PF investiga filho de Lula, diz Daniel Dantas

13/08/2008 - 23:32  

O banqueiro Daniel Dantas afirmou nesta quarta-feira, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Escutas Telefônicas Clandestinas, que o delegado Protógenes Queiroz disse a ele, durante o depoimento de Dantas na Polícia Federal, que iria investigar o filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Fábio Luís Lula da Silva.

Em janeiro de 2004, a empresa Gamecorp, do filho do presidente, recebeu R$ 5 milhões da Telemar. Os investimentos da empresa de telefonia são apontados como suspeitos porque duas instituições de interesse público possuem ações da Telemar – o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras (Petros), que é dono de 19,9% das ações da companhia, e o BNDES, com 4,7%. "Ele [Protógenes] me disse que iria até o fim nas investigações", declarou.

Acusações
Durante mais de seis horas, Dantas fez uma série de acusações contra integrantes do governo e empresas de telefonia. Como estava protegido por habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), ele não foi obrigado a dizer a verdade e pôde ser auxiliado por uma equipe de advogados durante todo o depoimento. A interpretação de diversos deputados foi de que o empresário aproveitou a situação para "mandar recados", conforme definiu o autor do requerimento para a realização da audiência, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).

Além de citar o filho de Lula, Dantas informou que Protógenes fez duas recomendações a ele: que não falasse com a imprensa e que não trouxesse para o Brasil o relatório da Justiça italiana sobre a disputa do controle societário da Brasil Telecom. Segundo ele, o delegado disse que esse material já tinha sido apurado e não era verdadeiro.

Segundo o banqueiro, o relatório da Justiça italiana traz a suspeita de que a Telecom Itália teria utilizado pessoas ligadas à PF e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para vasculhar correspondência do grupo Opportunity. O relatório mostraria ainda que teriam sido distribuídos 25 milhões de euros (cerca de R$ 65,1 milhões em valores atuais) a pessoas no Brasil para impedir que seu grupo continuasse como sócio da Brasil Telecom.

Operação Satiagraha
Para Dantas, toda a celeuma provocada pela Operação Satiagraha da PF é "muito estranha" e indica que "há mais coisas aí". Ele considera exagerado o grande interesse policial e político em uma negociação comercial privada: "Dizem que se trata de uma investigação criminal, mas não é possível uma celeuma que envolva presidente da República, ministro da Justiça e ministro do Supremo. É como se a cúpula do Vaticano se reunisse com o papa para decidir se preguiça é pecado capital."

Dantas acredita que o diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, articulou a operação em represália à divulgação de um suposto dossiê que o banqueiro teria revelado contra o ex-diretor da PF. Antes de ser nomeado diretor-geral da Abin, Lacerda estava no comando da PF em 2004 – quando as investigações da operação começaram –, e o suposto dossiê registraria contas de Lacerda no exterior.

"Em novembro do ano passado, fui informado de que existia uma operação encomendada na PF contra mim. Eu não dei muita credibilidade, porque chegam muitas informações todos os dias. O que diziam é que isso tinha sido pedido por Paulo Lacerda e que era uma retaliação, porque ele atribuía a mim a entrega a uma revista de grande circulação de um relatório em que constavam contas dele no exterior", disse.

O banqueiro afirmou que Lacerda queria colocar um "par de algemas" em suas mãos. "Na época, fiz vários desmentidos à imprensa e mandei carta a Lacerda negando minha participação no assunto", salientou.

Dantas informou que o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) também teria sido informado da investigação; mas, segundo ele, o senador teria sabido pelo próprio Lacerda que a investigação da Abin "não daria em nada".

A assessoria da Abin disse que Lacerda vai comentar as declarações de Dantas quando for ouvido pela CPI. O pedido para prestar depoimento já foi apresentado ao presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ). Segundo o relator da CPI, deputado Nelson Pellegrino, a presença de Lacerda será muito esclarecedora.

Leia mais:
Deputados acreditam que empresário passou recados
Dantas nega ter subornado delegado

Notícias anteriores:
Juiz nega ter autorizado grampos no Supremo
Convocação de Gilberto Carvalho divide CPI das Escutas
Delegado confirma escuta ilegal da Kroll na Telecom Italia
Protógenes confirma que Dantas é investigado por grampo
Presidente de CPI acusa operadoras de ocultar informações
CPI das Escutas marca depoimento de Dantas para dia 13
CPI convocará Daniel Dantas, delegado e juiz para depor
Depoimento faz CPI das Escutas lembrar o caso do mensalão

Reportagem - Rodrigo Bittar
Edição – João Pitella Junior

(Reprodução autorizada desde que contenha a assinatura `Agência Câmara`)

Agência Câmara
Tel. (61) 3216.1851/3216.1852
Fax. (61) 3216.1856
E-mail:agencia@camara.gov.br

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.