Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial ONU 5: A qualidade da educação no Brasil (05'44")

27/11/2006 - 00h00

  • Especial ONU 5: A qualidade da educação no Brasil (05'44")

NA ÚLTIMA REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE OS NÚMEROS REVELADOS PELO RELATÓRIO DE DESENVOLVIMENTO 2006 DA ONU, VOCÊ VAI VER QUE A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO NO BRASIL SE REFLETE NA POSIÇÃO BRASILEIRA NO RANKING MUNDIAL.

Os números do relatório de Desenvolvimento Humano 2006, divulgados pela ONU, no início do mês, são claros: 11,4% da população brasileira é analfabeta. Ou seja, 21 milhões de brasileiros não sabem nem mesmo assinar o nome. É como se toda a população do Rio Grande do Sul e do Paraná fossem analfabetos. Esses dados colocam o Brasil na posição 62 no mundo, quando se fala em alfabetização. Mesmo assim, o relatório destaca que educação é a dimensão em que o Brasil mais se aproxima dos países ricos e mais se distancia da média mundial, que é muito baixa. O professor titular da Faculdade de Educação da USP, Vítor Paro, lamenta que as pessoas esperem sair números para constatar a situação de nossa educação, quando a qualidade das escolas está escancarada na nossa frente.

"Parece que isso é mais importante do que ver os desgraçados dos nossos alunos, em condições péssimas de funcionamento das escolas. Basta sair ás ruas, entrar em alguma escola para ver o que está acontecendo. Nós mesmos temos estatísticas aí de milhões e milhões de alunos. Se você fizer uma observação da 1ª para a 4ª série do ensino fundamental, mais de 1 milhão e meio fica reprovada. Isso é altamente preocupante. Mas parece que o brasileiro só se preocupa quando existe um índice ou alguma coisinha exterior. Nós não estamos ainda podendo nos dar a esse luxo de ficar comparando com o exterior. Porque nós estamos muito ruins independentemente do que acontece no exterior"

Vítor Paro diz que o número de analfabetos brasileiros pode ser ainda maior, porque existem aqueles que apenas sabem assinar o nome e não podem ser consideradas alfabetizadas, na opinião dele.

"As pessoas não sabem ler e escrever. Por que 11% significa milhões de pessoas, dá um país da Europa inteirinho de pessoas analfabetas. Quando você fala dessas pessoas que sabem escrever o nome, e que não significa que sejam alfabetizadas, então o número é muito maior. Eu imagino que 95% da populaçao que sabe ler, não lê. Isso é mais dramático. Nós temos uma escola tão ruim, tão atrasada, que se propõe ensinar a ler, ela devia se propor a levar as pessoas a quererem ler"

O educador e sociólogo Pedro Demo concorda que a qualidade da educação não é refletida nessa porcentagem de 11% de analfabetos no Brasil. Ele diz que o Índice de Desenvolvimento Humano, que mede o analfabetismo, geralmente usa os dados de repetência e de evasão. Para Pedro Demo, essas informações são pálidas. Além disso, ele destaca que a categoria "anos de estudo", que também é levada em conta no relatório, não quer dizer muita coisa no Brasil.

"Porque uma criança que tem 8 anos de estudo, supostamente estaria na 8ª série. Muitas vezes ela está na 4ª, e sobretudo, somando o que ela estudou nas oito séries, não dá talvez duas ou três. Então isso desvirtua completamente os dados. Nós temos uma precariedade extremamente forte"

Pedro Demo não visualiza um movimento profundo em prol da educação, por parte do governo brasileiro. E diz o que pode ser feito para melhorar a qualidade da educação no Brasil.

"Alfabetizar a criança na 1ª série já, não deixar para a 2ª, 3ª e 4ª e vai até a 8ª e não resolve. xxx Cuidar dos professores, da formação original deles, que hoje é extremamente precária, cada vez mais, com cursos de 2 anos, um ano e meio, depois cuidar que eles, durante o exercício da profissão, estudem sempre, se renovem sempre, andem no passo do conhecimento inovador"

Margarida Nogueira Queiroz tem 58 anos e passou sua infância num sítio, no interior do Ceará. Ela estudou até a 4ª série de forma precária, porque conta que estudava seis meses e a escola acabava, daí o pai dela tinha que pagar professora particular. Ela lembra das dificuldades, pois chegava a caminhar seis quilômetros até a escola. Agora, é tudo diferente na opinião de dona Margarida, porque as crianças têm ônibus para ir à escola. Só não estuda quem não quer, decreta. Ela diz que nunca freqüentou biblioteca, só lia os livros que o professor utilizava nas aulas e nem se lembra quantos anos estudou no total. Mas quando perguntada se sabe ler, responde rapidamente.

"Menina, ave maria, eu sei ler tudo... Todas leituras, Não tenho nem inveja quase de quem tem segundo grau hoje... Eu sou alfabetizada, ave maria de eu ser analfabeta. Eu leio tudo, escrevo carta, faço tudo"

Ela reconhece que se tivesse estudado, teria outras oportunidades. Dona Margarida hoje é comerciante em Brasília e tem três filhos formados na universidade.

De Brasília, Adriana Magalhães

TERMINA AQUI A SÉRIE DE MATÉRIAS SOBRE O RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DIVULGADO PELA ONU. A REPORTAGEM FOI DE ADRIANA MAGALHÃES, COM PRODUÇÃO DE MÔNICA LION E LUCÉLIA CRISTINA, EDIÇÃO DE ANA DELMONTE E APRÍGIO NOGUEIRA. SE VOCÊ QUISER, PODE ACESSAR ESSA E OUTRAS MATÉRIAS PELO SITE DA RÁDIO. ANOTE O ENDEREÇO: WWW.RADIO.CAMARA.GOV.BR.

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