Cidades e transportes

Empresas aéreas afirmam que aviões modernos não precisam de inspeção no solo

23/08/2016 - 16:44  

Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre a retirada dos profissionais em manutenção de aeronaves durante o trânsito de embarque e desembarque de passageiros
A Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados debateu o fim da inspeção feita por mecânicos nos aviões que já se encontram na pista de pouso e decolagem

O vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias, Ronaldo Lemos, afirmou em debate na Câmara dos Deputados que as aeronaves modernas não precisam de inspeção no solo.

"Essas aeronaves mais modernas e que têm sistema de monitoramento remoto, o manual de manutenção delas não prevê inspeção no solo. Essa situação já é feita em vários países do mundo. Não é uma questão de economia, mas de tecnologia”, disse Ronaldo Lemos em audiência da Comissão de Viação e Transporte.

O debate foi sobre o fim da inspeção feita por mecânicos nos aviões que já se encontram na pista de pouso e decolagem. A intenção é substituir essa inspeção por outros procedimentos que seriam realizados pelo próprio piloto. “O manual de manutenção das empresas aéreas nada mais é do que uma réplica do manual do fabricante. Se o fabricante não prevê, as empresas também não vão prever", acrescentou Lemos.

Segurança não comprometida
A informação foi corroborada pelo Ministério dos Transportes e pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), durante a audiência. Segundo a Anac, responsável pela certificação das aeronaves, os avanços tecnológicos permitiram a adoção dos novos procedimentos e isso não compromete a segurança.

As tarefas de manutenção, de acordo com a agência, continuam sob a responsabilidade dos mecânicos. Algumas atividades de atendimento em pista, entretanto, não se encaixam em manutenção e poderiam ser feitas por pessoas qualificadas, não necessariamente mecânicos. A Anac informou ainda que intensificou a supervisão das empresas para o cumprimento da norma.

Temor de demissões
Trabalhadores do setor temem demissões e compareceram em peso à audiência. Reginaldo de Souza, presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aéreos, alertou para as consequências dessa nova norma.

Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre a retirada dos profissionais em manutenção de aeronaves durante o trânsito de embarque e desembarque de passageiros. Dep. Laudívio Carvalho (SD-MG)
Laudívio Carvalho, que propôs a audiência pública, teme que a substituição dos mecânicos represente riscos à segurança dos voos

“No caso da Azul, que já está pondo essa orientação em prática, já retiraram os mecânicos. Isso é gravíssimo, é uma aberração. Do mês de março do ano passado a junho deste ano, a TAM já demitiu 1,5 mil pessoas em São Paulo, dentre eles, vários mecânicos", afirmou Reginaldo de Souza.

Contrário à retirada
Mario Amato, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, afirmou ser contrário à retirada de profissionais qualificados para a inspeção das aeronaves na pista. "Em outros países onde isso acontece, basicamente na China e em países do Oriente Médio, o salário desses profissionais gira em torno de 4 ou 5 vezes maiores que o meu. Principalmente na China, onde lá, sim, há falta de mão de obra e eles fazem assim, mas lá essa mudança não é vinculada a custos, mas ao padrão deles. Lá eles cancelam muitos voos, os voos saem muito atrasados, porque ao acender qualquer luzinha, se não apagou, parou o voo. Outro procedimento padrão, que é o abastecimento de combustível, o tempo de solo desses profissionais, nessa aviação, não é menos que uma hora", disse Amato.

Riscos à segurança
Autor do requerimento para audiência, o deputado Laudívio Carvalho (SD-MG) teme que a substituição dos mecânicos represente riscos à segurança dos voos. Ele prometeu continuar o debate sobre o tema na Comissão de Viação e Transportes.

Reportagem – Geórgia Moraes
Edição – Newton Araújo

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