Política e Administração Pública

Doleiro diz que operou cerca de R$ 200 milhões em propinas na Petrobras

11/05/2015 - 19:26  

CPI da Petrobras em Curitiba - Alberto Youssef
Alberto Youssef confirmou os depoimentos que deu à Justiça Federal do Paraná na delação premiada: 'Não fui o mentor, mas uma engrenagem nesse processo'.

O doleiro Alberto Youssef, em quase quatro horas de depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, confirmou nesta segunda-feira (11) o que já havia falado em mais de 50 depoimentos à Justiça Federal. Ele havia aceitado fazer delação premiada em troca de benefícios legais.

O doleiro disse que operou algo entre R$ 180 e R$ 200 milhões no esquema de desvio de dinheiro e pagamento de propina na Petrobras. Ele admitiu ter feito isso para o PP, mas disse que chegou a fazer operações para outros partidos, como o PT, o PMDB e o PSB. Ele implicou também o PSDB. “Não fui o mentor, mas uma engrenagem nesse processo”, disse.

Ao responder pergunta do deputado Altineu Côrtes (PR-RJ), Youssef afirmou ter financiado campanhas de vários candidatos do PP a pedido do ex-deputado José Janene.

Políticos
Ele mencionou nomes de políticos que teriam recebido recursos. O dinheiro, segundo ele, era entregue geralmente aos líderes do partido – e citou especificamente o deputado Nelson Meurer (PR) e os ex-deputados Mário Negromonte (BA) e João Pizzolatti (SC) – que se alternaram na liderança do PP.

Dentro desse contexto, ele admitiu que conheceu, em maior ou menor grau, os deputados  do PP  Afonso Hamm (RS), Aguinaldo Ribeiro (PB), Arthur Lira (AL), Dilceu Sperafico (PR), Eduardo da Fonte (PE), Jerônimo Goergen (RS),  José Otávio Germano (PR), Lázaro Botelho (TO), Luis Carlos Heinze (RS), Luiz Fernando Faria (MG), Renato Molling (PR), Roberto Balestra (GO), Roberto Britto (BA), Simão Sessim (RJ) e Waldir Maranhão (MA); além dos ex-deputados Benedito de Lira (AL) e João Leão (BA).

Campanhas

Youssef confirmou ainda ter financiado campanhas para o PT e o PMDB: as dos senadores Valdir Raupp (PMDB-RO) e Gleisi Hoffmann (PT-PR). O doleiro disse ter feito isso a pedido do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Segundo Youssef, o financiamento da campanha de Raupp teria sido feito por meio de doação oficial da empreiteira Queiroz Galvão, e o da campanha de Hoffmann teria sido feito em dinheiro. O dinheiro teria sido entregue em Curitiba a pedido de Costa. “Não conheço [Gleisi Hoffmann] pessoalmente, mas fiz repasses”, disse.

Campos e Guerra
Youssef também afirmou ter colaborado com a campanha eleitoral em 2010 do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, já falecido. E mencionou outros políticos que teriam sido beneficiários de recursos provenientes de empresas contratadas pela Petrobras, em situações diversas.

O doleiro disse ter feito repasse para o PSDB, por intermédio do ex-presidente do partido, senador Sérgio Guerra, já falecido, como maneira de abafar uma CPI da Petrobras em 2009. “Esse dinheiro foi pago pela empreiteira Queiroz Galvão”, disse.

Ele também mencionou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Youssef disse ter sido informado pelo empresário Júlio Camargo, representante das empresas Toyo e Mitsui, com a qual a Petrobras tinha um contrato de aluguel de sondas, de que Cunha e Fernando Soares teriam cobrarado “algo entre R$ 4 e R$ 6 milhões” da empresa. Em depoimento à Justiça Federal, ele disse que Cunha pressionou para que o pagamento fosse feito, usando para isso um requerimento de informações da Câmara sobre o contrato.

“Ele [Camargo] me pediu que fizesse a ele operação a respeito de aluguel de sondas que ele fez com Soares para a Petrobras. Ele me disse que precisava pagar por conta de requerimento que o Fernando Soares tinha pedido ao deputado Eduardo Cunha para que pedisse à Comissão de Fiscalização informações sobre a Mitsui Toyo. Então, ele me pediu que entregasse recursos para Fernando Soares”, disse.

O presidente da Câmara nega as acusações e diz que o Ministério Público está selecionando trechos de denúncias para comprometê-lo.

Em sua versão, Youssef deixou claro que a menção aos nomes de Cunha e Soares teria sido feita a ele pelo empresário Júlio Camargo.

Lucro
Youssef disse que fazia as operações a pedido do então diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Os dois faziam parte do esquema de pagamento de propinas destinada ao PP. Ele disse ter sido informado por Paulo Roberto Costa que esquema semelhante ocorria em outras duas diretorias da Petrobras, a Internacional (para o PMDB) e a de Serviços (para o PT).

Porém, ele disse acreditar que não havia superfaturamento de preços nos contratos da estatal. Ao responder pergunta do deputado Celso Pansera (PMDB-RJ) sobre a origem dos recursos, ele disse que provavelmente vinha da taxa de lucro das empresas.

Youssef disse que muitas vezes o percentual de propina (que ele chama de “comissionamento”) de 1% acabou reduzido a pedido dos empresários.

“Na minha concepção, não havia superfaturamento. Muitas vezes os empreiteiros pediam que o comissionamento fosse reduzido porque eles não estavam dando conta de fazer a obra com esses pagamentos”, disse. “Por isso, muitas vezes o comissionamento de 1% foi reduzido”, concluiu.

Reportagem – Antônio Vital
Edição – Newton Araújo

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