CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

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Sessão: 228.4.53.O Hora: 14:48 Fase: PE
Orador: GERMANO BONOW, DEM-RS Data: 16/12/2010

O SR. GERMANO BONOW (DEM-RS. Pela ordem. Pronuncia o seguinte discurso.) -    Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho hoje a esta tribuna para destacar a atuação como educador, médico e    político de um grande cidadão gaúcho, o professor e doutor Eduardo Sarmento Leite da Fonseca, nome de conhecida rua em Porto Alegre, localizada no bairro Cidade Baixa.

Seu nome define, também, o Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e a sala onde funciona a Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa. Considerada a liderança mais importante e decisiva da história da Faculdade de Medicina na Capital, Sarmento Leite foi médico, professor e conselheiro municipal no período de 1924 a 1928, eleito pelo então Partido Republicano Rio-Grandense.

Sarmento Leite nasceu na Capital gaúcha em 7 de abril de 1868. Descendente de nobre família portuguesa, os Morais Sarmento, pertencia a uma tradicional família do Rio Grande do Sul, os Sarmento Leite.

A homenagem da cidade se dá principalmente pela rua que leva seu nome e que passa ao lado do prédio da faculdade, construído durante sua gestão. A oficialização da Rua Sarmento Leite ocorreu em agosto de 1935, poucos meses após sua morte.

Segundo o pesquisador Sérgio da Costa Franco, "já em 1935, conforme relatório do prefeito Alberto Bins, relativo àquele ano, foi dado o nome de rua Sarmento Leite à antiga Travessa 1º de Março, no trecho que ficava entre o prolongamento da rua da Conceição, até encontrar a Av. Independência". A Travessa 1º de Março foi denominada em 1876, pela Câmara Municipal, evocando a data do término da Guerra do Paraguai, em 1870. A homenagem ao professor e médico foi solicitada pelos doutorandos da Faculdade de Medicina de 1935.

Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1890, Sarmento Leite foi um dos fundadores, juntamente com o Dr. Protásio Alves, da Faculdade de Medicina de Porto Alegre - atual Faculdade de Medicina da UFRGS. Foi professor catedrático de Anatomia da mesma instituição e exerceu o cargo de vice-diretor por dois períodos: de 1907 a 1909 e de 1910 a 1911. Tornou-se diretor em 1915, permanecendo no cargo até o dia 21 de janeiro de 1935, durante 30 anos, portanto. Criou Institutos na Faculdade e dirigiu o de Anatomia desde 1909 até a sua morte em 1935.

Em 1906, um incidente entre a Congregação da Faculdade e os alunos marcou fato político que veio mudar a história da Instituição e da vida de Sarmento Leite. A reprovação da tese do aluno Eduardo Soares Barcellos determinou um conflito insuperável entre o corpo discente e docente da faculdade. O conflito se alastrou pela cidade com passeatas de protestos. A congregação houve por bem suspender os estudantes pelo período de um ano, com um único voto contra, o de Sarmento Leite. Em 1907, O Presidente Afonso Pena anulou a ata da Congregação que suspendia os estudantes. Tal atitude gerou uma crise entre o Governo da República e o do Estado.

Em 1909, foi inaugurado o Instituto Anatômico, em prédio próprio, construído em terreno cedido pela Santa Casa. Na época, foi o mais moderno das Américas, sendo todo o seu material importado da Europa. O Prof. Sarmento Leite foi seu primeiro diretor.

Em 1915, Sarmento Leite foi eleito pela primeira vez Diretor da Faculdade de Medicina, cargo que ocuparia por eleições sucessivas devido à sua grande obra e méritos acadêmicos até o ano de 1935. Nesse período de sua profícua administração, deve-se destacar que pelo bom relacionamento que tinha com a Administração da Santa Casa assumiu suas enfermarias e entregou-as aos professores, iniciando aí a atividade docente-assistencial da faculdade.

Segundo o médico Rubens Maciel, Sarmento Leite "viveu ensinando e ensinou vivendo". Também foi diretor do Hospital da Beneficência Portuguesa de Porto Alegre de 1895 a 1899. Foi, ainda, membro da Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, do Colégio Americano dos Cirurgiões e da Sociedade de Medicina de Porto Alegre, que presidiu de 1917 a 1929, e da qual foi sócio honorário a partir de 1923.

Raul Pilla, médico, professor e político escrevendo a respeito de Sarmento Leite, descreve de sua aparência ao temperamento: homem pequeno, voz grave e pausada, movimentos lentos, que se diria arrastar sempre consigo um grande peso, mas em cujo olhar inteligente cintilava não raro a ironia.

Moacir Scliar, também médico e escritor, anos depois a ele se referiu: "os retratos deste homem mostravam uma fisionomia severa que refletia, segundo aqueles que o haviam conhecido, seu firme caráter, graças ao qual havia vencido as resistências que se opunham à criação da Faculdade."

Dizia-se que tinha um olhar de vidro, resultado de um acidente; à época, as garrafas de água gasosa eram fechadas com bolita de vidro, e uma delas, saltando pela ação do gás, lesara-lhe irremediavelmente o globo ocular. Apesar disso, Sarmento continuara a exercer a profissão, superando as dificuldades causadas por essa limitação, o que o tornava anda mais digno de respeito e admiração.

Dissociar a iniciante Faculdade de Medicina de sua pessoa é tarefa inconcebível, tanto que a faculdade, por muito tempo e mesmo após sua morte, era conhecida como "a casa de Sarmento". Até a corda do relógio era ele quem dava, garantiam os alunos.

O "professor dos médicos", como era chamado, foi um ícone da medicina brasileira e era admirado por vários médicos e governantes no século XX, admiração que se perpetua nos atuais médicos, estudantes de medicina e governantes gaúchos. Pai dos médicos Eduardo e Rogério, tornou-se famoso pelas histórias que seus alunos imortalizaram. Foi o grande responsável pela sobrevivência da faculdade e pela construção do prédio à rua que hoje leva seu nome. Sacrificou sua clínica e seu patrimônio pela Faculdade Livre de Medicina de Porto Alegre. Alcançou vê-la federalizada.

Ao falecer, foi carregado a pé e a pulso pelos estudantes desde a faculdade até o Cemitério da Santa Casa. O quartanista Rubens Maciel, em nome do Centro Acadêmico que leva seu nome, discursou, considerando-o o grande sacrificado.

No campo político, atuou como conselheiro municipal no período de 1924 a 1928, para o qual foi eleito pelo Partido Republicano Rio-Grandense. Nesse mesmo partido, estava filiado seu primo, o advogado e político Joaquim Maurício Cardoso, que foi Deputado Estadual, Ministro da Justiça e Governador do Rio Grande do Sul.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente, sobre esta grande personalidade que foi Eduardo Sarmento Leite da Fonseca.

Passo a abordar outro assunto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados.

Destaco a atuação como médico e político de Hildebrando Westphalen, um gaúcho que honrou o Rio Grande do Sul e o Brasil.

O Dr. Hildebrando Westphalen nasceu em Palmeira das Missões em18 de maio de 1889. Filho de Alfredo e Adélia Westphalen. Era escrivão e tinha curso incompleto de medicina e que, mesmo assim, atendia a população daquela região localizada no extremo norte de nosso Estado, então desprovida de outros recursos médicos.

Foi aluno do Ginásio Santa Maria, recém-criado, concluindo o ciclo secundário como orador da turma cujo paraninfo foi o Barão do Rio Branco, no Ginásio Rio Grande do Sul (posteriormente Colégio Júlio de Castilhos) em Porto Alegre.

Hildebrando formou-se em Medicina em 1915 também na capital gaúcha, tendo sua tese de doutoramento versado sobre Percussão de Goldscheider. Fez viagens de estudos à capital do país e à Europa, frequentando, no Rio de Janeiro, a Clínica de Crianças do Prof. Fernandes Figueira; em Hamburgo, o Hospital de Eppendorf, sob a direção do Prof. Kleinschmitt; em Berlim, a Charitè, sob a direção do Prof. Czerny, e as clínicas dos Profs. Finkelstein, Ludwig Meyer e Langstein; em Paris, Hospital dês Enfants-Malades, sob a direção do Prof. Nobecourt; e em Viena, a clínica do Prof. Knopfelmacher.

Especializou-se em cirurgia e clínica geral, exercendo a profissão em Cruz Alta, onde dirigiu o Hospital Santa Lúcia, de sua propriedade. Participou de diversos congressos científicos, tendo publicado a sua tese de doutoramento e Estudos sobre as Águas Termais de Iraí. Desempenhou, entre outra funções, as de Deputado Estadual, Presidente do Conselho Municipal de Cruz Alta e as de médico da Caixa de Aposentadoria e Pensões da Viação Férrea do Rio Grande do Sul.

Clinicou durante um ano em Curitiba, mas logo retornou à sua terra natal, onde trabalhou durante sete anos. Foi o primeiro médico da Estância Hidromineral de Iraí, transferindo-se posteriormente para Cruz Alta, onde trabalhou durante 14 anos no Hospital São Vicente de Paula. Em 1938, contando com decisivo apoio da esposa, Dona Otília e de seus quatro filhos, fundou o Hospital Santa Lúcia.

Segundo testemunho do seu filho Jorge Westphalen, o Hospital Santa Lucia "surgiu da inspiração e do ideal de um homem que amou verdadeiramente a medicina, doou-se integralmente a ela e dedicou-se aos pobres do mesmo modo que aos ricos." A origem da construção do hospital remete à Dona Otilinha, esposa do Dr. Hildebrando, que se destaca na história do Hospital Santa Lucia, pois foi ela que mobilizou os quatro filhos na organização do empreendimento, bem como administrou e executou a obra em apenas 18 meses.

Além da atividade profissional como médico, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Hildebrando Westphalen participou ativamente da política: foi Conselheiro Municipal durante sete anos em Palmeira das Missões a partir de 1916, Conselheiro Municipal em Cruz Alta durante quatro anos, a partir de 1924 - tendo exercido a sua presidência. Em 1934, foi eleito Deputado para a Assembleia Constituinte do Estado, posteriormente transformada em Assembleia Legislativa, da qual foi também Presidente até sua renúncia, quando foi deposto o então Governador do Estado, Dr. José Antônio Flores da Cunha.

No início da década de 20, teve papel importante na decisão de implantar o sistema de água e esgotos da cidade de Cruz Alta e idealizou e fundou o Posto de Puericultura Olintho de Oliveira. Em 1966, recebeu o título de Cidadão Cruz-altense e, no ano seguinte, a medalha do mérito pelos serviços prestados à cirurgia durante 50 anos durante o 10º Congresso Brasileiro de Cirurgia, realizado no Rio de Janeiro. Em 1969, recebeu a Medalha do Pacificador.

O Dr. Hildebrando foi ainda professor de puericultura no Colégio Margarida Pardelhas e, durante 24 anos, na Escola Normal Santíssima Trindade também de Cruz Alta. A Escola Estadual de Ensino Médio Hildebrando Westphalen, localizada em Cruz Alta, foi assim batizada em sua homenagem. Faleceu em 4 de setembro de 1970.

Assessorada por membros da família Westphalen, que ocupam os cargos de diretores administrativo e técnico, a atual Direção do Hospital Santa Lúcia conserva vivos os ideais do Dr. Hildebrando e de Dona Otilinha, comprometendo-se com o bem-estar e desenvolvimento da comunidade, colaboradores e corpo clínico.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.