Rádio Câmara

O economista e professor da Enap (Escola Nacional de Administração Pública), José Luiz Pagnussat, critica a decisão do Banco Central de aumentar a Selic para 10,75% ao ano. “Infelizmente, o Brasil mantém o freio, não deixando a economia crescer num ritmo mais alto”. “Juro alto significa que todas as outras taxas aumentam e elas já estão altas: 40% para o consumidor 20% para a indústria.

Nenhuma atividade econômica é viável com uma taxa tão alta”, diz. “Isso coloca o custo no setor privado, mas também no setor público”, diz, referindo-se ao aumento dos juros da dívida pública. “É um milagre a economia crescer hoje a 3% ao ano com condições tão ruins”, resume.

Pagnussat acredita que o BC tenha elevado a Selic porque há uma expectativa de crescimento do PIB, o que pode levar a um aumento do consumo e da inflação. Ele afirma que já há um aumento da demanda das famílias devido à elevação do emprego e da massa salarial. O Banco Central estaria, então, tentando reduzir essa demanda. “É o fio da navalha da autoridade monetária”, diz.

Mas o professor do Enap discorda da visão do Banco Central que, segundo ele, olha a questão apenas do ponto de vista da demanda. “O Brasil tem condições de crescer num ritmo mais acelerado”. Com a taxa atual, diz, o consumidor vai comprar menos a prazo ou aplicar o dinheiro. E a indústria não vai investir.
Na opinião de Pagnussat, é possível reduzir a inflação também pelo aumento da oferta de produtos na economia, o que acontece quando o país está crescendo.

“Os preços também caem pelo aumento da oferta, e não só pela contenção da demanda”, reforça. Ele lembra que o ex-ministro Delfim Netto fez isso no chamado “milagre econômico”, durante a ditadura militar, quando ofereceu crédito para os setores da economia que estavam ociosos.

O economista acredita que o governo também precisa fazer um esforço para atrair mais investimentos nacionais e internacionais, sobretudo na área de infraestrutura – um dos grandes gargalos do país. Ele afirma que o Brasil deveria aproveitar as vantagens que tem: a de ser um grande produtor de alimentos e um país com muitos recursos naturais. Pagnussat diz que o “ambiente de negócios no Brasil é muito ruim”, o que adia esses investimentos. “Há uma dificuldade do governo em mobilizar esses investimentos na iniciativa privada”, conclui. “Precisamos melhorar o ambiente de negócios”, insiste.

Com mais investimentos, o professor acredita que o aumento do PIB brasileiro não seria baseado apenas no aumento do consumo, como acontece hoje. Esse consumo, explica, não é só o das famílias, mas também os gastos do governo e o “consumo do mundo”, que se traduz no aumento das exportações.
O economista não acredita que a decisão da última semana inicie uma nova sequência de altas na taxa básica de juros. Ele afirma que a inflação está sob controle. E diz que a seca terá “efeitos mínimos” porque a safra agrícola já está colhida.

O professor diz que a lei de autonomia do Banco Central tem “uma falha” por ter definido apenas uma missão para o BC – a de controlar a inflação. Na opinião dele, deveria haver, como segunda missão, atingir uma meta de crescimento. Assim, segundo ele, o Bacen olharia para a inflação e para o PIB, “os dois lados da questão”. Ele sugere uma mudança na legislação.
Pagnussat também sugere que o país adote uma quarentena para afastar o capital especulativo, que pode vir com a redução da taxa de juros americana. “A Argentina, que não tem reservas internacionais, precisa deste capital. Mas o Brasil não”, compara. “O Brasil precisa do capital produtivo, que vem para investir, no longo prazo”.

Outro problema que, segundo ele, precisa ser discutido é o dos juros da dívida pública, que consumiram R$ 870 bilhões nos últimos 12 meses. “É um problema que não aparece”, questiona. Ele defende uma reforma no sistema financeiro que, segundo diz, é o que “tem as maiores margens de lucro do mundo”.

Apresentação - Mauro Ceccherini