Meio ambiente e energia

Após reunião com Fux, comissão reforça busca de repactuação dos acordos da tragédia de Mariana

Deputados e atingidos por barragens defendem programa de transferência de renda e fundo para financiar revitalização das comunidades afetadas

30/03/2022 - 20:11  

 

A comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha a repactuação dos acordos em relação ao crime socioambiental de Mariana (MG) entregou formalmente ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) nesta quarta-feira (29) as primeiras reivindicações dos atingidos pelo rompimento da barragem do Fundão, ocorrido em 2015.

Desde o ano passado, o CNJ busca novos acordos diante do fracasso da reparação de danos socioambientais e econômicos a cargo da Fundação Renova, criada pelas três mineradoras responsáveis pela tragédia que causou 19 mortes e degradação ao longo do Rio Doce, entre Minas Gerais e Espírito Santo.

A comissão da Câmara funciona como interlocutora dos atingidos e já teve várias reuniões com conselheiros do CNJ, mas, desta vez, o encontro foi com o presidente do conselho, ministro Luiz Fux, que também presidente o Supremo Tribunal Federal.

O coordenador da comissão, deputado Rogério Correia (PT-MG), relatou a conversa e confirmou a expectativa de conclusão da repactuação até agosto.

“Infelizmente, Vale, Samarco e BHP Billinton não deram conta de resolver minimamente os problemas. Dissemos a Fux claramente: ‘ministro, até hoje, não foram construídas casas para as pessoas morarem, estão morando de aluguel’”, disse Correia. “Mostramos ao ministro a filmagem da nossa diligência em Minas Gerais: quando há enchente, os blocos de concreto [no leito do Rio Doce] são praticamente blocos de rejeito de minério de ferro que impedem a água de chegar ao solo. As pessoas não podem produzir: o que tem ali é minério, que vem das enchentes. Mostramos, portanto, um quadro alarmante, e o ministro pretende finalizar esse acordo até agosto”, acrescentou.

Paulo Sergio/Câmara dos Deputados
Rogério Correia confirmou expectativa de conclusão da repactuação até agosto
Rogério Correia confirmou expectativa de conclusão da repactuação até agosto

Reivindicações
Correia se reuniu com Fux juntamente com o relator da comissão, deputado Helder Salomão (PT-ES), e o deputado Leonardo Monteiro (PT-MG), além de representantes do Fórum Permanente em Defesa do Rio Doce e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Entre outros pontos, eles defendem que a repactuação garanta aos atingidos um programa de transferência de renda, um fundo popular para financiar projetos coletivos nas comunidades afetadas, a descontaminação e a revitalização de todas as áreas que ainda apresentam lama tóxica de minério de ferro, além de um programa de saúde para diagnóstico, monitoramento e prevenção de doenças decorrentes da contaminação do Rio Doce.

Próximos passos
Enquanto aguarda o avanço no processo de repactuação, a comissão externa prepara novas atividades em abril. Rogério Correia quer contar, inclusive, com experiências bem-sucedidas em torno da reparação de outro crime socioambiental, o de Brumadinho, que deixou mais de 270 mortos e destruição pelo Rio Paraopeba após o rompimento de uma barragem da Vale, em 2019.

“Agora, vamos ouvir também os prefeitos para saber a situação dos municípios. Vamos escutar ainda assessorias técnicas de Brumadinho, que é uma experiência que está dando certo. E também faremos novas diligências. Em meados de abril, vamos receber dos atingidos um documento mais definitivo de suas reivindicações”, informou o coordenador.

Correia confirmou que o relatório da comissão externa sobre a repactuação dos acordos de Mariana será divulgado no início de maio.

Reportagem - José Carlos Oliveira
Edição - Marcelo Oliveira

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