Rádio Câmara

Reportagem Especial

Movimentos Sociais - MLST invade a Câmara - ( 08' 23" )

26/06/2006 - 00h00

  • Movimentos Sociais - MLST invade a Câmara - ( 08' 23" )

Os movimentos sociais organizados têm desempenhado um importante papel na busca de condições de vida mais dignas para os cidadãos brasileiros, na defesa dos direitos humanos, dos direitos constitucionais e do meio ambiente. Desde a redemocratização do Brasil, em 1985, a Câmara dos Deputados se habituou a ser palco de manifestações desses movimentos, manifestações que, em geral, ocorrem de forma pacífica e legal. No dia seis de junho último, algo saiu diferente.

Cerca de 500 integrantes do MLST, Movimento de Libertação dos Sem-Terra, munidos de paus e pedras, depois de virarem um carro em frente ao anexo dois da Câmara dos Deputados, quebraram a porta de vidro do prédio e entraram na Casa, destruindo vários equipamentos, os postos informatizados de atendimento ao público, uma exposição de plantas e a porta de vidro da Taquigrafia. O saldo da invasão, além do patrimônio público depredado, foram 24 pessoas feridas, uma delas em estado grave. A condenação à ação violenta dos manifestantes veio de todas as partes. O presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo, decretou a prisão dos integrantes do grupo. Aldo, cuja trajetória política teve início em um movimento social, a União Nacional dos Estudantes, argumentou que, como defensor das instituições democráticas e da democracia, não poderia admitir o uso da coerção, da ameaça e da violência para reivindicações. As críticas à ação violenta do MLST na Câmara também brotaram de parlamentares, professores e dos próprios movimentos sociais. Como Maurício Piccin, vice-presidente da UNE.

"A gente condena esse tipo de coisa, a gente acha que não é desta forma que serão conseguidos avanços nas pautas, nas reivindicações. Tanto o MST quanto a CUT, a UNE conderam o fato violento, porque achamos que isso é um grande equívoco. O próprio MST, CUT, UNE sempre fizeram mobilizações ... foi um grande equívoco"

Ismael Costa, acampado há seis anos sob a bandeira do MLST, não participou da invasão à Câmara dos Deputados. De longe, tentava entender o motivo de tanta violência.

"Era para ser um ato pacífico, de entregar uma pauta e acabou perdendo o controle e acontecendo tudo aquilo. O MLST sempre atuou na discussão, no diálogo, na manifestação pacífica. No ano passado, houve a ocupação do Ministério da Fazenda, com 1200 pessoas, sem a quebra de um copo. Agora, algumas pessoas novas também, sem experiência nenhuma, acabaram extrapolando e deixando uma imagem muito ruim do movimento, que nunca foi essa a intenção"

Vander Geraldo, da Confederação Nacional das Associações de Moradores, entidade que luta por moradia, saneamento básico, emprego e outros direitos para as populações urbanas, estranhou a quebradeira e a agressão aos servidores da Câmara dos Deputados.

"O que coloco em dúvida é se aquilo tudo foi organizado mesmo por um movimento, porque me dá a impressão de ter muita gente infiltrada para fazer uma coisa que eu nunca vi acontecer no parlamento. Já presenciei e participei de manifestação no governo FHC em que a confusão começava por causa da atuação da polícia. Sempre o parlamento foi um espaço em que os movimentos sociais tiveram grande trânsito e terão, porque lá é, dos três poderes, o mais permeável ao movimento social. Ali vc tem desde deputado que é banqueiro até deputado que é metalúrgico, servidor público. Então, estranhei muito uma linha ofensiva contra o parlamento"

Para Benedito Barbosa, da direção nacional da Central dos Movimentos Populares, a ação do MLST na Câmara dos Deputados arranha a imagem dos movimentos sociais organizados. Ele, porém, alertou para o perigo da generalização na análise do fato.

"Não podemos utilizar o episódio, porque ele é um ato isolado, como forma de dizer que todas as ações dos movimentos são no sentido de baderna, de desmoralizar, desqualificar ou criminalizar"

A Comissão Pastoral da Terra divulgou nota defendendo o direito dos trabalhadores se manifestarem. Mas lastimou que a situação tenha chegado ao ponto que chegou, inclusive com agressões físicas aos servidores públicos.
Irmã Madalena, da CPT, vê na indignação do povo o motor para a violência.

"Existe uma indignação geral na sociedade e alguns segmentos, alguns grupos acabam apelando para ações radicais, para demonstrar essa indignação. A gente lamenta o que aconteceu em Brasília... mas acreditamos que essa indignação que toma conta não só dos trabalhadores do campo, mas de toda sociedade, leva a atos extremados como esse. Não é uma justificativa para o ato, só coloca que toda essa violência estrutural, essa falta de respeito... acaba gerando uma indignação que leva a atos extremados dessa natureza"

Movimento de luta pelos direitos humanos, pela terra, pela moradia, de mulheres, negros, índios, jovens, ecológicos, com ideologias amplas ou direcionadas, de luta de classe, contra o capitalismo, enfim, difícil dizer quantos e quais são todos esses grupos no Brasil. Apesar de não haver uma definição única de movimentos sociais, o que se pode dizer é que eles representam o conjunto de ações coletivas voltadas tanto à reivindicação de melhores condições de trabalho e vida, de caráter contestatório, quanto inspirado pela transformação das condições econômicas, sociais e políticas da sociedade atual.

De Brasília, Marise Lugullo

LOC: Amanhã, na segunda reportagem especial sobre os movimentos sociais, vamos entender um pouco sobre as origens desses grupos organizados e os motivos que movem as principais lutas.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h