Países ricos têm receio em alterar sistema financeiro, dizem debatedores
19/09/2012 - 16:04
Representantes do governo, da indústria e pesquisadores afirmaram nesta quarta-feira (19) que o sistema financeiro internacional precisa ser modificado, mas ainda não há muita abertura das maiores economias em ampliar a participação de outros países, como os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Os debatedores participaram do seminário promovido pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre “os desafios da política externa brasileira em um mundo em transição”. O evento, iniciado ontem (18), aborda as transformações dos cenários e conjunturas internacionais e as dificuldades e oportunidades que se colocam para o Brasil dentro desse contexto.
Para o diretor de Comércio Exterior do BNDES, Luiz Eduardo Melin, o mundo ainda tenta descobrir como sair da crise financeira. “O diálogo do G20 conseguiu ver os problemas, mas não conseguimos soluções, principalmente pela relutância dos países do G7 em alterar seu sistema financeiro.”
Para o diretor do Departamento de Assuntos Financeiros e Serviços do Ministério das Relações Exteriores, Luís Antônio Carneiro, a crise econômica provocou um nivelamento no mundo ao atingir nações desenvolvidas que se diziam, segundo ele, imunes a problemas econômicos. “Desde o início, a reforma do sistema financeiro era importante, mas queríamos mais participação nas instâncias decisórias. Uma das reivindicações era o ingresso em foros exclusivo de países desenvolvidos”, disse Carneiro. De acordo com ele, a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2010, que garantiu maior participação brasileira como um dos dez primeiros credores do fundo, foi um primeiro passo, porém a negociação entre países europeus e os Brics emperrou.
Na opinião do diretor de Políticas e Estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Coelho Fernandes, o País deve priorizar a sua competitividade no mercado internacional para vencer a crise. “A crise internacional ainda está longe de ser superada, ela reforça a importância da agenda de competitividade para abrir um novo espaço de atuação do Brasil”, declarou.
Energia
No segundo painel desta manhã, os debatedores divergiram sobre a importância a ser dada pelo petróleo dentro da geopolítica de energia do País.
Para o ex-secretário do Brasil na Conferência Rio+20, Luiz Alberto Figueiredo, gás, petróleo e carvão devem continuar como as principais fontes de energia nas próximas décadas, mas é necessário um investimento sério em fontes alternativas de energia. Ele lembrou que, com as descobertas do pré-sal, as reservas brasileiras devem chegar a 50 bilhões de barris, ocupando a nona posição mundial. “Se nós temos grande potencial e aplicação de renováveis (45% da matriz energética nacional), também tivemos a descoberta de reservas de petróleo e gás.”
O diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Helder Queiroz, salientou que a autossuficiência na produção dessa fonte de energia tem sido uma política de estado brasileira há anos. “A indústria de petróleo não vive sem descobertas. O mapeamento de reservas mais fáceis já foi feito, mas o Brasil tem novas fronteiras exploratórias”, comentou.
Para o presidente da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul, Darc Costa, o consumo energético mundial precisa ser mais equilibrado. Conforme ele, Estados Unidos e Canadá têm 5% da população mundial e consomem 28% da energia do mundo. “A China, por sua vez, já consome mais energia que os Estados Unidos. A tendência é dobrar nos próximos 30 anos. As grandes questões estratégicas são energia, em particular petróleo, e alimento, a água”, alertou.
O deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) disse que os debates sobre a crise internacional e a geopolítica energética são convergentes. Ele lembrou que a dificuldade crescente para prospecção e extração de petróleo ajudará a mudar o sistema produtivo baseado em combustíveis fósseis.
Reportagem – Tiago Miranda
Edição – Marcelo Oliveira