Entendimentos na Síria dependem de mediadores confiáveis, diz assessor
17/10/2012 - 14:37
Participantes de mesa-redonda que discutiu o papel do Brasil no Oriente Médio afirmaram que o conflito na Síria, país comandado pelo ditador Bashar al-Assad desde 2000, só se resolverá se houver entendimento entre todos os atores políticos envolvidos, inclusive indiretamente.
“A questão síria só se resolverá com a inclusão de mediadores confiáveis de todos os lados. Não há como conduzir um processo de pacificação sem a participação de Irã, Arábia Saudita, Rússia e Estados Unidos”, comentou o assessor internacional do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Hussein Ali Kalout. Ele foi um dos convidados do evento promovido pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional.
Na opinião de Hussein Ali Kalout, a questão síria extrapola a chamada Primavera Árabe (onda de revoluções contra governos autoritários no mundo árabe e no norte da África que tiveram início no fim de 2010), por envolver diversos interesses. “Ela vai além da disputa por liberdade e democracia. É uma nova versão do embate Oriente-Ocidente em um formato contemporâneo.”
Israel
Ali Kalout disse que a mudança de regime na Síria depende, por um lado, da segurança de Israel. O interesse de Israel, explicou, choca-se com o da Arábia Saudita, que disputa a hegemonia regional com o Irã e tenta quebrar “a espinha dorsal” entre Síria, Irã, Iraque, Barein e Líbano. “Se você derrubar o Estado sírio, você encurrala o Irã no Oriente Médio. Mas o risco é que se pode levar ao poder um regime hostil a Israel.”
Também a Rússia tem interesse em defender a Síria, acrescentou o assessor, em razão de o país do Oriente Médio representar o último bastião que a antiga União Soviética preservou na região. “A Rússia joga a mesma cartada que os EUA na situação israelense”, afirmou.
Na opinião do deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), a situação é bem mais complexa do que um jogo de fantoches com manipuladores. O que ocorreu, disse, foi a influência da Primavera Árabe, com parte da população indo para as ruas imitar o que havia ocorrido no Egito e em outros países. Porém, continuou, houve uma escalada dramática que passou a ser manipulada por todas as potências que têm interesse e há, neste momento, um processo sangrento em curso com forte intervenção de vários tipos de forças estrangeiras. Sirkis também entende que Israel não tem interesse na queda do regime de Assad.
Segundo o representante brasileiro para os assuntos do Oriente Médio, embaixador Cesário Melantonio Neto, o Brasil tende a apoiar a missão das Nações Unidas na Síria e de seu enviado especial, Lakhdar Brahimi. "O Brasil, como todo país emergente, tem interesse natural e legítimo em acompanhar a questão de perto."
Brasil
Apoiando as iniciativas e intervenções brasileiras, o deputado Ivan Valente (Psol-SP) disse que as decisões nacionais em relação aos conflitos internacionais devem ser tomadas em nome da democracia e da paz, independentemente das pressões da mídia.
Na opinião de Hussein Ali Kalout, o Brasil até pode colaborar na mediação do conflito, mas não há garantias de que os países da região aceitem a participação brasileira. Segundo Melantonio Neto, no entanto, o Brasil atuaria como facilitador, não sozinho, mas em conjunto com outros países.
Reportagem- Noéli Nobre
Edição- Mariana Monteiro