Economia

Setores da indústria reclamam do alto preço do gás natural brasileiro

24/09/2013 - 14:55  

Setores da indústria brasileira que utilizam energia de forma intensiva, incluindo as indústrias químicas, de cerâmica, de alumínio e de vidro, reclamaram do alto preço do gás natural no País, em seminário promovido nesta terça-feira (24) pelas comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, e de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.

Segundo o professor do Grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Luciano Dias Losekann, todos os setores industriais energo-intensivos perderam competividade nos últimos anos, sendo o preço da energia determinante. “Preços competitivos do gás natural podem promover a recuperação desses setores, com a substituição de importações”, disse.

Indústria química
O presidente do Conselho da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Henri Slezynger, destacou que a indústria química – que representa 3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro - utiliza o gás natural não só como insumo energético mas também como matéria prima. Ele também acredita que o principal caminho para resolver o problema do déficit crescente da balança comercial brasileira é estabelecer preços competitivos para as matérias-primas.

Conforme ele, hoje o preço do gás natural no Brasil para os consumidores é de US$ 15 por milhão de BTU (MMBTU). Já nos Estados Unidos, por exemplo, esse preço seria de US$ 3 por MMBTU (1 milhão de BTU (1 MMBTU) = 26, 8 metros cúbicos de gás natural.) “O preço final sugerido para a indústria petroquímica é da ordem de US$ 6 por MMBTU”, disse Slezynger.

Outro pleito da indústria química é comprar gás natural diretamente do produtor, para baixar os preços. O presidente da Abiquim salientou que a Lei do Gás (11.909/09) já prevê que a indústria que utilize gás natural como matéria-prima tenha política de preços diferenciada, mas, passados quatro anos da publicação, ainda não foi regulamentada.

Setor de cerâmicas
O consultor de Energia da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer), Luiz Pedro Biazoto, afirmou que o setor de cerâmicas foi o primeiro setor industrial brasileiro a aderir ao gás natural como matriz energética. Hoje o setor é o segundo maior consumidor de gás natural no país, ficando atrás apenas da indústria química.

Porém, de acordo com o consultor, a partir de 2003/2005 o preço do gás natural começou a minar a competitividade internacional do setor. Conforme Biazoto, 25% do custo do metro quadrado da cerâmica é referente à energia, fundamentalmente o gás natural. “O Brasil já chegou a exportar quase 30% da produção nacional de cerâmica, e hoje exporta apenas 7%”, informou.

O representante da Anfacer defendeu o aporte de recursos governamentais para reduzir o custo de transportes e promover a desverticalização do segmento de gás natural; a implementação de sistema claro de formação e controle de preços enquanto não houver uma efetiva competição no mercado brasileiro de gás natural; a promoção de desoneração fiscal da cadeia de gás natural; e a criação de um operador nacional do sistema nacional de transporte de gás, entre outros pontos.

Aumenta da oferta
A diretora do Departamento de Gás Natural do Ministério de Minas e Energia, Symone Christine de Araújo, afirmou que o aumento da oferta de gás natural poderá contribuir para a redução do preço, “mas o preço nunca poderá ser comparado ao preço norte-americano”, devido às diferenças históricas e de infraestruturas. Ela disse que o governo já investe em aumentar a oferta estruturante e que, com esse objetivo, três rodadas de licitações estão sendo realizadas em 2013.

“Não adianta tentarmos concorrer com os Estados Unidos, temos que tentar ter o preço dos nossos concorrentes diretos”, opinou o deputado Vanderlei Siraque (PT-SP), que solicitou a realização do seminário. Ele sugeriu ainda a unificação dos tributos, em todo o País, sobre o transporte do gás natural.

Já o deputado Izalci (PSDB-DF) destacou que apoia o uso de gás natural como forma de elevar a competitividade do Brasil. “O gás natural substitui, com vantagens, outras fontes de energia, elevando a produtividade e reduzindo a emissão de poluentes”, disse. Porém, conforme o parlamentar, para que possa ser efetivamente aproveitado pela indústria, a produção de gás natural requer investimentos, e as pesquisas devem ser aprofundadas.

Reportagem – Lara Haje
Edição – Rachel Librelon

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