Câmara é História
Jânio Quadros é eleito, com promessa de acabar com a corrupção ( 7' 21" )
27/08/2006 - 00h00
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Jânio Quadros é eleito, com promessa de acabar com a corrupção ( 7' 21" )
Juscelino Kubtischek chegou ao final de seu governo com o dissabor de ver eleito para sucedê-lo como presidente da República um candidato eleito pela UDN, o partido que fazia oposição a seu governo.
Jânio Quadros, o presidente seguinte, venceu numa surpreendente trajetória de sucessos eleitorais em São Paulo, obtendo manifestações ostensivas de apoio das classes médias.
A campanha eleitoral de Jânio teve como símbolo a "vassoura", que expressava o desejo de varrer a corrupção do governo anterior, que Jânio denunciava.
Jânio, com 48 % dos votos, venceu o candidato apoiado por Juscelino, o general Lott.
Na época, a legislação permitia a eleição independentemente da chapa, do presidente e do vice, que podiam ser de partidos opostos. As eleições garantiram a vice-presidência a João Goulart, o candidato da chapa de oposição encabeçada por Lott.
Jânio Quadros tomou posse no cargo de presidente da República a 31 de janeiro de 1961.
Na transmissão de governo, Juscelino passaria a faixa ao novo presidente.
"Excelentíssimo senhor Jânio Quadros, tenho a honra de passar o comando da República ao qual foi escolhido pelo povo brasileiro"
Jânio revelava ser um homem ambivalente, carismático e temperamental ao mesmo tempo.
A gestão de Jânio Quadros durou sete meses. Foi uma gestão que gerou polêmica nas decisões administrativas do presidente, com medidas de cunho moralizador, como a proibição de brigas de galo e corridas de cavalo nos dias úteis.
Jânio também foi polêmico em sua política externa, imprimindo uma orientação "independente" da influência norte-americana. Em seu governo, o Itamaraty procurou se aproximar de países socialistas e fez manifestações de simpatia à Revolução Cubana.
Foi com uma dessas manifestações, a entrega da Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul a Ernesto "Che" Guevara que despertou a reação indignada de integrantes de sua própria base de sustentação na UDN e no Exército, dando início a crise da qual seu governo não escaparia.
Em protesto, militares devolveram suas condecorações. Carlos Lacerda, governador do recém-criado Estado da Guanabara, que havia feito campanha com Jânio na eleição, também se indignou. As relações entre Jânio e Lacerda se deterioraram e os ataques de Lacerda se tornaram constantes.
Até que em 24 de agosto, o governador carioca foi à televisão para denunciar o ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, e o presidente Jânio Quadros de conspirar contra o regime democrático e tramarem um golpe que iria levar ao fechamento do Congresso.
É fato que Jânio se queixava da resistência do Congresso a seus planos de reforma administrativa e econômica.
A confirmação do que pretendia Jânio veio em dezembro de 1975, quando ele deu depoimento à revista Seleção de Leitura e Informação, em que diz ter se arrependido de não ter fechado o Congresso Nacional no dia 25 de agosto de 1961, antecipando-se ao Golpe Militar.
A renúncia veio no dia seguinte ao pronunciamento de Lacerda, no dia 25 de agosto, dia do Soldado. Após presidir as solenidades militares, Jânio alegando forças ocultas que não o deixavam governar encaminhou carta-renúncia ao Congresso, que a aceitou, e empossou como interino na Presidência da República, o deputado Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara.
Especula-se até hoje que Jânio pretendia que o pedido de renúncia fosse recusado e assim ele ganhasse plenos poderes para governar.
Mas o Congresso aceitou a renúncia sob o argumento de que se tratava de vontade unilateral de Jânio.
O presidente do Congresso, Auro de Moura Andrade, anunciou a renúncia de Jânio Quadros.
"Cabe a esta Presidência dar ciência ao Congresso Nacional e à Nação do ato de renúncia praticado no dia de hoje pelo senhor presidente Jãnio Quadros ao mandato de presidente da República"
Em reação à renúncia, o deputado Dirceu Cardoso, do PSD do Espírito Santo, lê um documento creditado a Jânio Quadros.
"Vou ler um documento que vai deixar perplexa a Câmara. O documento é o seguinte: Fui vencido pela reação e assim deixo o Governo"
O líder do Governo, deputado Nestor Duarte, pede que o Congresso não permita a renúncia de Jânio.
"Que a Câmara e o Senado se reúnam. Rejeitem essa renúncia"
E o deputado Almino Affonso, do PTB do Amazonas, questiona as alegadas forças ocultas.
""Que estranha dualidade é esta. Que forças são estas tão poderosas que derrubam um presidente da República"
Quando Jânio renunciou, seu vice João Goulart se encontrava em visita oficial à China. E parte das Forças Armadas se opunha a sua posse. A solução encontrada foi a adoção do parlamentarismo no país, com Jango na Presidência e Tancredo Neves como primeiro-ministro.
Jânio Quadros acabou tendo seus direitos políticos cassados pelo Governo Militar. Ele só retornou à vida política com a Lei da Anistia, de 1979.
Música - Insensatez, por Silvia Telles
Redação: Eduardo Tramarim.
Consultor Musical: Marcos Brochado