Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Beleza 2 - Como está o ideal da beleza feminina hoje? ( 07' 48" )

04/12/2006 - 00h00

  • Especial Beleza 2 - Como está o ideal da beleza feminina hoje? ( 07' 48" )

NA SEGUNDA REPORTAGEM SOBRE A BUSCA PELA BELEZA, VOCÊ ACOMPANHA COMO AS MUDANÇAS SOCIAIS DAS ÚLTIMAS DÉCADAS AFETARAM O PADRÃO DO QUE É CONSIDERADO BONITO. A EXPLOSÃO DA INDÚSTRIA DA BELEZA TAMBÉM MUDOU A MANEIRA DE SE FICAR MAIS BELO

O século XX foi um momento de profundas transformações sociais. Em especial para as mulheres, que conquistaram definitivamente o seu espaço no mercado de trabalho. O movimento feminino em direção à independência financeira e a liberdade sexual mudaram os papéis historicamente relacionados a homens e mulheres. E com a mudança desses papéis, o padrão de beleza também se alterou.

No Brasil, até a década de 50, ser mãe e esposa eram as atividades femininas mais importantes. E no contexto desse papel gerador da mulher, o corpo de violão, com quadris largos, cintura fina e seios fartos, fascinaram os homens ao longo da história. Mas à medida que a mulher conquistava o mercado de trabalho, o seu corpo foi refletindo essa mudança. As curvas fartas foram sendo substituídas por um corpo mais magro e ágil, como aponta a historiadora da Universidade de São Paulo, Mary del Priore.

"Mulheres que têm que ser identificadas com aquelas executivas que vestem terninho, que botam calça comprida. Então essa coisa do quadril largo, do bumbum avantajado começa a perder espaço. Porque é óbvio que de terninho e querendo ser eficiente, quanto mais leve, mais ágil, mais masculina, mais a mulher daria, digamos, uma representação de eficiência no trabalho".

Além das representações da nova mulher que estava entrando no mercado de trabalho em funções que antes eram exclusivamente masculinas, o uso da pílula anti concepcional também atuou no corpo feminino, reduzindo o tamanho do quadril. Mas corpo feminino sinuoso como modelo de beleza sobrevive até hoje, ainda que os meios de comunicação e a globalização tenham mudado a estética desse corpo de violão. O exemplo moderno disso é a boneca Barbie. Mary del Priore explica que a Barbie e o surgimento das modernas academias de ginástica tiveram grande impacto no padrão de beleza de hoje. A Barbie loira, alta, com uma cintura finíssima, quadris grandes e seios fartos se espalhou por todo o mundo ocidental, criando um modelo difícil de atingir, mas cada vez mais buscado pelas mulheres. Ao lado disso, as academias de ginástica começaram a vender a idéia de que cada pessoa pode modelar o seu corpo da maneira como desejar.

"Essa moda da loira, magra, de seio siliconado, isso tem muito a ver com a barbie e com a chegada dessas academias de ginástica no Brasil. Tem a ver também com a crescente globalização, crescente mundialização, com a presença cada vez maior do cinema americano em terras brasileiras. A brasileira vai aderindo a esse projeto de ser uma loira, barbie, vitaminada, siliconada, tomando isso como paradigma de beleza, quando nós somos essencialmente morenas, baixas, bundudas, completamente diferentes desse modelo".

Nesse contexto, a antropóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mirian Goldenberg, aponta um outro marco que aconteceu nos anos 90: a valorização cada vez maior de mulheres que sobrevivem do próprio corpo. São modelos, atrizes e apresentadoras de TV loiras e magras que passaram a ter cada vez mais prestígio na sociedade brasileira.

"Aqui no Brasil, não só aqui mas aqui no Brasil isso é bem mais evidente, o sucesso das modelos, o sucesso das atrizes, das cantoras, das apresentadoras de tevê, essas pessoas passaram a ser modelos a serem imitados por outras mulheres que não são tudo isso, que são apenas mães, esposas, ou professoras ou enfermeiras. Mas essas mulheres passaram a ganhar tanto dinheiro e tanto prestígio na sociedade brasileira, que é esse o modelo que vem sendo imitado".

Mirian Goldenberg também lembra que brasileira não é tão magra, não é tão alta, não é loira, não tem o cabelo liso e nem a pele clara. A antropóloga identifica um movimento da mulher brasileira de querer copiar um modelo de beleza que não é nosso e que muitas vezes sequer é real, pois essas mulheres famosas se utilizam de todos os truques para parecerem mais belas do que realmente são. Maquiagem, penteados e até programas de computador ajudam a fortalecer o imaginário de uma mulher com o corpo perfeito. E para atingir esse modelo ideal vale tudo. O Brasil perde apenas para os Estados Unidos em número de cirurgias plásticas. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em 2004 foram realizadas 617 mil cirurgias, 59% delas para fins estéticos. As mulheres receberam 69% das intervenções, sendo que a lipoaspiração e as cirurgias nos seios estão no topo da lista. E mais: os adolescentes respondem hoje por 13% da clientela, o que mostra a ansiedade precoce diante da pressão pela beleza padronizada.

Para compor esse desenho que aponta uma busca desenfreada pela beleza física, o Brasil já é o terceiro mercado mundial em cosméticos e perfumaria, de acordo com números da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. No ano passado, o mercado brasileiro cresceu 34,2%, contra 8,2% de crescimento registrado no mercado mundial. Esses números mostram a intensidade da corrida pela beleza que a mulher brasileira vivencia hoje. A filósofa da Universidade Federal de Santa Catarina, Maria de Lourdes Borges, exemplifica essa situação. Atualmente ela mora na Alemanha, onde aponta que não existe a exposição do corpo feminino como acontece no Brasil. Maria de Lourdes lembra que na última vez que passou por São Paulo, viu uma propaganda de uma academia de ginástica que dizia: nesse verão não seja baleia, seja sereia. Para ela, esse tipo de apelo não acontece em outros países do mundo.

"Existe academia de ginástica aqui, obviamente, mas a propaganda é mais de uma vida saudável. Claro que a mulher vai buscar a academia para ter um corpo melhor, mas a propaganda é de uma vida saudável, conhecer pessoas, uma vida social um pouco mais interessante. Então não chega a escrachar assim: seja um objeto, não seja baleia, seja sereia, porque seria uma ofensa, eu acho. De certa maneira isso é uma ofensa".

A historiadora Mary del Priore lamenta que o Brasil esteja se dividindo entre os que têm dinheiro para bancar tratamentos de beleza e os mais pobres que apenas podem sonhar com esse modelo, com o agravante que somos um país de mulatos e mestiços completamente diferentes do modelo da beleza magro e loiro.

De Brasília, Daniele Lessa

O BRASIL SÓ PERDE PARA OS ESTADOS UNIDOS EM NÚMERO DE CIRURGIAS PLÁSTICAS. AMANHÃ VOCÊ ACOMPANHA O QUE AS PESSOAS ESTÃO FAZENDO PARA SE APROXIMAREM DO ATUAL MODELO DE BELEZA.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h