Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Corrupção - Evasão de divisas e lavagem de dinheiro estão na lista de irregularidades apuradas pelas CPIs no Congresso (04' 25")

25/08/2005 - 00h00

  • Especial Corrupção - Evasão de divisas e lavagem de dinheiro estão na lista de irregularidades apuradas pelas CPIs no Congresso (04' 25")

"Um determinado momento, o sr. Marcos Valério chamou a Zilmar a disse assim: ´traz uma conta lá fora, que fica mais fácil de pagar vocês´. Para nós era uma coisa esquisita, mas de novo era assim: ou traz a conta lá fora, ou não vai receber a grana. E eu confesso que estava muito preocupado em receber meu dinheiro, eu tinha feito meu trabalho, tinha executado meu trabalho, tinha conseguido eleger candidatos importantes, e nada mais justo, ao meu ver, do que receber o dinheiro combinado."

O depoimento do publicitário Duda Mendonça, em que admite ter aberto uma conta no exterior para receber pagamentos de Marcos Valério, relativos aos serviços prestados na campanha de Lula à presidência, deu nova dimensão à crise. A opinião é do deputado Gustavo Fruet, do PSDB paranaense, que é sub-relator de movimentação financeira da CPI dos Correios.

"Porque a pessoa que cuidou da imagem do presidente, que vendeu a imagem de um Brasil ético, foi uma pessoa que recebeu 10 milhões de reais no exterior, sem declaração, sem conhecimento de origem. Então isso amplia a crise sob o aspecto político."

Fruet afirma que as declarações de Duda Mendonça caracterizam lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e crimes contra o sistema financeiro. Para lavar dinheiro ilícito, ele é inserido no sistema financeiro internacional através de instituições financeiras localizadas em países estrangeiros, especialmente paraísos fiscais. Gustavo Fruet salientou que cabe agora investigar as empresas intermediárias desse pagamento. Para o deputado José Eduardo Cardozo, do PT de São Paulo, que cuida da análise de contratos, a questão mais importante é a quebra dos sigilos no exterior. Enquanto o sigilo não for quebrado, não dá para definir a origem, diz o deputado.

"A impressão minha, a sensação que nós temos atualmente, é que alguns dirigentes partidários do PT, de forma rigorosamente ilícita e irresponsável, trabalharam com situações de dinheiro que, na verdade, não é vindo do exterior ou dos países do exterior, mas é um dinheiro, talvez até fruto de corrupção, que foi para o exterior, para depois retornar, numa situação suspeita, também ao país."

A CPI dos Correios já solicitou apoio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras - Coaf, Interpol, Polícia Federal e Ministério da Justiça para investigar esses crimes. A Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça já tem o levantamento de 21 empresas e bancos que fizeram depósitos na conta da Dusseldorf, a empresa offshore de Duda Mendonça, na agência de Miami do Bank of Boston International. Enquanto o Supremo Tribunal Federal não decide pela quebra de sigilo das contas de Duda Mendonça nos Estados Unidos, pouca coisa pode ser feita para identificar todos os autores dos depósitos. Mas como o Brasil tem um acordo de cooperação com o governo norte-americano, no rastreamento de crimes de lavagem de dinheiro, assim que a quebra de sigilo for decretada, a previsão do Ministério é de que as informações sejam repassadas ao Brasil rapidamente. A Polícia Federal também pediu ao Supremo o bloqueio da conta de Duda nos Estados Unidos.

TRILHA

Duda Mendonça abriu uma empresa offshore nas Bahamas para conseguir abrir a conta e receber o pagamento pelos serviços prestados na campanha. Offshores são empresas que só existem no papel, criadas no exterior, que gozam de vantagens fiscais e são protegidas por sigilo. Elas são apontadas como responsáveis por diversos crimes, como lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O crime de evasão de divisas é claro em sua definição: quem promove, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitos não declarados. A punição é multa e pena de 2 a 6 anos de prisão.

De Brasília, Adriana Magalhães.

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