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Reportagem Especial

Especial - Câmara debateu problemas causados por contaminação de substâncias tóxicas (06' 56")

18/09/2005 - 00h00

  • Especial - Câmara debateu problemas causados por contaminação de substâncias tóxicas (06' 56")

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Odesson Alves Ferreira é uma das vítimas do acidente radioativo que aconteceu em Goiânia, há 18 anos. Ele era motorista de ônibus e teve que se aposentar aos 32 anos de idade. Só na família de Odesson, 40 pessoas foram contaminadas com o césio 137. Ele conta que sua vida nunca mais foi a mesma. Odesson Alves Ferreira é presidente da Associação das Vítimas do Césio. De lá pra cá, sua luta é por uma assistência melhor às pessoas contaminadas. Odesson informou que as vítimas do césio estão perdendo direitos e caindo no esquecimento. Em 1996, o governo federal concedeu pensões apenas para parte dos atingidos.

Segundo o presidente da associação, são cerca de 1500 vítimas cadastradas que tiveram contato com a substância radioativa. De acordo com a Funasa - Fundação Nacional de Saúde, o acidente radioativo em Goiânia foi considerado um dos maiores registrados na história da humanidade. Nesta semana, as comissões de Direitos Humanos e Meio Ambiente da Câmara discutiram os problemas de saúde causados por contaminação de substâncias tóxicas. O presidente da Associação das Vítimas do Césio participou dos debates e reclamou da falta de assistência do governo federal.

"Essas pessoas estão reivindicando assistência médica, assistência financeira, porque muitas delas perderam o emprego, perderam a condição laboral, então, o que nós estamos trazendo já há algum tempo, nós estamos buscando junto aos poderes, é justamente no sentido de que essas pessoas possam ser ressarcidas sua cidadania seu direito de viver, direito à saúde.Nós estamos buscando que o governo federal cumpra sua parte, porque até hoje nesses 18 anos, o governo federal não fez nada em prol das vítimas do césio, ou seja nunca deu medicamentos, tem apenas uma pensão que é para algumas pessoas."

Após o acidente, as vítimas ficaram deprimidas e isoladas. Isso contribuiu para que muitas se tornassem dependentes de bebidas alcóolicas e outras drogas.

O deputado Luciano Zica, do PT paulista, se comprometeu a marcar uma audiência com presidente Lula para ajudar as vítimas do Césio.

" Vamos buscar envolver os ministérios ligados diretamente à solução do problema - ministérios da Justiça, da Previdência e da Saúde - e buscar levar a uma audiência com presidente da República, já que o presidente assumiu um compromisso há quase 20 anos atrás. Com o encaminhamento da solução desses problemas e por compreender que a sensibilidade da manifestação do presidente pode abrir um caminho mais rápido para que possamos ver solucionado o problema do passado."

O acidente com o césio 137 ocorreu em setembro de 1987. Uma clínica de saúde em Goiânia descartou cápsulas radioativas de forma incorreta. Elas foram encontradas num aterro, em meio ao lixo comum. A cor da substância - um pó azul brilhante e radioativo, chamou a atenção das pessoas e principalmente de crianças que a manipularam, dando início à contaminação.

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Segundo dados oficiais, quatorze pessoas morreram contaminadas pelo césio. Entre elas uma criança, Leide das Neves. Além dos traumas psicológicos, os sobreviventes contaminados estão com câncer ou com seqüelas físicas, como a perda de dedos, por exemplo. Outros ainda não manifestaram sintomas, mas carregam no DNA a substância radioativa.

O presidente do Fórum Permanente de Prevenção e Controle de Acidentes Radiológicos e Nucleares, criado em Goiânia para prevenir acidentes radioativos, psicólogo Júlio de Oliveira Nascimento, trabalha com as pessoas contaminadas. Ele disse que uma das preocupações das vítimas do césio é o surgimento de efeitos biológicos tardios.

" Elas pretendem fazer uma fundação que elas possam gerenciar para que elas tenham assistência futuras porque o acidente vai atingir as vítimas até a terceira geração. Terão seqüelas, os filhos dos filhos, porque o césio tem um período de latência que já foi dito pela Fundação Nacional de Saúde de um período de 30 anos. Isso significa que os piores efeitos dele nas pessoas ainda estão por vir, porque o césio, ele vai instalar no DNA das pessoas"

O representante do Ministério da Saúde, Tarcísio Neves da Cunha, disse que ministério já está discutindo ações de prevenção a acidentes radioativos.

"pretende fomentar a criação do Centro de Referência que vai pegar os dados, todas as informações existentes e tentar criar um centro onde se consiga prevenir acidente e, no caso de fatalidade ocorrerem, onde se possam recorrer para socorrer as vítimas. Uma ação de prevenção criar e fortalecer esse centro de referência e paralelamente ligado ou não a esse centro manter no Brasil uma linha de pesquisa efetiva para coisas relacionadas a esse tipo de acidente."

O lixo radiológico do césio está guardado em Abadia de Goiás, a 20 quilômetros de Goiânia. São cerca de treze toneladas e meia de material radioativo. A substância vai ficar guardada no local por 282 anos. A Comissão Nacional de Energia Nuclear informou que o material não traz perigo à população. Mas muitas pessoas ainda temem a contaminação.

De Brasília, Lucélia Cristina.

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