Economia Direta

Economista da FGV sugere que o Banco Central ouça mais o setor produtivo e menos o mercado na hora de definir os juros

24/02/2025 - 08h00

  • Entrevista - Economista da FGV, Carla Beni

Economista sugere que o Banco Central ouça mais quem produz e menos o mercado financeiro. Carla Beni, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), propõe a substituição do Boletim Focus pelo Boletim Firmus. O Boletim Focus, divulgado pelo BC, traz a média da expectativa das 120 empresas que atuam no marcado financeiro para inflação, câmbio, juros e crescimento da economia. Ela ressalta ainda que o mercado é grande financiador da mídia jornalística. Já a Pesquisa Firmus inclui a expectativa das empresas não financeiras - o setor produtivo, como a indústria, o comércio e a agricultura.

O Boletim Focus da última semana previa inflação acima da meta, manutenção da Selic alta e do dólar na casa de R$ 5,80, além de redução do crescimento econômico. Carla Beni lebra que a maioria das expectativas do mercado se revela errada. “Cada boletim acaba sendo a correção do anterior”, diz. Ela afirma também que as expectativas negativas acabam contaminando a economia e diminuindo investimentos. Carla Beni questiona até mesmo a divulgação periódica do Focus pelo Bacen.

Carla Beni acredita que, além das metas de inflação, o Banco Central deveria ter também metas de emprego e renda. “ A política fiscal e a monetária andam juntas. Elas não estão dissociadas”, argumenta. Ela afirma que essas metas já são adotadas por muitos países. Ela ainda defende uma meta mais folgada para a inflação, que hoje está em 3%.

Carla Beni afirma que a inflação atual é causada pelos alimentos e tem relação com a alta do dólar. Cada vez que a cotação da moeda americana aumenta, explica, a exportação fica mais atrativa e o produto acaba faltando no país. “Se o preço sobe ou desce, a culpa acaba sendo sempre do governo”, resume. A economista diz, no entanto, que as metas do arcabouço fiscal foram cumpridas. Afirma ainda que a dívida pública não está num “nível explosivo”. “Ela cresceu, mas nada indica que chegará a 100% do PIB. Não existe essa possiblidade”.

Por tudo isso, Carla Beni não vê razão para o aumento da taxa de juros. Ela considera a taxa real, de 8%, muito elevada. “Cada ponto porcentual da Selic significa R$ 50 bilhões de despesas no Tesouro. Não há corte fiscal que chegue a esse nível”, ressalta. O nível atual da Selic, afirma, representa um peso de pelo menos R$ 150 bilhões para as despesas do governo. Carla Beni acrescenta que os juros da dívida representam 46% das despesas do governo. “Isso não é falado para a população”, reclama. “São 46% dos juros contra 3% para a educação e 0,3% para a segurança”.

Apresentaçaõ - Mauro Ceccherini

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