Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Aids - Pesquisas para vacinas preventivas e o dia-a-dia de crianças com o HIV - ( 06' 28" )

12/12/2005 - 00h00

  • Especial Aids - Pesquisas para vacinas preventivas e o dia-a-dia de crianças com o HIV - ( 06' 28" )

O HIV, o vírus da Aids, chega silenciosamente. A doença não se manifesta da mesma maneira em todas as pessoas. Em alguns casos, os sintomas podem levar anos para se manifestar. Febres persistentes, dores e caroços pelo corpo que demoram a desaparecer são alguns dos primeiros sinais, e com o passar do tempo podem surgir as chamadas doenças oportunistas. Como o sistema de defesa fica mais fraco com o HIV, a pessoa pode ter doenças como tuberculose, pneumonia e enfermidades do sistema nervoso, como a meningite. O mais complicado é que muitas vezes a pessoa não tem a menor idéia de que tem o vírus. A Organização das Nações Unidas aponta que apenas 10% da população soropositiva fez o exame e sabe que está contaminada. É bom lembrar que você pode fazer o teste de graça na rede pública de saúde, podendo até manter o seu nome em segredo.

Desde o surgimento da doença, a Aids esteve fortemente ligada à morte. Os recursos médicos contra o HIV eram escassos há até poucos anos. Mas hoje alguns medicamentos dão aos soropositivos uma razoável qualidade de vida, mesmo com os efeitos colaterais que variam para cada pessoa. Diabetes, colesterol alto e o acúmulo de gordura em algumas partes do corpo são alguns dos efeitos que podem surgir com o uso do chamado coquetel anti-Aids. O infectologista Caio Rosenthal afirma que não existem perspectivas de cura, mas enfatiza que os remédios estão melhorando cada vez mais para dar aos soropositivos uma vida normal.

Caio: "Tenho vários pacientes que estão há vinte anos contaminados e estão aí, trabalhando, produzindo, vivendo, enfim, tendo uma vida absolutamente normal. Então os medicamentos são realmente eficazes".

Se a cura parece distante, as pesquisas procuram então novas maneiras de prevenir a Aids. O Brasil integra um grupo de 12 países que buscam uma vacina contra a doença. Quem participa desse programa é o Centro de Referência e Tratamento em DST/Aids do estado de São Paulo e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Hoje, 40 voluntários brasileiros e 110 voluntários americanos que não têm o vírus HIV estão recebendo uma vacina. O coordenador do programa em São Paulo, Artur Kalichman, explica que nesse momento serão avaliados os efeitos colaterais da vacina, e garante que não existem riscos de contaminação para os voluntários.

"É um estudo ainda em fase inicial, onde o principal objetivo é ver a segurança desse produto. Não do ponto de vista da infecção pelo HIV, a gente pode garantir que nenhum dos voluntários que tomarem vai se infectar pelo HIV, não tem o vírus vivo, morto ou atenuado no produto. O que se quer ver agora é que efeitos colaterais essa vacina pode ter".

O Centro de Referência precisa de mais voluntários que se interessem em integrar a pesquisa. Podem participar homens e mulheres saudáveis, com mais de 18 anos, que não tenham o vírus HIV e não tenham tomado vacina contra varíola. Para mais informações, ligue para o telefone 11 5082-3954. Repetindo o telefone, 11 5082-3954.

TRILHA

Quando o assunto é Aids, o futuro não se resume às pesquisas de cura e vacinas. Para muitos soropositivos, o futuro é repleto de sonhos e projetos. Quem mostra isso muito bem é Lucinha Araújo, que há 15 anos cuida de crianças soropositivas na Sociedade Viva Cazuza. Lucinha é mãe do cantor, que morreu de Aids em 1990. Ela explica que as crianças não enxergam a doença de maneira tão negativa como acontece com os adultos. Para os pequenos, os sonhos e a alegria não são atacados pelo vírus HIV.

"Elas são crianças completamente normais, porque a Aids não apaga teus sonhos. Elas sonham como toda criança, têm suas aspirações, querem ter a casa delas, os filhos, e eu estou aqui para ajudar a realizar esses sonhos. Acho que a Aids hoje mudou muito de cara, não é mais uma sentença de morte".

De 1980 até 2005, foram identificados 22.382 casos de Aids entre crianças e jovens de até 19 anos. Muitas crianças que já nasceram com o vírus já são adolescentes que precisam conciliar as ansiedade da juventude com a Aids.
Lucinha Araújo destaca como é importante a conversa e a informação para adolescentes soropositivos, que precisam ter consciência de ter o vírus de uma doença que pede cuidados especiais.

"Eles têm plena consciência do que têm, isso eu acho importantíssimo eles saberem, que não pode transar sem camisinha, que é uma doença que se transmite. Alguns querem ter filhos, então a médica já conversou com eles sobre a possibilidade de ter um filho soropositivo ou não. Agora, que dá trabalho dá, mas todo adolescente dá trabalho, não são só os soropositivos".

Mas mesmo que as crianças tenham os efeitos da doença controlados, o preconceito ainda é grande. A empresária Vicky Tavares é coordenadora da Casa da Criança, uma entidade que desde 2001 cuida de 35 crianças soropositivas no Distrito Federal. Vicky aponta que elas despertam muito medo e nojo das pessoas, e que os pequenos se ressentem com essa reação.

"A gente sente muita falta da visitação das pessoas. Até faço um apelo, que por favor visitem a nossa casa, venham abraçar, beijar as nossas crianças. Aids não pega dessa maneira, não pega no ar, não pega no abraço, no aperto de mão, não pega no beijo. Isso é muito importante, a criança precisa muito sentir esse calor humano. Eu sinto nas crianças muita mágoa, muito ressentimento, muita dor".

Quem quiser conhecer a Casa da Criança pode pegar informações pelo telefone 61 3201-9033. Repetindo o telefone 61 3201-9033.

De Brasília, Daniele Lessa

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