Ex-ministro quer controle do câmbio para evitar desindustrialização
04/05/2010 - 15:50
O economista Luiz Carlos Bresser Pereira, que foi ministro nos governos José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, defendeu nesta terça-feira, na Câmara, que a taxa de câmbio deve ser controlada pelo governo para evitar o que ele chama de "desindustrialização" do País.
Ele observou que a participação da indústria no Produto Interno Bruto caiu de 19% na década de 90 para 15,5%. “Essa retração é resultado da crença equivocada de que a taxa de câmbio deve ser determinada pelo mercado”, afirmou Bresser em seminário da Comissão de Finanças e Tributação.
Segundo ele, a taxa de câmbio ideal para garantir a competitividade da indústria brasileira seria de R$ 2,40 e não em torno de R$ 1,80 como hoje. O economista acredita que é um erro deixar a taxa flutuar livremente e sugeriu a adoção de metas cambiais.
"Nós temos muitos empresários competentes, mão-de-obra barata ainda e custos de infraestrutura que são altos, o custo-Brasil. Mas eu acho que o salário baixo mais que compensa isso, de forma que nós podíamos exportar muito”, avalia.
Entrada de dólares
O ex-ministro ressaltou que outros países fazem este controle de maneiras variadas, em especial os países asiáticos. “Não é só a China, todos eles. Um enorme crescimento, muito maior que o nosso, porque administra a taxa de câmbio. Essa história de que o Brasil só deve ter uma meta, a meta de inflação, e não deve ter de taxa de câmbio, isso interessa aos inventores deste sistema. Aos americanos, aos europeus, a nós isto não interessa em hipótese alguma.”
Para atingir a meta, segundo Bresser, o governo deveria controlar a entrada de dólares no País, apostando mais na poupança interna e adotar mecanismos como impostos de exportação sobre commodities como a soja. “O imposto faria com que o empresário só vendesse para o exterior caso houvesse um ajuste pelo lado do câmbio.”
Sobre a política monetária, Bresser Pereira disse que o Banco Central reduz pouco os juros quando decide reduzir, fazendo com que o nível médio permaneça alto ao longo do tempo. Este mês, diante de pressões inflacionárias, o Banco Central decidiu elevar os juros de 8,75% para 9,5% ao ano.
Lucro dos bancos
Já o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, procurou mostrar que, apesar das altas taxas de juros cobradas das empresas e das pessoas físicas, os bancos brasileiros não estão lucrando mais que o padrão internacional.
Ele disse que o spread bancário - que é a diferença entre o custo de captação do banco e a taxa que a instituição cobra, por exemplo, das empresas - está hoje em 12,7%. Deste total, apenas 4 pontos percentuais representariam o lucro do banco. O restante é imposto, inadimplência e custos administrativos.
O economista afirmou que o spread bancário no País pode ser diminuído se o governo reduzir os valores dos impostos cobrados dos bancos. Mas, de acordo com ele, os valores atuais condizem com os spreads de outros países, como o México (19,9%) e o Chile (17,9%).
Alternativas monetárias
O presidente da Comissão de Finanças e Tributação, deputado Pepe Vargas (PT-RS), disse que o objetivo da discussão é justamente buscar alternativas às políticas monetária e cambial em vigor hoje.
"Setores da inteligência brasileira ainda estão presos a um mito de que o Brasil não pode crescer sem gerar inflação”, avalia Vargas. “E se gera inflação, a única maneira de combater o problema é elevar a taxa de juros. Então o objetivo do debate é justamente colocar luzes sobre outras questões que não apenas essa receita ortodoxa."
Investimentos onerados
Já o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), destacou que sistema tributário brasileiro onera investimentos e exportações. Para Monteiro, o Brasil privilegia o setor financeiro em detrimento do produtivo, ao contrário do que ocorre nos países asiáticos.
O deputado afirmou também que o sistema de infraestrutura do País é falho, que o Real está sobrevalorizado em relação ao dólar e que a taxa de juros adotada no Brasil é alta. Segundo ele, esses fatores prejudicam o desenvolvimento da indústria no País.
Reportagem - Sílvia Mugnatto/Rádio Câmara
Edição – Newton Araújo