CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

Com redação final
Sessão: 287.1.52.O Hora: 10:45 Fase: HO
Orador: ALCEU COLLARES, PDT-RS Data: 04/12/2003

O SR. ALCEU COLLARES (PDT-RS. Sem revisão do orador.) - Sra. Presidenta, Sras. e Srs. Deputados, tenho sido chamado pelo PDT e pelo trabalhismo para dar meu testemunho da história, tendo em vista os cabelos brancos. E posso dizer que você, Ulisses, estava aqui na resistência democrática.

Ulisses esteve aqui, principalmente participando daquele grupo autêntico, para fazer com que a Direção do MDB, dos extraordinários Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e Nelson Carneiro, andasse um pouco mais depressa e cutucasse a onça com vara mais curta. Nós, os autênticos, um grupo extraordinário de jovens Parlamentares, achávamos que se haveria de fazer o grande desafio, para apressar a redemocratização do País. E Ulisses estava sempre ali nos assessorando, nos orientando, inclusive dando-nos contribuições extremamente importantes.

Por isso comemoramos esses 20 anos do DIAP, principalmente no momento em que ele aponta para a Nação brasileira aqueles que aqui são capazes de desenvolver teses, programas, propostas, concepções e fundamentos. Se não for isso, a vida passa na superficialidade, pela rama da floresta.

Ulisses Riedel — eu posso dizer — é um pensador político. Daí a idéia da criação de um Departamento Intersindical de Assessoramento Parlamentar, pela consciência que ele e outros que criaram o DIAP tinham da necessidade de um instrumento capaz de fornecer, principalmente ao sindicalismo brasileiro e também aos partidos políticos, ao Parlamento brasileiro, uma assessoria à altura das necessidades das grandes transformações políticas, econômicas, sociais, culturais, científicas e tecnológicas pelas quais o mundo está passando. Conseqüentemente, o Brasil está carecendo dessa noção clara do que poderá ser o amanhã.

A assessoria não tem os olhos na nuca, não trabalha apenas com a história, com o que foi, com o que passou; assessoria que se preza está sempre tentando perfurar o tempo, buscar provavelmente as conseqüências das grandes transformações que, numa velocidade monumental, o mundo está sofrendo. Não sabemos o que vai acontecer amanhã nem depois de amanhã, em razão da velocidade tão rápida das transformações, mas é certo que também perduram as injustiças.

Concedo aparte à Deputada Janete Capiberibe.

A Sra. Janete Capiberibe - Procurarei usá-lo da melhor forma e o mais rápido possível, nobre Deputado. Parabenizo V.Exa. pelo resgate da história política do nosso País. Parabenizo a direção do DIAP pelo trabalho muito sério que realiza. No Brasil em que vivo, o qual ninguém conhece, pois do outro lado do Rio Amazonas, sempre acompanhei as avaliações feitas pelo DIAP sobre a atuação dos Parlamentares. Finalizo, agradecendo ao Deputado Alceu Collares o aparte e parabenizando a Deputada Maninha pela iniciativa de apresentar um requerimento solicitando esta sessão solene de tamanha importância. Muito obrigada e desculpe-me a interrupção.

O SR. ALCEU COLLARES - Quem agradece a intervenção de V.Exa., que valorizou o meu trabalho, sou eu. Tenho absoluta convicção disso.

Quero dizer que o DIAP pode nos ajudar a saber o que está se passando conosco, em especial quanto ao nosso modelo econômico. Está ou não em fase final o neoliberalismo? Ele está como um acidente aviatório em que a perícia chegou à conclusão de que não houve falha humana, mas a fadiga dos metais.

Temos a possibilidade de vislumbrar o que vem depois desse ciclo econômico terrível, perverso que tem condenado milhões de criaturas à fome, à miséria, à marginalização, à periferia e à exclusão social?

Será, Ulisses, que temos condições de enxergar o amanhã, lá atrás da montanha, por onde, provavelmente, a humanidade terá que passar, mais cedo ou mais tarde? E o que dizer desse tipo de capitalismo concentrador de renda, defendido pelo atual Governo, com unhas e dentes? E não tinha necessidade de fazê-lo, pois o compromisso era outro, era outro o caminho a percorrer, porque se comprometeu a mudar. Não queremos ruptura, e provavelmente não poderíamos fazê-la, mas mudanças têm que ocorrer.

Tenho medo que se repita aqui o que aconteceu com Fernando De La Rúa, na Argentina, exemplo da e esquerda que seguiu o neoliberalismo e foi obrigado a renunciar 1 ano antes do término de seu mandato; ou com Lionel Jospin, do extraordinário Partido Socialista francês; do magnífico e grande líder François Mitterrand, que não foi para o segundo turno porque traiu o povo; ou, quem sabe,    com Lech Walesa, que também veio dos confins da miséria, mas acabou não se comportando à altura das esperanças coletivas.

Ah! Este povo tem tanta esperança no Lula! Ele que veio dos confins da miséria, em pau-de-arara, para ser metalúrgico. Tomara que Deus possa iluminar-lhe o espírito e a alma com o seguinte conselho: "não vá por este caminho, vá por onde manda a tua consciência; vá por onde te mandam os compromissos assumidos com o povo brasileiro; largue o FMI no meio da rua, para que morra de fome e seja enterrado como um dos instrumentos de maior perversidade para com os países pobres e emergentes".

Se pudesse, eu ficaria 3 horas conversando com você, Ulisses, mas o tempo é, sem dúvida, muito perverso. (Risos.). A minha esperança é que você possa fazer tudo o que almeja. Quanto ao Toninho — lembro que nas minhas organizações de povo, de futebol, sempre havia um Toninho que sabia tudo, fazia tudo e entendia tudo; por vezes chamado de burro de carga —, de quem tanto falamos, tomara que ele possa continuar dando ao DIAP essa extraordinária contribuição.

Como fazem falta os instrumentos de assessoramento. Eu criei a primeira Fundação de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais, a que deram o nome de Pedroso Horta, contra a minha vontade, pois eu queria que fosse Alberto Pasqualini.

Mas Ulysses e Tancredo queriam prestar-lhe homenagem, pois estava morrendo... E eu digo que ele nunca produziu um pensamento político, ao contrário do nosso Pasqualini, profundo pensador.

Sra. Presidenta, interrompo este pronunciamento, porque não quero abusar da bondade e da generosidade de V.Exa.

Ao Toninho e ao Ulisses: continuem pelo caminho que vocês percorrem, porque não terão do que se arrepender! (Palmas.)