Política e Administração Pública

Éder Mauro diz que não adulterou vídeo sobre Jean Wyllys e o publicou sem conferir veracidade do material

Parlamentar apresentou sua defesa ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar

09/08/2017 - 18:05  

Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados
Reunião Ordinária. Dep. delegado Éder Mauro (PSD-PA)
Delegado Éder Mauro: "O principal aqui é que esse vídeo não foi produzido por nós; chegou a nós pelas redes sociais e nós publicamos em nossa página sem saber que houve alteração no começo do vídeo"

O deputado Delegado Éder Mauro (PSD-PA) negou nesta quarta-feira (9) que tenha sido o autor do vídeo adulterado em que o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) aparece dizendo que negros e pobres são potencialmente mais perigosos do que pessoas brancas de classe média.

Mauro, no entanto, admitiu ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados que autorizou a publicação do vídeo em sua página no Facebook mesmo sem conferir a veracidade do material.

"O principal aqui é que esse vídeo não foi produzido por nós; chegou a nós pelas redes sociais e nós publicamos em nossa página sem saber que houve alteração no começo do vídeo", disse Mauro, ao apresentar sua defesa.

Redes sociais
O vídeo manipulado que se espalhou rapidamente nas redes sociais traz recortes do pronunciamento de Wyllys durante reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurou, em 2015, a violência contra jovens negros e pobres no Brasil. Na ocasião, Wyllys reclamou da adulteração do vídeo.

Os deputados do Psol, autores da representação, já haviam apresentado a gravação original que traz a frase completa dita por Wyllys: “Tem um imaginário impregnado, sobretudo nos agentes das forças de segurança, de que uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média. Esse é um imaginário que está impregnado na gente”.

No vídeo publicado por Mauro, conforme a representação aprovada pela Mesa Diretora, ouve-se apenas: “Uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média”. O processo por quebra de decoro (REP 15/16) foi fundamentado em ação na Corregedoria Parlamentar da Câmara.

Relator questiona
Relator do processo contra o Delegado Éder Mauro por divulgar o vídeo, o deputado Ronaldo Martins (PRB-CE) indagou o acusado se, por estar presente na reunião da CPI, em nenhum momento ele percebeu que o vídeo não condizia com o que Wyllys falou.

“Não percebi. Se tivesse percebido que a primeira do vídeo parte foi editada, teria retirado essa parte e só teria deixado a parte em que tratamos das drogas”, disse Delegado Éder Mauro ao relator, que já encerrou a fase de instrução do processo [investigação] e deverá apresentar seu parecer em breve.

Segundo Éder Mauro, o objetivo era chamar atenção para o trecho final do vídeo, em que Wyllys apresenta argumentos favoráveis à legalização das drogas no País. “Não poderia aceitar que ele fizesse uma proposta dessa, para que crianças e jovens fossem para as ruas vender droga, tendo o grande traficante como patrão”, reagiu.

Imagem atingida
Ouvido como testemunha, o deputado Edmilson Rodrigues (PSOL-PA) disse que não tem como afirmar se Mauro é ou não o autor da adulteração, mas sustentou que a edição é criminosa e atinge diretamente a imagem de Wyllys como defensor dos direitos humanos.

Também ouvido como testemunha, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) ressaltou que a franqueza é sempre um valor, sugerindo que Mauro admita não só a publicação, mas a edição do vídeo. "Sendo inequívoco que houve edição ou adulteração, fazendo com que quem assistiu tivesse um entendimento absolutamente diverso do que o deputado afirmou, seria melhor que isso fosse reconhecido, admitido”, disse.

Nova representação
No início da tarde desta quarta-feira, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar recebeu uma representação do PSB contra o deputado Wladimir Costa (SD-PA) também por quebra de decoro parlamentar por suposto assédio sexual contra uma jornalista da rádio CBN.

Reportagem – Murilo Souza
Edição – Newton Araújo

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