Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Jovens 5 - Da descoberta da sexualidade e do lado romântico da vida, à realidade (06' 58")

02/10/2006 - 00h00

  • Especial Jovens 5 - Da descoberta da sexualidade e do lado romântico da vida, à realidade (06' 58")

CHAMADA: NA ÚLTIMA REPORTAGEM SOBRE A JUVENTUDE BRASILEIRA VOCÊ ACOMPANHA ALGUMAS QUESTÕES QUE ENVOLVEM O SEXO E OS RELACIONAMENTOS. VEJA NA REPORTAGEM DE DANIELE LESSA

No fim das contas todo mundo gosta de um bom romance. Mas é na juventude, período de descobertas e experimentações, que esse interesse ocupa todos os espaços possíveis. E para os jovens de hoje, isso começa cada vez mais cedo. Pesquisa da Unesco realizada em 13 capitais e no Distrito Federal indica que a iniciação sexual dos meninos está acontecendo por volta dos 14 anos. Para as meninas não é tão diferente assim. A primeira vez tem acontecido ao redor do 15 anos. A coordenadora da pesquisa, Miriam Abramovay, que é do Observatório de Violência nas Escolas da Organização dos Estados Ibero-Americanos, destaca que essa juventude sabe o que quer e está antenada nas informações sobre sexo.

"Em geral o que a gente vê é que eles sabem. Eles sabem os métodos, sabem o que é a Aids, sabem porque eles tem que se cuidar. Não tem absolutamente nada que está escondido. E isso faz parte da vida deles, do cotidiano deles. Eles podem tanto namorar, como ficar, ter muitas namoradas como não ter. Eu acho que falta, se a gente falar em termos de falta, a questão do diálogo".

Miriam aponta que o diálogo sobre sexo e afetividade não flui com naturalidade nas escolas e nas famílias por dificuldades de comunicação ou mesmo por preconceitos de falar com os alunos e filhos sobre sexualidade e relacionamentos. Stefane Mesquita, de 17 anos, concorda com isso.

"Informação, hoje, todo mundo tem. O que falta dentro dos lares é os pais conversarem com os filhos porque um gosta do outro, esse desejo todo que vem em uma certa idade da gente, nessa velocidade toda de querer namorar, abraçar, beijar. Acho que falta é isso, não é tanto informação sobre anticoncepcional, gravidez na adolescência, essas coisas".

A pesquisa da Unesco indica que o método contraceptivo mais usado pelos jovens é a camisinha, seguido pela pílula anticoncepcional e a tabelinha. Em média, mais da metade dos entrevistados, em todas as cidades pesquisadas, disseram que usam preservativo em todas as relações sexuais. Julia de Almeida, de 21 anos, confirma que informação não falta, mas que nem sempre isso significa o uso da camisinha.

"Posso falar bem abertamente? Atire a pedra quem nunca teve uma relação sem camisinha. Conheço muitas pessoas que têm informação, estudam em boas escolas, têm pais que conversam, mas que na hora nem sempre exigem ou lembram, é mais irresponsabilidade mesmo, conheço muita gente".

Julia é estudante universitária e pretende se casar com o namorado daqui uns três anos. Os dois já estão juntando dinheiro para isso. Ela incentiva as moças a aproveitarem a juventude, viverem as aventuras da paquera e a liberdade conquistada pelas mulheres nas últimas décadas. Mas assume que formar uma família e ter filhos tem grande importância na sua vida.

TRILHA

Um dos grandes mitos que cerca a juventude é a busca do prazer a qualquer custo, mas a pesquisa da Unesco aponta que a maioria dos jovens não vive essa corrida desenfreada pelo prazer. Em média, 70% dos adolescentes afirmam que tiveram relação sexual com apenas um parceiro. Na maioria das capitais pesquisadas, 80% recusam a perspectiva da existência do amor sem fidelidade. A socióloga Helena Abramo, uma das coordenadoras do estudo Retrato da Juventude Brasileira, enfatiza que para muitos jovens não é o sexo que aparece em primeiro lugar.

"Por incrível que pareça, você tem mais interesse pelas relações amorosas do que pela sexualidade em si, contraditando uma percepção generalizada que a preocupação dos jovens é muito mais vinculada à sexualidade do que às relações afetivas. E curiosamente, entre os meninos essa porcentagem é ainda mais alta".

Leandro Guimarães, da altura dos seus 16 anos, fala que homem gosta de galinhagem sim. Mas admite que ter uma namorada fixa tem atrativos além do sexo, e diz que é bacana quando existe alguém para se estar mais de perto, uma companhia não só para a farra, mas para quando se está triste ou chateado. Mas Leandro diz que a relação com as mulheres hoje em dia está complicada. As moças estão tomando a iniciativa na conquista com toda a intensidade e, para ele, às vezes as meninas perdem a medida.

"Quando exagera demais nenhum homem gosta. Tem vez que você sai para uma festa e tem umas menininhas que querem se mostrar para ver se os meninos vão sempre chegar nelas, elas vão com umas saias de três dedos, um decote e tal. Aí também é se mostrar demais e acaba ficando feio".

TRILHA

O comportamento feminino mais ousado entre as jovens é um fenômeno recente. Hoje as meninas desfrutam do direito de tomar a iniciativa, e são muito ativas na paquera. Mas essa situação pode chegar a extremos e desperta críticas mesmo entre as moças, como explica Juliana Dourado, de 18 anos.

"Não respeitam mais se o homem tem namorada, se não tem, e acaba ficando uma coisa meio bagunçada, porque elas começam a dar em cima de todo mundo sem respeitar o direito dos outros. Acho que o homem acaba se intimidando com isso, pelo fato dela ser tão agressiva, arrojada de chegar. Aí na hora de namorar eles preferem eles preferem uma que é mais quieta, mais calada, e que eles é que foram nelas e chegaram".

Parece que essa geração de jovens convive com um paradoxo nos relacionamentos afetivos. A liberdade e ousadia são comemoradas, ao mesmo tempo em que antigos papéis ainda são valorizados, como o do homem como conquistador e o da mulher como conquistada. O tempo dirá como o antigo e o moderno irão chegar a uma harmonia.

De Brasília, Daniele Lessa

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

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