Novo modelo de produção exige mudança da postura dos empresários
28/05/2012 - 11:11
A conversão para o chamado modelo de agricultura de baixo carbono não é simples. Exige planejamento, recursos e uma boa dose de mudança da cultura empresarial rural. Agricultores e parlamentares ressaltam ainda que apenas incentivos financeiros não bastam para viabilizar essa transformação.
Marize Porto Costa é dona da Fazenda Santa Brígida, que fica em Ipameri (GO). Com 920 hectares, a fazenda é um exemplo bem-sucedido de agricultura verde.
Em 2006, Marize recebeu orientação da Embrapa sobre técnicas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). A produtora conta que, na época, os vizinhos da Santa Brígida duvidaram que um sistema que conjugava produção de soja e milho com pasto para o gado e plantação de eucalipto pudesse dar certo.
Mais de cinco anos depois, Marize não só provou que era possível como reduziu custos, aumentou a produtividade e alcançou lucros superiores a quem continuou no sistema tradicional. "Antigamente, não conseguíamos nem R$ 100 por hectare/ano com o gado naquela pastagem. Hoje a gente consegue cinco vezes mais. Além disso, o custo de produção da arroba no sistema integrado [ILPF] é de R$ 24 e no sistema convencional de R$ 73. É gritante, é de três vezes mais!"
Financiamento
O trabalho na fazenda permitiu à Marize acessar uma linha de crédito específica para agricultura de baixo carbono. Criado pelo governo federal em 2010, o Programa ABC prevê, para a safra 2011/2012, mais de R$ 3 bilhões em crédito para a implantação de viveiros de mudas florestais, adoção do sistema lavoura-pecuária-floresta, recuperação de áreas de preservação permanente (APPs), plantio direto e produção orgânica. Até agora, mais de R$ 850 milhões foram desembolsados pelo Banco do Brasil para esta safra.
Mas o programa ainda não é amplamente conhecido. Levantamento realizado pelo Portal Agripoint, em março, mostra que a falta de informação é o principal empecilho para adesão à linha de financiamento.
Ex-ministro da Agricultura e produtor rural em Minas Gerais, Alysson Paolinelli implantou há dez anos na Fazenda Boa Vista a integração lavoura-pastagem e agora se prepara para incluir o plantio florestal no sistema. Ele acredita que, quando as vantagens da agropecuária de baixo carbono se tornarem mais conhecidas, os produtores vão aderir e buscar o financiamento disponível para a mudança. "Com o financiamento vou passar de 400 animais para 1.200 animais”, planeja.
Propostas na Câmara
Além de linhas de crédito específicas, o estímulo à agricultura verde poderia vir por mudanças na lei. Na Câmara, há, pelo menos, cinco propostas voltadas à produção orgânica.
A maioria delas reforça os critérios para certificação orgânica e a destinação de crédito agrícola para a adoção desse tipo de produção, especialmente quando ela for feita com mão de obra familiar (PLs 273/07 e apensados; e PL 4362/08).
Conhecido pela atuação na bancada ruralista, o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) é autor de um dos projetos apensados que também trata de certificação de orgânicos (PL 3827/08). Para ele, apesar de importante, o crédito sozinho não consegue estimular a mudança para o sistema orgânico.
Colatto lembra que é preciso modificar inclusive equipamentos e mão de obra. “ Isso leva algum tempo. Mas eu diria que o Programa ABC está andando bem. Mas está andando nas propriedades maiores, onde você tem tecnologia e mais facilidade de extensão de área para fazer isso."
Regras atuais
A Lei 10.831/03 já regula a produção de orgânicos no País. Em 2011, os produtores passaram a ser obrigados a exibir um selo de identificação do produto. Apenas os agricultores familiares que vendem diretamente a produção ao consumidor em feiras ou mercadinhos locais estão isentos de usar o selo, mas precisam se cadastrar no Ministério da Agricultura.
Reportagem - Ana Raquel Macedo/Rádio Câmara
Edição – Natalia Doederlein