Painel Eletrônico
Para o deputado Ivan Valente, é contradição o Brasil em sediar a COP30 e defender a exploração do petróleo na margem equatorial do Amazonas
21/02/2025 - 08h00
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Entrevista - Dep. Ivan Valente (PSOL-SP)
O deputado Ivan Valente (Psol-SP) considera uma contradição o Brasil sediar a COP30 e explorar petróleo na margem equatorial do Rio Amazonas. Na avaliação do parlamentar, o país deveria liderar o processo de implantação de energia limpa e “dar o exemplo ao mundo”. Ele lembra que o Brasil firmou compromissos internacionais para reduzir a exploração de combustíveis fósseis. Pelos acordos, a temperatura global deveria aumentar no máximo 1,5% até 2050. “Mas estamos em 2025 e esse aumento já é de 2,5%”, lamenta o parlamentar.
Valente afirma que a maior riqueza da Amazônia é a sua biodiversidade, que deveria ser mais explorada. “Hoje, manter a floresta em pé é o mais importante do que qualquer outra coisa na Amazônia”, declara. O deputado ressaltou os esforços do país em aumentar a produção de energia eólica e solar, além de biomassa e biocombustíveis, além do predomínio da matriz hidrelétrica na produção de energia. Para Valente, a chave é aumentar a produção de “riqueza não-carbonizada”. Ele afirma que a Amazônia é uma região sensível. E teme pela situação dos ribeirinhos e da população indígena.
Ivan Valente afirma que os políticos que defendem a exploração estão criando “ilusões” para a população da região. “As pessoas estão achando que vai jorrar dinheiro na região. Não é verdade! Isso é um processo de 10, 15 anos. E não haverá essa riqueza toda. Se o país arrecadar um pouco mais, esse pouco não vai para os mais poobres”, diz. “O que vai jorrar é o inchaço dos assentamentos”, prevê. “Precisamos fazer um debate profundo, sem criar ilusões”. O parlamentar repudia também as pressões sobre o Ibama que, segundo ele, é um órgão técnico e deve ser respeitado. E diz que há pressão de grandes grupos econômicos para viabilizar a exploração.
Ivan Valente afirma que os degelos na Groenlândia, os incêndios na Califórnia, as enchentes no Rio Grande do Sul e as secas do Rio Amazonas fazem parte do mesmo processo de aquecimento global, que precisa ser detido. Na opinião de Valente, pelos compromissos assumidos internacionalmente, o Brasil precisa reduzir – e não aumentar – a exploração de combustíveis fósseis. Ele lembra o vazamento no Golfo do México, em 2010, operado pela petroleira British Petroleum. Apesar de reconhecer a importância e a capacidade da Petrobras, o deputado afirmou que todo o know-how da empresa britânica não impediu o acidente no golfo. Ele cita também os vazamentos no Alasca e no Mar do Norte.
Ivan Valente acrescentou que o novo governo americano, que chamou de “negacionista climático”, tem como meta o aumento da produção de petróleo – o que enfraquece ainda mais a luta pelos combustíveis limpos. Para ele, explorar petróleo na margem equatorial do Amazonas apenas fortalece a posição do presidente americano Donald Trump, a quem chamou de “figura destruidora”.
Apresentação - Mauro Ceccherini