Pesquisa aponta que 80% dos usuários de crack querem tratamento, destaca secretário
Estudo também mostra que situação da mulher usuária da droga é ainda mais vulnerável, com muitos casos de violência sexual.
21/11/2013 - 15:09
O secretário nacional de Políticas sobre Drogas, Vitore Maximiano, destacou nesta quinta-feira (21), em audiência pública na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, que 80% dos usuários de crack manifestam desejo de buscar tratamento. Esse é um dos dados do estudo “Estimativa do número de usuários de crack e/ou similares nas capitais do País”, encomendado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“Esse dado esvazia sobremaneira o debate sobre a internação compulsória, já que a maioria está interessada em buscar serviços do Estado para seu processo de recuperação”, opinou Maximiano. De acordo com o secretário, a maior parte dos usuários quer algum tipo de ação social como tratamento, mais do que um tratamento de saúde. Ele enfatizou ainda que o uso do crack está, em geral, associado ao uso do álcool. “É a droga que mais gera problemas para a família brasileira”, observou.
A internação compulsória dos dependentes está prevista no Projeto de Lei 7663/10, do deputado Osmar Terra (PMDB-RS), aprovado pela Câmara e em análise no Senado. O projeto foi defendido pela deputada Rosane Ferreira (PV-PR), que solicitou a audiência. “Defendo a internação involuntária quando os dependentes já não conseguem fazer escolhas, discernir sobre suas vidas, e quando acontecem por indicação familiar e médica”, disse.
Foco em adolescentes e no Nordeste
A pesquisa mostrou que os usuários regulares de crack ou de formas similares de cocaína fumada (pasta-base, merla e oxi) somam 370 mil pessoas nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal. Segundo o secretário, isso representa 0,8% da população nas capitais. De acordo com Maximiano, chama atenção o fato de que 50 mil usuários são menores de 18 anos, o que demanda políticas públicas específicas para adolescentes.
“A prevalência é maior nas capitais do Nordeste do que nas próprias capitais do Sudeste, o que também nos chamou bastante atenção, na medida em que os meios de comunicação têm mostrado o problema sobretudo nas grandes cidades do Sudeste”, complementou.
Situação da mulher usuária
Já o pesquisador da Fiocruz Francisco Inácio Bastos ressaltou que, embora os homens representem a maior parte dos usuários (78,7%), a situação da mulher usuária de crack é ainda mais vulnerável do que a do homem. Conforme o pesquisador, a mulher que usa crack muitas vezes sofre violência sexual durante o uso e troca sexo por droga. Ainda segundo ele, a pesquisa mostra que muitas usuárias (50%) ficaram grávidas no período de uso.
Bastos destacou ainda que o crack é utilizado sobretudo em ambientes públicos (80%), por uma população extremamente carente. Ele destacou que, como a droga é usada em grande parte por uma população que vive na rua (47,3%), isso significa que são pessoas que procuram pouco os serviços públicos de saúde. Para lidar com o problema, o pesquisador disse que são necessárias ações multilaterais, nas áreas de saúde, de educação, de segurança pública e de política social.
Reportagem – Lara Haje
Edição – Marcos Rossi