Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Cidadania 4 - Anticrime, em Brasília, apresenta aos jovens a arte para combater a violência - ( 05' 03'' )

11/12/2006 - 00h00

  • Especial Cidadania 4 - Anticrime, em Brasília, apresenta aos jovens a arte para combater a violência - ( 05' 03'' )

Idevaldo Soares dos Santos é um rapaz de 21 anos. Quando criança, vagava pelas ruas de Brasília, dormia na rodoviária, não voltava para casa. Um dia, foi chamado a participar da Escola do Parque, um projeto educacional voltado para meninos de rua. Ele reconhece que se adaptou melhor à realidade da escola do Parque do que aos colégios públicos tradicionais, por onde havia passado antes. A Escola do Parque promove ensino fundamental e faz parte da estrutura da Secretaria de Educação do DF, acolhendo meninos de rua. É lá que eles tomam banho, café da manhã, e lavam as roupas. A ênfase é dada ao ensino tradicional aliado a atividades lúdicas, como circo, e artes, o que agradava muito Idevaldo.

"A escola do parque para mim trouxe muitas oportunidades. Que eu não poderia ter aqui, claro, lá tem um ensino de arte muito forte. Acho que foi lá que eu aprendi a gostar de arte, eu levei minha vida mais para o lado da arte. Depois que eu comecei a gostar de arte eu passei a me expressar de outro jeito, a me expressar através da arte, sem usar violência, sem pichar as coisas. Tem gente que se expressa através da violência, eu vejo a arte como um meio de me expressar. Isso me deixa muito tranquilo, eu fico muito tranquilo quando pego um caderno escrevo desenho alguma coisa. Isso já me deixa satisfeito."

Com o tempo, Idevaldo e outros dois colegas pensaram que sua experiência com a arte poderia ser passada para outros jovens como eles. E as idéias foram se juntando até que se concretizaram no projeto Anticrime. O próprio Idevaldo tem dificuldade para explicar como sua experiência cresceu e tomou esse formato.

"Eu ficava lá em casa, ficava escrevendo coisas, que eu sempre gostei muito de escrever. Eu ficava inventando coisas, na verdade eu nunca pensei que isso ia dar certo. Eu ficava lá em casa viajando. Eu pensei: 'caraca, ia ser bem legal'. Mas só que eu pensei pelo lado hip hop, tivesse um lugar onde a gente pudesse cantar, pudesse grafitar, pudesse fazer isso para tirar as pessoas das ruas. As pessoas estariam num lugar fazendo arte, expressando a violência, tudo através da arte, não através das armas, essas coisas."

Num texto explicativo do projeto, Idevaldo fala que o Anticrime nasceu para "detonar" o crime, formando um exército de críticos que tem voz na sociedade e a Arte como veículo.

Célia Matsunaga já foi professora de artes de Idevaldo na Escola do Parque e também participa do projeto Anticrime. Ela diz que a proposta é continuar a experiência da escola do Parque, que acolhe as crianças só até o fim do ensino fundamental. E o anticrime é o espaço onde o jovem pode se expressar e fugir da realidade de drogas e violência, explica Idevaldo.

"Cabeça vazia é a oficina do diabo, eu acho que isso é a maior verdade mesmo ... A pessoa não tem o que pensar, vai pensar em fazer besteira, ganhar dinheiro, usar droga. Sei lá, a pessoa vai procurar alguma coisa para fazer, alguma coisa para canalizar a energia, porque nós jovens temos muita energia para gastar. E a maneira é gastar do jeito certo, eu acho."

André Gonzales tem 24 anos e conheceu o grupo quando estava no último semestre do curso de Desenho Industrial da Universidade de Brasília, há dois anos. Fez um projeto sobre o Idevaldo e sua identidade visual e ajudou o jovem a escrever um livro autobiográfico. Ele destaca a autenticidade do anticrime.

"O fato do Idevaldo, do Cristovam e Alcivando terem vivido essa situação da rua e de conhecer e reconhecer os problemas e terem vivido e aprendido uma série de coisas, isso dá uma autenticidade e uma verdade para as ações... da anticrime. Então é uma forma primeira de estabelecer um contato primeiro com essa realidade."

Por enquanto, Célia Matsunaga aguarda que o anticrime se transforme num programa de extensão da UnB, o que já está encaminhado. No espaço cedido para o projeto, Célia pretende criar primeiramente um laboratório de informática, para que os jovens possam cursar Educação de Jovens e Adultos à distância. O projeto Anticrime realizou em 2006 uma série de oficinas. Os trabalhos, que são cartões-postais, pinturas, desenhos, colagens, fotos e vídeos ligados à questão da violência no Brasil, produzidos por, aproximadamente, 40 meninos de rua, estão expostos numa mostra na Casa da Cultura da América Latina, em Brasília.
De Brasília, Adriana Magalhães.

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