Deputados contestam Gabrielli sobre impossibilidade de descobrir corrupção na Petrobras
Para parlamentares integrantes da CPI da Petrobras, é difícil de acreditar que um profissional há tanto tempo à frente da estatal não soubesse das irregularidades.
12/03/2015 - 20:41

Integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras contestaram nesta quinta-feira (12) as afirmações do ex-presidente da estatal petrolífera José Sérgio Gabrielli quando este disse que é impossível para a Petrobras descobrir internamente as ações de corrupção na estatal.
Os pagamentos milionários de propinas foram denunciados pelos ex-dirigentes da Petrobras Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, delatores da Operação Lava Jato da Polícia Federal, que investiga desvio de cerca de R$ 10 bilhões.
"Não é possível que o sistema de governança da Petrobras captasse. Não há possibilidade de que internamente se captasse essa situação. Tanto é que, depois da denúncia não se chegou a uma conclusão ainda", disse. Membros do colegiado, a maioria de partidos da oposição, contestaram com veemência as afirmações.
Gabrielli disse que, para descobrir esse tipo corrupção, foram necessárias investigações policiais. De acordo com ele, mesmo escritórios especializados em investigação, contratados pela Petrobras, ou auditorias internas do Tribunal de Contas da União (TCU) não chegaram a uma conclusão sobre os processos de corrupção em contratos com a estatal.
O ex-presidente da Petrobras afirmou também que “não há corrupção sistêmica” na Petrobras. “Isso não quer dizer que não haja corrupção na Petrobras, mas isso é um problema individualizado de alguns criminosos”, afirmou, em mais de cinco horas de reunião, no que também foi contestado pelos deputados presentes à reunião.
Suspeita
Diante dos casos apurados na Operação Lava-Jato da Polícia Federal, o deputado Carlos Marum (PMDB-MS) disse que se via no dever de suspeitar do ex-presidente da estatal Sérgio Gabrielli: “É difícil acreditar que um homem competente, há tanto tempo à frente da empresa, não soubesse das irregularidades”, destacou o deputado.
“Existem dois mundos. O mundo [do ex-gerente de Tecnologia Pedro] Barusco, em que ele diz que a corrupção foi institucionalizada desde 2003, e o mundo Gabrielli, que diz que é apenas a distribuição do lucro legítimo entre algumas pessoas. A CPI vai descobrir qual desses mundos é o da realidade e qual é o da fantasia”, afirmou o sub-relator que investiga irregularidades nas Sociedades de Propósito Específico (SPEs), deputado Bruno Covas (PSDB-SP), referindo-se ao depoimento feito por Barusco à CPI na terça-feira (10).
Para o deputado Edio Lopes (PMDB-RR), não é possível aceitar que um homem inteligente como Gabrielli tenha passado “tantos anos no topo de uma empresa, com um grupo de ladrões no andar debaixo do gabinete, e não se aperceber de nada”.
Discussões
Discussões marcaram as respostas de Gabrielli a sub-relatores da CPI e ao líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP). Segundo o tucano, a gestão de Gabrielli tem responsabilidade direta nos prejuízos de mais de 100 bilhões de dólares em perdas no valor de mercado da estatal, de 2008 a 2014.
Gabrielli rebateu a acusação dizendo que hoje a empresa vale quatro vezes mais do que no tempo dos tucanos. “O senhor afronta a inteligência de todos. Não veio para contribuir. Fez mal ao Brasil e é de uma cara de pau inaceitável”, contestou o líder do PSDB.
Propinas de Barusco
Os sub-relatores Arnaldo Farias de Sá (PTB-SP) e André Moura (PSC-SE) retomaram o tema da associação da Petrobras com a empresa Sete Brasil, constituída em 2010 para a produção de sondas de perfuração para a exploração do petróleo do pré-sal.
Moura lembrou que Pedro Barusco confessou à CPI ter arrecadado U$ 97 milhões em propina, o que, para o deputado, revelaria a “omissão” de Gabrielli na investigação de irregularidades na estatal. O ex-presidente da Petrobras disse que a indicação de Barusco para a direção da Sete Brasil foi por competência técnica e decidida de forma colegiada.
Quanto às irregularidades, Gabrielli lembrou que, durante sua gestão, havia auditoria, comissões internas e canais de denúncia que nada encontraram de irregular, na época. Quanto a eventual responsabilidade sua nas irregularidades, acrescentou que “há muita ilação e falta de fundamento nas denúncias”.
Reportagem – Tiago Miranda e José Carlos Oliveira
Edição – Newton Araújo