Saúde

Especialistas pedem políticas públicas para diagnóstico e tratamento de celíacos no SUS

06/10/2016 - 14:57  

Lúcio Bernardo Junior/Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre as políticas públicas voltadas para os portadores de doença celíaca, bem como propor a instituição do Dia Nacional da Pessoa com Doença Celíaca
Os debatedores da audiência das comissões de Seguridade Social e Família; e de Legislação Participativa da Câmara defenderam o diagnóstico precoce da doença dos que têm intolerância ao glúten

Representantes da sociedade civil e parlamentares cobraram a definição de políticas públicas no Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para os portadores da doença celíaca, especialmente para o diagnóstico e tratamento.

O assunto foi debatido em audiência pública, nesta quinta-feira (6), pelas comissões de Seguridade Social de Família; e de Legislação Participativa, da Câmara dos Deputados.

A doença celíaca é uma intolerância permanente ao glúten, que acomete indivíduos de todas as idades com predisposição genética, que não conseguem metabolizar essa proteína, causando diversos males à sua saúde.

Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados
Audiência pública com o ministro da Saúde, Ricardo Barros. O ministro é convidado para esclarecer a destinação dos recursos oriundos da arrecadação do DPVAT e repassados ao Ministério da Saúde. Dep. Odorico Monteiro (PT-MG)
Odorico Monteiro pediu que uma área específica do Ministério da Saúde assuma o protagonismo da articulação para as políticas públicas relativas à doença celíaca

O glúten é a principal proteína que compõe o trigo, que hoje é a base de uma ampla gama de alimentos, medicamentos, bebidas e até mesmo cosméticos.

As opções alimentares que estão disponíveis no mercado consumidor reduzem muito a gama de produtos que o doente celíaco pode consumir.

Restrições alimentares
Especialistas, portadores da doença e familiares afirmaram que existe desconhecimento da patologia pela classe médica, o que dificulta o diagnóstico.

Apontaram também os problemas enfrentados, como a falta de alimentos adequados, o que diminui a qualidade de vida dos portadores da enfermidade.

A presidente da Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (Fenalcebra), Elda Regina Leite Galvão, disse que é urgente a definição de políticas públicas que alcancem os mais de 2 milhões de pessoas celíacas no País. Ela e as duas filhas são portadoras da doença.

Emocionada e com a voz embargada, Elda afirmou que sofre na pele as dificuldades de restrição alimentar. “O maior problema é a falta de política de saúde que implemente um protocolo para o tratamento e diagnóstico”, disse.

Lei não regulamentada
Mãe de um celíaco, Clea Bento também se emocionou diversas vezes. Ela reclamou da falta de regulamentação da lei que tornou obrigatória a identificação dos alimentos com glúten nas embalagens ou rótulos (Lei 10.674/03).

Lúcio Bernardo Junior/Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre as políticas públicas voltadas para os portadores de doença celíaca, bem como propor a instituição do Dia Nacional da Pessoa com Doença Celíaca. Dep. Chico Lopes (PCdoB - CE)
Chico Lopes: muitas pessoas não sabem que têm a doença; muita gente vai descobrir por acaso; o SUS não funciona nesse sentido

“Apesar de ter 13 anos, a lei do glúten ainda está efetivamente regulamentada. E as regulamentações administrativas existentes hoje terminam oportunizando que as indústrias rotulem alimentos naturalmente isentos de glúten com a rotulagem contém glúten”, explicou Clea.

Diagnóstico precoce
A realização da audiência foi proposta pelos deputados Chico Lopes (PCdoB-CE) e Odorico Monteiro (Pros-CE). De acordo com Odorico, é preciso criar mecanismos para o diagnóstico precoce do distúrbio.

Segundo ele, a audiência lhe deu subsídios para elaborar um projeto de lei criando o Dia Nacional dos Celíacos. O parlamentar pediu ainda que uma área específica do Ministério da Saúde assuma o protagonismo da articulação da política pública para a doença celíaca.

“Precisamos garantir a alimentação saudável, acabar com o preconceito e, acima de tudo, é essencial o diagnóstico precoce. Se for diagnosticado tardiamente, traz sequelas. Quanto mais cedo o diagnóstico, mais cedo temos o tratamento”, disse.

Protocola para a doença
O deputado Chico Lopes propôs a realização de um seminário para aprofundar o debate e, depois disso, elaborar um projeto para contemplar as demandas dos celíacos. Ele disse que o SUS não funciona no diagnóstico. “Muitas pessoas não sabem que têm, muita gente vai descobrir por acaso. O SUS não funciona neste sentido”, disse.

A representante do Ministério da Saúde, Neli Muraki Ishikawa, declarou que existe um protocolo para a doença. O deputado Odorico solicitou que o protocolo seja melhor divulgado aos estados, municípios e nas universidades.

Reportagem - Eduardo Lobo
Edição – Newton Araújo

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