Para deputados, falta de recursos e falhas de gestão contribuíram para incêndio no Museu Nacional
Acervo possuía mais de 20 milhões de itens, distribuídos em áreas como geologia, paleontologia, botânica e arqueologia
04/09/2018 - 14:38
Deputados de diversos partidos comentaram em Plenário nesta terça-feira (4) o incêndio que destruiu totalmente o acervo do maior museu de história natural do Brasil – o Museu Nacional. O prédio incendiado ainda se mantém de pé e está localizado na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro.
O deputado fluminense Chico Alencar (Psol) disse que o incêndio é fruto da omissão e do descaso das autoridades em relação à cultura do País. “É uma tragédia que incinera parte da memória, do patrimônio e do acervo natural do Brasil”, disse.
Ao comentar as consequências do incêndio, o deputado Victor Mendes (MDB-MA) também criticou falhas de gestão. “A própria ONU está reconhecendo [a perda] como uma tragédia mundial. Só tenho a lamentar o descaso com que os governos em todas as esferas trataram desse assunto nos últimos”, disse.
Teto dos gastos
Também fluminense, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) chamou atenção para a falta de recursos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFFRJ), que administra o museu.
Segundo ela, a universidade está sem recursos para pagar despesas básicas de custeio, como energia elétrica, já no mês de setembro.
“Muitos deputados aqui votaram a favor do teto de gastos públicos [Emenda Constitucional 95/16], por isso são cúmplices desse incêndio criminoso. Foi um crime político o incêndio do Museu Nacional”, acusou Feghali.
O deputado Zé Geraldo (PT-PA) lamentou a perda de todo o acervo do Museu Nacional. “ São mais de 200 anos de trabalho e de história. E lá tínhamos peças de mais de 12 milhões de anos”, disse.
Gastos públicos
Para o deputado Pedro Vilela (PSDB-AL), o incêndio é um símbolo da falta de qualidade e de prioridade na gestão dos gastos públicos. “O que foi gasto pelo Museu Nacional até agosto deste ano (cerca de R$ 268 mil) equivale a 2 minutos dos gastos do Poder Judiciário ou a 15 minutos dos gastos deste Congresso Nacional”, disse.
Por fim, o deputado Lincoln Portela (PR-MG) lembrou que a tragédia já havia sido anunciada por laudos que atestavam o comprometimento da estrutura do prédio de 9 mil metros quadrados.
“A própria Procuradoria-Geral da República (PGR) já havia comunicado ao Estado do Rio de Janeiro a necessidade de uma averiguação, inclusive pelo Corpo de Bombeiros”, disse.
História
Criado em 1818 por Dom João VI, o Museu Nacional contava com um acervo de mais de 20 milhões de itens, distribuídos em áreas como geologia, paleontologia, botânica, zoologia, antropologia biológica, arqueologia e etnologia.
Entre os itens que foram totalmente consumidos pelo fogo está o crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas.
O acervo reunia ainda obras de artes, insetos, plantas, fósseis, além de múmias e objetos egípcios raros que formavam a maior coleção egípcia da América Latina.
Reportagem – Murilo Souza
Edição – Roberto Seabra