Especialistas defendem formação de professores para a cultura da paz
Relator lembra que três milhões de pessoas voltaram a viver em estado de pobreza no Brasil no ano passado e isso potencializa a violência
14/03/2018 - 14:34
Especialistas ressaltaram a necessidade de políticas públicas para a formação de professores para promover a cultura da paz nas escolas, em audiência pública nesta quarta-feira (14). O debate foi promovido pela comissão especial destinada a elaborar propostas legislativas para desenvolver a cultura da paz.
A Organização das Nações Unidas (ONU) define a cultura da paz como um conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida baseados no respeito à vida, no fim da violência e na promoção e prática da não-violência por meio da educação, do diálogo e da cooperação.
Conforme o coordenador do Núcleo de Estudos e Formação de Professores em Educação para a Paz e Convivências da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR) Nei Salles Filho, o principal passo para a promoção da cultura de paz é a formação de professores. “Essa formação envolve conhecimento das áreas de valores humanos, direitos humanos e mediação de conflitos fundamentalmente”, citou. Segundo ele, desenhar políticas públicas nesse sentido é a melhor forma de manter projetos continuados de cultura da paz nas escolas.
De acordo com o especialista, os professores têm que entender que muitas vezes a violência cultural do aluno é resultado de violência direta (física, psicológica, sexual, midiática) e violência estrutural (pobreza, miséria). “Se o aluno aprende a reproduzir a cultura da violência, pode aprender a paz”, observou. Ele salientou ainda que a paz não significa a ausência de conflitos, mas uma forma de lidar com os conflitos. Além disso, ressaltou que a promoção da cultura de paz nas escolas foi incluída como meta do Plano Nacional de Educação (2014-2024).
Desigualdade social
Já o professor da Escola Municipal de Ensino Fundamental João Amós Comenius, de São Paulo (SP), Samuel de Jesus, destacou a dificuldade de se construir uma cultura de paz em meio à desigualdade social e outras mazelas sociais. Ele concorda que a formação dos professores para a cultura da paz deve ser uma política pública. Conforme ele, é preciso se passar de cultura punitiva para uma disciplina restaurativa das relações. E apontou ainda que a autorreflexão sobre as próprias formas de produzir violência é essencial para a promoção da cultura da paz.
O relator da comissão, deputado Aliel Machado (PSB-PR), informou que a ideia do colegiado é propor leis para potencializar as experiências positivas com a cultura da paz. “Se não trabalharmos a formação de cidadãos na base, teremos muito mais tragédias”, disse. Ele observou que três milhões de pessoas voltaram a viver em estado de pobreza no Brasil no ano passado e isso potencializa a violência. Na visão dele, a promoção da cultura da violência e do ódio se dá também na própria Câmara, por exemplo, com discussões sobre o fim do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03), e sobre a redução da maioridade penal.
Já a presidente da comissão, deputada Keiko Ota (PSB-SP), defende leis mais duras para coibir a violência. Mas, na opinião dela, para a prevenção, é preciso ensinar a cultura da paz às crianças e jovens, sobretudo na escola. A parlamentar ressaltou que países como Japão foram bem-sucedidos nesse caminho.
Envolvimento dos pais
A diretora da Escola Estadual Professor Salvador Rocco, de São Paulo, Carla Pietro Contieri, afirmou que muitos fatores externos influenciam a vida escolar, como o ambiente violento, a falta de sono e a má alimentação, entre outros. Segundo ela, a escola promove, desde 2015, a semana da cultura da paz e tem tido bons resultados na formação de valores positivos nos alunos. Para ela, um dos principais fatores que podem proporcionar bons resultados nesse sentido é o envolvimento dos pais.
Professora da mesma escola, Florisa Navarro explicou que o projeto da cultura de paz proporciona aos alunos momento de reflexão sobre o comportamento com o outro, desenvolvendo tolerância e capacidade de diálogo. Para ela, o projeto ajuda, por exemplo, a por fim ao bullying e a promover a solidariedade e a esperança no futuro.
“Fazer a criança se colocar no lugar do outro” é uma das habilidades sócio emocionais que a Escola Estadual Professor Alvino Bittencour, também de São Paulo, tenta promover, segundo o diretor Denys Munhoz. Exercícios de respiração e projetos em que a criança seja protagonista são algumas das estratégias utilizadas.
Reportagem - Lara Haje
Edição – Roberto Seabra