Relações exteriores

Migração de haitianos reforça imagem positiva do Brasil, dizem especialistas

A atual taxa brasileira de desemprego, menor do que as registradas nos EUA e na Europa, atrai estrangeiros e empresas internacionais.

06/02/2012 - 11:33  

Governo do Acre
Relações exteriores - Geral - Servidores da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) cadastrando os haitianos que se encontram em Brasileia, no Acre
Servidores cadastram haitianos em Brasileia, no Acre.

Os cerca de seis mil haitianos que até a última semana haviam cruzado a fronteira brasileira para pedir visto em cidades como Tabatinga, no Amazonas, e Epitaciolândia e Brasileia, no Acre, não escolheram o Brasil por acaso. Na opinião de especialistas, o bom momento por que passa a economia brasileira deve estimular ainda mais a entrada de estrangeiros no País. Segundo o Ministério da Justiça, entre 2010 e 2011 o número de estrangeiros em situação regular no País cresceu 51,7%, passando de 962 mil para 1,46 milhão.

“O caso dos haitianos é pontual porque, em uma situação de calamidade, é comum haver migrações por um período relativamente curto”, observa o cientista político Cristiano Noronha, da consultoria Arko Advice, ao relembrar o terremoto de 7 graus na escala Richter que devastou as imediações de Porto Príncipe, capital do Haiti, em 2010, agravando ainda mais os problemas socioeconômicos do país – boa parte deles ligados a governos ditatoriais, guerra civil e a uma grave epidemia de cólera.

No entanto, Noronha afirma que o interesse dos haitianos pelo Brasil reforça a imagem de nação hospitaleira, e chama atenção para as condições de vida e trabalho que o País oferece. “Além dos oportunistas, que simplesmente buscam fugir de uma situação difícil ou experimentar algo novo, o Brasil passou também a atrair, em maior quantidade, imigrantes patrocinados por empresas nacionais, que não encontram aqui mão de obra qualificada, e empresários estrangeiros, que veem o País como uma oportunidade de expansão do negócio”, afirma.

O presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), também considera benéfico o interesse pelo País. “O Brasil tem que receber os haitianos e quem quiser vir para cá. Somos basicamente uma nação de imigrantes”, disse Leréia.

Professor de relações internacionais na Universidade de Brasília, Antônio Ramalho da Rocha afirma que o fato de o Brasil estar mais em evidência no cenário internacional deve facilitar a captação de mão de obra. “Na época do desmembramento da União Soviética, os americanos souberam se beneficiar muito bem daquele cenário socioeconômico. Agora, com situações desfavoráveis tanto nos EUA quanto na Europa, é a nossa vez de ter acesso à mão de obra qualificada no curto prazo”, sustentou.

Rocha afirma ainda que nesses países e em outros, como Portugal, França, Bélgica e Grã-Bretanha existem muitos profissionais ociosos que poderiam ser aproveitados aqui. “Precisamos aproveitar o investimento que foi feito por outras sociedades, uma vez que, por exemplo, leva-se em média entre 20 e 25 anos para formar um bom engenheiro ou bom um cientista”, completou.

Reportagem – Murilo Souza
Edição – Natalia Doederlein

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