Empresas aéreas afirmam que aviões modernos não precisam de inspeção no solo
23/08/2016 - 16:44

O vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias, Ronaldo Lemos, afirmou em debate na Câmara dos Deputados que as aeronaves modernas não precisam de inspeção no solo.
"Essas aeronaves mais modernas e que têm sistema de monitoramento remoto, o manual de manutenção delas não prevê inspeção no solo. Essa situação já é feita em vários países do mundo. Não é uma questão de economia, mas de tecnologia”, disse Ronaldo Lemos em audiência da Comissão de Viação e Transporte.
O debate foi sobre o fim da inspeção feita por mecânicos nos aviões que já se encontram na pista de pouso e decolagem. A intenção é substituir essa inspeção por outros procedimentos que seriam realizados pelo próprio piloto. “O manual de manutenção das empresas aéreas nada mais é do que uma réplica do manual do fabricante. Se o fabricante não prevê, as empresas também não vão prever", acrescentou Lemos.
Segurança não comprometida
A informação foi corroborada pelo Ministério dos Transportes e pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), durante a audiência. Segundo a Anac, responsável pela certificação das aeronaves, os avanços tecnológicos permitiram a adoção dos novos procedimentos e isso não compromete a segurança.
As tarefas de manutenção, de acordo com a agência, continuam sob a responsabilidade dos mecânicos. Algumas atividades de atendimento em pista, entretanto, não se encaixam em manutenção e poderiam ser feitas por pessoas qualificadas, não necessariamente mecânicos. A Anac informou ainda que intensificou a supervisão das empresas para o cumprimento da norma.
Temor de demissões
Trabalhadores do setor temem demissões e compareceram em peso à audiência. Reginaldo de Souza, presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aéreos, alertou para as consequências dessa nova norma.

“No caso da Azul, que já está pondo essa orientação em prática, já retiraram os mecânicos. Isso é gravíssimo, é uma aberração. Do mês de março do ano passado a junho deste ano, a TAM já demitiu 1,5 mil pessoas em São Paulo, dentre eles, vários mecânicos", afirmou Reginaldo de Souza.
Contrário à retirada
Mario Amato, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, afirmou ser contrário à retirada de profissionais qualificados para a inspeção das aeronaves na pista. "Em outros países onde isso acontece, basicamente na China e em países do Oriente Médio, o salário desses profissionais gira em torno de 4 ou 5 vezes maiores que o meu. Principalmente na China, onde lá, sim, há falta de mão de obra e eles fazem assim, mas lá essa mudança não é vinculada a custos, mas ao padrão deles. Lá eles cancelam muitos voos, os voos saem muito atrasados, porque ao acender qualquer luzinha, se não apagou, parou o voo. Outro procedimento padrão, que é o abastecimento de combustível, o tempo de solo desses profissionais, nessa aviação, não é menos que uma hora", disse Amato.
Riscos à segurança
Autor do requerimento para audiência, o deputado Laudívio Carvalho (SD-MG) teme que a substituição dos mecânicos represente riscos à segurança dos voos. Ele prometeu continuar o debate sobre o tema na Comissão de Viação e Transportes.
Reportagem – Geórgia Moraes
Edição – Newton Araújo