Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Nutrição 1 - O Brasil é o país da Fome? ( 05' 43'' )

07/07/2005 - 00h00

  • Especial Nutrição 1 - O Brasil é o país da Fome? ( 05' 43'' )

O Brasil é o país da fome? Segundo o IBGE, 40% da população adulta do Brasil está acima do peso. São 10 milhões de obesos no país. E a população desnutrida vem diminuido gradativamente. São apenas 4% abaixo do peso. Mas isso não quer dizer que o Brasil superou o problema da fome. Na opinião da professora da Universidade Federal da Bahia, Maria do Carmo Soares de Freitas, o Brasil continua vivendo essa triste realidade.

"E a fome não é só desnutrição, esse é o grande achado. O indivíduo pode ser obeso e ser faminto. Porque houve uma mudança do hábito alimentar dele: ele deixou de comer feijão com arroz e passou a comer farinha de mandioca. E essa mudança, com mais carboidrato, sem a formação dos aminoácidos que serão formados pelo feijão e arroz, provocou uma alteração corporal, ou seja, houve um aumento do corpo dessas pessoas, com uma obesidade. Então eles são obesos e famintos."

A pesquisadora do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da UnB, Muriel Gubert, concorda que o Brasil está passando por um processo de transição alimentar e nutricional. Nessa mudança, há um abandono de hábitos alimentares mais saudáveis, com ingestão de frutas e verduras, por exemplo, em favor de uma alimentação padronizada, com alimentos industrializados e rica em açúcar, gordura e sal. Fruto da urbanização e do desenvolvimento, Muriel concorda que a grande quantidade de obesos, definitivamente, não reflete uma alimentação adequada.

"A obesidade está crescendo de forma mais acelerada nas mulheres pobres. Por causa dessa alimentação monótona, que é açúcar, a farinha, então, o que é mais barato, o que a pessoa só tem aquilo para comer, ela só come aquilo, e é energeticamente muito mais denso esse tipo de alimento. Então a pessoa tem deficiência de micro-nutrientes, como por exemplo, a anemia, que é bem prevalente no Brasil, e apresenta obesidade. Então, não necessariamente, o obeso é uma pessoa bem nutrida."

A desnutrição está diminuindo no país, colocando o Brasil numa situação confortável, em termos internacionais. Entre as décadas de 1970 e de 1980, o déficit de peso caiu 50%. Mas Muriel alerta que a desnutrição ainda ocorre no país, principalmente entre crianças. Quando a criança não morre de desnutrição, ela vai sofrer as consequências da falta de alimentação pelo resto de sua vida. Déficit de crescimento e carências nutricionais são apenas o começo.

"Mas a gente tem déficit cognitivo, também, essas crianças vão ter um desenvolvimento mais retardado, esse déficit inclusive vai se refletir depois num déficit social, porque essas crianças vão ser uma força de trabalho debilitada no futuro."

Segundo a professora Maria do Carmo, essa nova realidade de obesos com fome indica que o governo deve ampliar suas políticas sociais, atacando em todas as frentes.

"Não dá para fazer só bolsa família, mas tem que fazer bolsa-família, saneamento básico, escola para as crianças, merenda escolar. Não dá para pensar no projeto Fome Zero só dando dinheiro. Tem que ser mais do que isso."

O Secretário de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Rômulo Paes de Souza, destaca que as políticas sociais de combate à fome não são restritas ao repasse de dinheiro.

"O Fome Zero buscou articular políticas tanto de educação alimentar, como políticas de transferência de renda, e nas políticas de transferência de renda, nós temos notado que isso tem mudado não só a quantidade de alimentos disponíveis da alimentação, mas também a qualidade desses alimentos. As pessoas que são beneficiárias do bolsa-família, por exemplo, não só estão comendo mais, como estão comendo mais verdura, mais frutas também."

Rômulo destaca a importância da educação para uma mudança de hábitos alimentares. A professora Maria do Carmo, entrentanto, diz que os pobres sabem o que seria uma refeição ideal, mas só têm condições de ingerir alimentos pobres.

"O indivíduo que está morrendo de fome, não tem o que comer, ele sabe que o melhor para ele é leite, o melhor para ele é queijo, é carne, é verdura. Ele sabe, mas não tem grana para comer. Entaõ ele come o mais barato, o mais barato é a farinha de mandioca e a cabeça de peixe."

Segundo a pesquisa do IBGE, o excesso de peso tende a aumentar com a idade, de modo mais rápido para os homens e, de modo mais lento, porém mais prolongado, para as mulheres. O IBGE também pesquisou os hábitos alimentares, e descobriu que eles variam de acordo com os rendimentos. Por exemplo, quanto mais rica a família, menor o consumo de arroz, e maior o de pães e biscoitos.

De Brasília, Adriana Magalhães.

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