rio-São Paulo. Rita Ribeiro confessa que não tinha lá grandes perspectivas de conseguir realizar seu trabalho como cantora. Mas o chamado à arte veio, e foi aquele envolvimento. Ela bem que tentou fazer diferente, mas não pôde fugir da constatação que o seu maior prazer era quando mergulhava no canto.

"Fui estudante de enfermagem, de veterinária, quase terminei essas duas faculdades. Tentei ser uma pessoa que seguia um padrão normal dentro de uma família grande, nordestina, longe desse circuito mais de ebulição artística que é Rio e São Paulo. Mas acabou que a música me tomou de cheio, foi me envolvendo, foi me envolvendo a partir dos 15 anos de idade"

Rita Ribeiro nasceu em uma família onde a música tem espaço destacado. Seu pai teve uma banda de pau e corda no interior do Maranhão, um dos seus irmãos também é músico. E foram os ares maranhenses que forjaram a sua essência cultural. Rita Ribeiro foi bailarina de grupo folclórico, fez vocal para artistas maranhenses e foi conhecer os cantores de bumba-meu-boi no interior do estado. A presença forte das culturas africana e indígena no Maranhão deixou marcas definitivas no seu trabalho.

" A influência de povos e de misturas é muito grande. Eu sempre fui cria de tambores da macumba maranhense, do tambor de crioula, do lelê, do cacuriá, dos ritmos típicos da cidade, você cresce com aquele som. Então, inevitavelmente, como diz o Itamar Assunção, que fez uma música pra mim há muito tempo atrás, ele dizia que tá na cara que tá no sangue. Realmente você carrega a sua bagagem cultural pra qualquer parte do mundo e eu não tenho interesse nenhum em me desfazer dela."

Rita Ribeiro considera que seu marco zero foi no ano de 89, com 23 anos, quando fez o primeiro show solo no Maranhão e largou as faculdades para seguir a carreira de cantora. De lá pra cá foram quatro discos, turnês no Brasil e no exterior, e uma indicação ao prêmio Grammy. Ela se confessa totalmente imersa na brasilidade da nossa música. Mas Rita se diz antenada em tudo o que rola na música, acolhendo diferentes influências. E isso é facilmente percebido no seu trabalho.

Em seu caminho como mulher, nordestina e artista, Rita Ribeiro conta que se deparou com preconceitos sim. Mas escolheu não dar importância a isso. Ela destaca que simplesmente seguiu como um ser humano em busca de objetivos. E para atingi-los, teve que fazer algumas escolhas, e uma delas foi não ter filhos.

"Durante muito tempo eu fui questionada sobre isso, porque a mulher foi feita para reproduzir, porque a mulher só se completa quando realiza a maternidade, e eu comecei a questionar isso e dizer que não. Eu me sinto muito completa dentro do que eu faço, a música me alimenta, meu trabalho me consome. E eu não preciso ser mãe, gerar um filho para me sentir totalmente completa. Tem gente fazendo isso a rodo e não tem consciência, então não é por aí."

Mas a ausência dos filhos não impede a cantora de reverenciar a mulher como uma figura geradora por natureza, e por isso mesmo, repleta do poder de criação. Rita Ribeiro se considera privilegiada por ter nascido em uma época em que as mulheres retomaram o seu espaço. E diz que a valorização da força feminina é um movimento de equilíbrio com o masculino, e não de combate.

" A mulher é uma figura central, ela é geradora por natureza, entendeu? Ela concentra as energias de geração, de essência, de formação. Eu fico sempre pensando como é que pode durante tanto tempo a mulher ter sido oprimida, tão colocada de lado como se fosse uma peça de cenário, quando na verdade é ela quem sempre determinou os caminhos da vida. E isso não tem nada a ver em diminuir o papel masculino. São opostos que se atraem, são figuras que se complementam, sabe?

Para Rita Ribeiro, a mulher não precisa de força bruta e nem de radicalismo para ocupar seu espaço. E faz um chamamento para que todas elas descubram o seu próprio poder.

"Fico muito feliz, que nós mulheres hoje estejamos em uma condição de consciência maior, apesar de saber que tem muitas mulheres que ainda não tem consciência de sua importância, de sua vitalidade, de sua força, de seu poder diante da vida, diante do mundo, um poder que não é arrogância nem presunção, é um poder consciente de quem vida, de quem força, de quem tem coragem."

De Brasília, Daniele Lessa

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