Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Educação 2 - Especialistas defendem modelo de educar diferente do tradicional (08' 20")

28/08/2006 - 00h00

  • Especial Educação 2 - Especialistas defendem modelo de educar diferente do tradicional (08' 20")

NA REPORTAGEM ESPECIAL DE HOJE, VAMOS MOSTRAR A IMPORTÂNCIA DE ESTIMULAR AS CRIANÇAS A QUEREREM APRENDER. VAI CONHECER EXPERIÊNCIAS E OPINIÕES DE QUEM ACHA POSSÍVEL UM MODELO ESCOLAR DIFERENTE DO TRADICIONAL E DE COMO A ESCOLA É CAPAZ DE TRANSFORMAR VIDAS.

"A 1ª função da escola, o 1º propósito que ela tem que ter é levar o aluno a querer aprender, porque se ele não quiser, não aprende."

A opinião que você acabou de ouvir é de Vítor Paro. Estudioso da educação há 30 anos, professor aposentado da Faculdade de Educação da USP, Vítor afirma categoricamente que, se o aluno não quiser aprender, ele não aprende. Mas, será que a escola e as práticas em sala de aula têm essa capacidade de estimular os alunos a quererem aprender? Vítor Paro continua suas reflexões e diz que o homem, além de conhecimento, produz valores e crenças, o que deveria ser prioridade na escola, tão importante quanto a transmissão de informações.

"A escola deveria ser um centro cultural, em que se aprendesse sim a ler, escrever, a contar, mas que se aprendesse a cantar, dançar, a sorrir, a amar, a falar sobre sexo, a falar sobre política, a discutir os destinos da humanidade, a saber o quanto dependo do destino de cada um dos outros, ou quanto cada um de nós dependemos da humanidade inteira. Aí sim, discutir claramente com prazer, satisfação, a solidariedade humana, o companheirismo, o respeito aos outros, o respeito à sociedade, conviver em sociedade, como não jogar papel no chão, como parar na faixa de pedestre, como não fumar, como superar todas as desgraças que temos na sociedade. Mas para fazer isso, a escola tem que ser antes de tudo prazerosa. e a nossa escola não é."

O professor adjunto do departamento de psicologia Escolar e Desenvolvimento da Universidade de Brasília, Áderson Luís Costa Jr., diz que a aula tradicional, em que o professor fala e o aluno escuta, é apenas uma dentre várias alternativas de ensino. Mas ele acha que a criança deveria ser instigada a buscar o conhecimento de uma forma mais afetiva do que vem ocorrendo na maioria das escolas hoje. O professor Áderson Costa defende o sistema em que as crianças são incentivadas a descobrir o conhecimento por conta própria.

"O conteúdo não é simplesmente apresentado pelo professor e a criança tem que reproduzir, mas é um conteúdo em que a criança vai descobrindo a medida que ela explora um ambiente novo. Aí o professor se torna um facilitador do conteúdo que a criança está descobrindo."

A transição da pré-escola para o ensino fundamental é geralmente um período drástico para as crianças. Afinal de contas, antes, a vida era brincar. Quando chegam à 1ª série, crianças de 6 e 7 anos são avisadas que têm que estudar e fazer provas. Foi assim na vida de Gabriel, de 7 anos, que entrou no ensino fundamental no início do ano.

"A gente tem dever de ciências e só 2ª e 6ª. 2ª a gente tem 3 aulas, e 6ª a gente tem uma aula."

Ele diz que não é sempre que a professora deixa as crianças brincarem, apesar de haver brinquedos em sua sala.

"Só quando tiver terminado os deveres mesmo. E aí, talvez ela deixa."

O educador Vítor Paro fez uma pesquisa sobre reprovação, e observou o primeiro dia de aula da 1ª série do ensino fundamental numa escola. Ele conta o que viu.

"No 1º dia de aula a professora falou 490 psius, só no 1º dia de aula. Mas uma coisa foi comum, com todas as professoras: todas elas, praticamente, ao entrar nas classes, as crianças, com 6, 7 anos de idade, ouviram da professora: ´crianças, silêncio, que aqui não é mais brincadeira, aqui é sério, aqui não é mais pré-escola´. Quer dizer, não dá para pensar que isso é uma escola. Como é que você vai preparar para a vida proibindo de viver?"

O professor de psicologia Áderson Luís Costa Jr. defende que a transição entre a pré-escola e o ensino fundamental seja mais natural. Ele diz que a mudança brusca pode afetar o interesse da criança pela escola.

"Essa passagem deveria ocorrer de uma maneira mais natural. A escola poderia, mesmo na 1ª série do ensino fundamental, mesclar atividades de ensino e aprendizagem com atividades mais lúdicas, mais próprias do processo de desenvolvimento natural de uma criança."

Existem vários exemplos de escolas que tentam subverter a lógica dominante, escolas que acreditam que educação é muito mais do que simplesmente reproduzir conhecimento. O oficial de projetos em educação do UNICEF na Amazônia, Marcelo Mazzoli cita a Escola Wanano, que fica no alto Rio Uaupés, na Amazônia. Lá não tem repetência, nem evasão. Mazzoli explica por quê.

"A escola Uanano, por exemplo, que fica no alto rio Uaupés, é uma escola onde temos 120 jovens, crianças e adolescentes, fazendo as oitavas séries do ensino fundamental, num sistema bilíngüe, e a escola está absolutamente vincada no projeto de desenvolvimento econômico da sua comunidade. Entaõ o menino aprende as letras, aprende a matemática, e aprende também a prestar socorro, aprende as formas de convivência com a natureza naquela região, aprende os rituais não materiais, mas aprende também a produção material da vida. Você não tem repetência, você não tem evasão da escola. Pelo contrário, os meninos que estavam urbanizados estão voltando para sua comunidade. Eu estou falando de algo em torno de 1.400 km acima de Manaus. Na fronteira extrema da Colômbia. Então, se você pode fazer um projeto educativo dessa qualidade lá, porque não fazer aqui na cidade-satélite de Brasília?"

Marcelo Mazzoli lembra de uma escola na periferia de Belém em que os produtores de cultura da região são consultores permanentes do projeto pedagógico da escola. Dessa forma, no período oposto ao das aulas, os alunos aprendem música, dança, iniciação à informática e orientação religiosa. Ele destaca que o desempenho da escola tem melhorado muito, com redução drástica da evasão e da repetência. O oficial do Unicef explica o sucesso dessas escolas que tiveram coragem de ousar na educação.

"Pelo simples fato de que a escola consegue dialogar com sua comunidade e os pais participam diretamente da vida da escola. Não tem fórmula mágica nenhuma. O saber acadêmico do professor se associa ao saber cultural da comunidade. E aí você tem a revolução que a escola precisa."

A solução? Não existe uma resposta simples. Mas Marcelo Mazzoli dá algumas dicas para começar a pensar na qualidade da educação.

"Quais são os desafios? Ampliar a jornada escolar, que está prevista na própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Quer dizer, o menino e a menina tem direito de ficar mais tempo na escola, com atividades interessantes (...) E atividades interessantes para as crianças são aquelas que elas mesmas propõem, onde a criança tem inclusive espaço de participação, de autoria, do projeto pedagógico da escola."

Marcelo destaca, portanto, que é fundamental que a escola seja prazerosa para o aluno, caso contrário, a ampliação do período de aulas pode ser motivo de evasão.

De Brasília, Adriana Magalhães.

NA REPORTAGEM ESPECIAL DE AMANHÃ, VOCÊ VAI CONHECER UM POUCO DO QUE TEM SIDO FEITO EM RELAÇÃO AO ENSINO DE ALUNOS ESPECIAIS. QUAIS AS DIFICULDADES ENFRENTADAS E EXEMPLOS DE SUCESSO. NÃO PERCA.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h