Política e Administração Pública

Em oito horas de depoimento na CPMI, Perillo nega influência de Cachoeira

CPMI pode votar quebra de sigilo do governador de Goiás na quinta.

12/06/2012 - 22:18  

Leonardo Prado
Oitiva de Marconi Perillo (governador de Goiás)
Perillo: Três anos de gravações: nenhuma ligação do Cachoeira para mim. Apenas uma ligação minha de cumprimentos pelo seu aniversário.

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), negou envolvimento de seu governo com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Ao longo de mais de oito horas de depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as relações de Cachoeira com agentes públicos e privados, nesta terça-feira, ele também negou qualquer beneficiamento ao grupo do bicheiro e à empreiteira Delta em seu governo e se disse vítima de boatos e injustiças.

Saulo Cruz
Dep. Odair Cunha (relator)
Odair Cunha pode propor a quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal de Perillo.

O relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG), disse que o depoimento não foi conclusivo e indicou que poderá propor a quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal de Perillo na reunião administrativa marcada para quinta-feira.

Cunha minimizou o depoimento dizendo que ele representou “apenas” a versão do governador para os fatos. “Os testemunhos não são [os instrumentos de investigação] mais importantes, temos outros meios de prova e vamos fazer o cruzamento de informações”, declarou.

O governador afirmou ainda que as suspeitas em torno da venda de sua casa não têm fundamento. Ele cobrou do jornalista Luiz Carlos Bordoni, que diz ter recebido da campanha de Perillo pagamento de uma empresa acusada de ser laranja de Cachoeira, que prove a acusação na Justiça.

Envolvimento
O governador de Goiás admitiu ter mantido relações sociais com Carlos Cachoeira, inclusive chegou a telefonar para o contraventor em seu aniversário, mas rejeitou a acusação de que o grupo tivesse algum tipo de influência em sua gestão. "Não há nenhum ato do governo de Goiás, no meu governo, em beneficio ou na direção do que suscita os diálogos divulgados na imprensa sobre a Operação Monte Carlo", disse. A Operação Monte Carlos foi realizada pela Polícia Federal (PF) e motivou a prisão de Cachoeira, entre outras pessoas. "Eu rechaço veementemente a possibilidade de corrupção no meu governo", completou o governador.

"Nunca mantive qualquer relação de proximidade com o senhor Carlos Augusto de Almeida Ramos. Trinta mil horas de gravações e três anos de gravações: nenhuma ligação do senhor Carlos Cachoeira para mim ou para o meu telefone ou para o meu gabinete. Nenhuma ligação dele para mim. Apenas uma ligação minha de cumprimentos pelo seu aniversário."

Perillo admitiu apenas quatro encontros com o bicheiro: três informais e outro na sede do governo goiano para tratar de benefício fiscal a empresas. Marconi Perillo afirmou que, nessas ocasiões, ainda desconhecia os negócios de Carlinhos Cachoeira.

Testemunha x investigado
Durante o depoimento, o relator protagonizou um forte bate-boca com a bancada de parlamentares do PSDB ao perguntar se o governador abria mão de seus sigilos bancário, fiscal e telefônico e ao dizer que Perillo estava prestando depoimento na condição de investigado, enquanto, na realidade, era testemunha.

Leonardo Prado
Dep. Bruno Araújo (PSDB-PE)
Bruno Araújo: ressaltou a disposição de Perillo em depor desde o mês passado.

De imediato, parlamentares da oposição se dirigiram aos gritos ao relator, reclamando da pergunta de Odair Cunha. "Ele [Perillo] não é investigado. [...] O relator se perde, ele está aqui como testemunha", declarou o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). “O relator está agindo como vice-líder do PT”, acusou o deputado Onyx Loronzoni (DEM-RS). “Se quiserem quebrar o sigilo tem que aprovar requerimento”, reclamou o líder do PSDB, deputado Bruno Araújo (PE).

Perillo, por sua vez, lembrou que havia pedido que a Procuradoria-Geral da República o investigasse, mas reiterou sua condição de testemunha e afirmou que não via “fundamento jurídico” para a quebra de seus sigilos.

Bruno Araújo fez questão de ressaltar a disposição de Perillo em depor desde o mês passado e elogiou o governador goiano. "A confiança que o partido sempre teve em vossa excelência se confirma para o Brasil ao longo desse longo testemunho. Confirma-se com essa mesma firmeza. Nós somos testemunhas da indignação de vossa excelência quando os fatos surgiram e da iniciativa de vir a essa comissão. Nós apostamos que, a partir de hoje, essa CPMI possa voltar ao seu rumo."

Venda da casa de Perillo
A prisão de Cachoeira ocorreu em uma casa que havia sido de propriedade de Perillo. O relator e a PF suspeitam que o imóvel tenha sido comprado indiretamente por Cachoeira.

O governador disse que a venda foi inicialmente feita a Wladimir Garcez, ex-vereador pelo PSDB e ex-presidente da Câmara de Goiânia, que também foi preso pela PF, e que este repassou a casa ao empresário Walter Paulo Santiago.

Segundo Perillo, os cheques que recebeu foram dados por Garcez, e somente depois ele soube que foram emitidos por um sobrinho de Cachoeira. "Os cheques eram nominais, foram recebidos e depositados em minha conta pessoal e demonstram a boa-fé da transação", disse.

Odair Cunha questionou sobre o fato de a escritura a casa não ter saído em nome de Garcez. "Durante longo tempo cogitou-se que vendi para o Cachoeira. Restou provado que não foi. Ocorre que não adianta forçar a barra. Quem pediu para comprar a casa foi o Garcez. Acertamos o valor e ele ficou de pagar com cheques pré-datados. Não tinha como eu escriturar a casa sem ter os cheques pagos. Segundo, eu não tinha como, não tinha bola de cristal, que o sr. Garcez tinha recorrido aos seus patrões", respondeu Perillo.

O governador disse que não viu quem eram os emitentes dos cheques. Nas cópias dos cheques entregues por Perillo à CPI, o emitente é a Excitant Indústria e Comércio, empresa que, de acordo com a PF, pertence a uma cunhada de Cachoeira e recebeu depósitos da Alberto e Pantoja, empresa fantasma que supostamente abastecia as contas do grupo de Cachoeira.

O líder do Psol, deputado Chico Alencar (RJ) não se convenceu com os esclarecimentos do governador goiano sobre a venda de seu imóvel ao grupo de Cachoeira. "Quem pagou a aquisição dessa casa foi Cachoeira/Delta, o esquema que estamos investigando aqui. Isso é irrefutável, mas o governador insiste nesse argumento pífio de dizer que não reparou quem estava emitindo o cheque. Ninguém, em uma soma desse tipo, vai ter essa desatenção".

Delta
Perillo também negou que Garcez o tenha procurado para falar de pleitos de Cachoeira ou da Delta que, segundo a PF, ajudava a financiar o esquema do contraventor. Ele disse, porém, ter conhecimento de que Garcez procurava órgãos do governo com essa intenção. "Garcez nunca me levou pleito algum de Cachoeira. Sei que levou a alguns órgãos do governo pleitos da Delta. Ele recebia um valor da Delta e um menor do Cachoeira. A mim, ele nunca levou pleito da Delta e do Cachoeira".

Segundo o governador, a Delta recebeu R$ 14 milhões em 2011 e R$ 4 milhões em 2012 por obras resultantes de contratos com o governo de Goiás. “Os contratos da Delta no meu estado representam 4% dos contratos em vigor na Agência de Obras e Transportes.”

Jornalista
O governador afirmou ainda que processou o jornalista Luiz Carlos Bordoni por calúnia, após ele ter denunciado à imprensa que os serviços que prestou à campanha de Perillo teriam sido pagos com recursos ilegais.

O relator Odair Cunha lembrou que Bordoni afirmou que prestou serviço por R$ 170 mil enquanto que o governador afirma que pagou R$ 33 mil. Cunha destacou a fala de Bordoni, de que recebeu R$ 40 mil em dinheiro da mão do governador e que Perillo teria tirado dinheiro de um frigobar.

"Bordoni disse que recebeu do senhor R$ 40 mil em dinheiro, foi o primeiro pagamento, disse que o senhor tirou o dinheiro dentro de um frigobar. Disse Bordoni: só podia estar desligado [o frigobar] porque o dinheiro não estava gelado", afirmou o relator.

Perillo rebateu: "Ele tem que provar isso na Justiça. Nesse escritório tem um pequeno gabinete, que tem frigobar, quadros, mas que todo mundo conhece. Claro que qualquer pessoa que tenha passado por lá tem condições de descrever esse ambiente."

Ex-chefe de gabinete
Em relação a sua ex-chefe de gabinete, Eliane Pinheiro, que admitiu ter relações pessoais com Cachoeira e pediu exoneração depois da Operação da PF, Perillo afirmou que não sabia das relações de sua ex-assessora e que tem diversos chefes de gabinete, cada um com uma função. Ele informou que Eliane cuidava de articulações políticas no interior do estado.

Após o depoimento, Marconi Perillo deixou o Congresso cercado por seguranças e assessores, sem falar com a imprensa.

Nesta quarta-feira, a CPMI vai ouvir o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz.

Da Reportagem
Edição – Regina Céli Assumpção

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.