Economia Direta

Professora da UNB diz que Estados Unidos podem ser os grandes perdedores da guerra tarifária em curso

14/04/2025 - 08h00

  • Entrevista - economista e professora da UNB Daniela Freddo

A economista Daniela Freddo, professora da UNB, diz que é difícil saber se a política econômica de Donald Trump vai conseguir reindustrializar os Estados Unidos. Ela ressalta que, mesmo que isso aconteça, o país terá de passar por uma fase difícil, de crise, com alta nos preços. O objetivo de Trump, segundo ela, é trazer de volta, para os Estados Unidos, as plantas industriais que foram para a China. Ela lembra que Trump enfrentará muitas pressões internas se desejar manter essa política. Ela ressalta que ele suspendeu as tarifas na área de tecnologia porque sofreu pressão das big techs, que estão entre seus principais apoiadores.

Na economia mundial, Daniela Freddo acredita que a China pode aproveitar para estender ainda a sua influência. Ela acredita que os Estados Unidos vão se isolar cada vez mais. E que os outros países vão procurar compensar com acordos comerciais com outros blocos. Ela acredita que será uma oportunidade para os Brics e também para a concretização do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Daniela cita ainda recente reunião entre China, Japão e Coréia do Sul para reativar os laços econômicos entre eles.

A economista destaca que a China é uma economia planejada, que tem objetivos bem definidos, além de grande capilaridade no comércio mundial. Por isso, é a única que pode substituir os Estados Unidos. “Não existe vácuo no poder nem na economia”, diz. Daniela Freddo destaca, no entanto, que o momento é de grande instabilidade – o que afugenta investidores, inclusive nos EUA.

A professora da UNB destaca que, apesar de a China ser um alvo claro, a política de Trump atinge também seus parceiros, como México e Canadá. Ela lembra que o México criou toda uma política voltada para a exportação de carros para os EUA, com as chamadas “maquiladoras” e que agora se vê em dificuldades.

Para o Brasil, a economista afirma que, num primeiro momento, as oscilações do dólar poderão ser sentidas por meio de mais inflação. Mas acredita que o país terá oportunidade de “colocar seus produtos em novas rotas de comércio”. Ela ainda prevê que o país vai aumentar, ainda mais, o comércio com os chineses.

Daniel Freddo diz que não há vencedores numa guerra comercial. Mas ela acredita que os EUA serão os maiores perdedores porque vão se isolar no cenário internacional. Ela diz que a política de Trump acaba com décadas de esforço americano para manter sua influência no mercado global. Para ela, o fato de os EUA usarem mão do protecionismo é um sinal de que esteja reagindo a essa perda de poder. “Talvez seja tarde”, afirma. Ela diz, no entanto, que é difícil prever como seria uma nova ordem mundial a partir das mudanças nas relações comerciais.

Apresentação - Mauro Ceccherini

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