Saúde

Fiocruz: muitos desconhecem medicamentos que dão qualidade de vida e evitam novas infecções pela aids

06/06/2014 - 12:53  

Os avanços da ciência em relação à prevenção e ao tratamento da aids, que permitiram melhorar a qualidade de vida das pessoas e criar mecanismos para evitar novas infecções, ainda são desconhecidos e inacessíveis a uma parcela da população. A avaliação é da médica infectologista da Fiocruz Valdiléa Veloso dos Santos. “Por mais que a ciência avance nas tecnologias, nós não vamos dar uma resposta adequada à epidemia se nós não enfrentarmos a violência estrutural”, observou.

Durante o 11º Seminário LGBT do Congresso Nacional, a pesquisadora destacou que pesquisas recentes mostram que com a prescrição de medicamentos para uma pessoa que tem alto risco de se contaminar por HIV é possível prevenir, reduzir significativamente a chance dessa pessoa se infectar, tanto antes quanto após o contato com o vírus.

“No contexto de uma relação sorodiscordante (um dos parceiros é soropositivo), se a gente tratar precocemente o risco contágio pode ser reduzido em 96%. Isso é muita coisa, equivale praticamente ao resultado de uma vacina”, disse. Valdiléa dos Santos citou ainda outros estudos mostrando que 30% das pessoas infectadas não adquiriram o HIV dos seus parceiros, adquiriam de uma relação fora daquela parceria.

Ela ainda comentou a baixa adesão ao uso da camisinha como forma de prevenção. “A gente vem dizendo ao longo dessas três décadas: use camisinha, use camisinha. Mas sabe que a adesão não é boa”, completou, acrescentando que os dados revelam 50% de eficiência do dispositivo. “Claro, porque para funcionar tem que usar sempre. Cada um pode se perguntar: quem usa sempre?”

Representante do Ministério da Saúde, Ivo Brito também comentou o que chamou de revolução no campo da prevenção. “Nós estamos deixando de olhar apenas para os métodos tradicionais e trazendo alguns outros métodos para a discussão”, disse ele, alertando para uma possível medicalização do assunto.

Ele sustentou que o governo está reafirmando a convicção de que é fundamental a profilaxia pós-exposição como medida obrigatória para combater novos contágios. “O mesmo vale para a profilaxia pré-exposição, que deve ser direcionada a grupos de risco”, completou.

Antiretrovirais
Uns dos medicamentos antirretrovirais é comercialmente chamado de Truvada. A droga foi aprovada em 2012 pela FDA, agência sanitária americana, como a primeira pílula para ajudar a prevenir o contágio do HIV. Ela é indicada para pessoas saudáveis que possuem vida sexualmente ativa em grupos de risco ou que mantêm relações sexuais com parceiros soropositivos. Segundo estudos realizados em 2010, o medicamento fabricado pelo laboratório Gilead Sciences reduz entre 44% e 73% o risco de infecção pela aids.

A diretora adjunta do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Adele Benzaken, disse no seminário que o ministério está focando a ampliação da testagem em transexuais, profissionais do sexo, gays e usuários de drogas. “Queremos incluir 68 mil pacientes que estão com sistema imunológico em níveis críticos no tratamento antirretroviral”, disse ela, lembrando a primeira importação do comprimido que reúne três remédios do coquetel anti-aids em um só.

Reportagem – Murilo Souza
Edição – Rachel Librelon

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