Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial 15 anos do Mercosul - Que futuro se pode esperar do Mercado Comum do Sul? (05' 55")

20/03/2006 - 00h00

  • Especial 15 anos do Mercosul - Que futuro se pode esperar do Mercado Comum do Sul? (05' 55")

A constituição do Parlamento do Mercosul, a entrada de novos parceiros, a criação do Fundo de Convergência Estrutural e a ampliação do leque de abrangência da integração sub-regional. Tantas novidades mostram que o Mercosul está, sim, vivo, e sugerem mais vigor daqui para frente. Que futuro se pode esperar do Mercado Comum do Sul?

Para alguns especialistas, o futuro do bloco depende, entre outras coisas, da adoção de medidas macroeconômicas que nunca foram suficientemente trabalhadas. Medidas como às relativas ao regime cambial, que provocam distorções de comércio, conflitos entre os países-membros e passam a imagem de ineficiência.

O professor Ricardo Caldas, do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília, aponta ainda a solução das questões tarifárias entre Brasil e Argentina como condição para o avanço do bloco.

"Nós temos uma união aduaneira que, além de ser imperfeita, é assimétrica, porque é baseada no pressuposto de que o principal país do bloco, o Brasil, tem que fazer concessões substancialmente superiores a que os demais países fazem a ele. Isso é possível de se imaginar a curto prazo, mas a médio e longo prazos, os grupos afetados pelas concessões tendem a se tornar críticos do processo e acabam se aliando com os grupos que tenderiam a ganhar, mas não podem receber os benefícios do ganho. EX: maçãs, vinhos etc... O Brasil tem várias questões tarifárias que até hoje não foram resolvidas e que geram descrédito dentro do bloco. A imagem do bloco junto à população é bastante negativa"

Para o professor Ricardo Caldas, a solução dos problemas pendentes depende de vontade política.

"Se a Argentina conseguir chegar a um consenso e provar aos seus produtores que uma abertura para o Brasil vai consolidar o bloco, ele poderá ter sucesso. Se o governo argentino não tiver força para fazer isso, não quiser fazer para não perder prestígio junto aos grupos internos, a tendência é uma escalada dos conflitos, que pode acabar levando a uma deterioração e ao descrédito completo do bloco"

O embaixador brasileiro José Botafogo Gonçalves menciona outros pontos que, a seu ver, precisam ser resolvidos no âmbito do Mercosul.

"Falta institucionalizar mais fortemente o Mercosul. Vamos citar o caso mais clamoroso que é o da febre aftosa, em que há o interesse dos quatro países. Já era tempo de termos um sistema unificado de controle sanitário, principalmente no caso da saúde animal. Até hoje não conseguimos porque as burocracias nacionais resistem à idéia de unificar-se e ter uma autoridade única no Mercosul para cuidar da aftosa. Amanhã, com a gripe aviária, era mais do que prudente que nós tivéssemos um controle unificado dessas doenças. Outro aspecto muito negativo é que boa parte das decisões adotadas pelos ministros de Relações Exteriores do Mercosul, que é o órgão supremo do Mercosul, o Conselho, não é implementada internamente nos diversos países"

Já o economista Roberto Gianetti da Fonseca, ex-secretário da Câmara de Comércio Exterior, recomenda um retrocesso estratégico no Mercosul.

"Tornar o Mercosul uma área de livre comércio, eliminando a União Aduaneira, fazendo cada país livre para compor a sua tarifa externa e a sua política tarifária e negociar seus acordos de livre comércio individualmente. Aí teríamos certamente um melhor entendimento, porque as amarras não são tão fortes, tão definitivas, e dariam a cada país autonomia maior para poder definir seu destino e ter a sua soberania bastante liberada em termos de negociação internacional"

Quiçá, tal como a canção interpretada por Mercedes Sosa, os povos sul-americanos sigam adiante, sem distâncias nem fronteiras.

("Hermano Dame Tu Mano" - Mira adelante hermano, es tu tierra la que espera, sin distancias ni fronteras, que pongas alto la mano. Sin distancias ni fronteras,

De Brasília, Marise Lugullo

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