Transição para economia verde exige foco na redução da pobreza
Valorização do trabalhador também deve ser levada em conta no "esverdeamento" da economia. Comissões da Câmara debatem processos de mudança.
28/05/2012 - 11:35
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) prevê que, com a transição para uma economia verde, haverá uma gradual redução dos empregos em áreas muito ligadas a setores poluentes, como o de petróleo e carvão. Em contrapartida, atividades como a produção de energias renováveis devem enfrentar um aumento da demanda por mão de obra, seja para o desenvolvimento de novas tecnologias seja para operação técnica dos sistemas de geração e distribuição.
Recentemente, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançou o alerta de que uma economia voltada a baixas emissões de poluentes não é automaticamente mais inclusiva e sustentável. E recomendou atenção à segurança e à saúde do trabalhador no "esverdeamento" da produção.
A recomendação compartilhada pela socióloga e economista Tânia Bacelar, da Universidade Federal de Pernambuco. "A luta para ter trabalho decente é uma luta contínua", enfatiza. "A produção do etanol é um exemplo. Por trás dela, está a produção de cana-de-açúcar, com um trabalho pesado, nem sempre bem remunerado", complementa a professora.
Em recente audiência pública sobre o assunto na Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional, a professora do Departamento de Tecnologia Rural da Universidade Federal Rural de Pernambuco Soraya El-Deir defendeu que as discussões sobre a economia verde levem em conta também as peculiaridades regionais.
Ela citou o caso do semi-árido, onde estão 27 milhões de brasileiros, sendo 9,6 milhões deles vivendo com até R$ 70 por dia. Segundo Soraya El-Deir, a região tem experiências exitosas de economia verde, com a construção de cisternas e a produção rural a partir do aproveitamento da água salina. Os projetos, no entanto, correm risco por falta de apoio governamental. "É impossível você pensar numa solução para o semi-árido sem uma decisão política do governo", criticou.
Agricultura familiar
O incentivo à produção familiar típica do semi-árido tem na transição para uma economia verde uma aliada. O PNUMA indica que a agricultura estará entre os setores com maior potencial de geração de emprego e renda com o "esverdeamento" da economia.
Segundo o programa da Organização das Nações Unidas (ONU), o investimento em práticas sustentáveis nas pequenas propriedades pode ser o modo mais eficaz para fornecer comida à população mais carente e reduzir a pobreza.
Em todo mundo, estima-se que existam cerca de 525 milhões de pequenas fazendas, sendo 404 milhões com menos de dois hectares. É o caso da chácara da família Christ, localizada a cerca de 30 km do centro de Brasília, no Núcleo Rural Lago Oeste.
O proprietário da fazenda, Édio Christ, vende seus produtos em mercados e feiras da região. Édio acredita que os bons resultados se devem ao cuidado com que a família procura organizar a produção, com variedade e apoio técnico de órgãos como Emater e Embrapa. A família ainda recorre a adubos químicos para produzir, mas não usa mais veneno no combate às pragas nem defensivos para limpar o terreno.
Reportagem - Ana Raquel Macedo/Rádio Câmara
Edição – Natalia Doederlein