Direitos Humanos

Brasileira conta na CPI tentativas de descobrir como foi adotada e levada ao exterior

A CPI vai ouvir nas próximas semanas o depoimento de sete pessoas relacionadas ao tráfico de Charlotte Merryl.

08/04/2014 - 16:09  

Assista entrevista de Charlotte Merryl à TV Câmara ao final da audiencia pública.

Parlamentares da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas ouviram nesta terça-feira (8), Charlotte Merryl Victória Cohen Tenoud Ji, brasileira que, aos 26 anos de idade, luta para conhecer sua história.

Charlotte contou que, em 1987, foi levada para a França aos dois meses de vida. Na versão contada pelos pais franceses, ela havia sido achada em uma lata de lixo no Brasil e adotada por eles, história que Charlotte diz não acreditar.

Aos 14 anos ela disse ter encontrado pistas da sua adoção. "Aí eu achei uma pasta no escritório do meu pai adotivo. Tinha meus documentos brasileiros, os nomes das pessoas envolvidas, tinha até o recibo do dinheiro que eles receberam, a conta bancária que a senhora que me traficou, a dona Guiomar Morselli, abriu uma conta sete dias depois de minha chegada na França. Então tinha tudo."

Segundo Charlotte, tinha até a certidão de nascimento de Charlotte, mas a data de nascimento no registro, 30 de maio, pode não ser verdadeira, pois há um registro de exame no dia 15 de maio. Charlotte pode ter nascido no final do mês de abril.

O registro brasileiro dela é Charlotte Pinto da Mota e a mãe que aparece na certidão é Maria das Dores Pinto da Mota. "Eu pensava que era minha mãe. Só que não era, ela era uma pessoa que trabalhava para dona Guiomar que me registrou como se eu fosse filha dela, eu e outro bebê, para poder levar para fora do Brasil."

Guiomar Morselli ainda é do orfanato "Lar da Criança Menino Jesus", na cidade de São Paulo, do qual foi diretora. No local, não há registro da passagem de Charlotte. Guiomar, segundo Charlotte, se nega a falar com ela.

Maus tratos
Charlotte conseguiu sair da casa dos pais franceses aos 16 anos por maus tratos. Após se formar em cinema na Sorbonne, foi para os Estados Unidos e desde 2012 mora no Brasil, onde chegou sem saber falar português. Hoje dá aula de francês no Rio de Janeiro e quer apenas descobrir sua história. "Eu não sei se minha mãe me deixou com essa senhora. Eu não sei se ela me pegou dos braços da minha mãe, eu não sei de nada. Eu não sei quando eu nasci, em qual hospital, qual dia. Uma coisa básica que qualquer ser humano sabe, né?"

O presidente da CPI do Tráfico de Pessoas, Arnaldo Jordy (PPS-PA), afirmou que os envolvidos com esse caso serão convocados para depor. O único convite será para uma mulher chamada Edna, que soube do caso de Charlotte pela televisão e entrou em contato com ela. Edna teve uma filha em 1991 e teria sido forçada por Guiomar Morselli a dar a filha para adoção. Edna chegou a desconfiar que Charlotte fosse filha dela.

Novas audiências
Os trabalhos da CPI devem se encerrar até 30 de abril e não há possibilidade de outra prorrogação. Para Jordy, os indícios do caso de Charlotte são flagrantes. "Para nós, o que importa é caracterizar a rede, identificar os responsáveis por essa rede e pedir o indiciamento daqueles que considerarmos responsáveis e culpados pela organização criminosa. Isso eu acho que dá pra fazer em 20 dias."

Na semana que vem, a CPI deve providenciar a convocação, entre outras pessoas, de Guiomar Morselli, do marido dela, Franco Morselli, que teria pedido a Maria das Dores para não dar entrevistas.

Também serão ouvidos Maria das Dores, registrada como mãe de Charlotte; Marisa Cabral, dona da casa onde Charlotte teria nascido; José, ex-motorista de Guiomar que supostamente levava as crianças para adoção; e o juiz que autorizou a adoção.

Reportagem - Luiz Cláudio Canuto
Edição – Regina Céli Assumpção

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