Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Transplantes de Órgãos 2: A fila de espera - ( 05' 07" )

30/10/2006 - 00h00

  • Especial Transplantes de Órgãos 2: A fila de espera - ( 05' 07" )

LOC: NA REPORTAGEM ESPECIAL DE HOJE, A REPÓRTER PAULA BITTAR CONVERSA COM ESPECIALISTAS SOBRE UM DOS MAIORES PROBLEMAS QUE O BRASIL ENFRENTA QUANDO O ASSUNTO É TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS: AS FILAS DE ESPERA.

Se o Brasil é o segundo maior transplantador de órgãos do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, porque mais de 60 mil pessoas ainda esperam por um órgão nas filas? Em 2005, de acordo com o Ministério da Saúde, foram mais de 14 mil transplantes de órgãos. Até julho deste ano foram quase oito mil. Apesar da curva crescente no número de transplantes de órgãos, o número de pessoas nas filas cresce em uma proporção muito maior. Em 2001, eram 43 mil. Hoje, já são 68 mil.

O médico nefrologista Rafael de Aguiar Barbosa é secretário da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, uma entidade científica que reúne os profissionais da área. Para ele, o Brasil tem muitos motivos para comemorar, quando o assunto é transplante. Entre esses motivos, a grande quantidade de transplantes feitos no país e o fato de termos o maior serviço público de saúde nessa área.

O médico ressalta, porém, que a ABTO percebeu que, enquanto o número de pessoas necessitadas de transplante aumenta, a curva de doação de órgãos tem diminuído. Para Rafael, o problema é que boa parte dos hospitais do país não conta com uma equipe determinada por portaria do Ministério da Saúde, para trabalhar pela captação de órgãos. Com isso, muitos órgãos que poderiam ser aproveitados, acabam perdidos.

"O que leva (pode levar) ao aumento dessas doações é a questão de estrutura hospitalar. Nós precisamos organizar melhor o Sistema Nacional de Transplantes, tem uma coisa que é básica que são os coordenadores intra-hospitalares de transplantes. Nós sabemos que o ministério tem atuado nisso, mas precisamos atuar numa forma mais precisa, garantir que realmente isso aconteça, que cada hospital acima de 80 leitos, que tenha os leitos de terapia intensiva, unidades de emergência, que esses hospitais tenham a captação de potenciais doadores."

Um outro ponto destacado pelo médico Rafael Barbosa é a necessidade de se trabalhar para diminuir a mortalidade do paciente no pós-transplante, que é de 25% no ano seguinte à cirurgia. Uma das necessidades apontadas pelo secretário da ABTO é a de se descentralizar as redes que fazem transplante no Brasil.

"O que a gente precisa melhorar, em termos de estrutura, é descentralizar um pouco o transplante da região Sul e da região Sudeste. Ou seja, criar pólos de transplante na região Norte, na região Centro-oeste, e no Nordeste. Precisa haver uma descentralização, e para isso é fundamental o papel do governo federal nessa questão"

O coordenador do Sistema Nacional de Transplante do Ministério da Saúde, doutor Roberto Schilindwein, concorda que alguns aspectos ainda deixam a desejar. Quanto à comissão intra-hospitalar, que deveria compor os hospitais e trabalhar pela captação de órgãos, o coordenador explica que o ministério vem capacitando profissionais para trabalhar na área.

"Essa comissão intra-hospitalar está sendo formada no Brasil de maneira descentralizada, já tivemos mais de 30 cursos, formando aproximadamente 2800 profissionais já treinados no país. Nós temos mais quatro cursos até o fim do ano, e dessa forma preparando dentro das instituições esse pessoal mais dedicado a essa área de planejamento e atuação nesse momento que é da doação de órgãos"

Schilidwein não concorda, no entanto, com a necessidade apontada pelo especialista da ABTO, de se descentralizar os centros de transplantes do Brasil. Para o coordenador do Sistema de Transplantes do Ministério da Saúde, a complexidade do serviço dificulta que ele possa ser espalhado pelo país.

"Esses serviços, é natural, pela freqüência da necessidade de uso desse serviço, que é menor, estejam em locais mais centralizados, para fazer parte de uma rede. Então não é pertinente, por exemplo, termos um serviço de transplante de coração pra uma região com população abaixo de dois milhões de habitantes. Seria um serviço que ficaria na ociosidade"

Apesar disso, o coordenador informou que o Ministério estuda duas possibilidades para o futuro: a de que o estado nordestino do Rio Grande do Norte passe a praticar transplantes de fígado, e que o Pará, na região Norte passe a realizar as cirurgias de transplante de fígado e de coração.

De Brasília, Paula Bittar

E NA REPORTAGEM ESPECIAL DE AMANHÃ, VAMOS FALAR UM POUCO DE UM CRIME ENVOLVENDO A NECESSIDADE DO TRANSPLANTE: O TRÁFICO DE ÓRGÃOS.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h