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O "milagre econômico brasileiro"

21/01/2007 - 00h00

  • O "milagre econômico brasileiro"

O Brasil já foi "o país do futuro" na imaginação das elites econômicas. O Brasil do início dos anos 70 era um país que ia prá frente, pregava o governo militar.

O país viveu uma excepcional fase do crescimento, no período que vai de 1968 a 1973, conhecido como "milagre econômico",

Na época, estava a frente da economia brasileira o ministro Antonio Delfim Netto, da extinta ARENA, e hoje deputado federal pelo PMDB de São Paulo. Ele foi o Ministro da Fazenda dos governos dos generais Arthur da Costa e Silva e Emílio Garrastazú Médici.

Como ministro, Delfim estimulou o crédito, deu suporte às exportações e promoveu o ingresso de capitais estrangeiros.

É o próprio Delfim quem comenta alguns números do período.

"O que caracterizou (o período) foi um amplo desenvolvimento, o maior desenvolvimento do mundo ocidental, com redução da taxa de inflação e com equilíbrio externo. Quando terminou, o governo Médici estava crescendo 14% ao ano, tinha uma inflação de 15% ao ano, uma exportação de 6 bilhões. O emprego crescia 3 por cento ao ano e o salário real crescia três por cento ao ano. Senão quem é que consumia o enorme crescimento de produção. Foram criados naquele momento 15 milhões de empregos. "

Mesmo descartando manipulações e ufanismos da época, os números do "milagre econômico" impressionavam. Em seis anos, o PIB cresceu mais de 88 por cento e as exportações mais que quadruplicaram.

A indústria automobilística, estabelecida no ABC paulista, liderava o milagre. A produção de automóveis por sua vez favorecia a indústria de autopeças e a produção siderúrgica. A produção de veículos triplicou e o Brasil exportou mais de 100 mil veículos a outros países.

Nessa época consolidaram-se também as grandes empreiteiras brasileiras, os grandes grupos empresariais privados e as empresas estatais brasileiras.

E ao contrário do governo de Juscelino Kubitschek, em que o crescimento foi acompanhado pelo aumento da inflação, na época do milagre, a inflação recuou para índices semelhantes aos do início dos anos 50.

O número negativo da época do milagre foi o da dívida externa brasileira, que evoluiu de 3 para 12 bilhões de dólares. O crescimento da dívida, no entanto, foi amenizado pela forte evolução das exportações.

Antonio Delfim Netto credita aquele excepcional momento da economia do país a um desejo em comum dos brasileiros.

"Havia um espírito de crescimento. O Brasil estava envolvido em um processo de crescimento que veio se acelerando a partir de 66, foi indo e atingiu seu auge em 1973. Todo crescimento é um estado de espírito. É muito mais do que tudo aquilo que os economistas dizem. Só cresce quem acha que pode crescer e que ousa crescer. Isso se perdeu. Hoje o Brasil é um país frouxo que tem medo de crescer."

O crescimento brasileiro também foi beneficiado pela fase de prosperidade dos países mais ricos do mundo capitalista naquele momento.

Parte da riqueza disponível no mercado financeiro mundial acabou sendo investida no Brasil em razão da alta margem de lucros oferecida no país e pela segurança econômica e política garantida pelo governo militar repressor.

O crescimento acelerado, no entanto, produziu distorções. A concentração de renda no país cresceu e o desenvolvimento acompanhado de repressão política provocou mais exclusão social. A máxima da época era "o bolo tem de crescer primeiro para depois ser dividido".

A fatia da população dos dez por cento mais ricos cresceu e aumentou o número dos que sobreviviam com menos de um salário-mínimo.

Esse aumento perverso da concentração de renda e da exclusão social foram efeitos do crescimento acelerado, admite o deputado Delfim Netto.

"Houve, isso sim, um aumento da desigualdade. Porque você estava com o crescimento muito rápido e aqueles que tinham o benefício da educação se beneficiaram muito mais do que aqueles que não tiveram benefício da educação.
A distância entre as pessoas cresceu. O importante é compreender que quando se acelera o desenvolvimento econômico, em geral, você aumenta a desigualdade. Quando se entra em estagnação, como estamos agora, é muito mais simples produzir uma redução da desigualdade."

Mas o sonho de ocupar uma posição no Primeiro Mundo começou a ruir com a primeira crise mundial do petróleo, em 1973. A economia do país foi atingida duramente e a crise colocou um ponto final no período de bonança.

O "milagre econômico" foi um momento em que o Brasil gostou do Brasil. Do Brasil visível, do Brasil longe da repressão e da guerra suja.

No próximo programa, o Câmara é História vai mostrar como a propaganda ufanista do governo Médici encobriu o período mais trágico do regime militar, em que a censura e a repressão política calavam a voz da oposição.

O programa Câmara é História de hoje teve como trilha sonora a música "Este é um país que vai prá frente", cantada por Os Incríveis.

Consultoria musical de Marcos Brochado
Produção, texto e apresentação: Eduardo Tramarim
Coordenação de Jornalismo: Aprigio Nogueira.

O Câmara é História é uma produção da Rádio Câmara retransmitida gratuitamente por centenas de emissoras em todo o país.

Produção, texto e Apresentação: Eduardo Tramarim

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