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Abertura política do regime militar toma os contornos finais (07' 26")

18/06/2006 - 00h00

  • Abertura política do regime militar toma os contornos finais (07' 26")

Logo após a derrota na Câmara dos Deputados da Emenda Constitucional que reestabeleceria eleições diretas para presidente da República, a abertura política do regime militar tomava contornos finais.

Mesmo sendo escolhido de forma indireta pelo Colégio Eleitoral, o presidente da República voltaria a ser um civil. Fosse ele o governista Paulo Maluf, do PDS, ou o candidato da Oposição, o governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, do PMDB.

Tancredo foi lançado candidato por dez outros governadores da Oposição em junho de 1984.

Já a escolha do candidato Paulo Maluf pelo partido do Governo, o PDS, rachou a base governista no Congresso. Descontentes com o nome escolhido, parte dos parlamentares governistas criou um movimento dissidente: a Frente Liberal, que liderada por Marco Maciel, Aureliano Chaves e José Sarney, aderiu à candidatura de Tancredo Neves. No acordo, o senador José Sarney compôs a chapa como vice-presidente.

A opção por Tancredo Neves pela Frente Liberal, dissidência do PDS, seguia os anseios populares, diz o deputado Mauro Benevides.

"Foi uma articulação muito bem urdida e teve o respaldo dos governadores do partido, principalmente os governadores do Nordeste, que entenderam que a solução Tancredo Neves era aquela que mais se ajustava aos nossos anseios de redemocratização"

Em 15 de janeiro de 1985, com forte apoio dos governistas dissidentes Tancredo Neves vence Paulo Maluf de forma contundente, por 480 votos a 180. É a retomada da Presidência da República por um civil, ainda que de forma indireta.

No mesmo dia, no Congresso Nacional, Tancredo faz um célebre discurso em que pede que os brasileiros sigam unidos em busca de uma grande nação.

"Brasileiros. Essa memorável campanha confirmou a ilimitada fé que tenho em nosso povo. Nunca em nossa história tivemos tanta gente nas ruas para reclamar a recuperação dos direitos de cidadania. A nação cansada do arbítrio não admitia mais as manobras que protelassem o retorno das liberdades democráticas. Não vamos nos dispersar. Continuemos reunidos como nas praças públicas. Com a mesma emoção, A mesma dignidade e a mesma decisão. Se todos quisermos, dizia-nos a quase duzentos anos Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança. Poderemos fazer desse país uma grande nação. Vamos fazê-la"

Vitorioso, Tancredo Neves jamais tomaria posse como presidente. O inesperado acontece. Às vésperas da posse, Tancredo sente dores abdominais e é hospitalizado e operado às pressas no Hospital de Base de Brasília.

Na manhã seguinte, dia 15 de março, o Congresso dá posse interinamente ao vice José Sarney. A posse é controversa e o presidente que sai, general João Batista Figueiredo, recusa-se a receber Sarney e passar a faixa presidencial.

O senador José Sarney diz que não guarda ressentimentos de Figueiredo.

"Eu nunca guardei ressentimento. O presidente era do temperamento dele. O que era importante para todos nós era que o Brasil atravessasse aquele momento dramático em que o Tancredo estava doente"

Alguns teóricos do Direito entendiam que, naquele momento, o deputado Ulysses Guimarães como presidente da Câmara dos Deputados deveria tomar posse. Mas, o deputado Mauro Benevides afirma que Ulysses não aceitou a idéia com medo de que a resistência de alguns militares a seu nome levasse a um embargo do processo político.

"Ele preferiu a alternativa José Sarney, que seria bem mais aceita pelos segmentos militares que naquele momento ainda estavam articulados na expectativa que se respeitasse o que havia de remanescente do movimento de 31 de Março de 1964"

Tancredo Neves, em sua jornada de sofrimento e agonia, que foi acompanhada em detalhes pelos meios de comunicação, é transferido para o Instituto do Coração em São Paulo onde após sete cirurgias no intestino, viria a morrer em 21 de abril, mesma data em que é homenageado no país um herói de Minas Gerais, Tiradentes.

O lamento pela morte de Tancredo é expressado no discurso do deputado Ulysses Guimarães.

"Logo agora, quando o povo tanto necessita de amigos corajosos, leais e talentosos, perde o maior deles e o líder de todos eles. Aclamado pelas praças, ungido pelas ruas, carregado triunfalmente por multidões. Adeus Tancredo. Sem você, embora esmagados pela dor e pela separação ficamos mais fortes e decididos na companhia de sua memória e de seu exemplo. A fatalidade decretou que o eleito não governasse seu povo."

A morte de Tancredo efetiva Sarney como presidente, que é empossado no Congresso Nacional. É o primeiro presidente civil após cinco presidentes militares.

A posse de Sarney sela o fim das eleições indiretas para presidente no país e dá início a um novo período da realidade política e republicana brasileira.Tem início a Nova República, o maior período de sucessão de presidentes civis sob regime democrático na história da República do Brasil.

Redação: Eduardo Tramarim
Consultoria musical: Marcos Brochado

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