Rádio Câmara

O estudante de Ciências Contábeis Silvo Góes de Alcântara de 32 anos, é casado, pai de três filhos. Todos os dias sai de Sobradinho Dois, onde mora, e vai para o trabalho no Procon de Brasília, com seu fiel amigo Zircom, um cão da raça labrador. Silvo é portador de retinose pigmentar, uma doença que atinge a visão e progride com o passar do tempo.

Silvo e outros milhares de brasileiros portadores de deficiência visual agora contam com a proteção de uma lei, aprovada no ano passado. O texto, com redação final na Comissão de Constituição e Justiça do deputado Roberto Magalhães (PFL-PE), assegura aos deficientes visuais o direito de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhados de cão-guia. Roberto Magalhães destaca a importância social da nova lei.

"Este projeto de lei que agora já é uma lei sancionada... tem como importância o alcance social. É possibilitar aos deficientes visuais uma maior mobilidade, de inclusive ter assegurado o ingresso em estabelecimentos públicos e até particulares quando forem públicos, como restaurantes etc"

Satisfeito com a companhia de Zircom, com quem passa a maior parte de seu tempo, Silvo comemora a independência porporcionada pelo fiel amigo. No trajeto para o trabalho e a faculdade, Silvo sempre usa o transporte público e não fica na dependência de caronas. No entanto, ele ainda enfrenta alguns transtornos.

"Hoje já não é mais aquela coisa de outro mundo. Eventualmente a gente tem alguma dificuldade de entrar, às vezes, em vans, por exemplo. Aí, já não é a questão de não conhecer, é questão do pessoal das vans não querer transportar mesmo. Hoje mesmo uma van me deixou na parada. Quando eu fui para embarcar na van ele simplesmente fechou a porta, arrancou e não me levou. Então, isso, às vezes, acontece"

No Brasil ainda são poucas as pessoas que contam com o apoio de um cão-guia. A única escola do país que treina os cães fica em Brasília e é administrada pela ONG Integra - Instituto de Integração Social e de Promoção da Cidadania.

Depois de oito meses de socialização, os cães ficam prontos para o treinamento conjunto de 40 dias com os futuros donos. Carlos Dias, coordenador técnico do Programa Cão-Guia de Cegos, do Integra, explica que os cães não oferecem perigo para as pessoas.

"O cão-guia não pode apresentar nenhum traço de agressividade. E no decorrer desse processo de treinamento que é feito aqui no nosso centro a gente já observa tudo isso, se o cachorro possui ou não traço de agressividade. Se ele possui ele é imediatamente retirado do trabalho"

Os interessados em participar do programa Cão-Guia podem ligar para o Integra, em Brasília, no número 3442-7900. Os cães são cedidos gratuitamente e as despesas com os 40 dias de treinamento só são cobradas caso as pessoas tenham condições de pagá-las.

De Brasília, Idhelene Macedo