Brasil precisa de escolas conectadas para melhorar qualidade da educação, dizem especialistas
Dados apresentados em audiência mostram que acesso é concentrado nas áreas urbanas do Sul e Sudeste
06/12/2016 - 21:52
O Brasil precisa garantir o acesso das escolas à internet como forma de melhorar a educação e dar igualdade de oportunidades a todos os estudantes. A opinião foi unânime entre os participantes de audiência pública da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, nesta terça-feira (6).
A audiência foi solicitada pelo deputado JHC para debater projeto (PL 4851/16), que trata da avaliação e monitoramento das políticas públicas destinadas à ampliação do acesso à internet, entre elas o Plano Nacional de Banda Larga. O deputado é relator do projeto na comissão.
Américo Bernardes, do Departamento de Inclusão Digital da Secretaria de Telecomunicações do Ministério da Ciência e Tecnologia, afirmou que, apesar de haver muitas escolas conectadas, a velocidade é baixa.
A meta do governo é atingir os 30 milhões de alunos matriculados nas escolas públicas no ensino fundamental e médio até o ano de 2021, mas o País está longe dos números ideais.
Concentração
O representante do Comitê Gestor da Internet no Brasil, Fábio Senne, apresentou dados de pesquisa realizada em 2015 que apontou que apenas 51% dos domicílios possuem alguma forma de acesso à rede.
O problema é que o acesso está concentrado nas áreas urbanas do Sul e Sudeste. A situação é pior nas regiões Norte e Nordeste e em áreas mais pobres, como explicou Senne. O fato mais preocupante é que 3, 6 milhões de jovens jamais acessaram a internet.
"Na área rural, só temos 22% dos domicílios com alguma conexão, que pode ser, inclusive, um celular. Não estamos necessariamente falando de internet fixa aqui. Então, há um desafio de inclusão muito grande, especialmente nessa área. E se olharmos a diferença das classes D e E para a classe A, também temos uma diferença abissal”, informou.
Desigualdades
A diretora-presidente do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb), Lúcia Dellagnelo, afirmou que não faz mais sentido pensar em uma política única sem levar em conta as diferenças em infraestrutura em estados e municípios.
Segundo ela, esse é o momento ideal para implementar uma política mais ampla do uso de tecnologia na educação. "Estados e municípios querem ter um papel proativo no desenho dessa nova política nacional”.
Para a diretora-executiva do Instituto Inspirare, Anna Penido, é fundamental garantir a qualidade do ensino, a contemporaneidade e a equidade, ou seja, garantir a igualdade de oportunidades para todos os estudantes.
O diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, Ronaldo Lemos, disse que a falta de acesso a tecnologias se reflete em casos como o péssimo resultado do Brasil na prova Pisa, que avalia os conhecimentos de alunos de vários países em matemática, leitura e ciências.
Política de Estado
O deputado Vitor Lippi (PSDB-SP) também concordou que o acesso à internet nas escolas tem que ser feito por meio de uma política de Estado, articulada com estados e municípios.
“Quando não conseguimos levar essa tecnologia para as escolas, e a escola também, infelizmente, não tem conseguido dar a qualidade no ensino que nós esperamos, acho que nosso futuro está complicado".
Lippi cobrou ainda a capacitação de professores dentro de um método de ensino ligado à tecnologia e que seja capaz de motivar os alunos.
Reportagem - Mônica Thaty
Edição - Rosalva Nunes