CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

Com%20reda%C3%A7%C3%A3o%20final
Sessão: 099.2.52.O Hora: 15:28 Fase: PE
Orador: INOCÊNCIO OLIVEIRA, PFL-PE Data: 20/05/2004

O SR. INOCÊNCIO OLIVEIRA (PFL-PE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, no próximo dia 31 de julho um dos mais renomados artista plástico brasileiro, reconhecido aqui e no exterior, completa 80 anos. Trata-se do escultor, pintor, desenhista, gravador e ceramista Abelardo da Hora, pernambucano de São Lourenço da Mata, radicado no Recife. É um marco indelével na nossa formação cultural esse fato auspicioso, que orgulha Pernambuco.

Abelardo Germano da Hora, ou simplesmente Abelardo da Hora, o Abelardo de todas as horas, como o define o jornalista e cronista Romildo Maia Leite, está presente nas praças do Recife, nas exposições e shoppings centers, no hall dos edifícios, nos movimentos de cultura popular, nos jardins do Palácio do Campo das Princesas, no Museu de Arte Contemporânea da USP, com a escultura Desamparados, no MASP, na antiga Checoslováquia, com a escultura Água para o Povo, nos Estados Unidos - na Galeria Metodista do Tenessee -, no Museu Stalin, em Moscou, e na Galeria Debret, em Paris. É, portanto, um cidadão do mundo.

Abelardo da Hora foi o grande mestre de destacados artistas pernambucanos, como Francisco Brennand, José Cláudio, Gilvan Samico, Wellington Virgolino, Wilton de Souza, Corbiniano Lins, Adão Pinheiro, Maria de Jesus, Bernardo Dimenstein, Guita Charifker, Leda Bancovski e Rinaldo, entre tantos outros.

E para reforçar mais ainda minhas palavras, passo a ler a breve biografia desse imortal artista que orgulha a todos nós.

Abelardo Germano da Hora, que se assina Abelardo da Hora, é escultor, pintor, desenhista, gravador e ceramista. Nascido na Usina Tiúma, em São Lourenço da Mata, Pernambuco, filho de José Germano da Hora e Severina Germano da Hora, Abelardo da Hora fez o curso técnico de Artes Decorativas no Ginásio e Colégio Técnico Professor Agamenon Magalhães, na Encruzilhada, e o curso superior de Escultura na Escola de Belas Artes. É formado Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Olinda. Poeta, é fundador da Associação Brasileira de Escritores - seção Pernambuco, depois transformada em UBE. Foi fundador da Sociedade de Arte Moderna do Recife - SAMR, junto com artistas como Hélio Feijó, Augusto Reinaldo, Delson Lima, Darel Valença, Reinaldo Fonseca, Luca Cardoso Ayres, Elezier Xavier e outros.

A SAMR foi fundada no recinto da sua primeira exposição de escultura, em 1948, patrocinada pelo DDC, dirigido pelo saudoso José Césio Rigueira Costa. Abelardo da Hora assumiu a presidência da SAMR em 1951 e lançou as bases de formação do Atelier Coletivo, para cursos de iniciação às artes. Começou a ministrar os referidos cursos em sala cedida pela direção do Liceu de Artes e Ofícios, principiando pelo curso intensivo de desenho, que ministrava gratuitamente, assim como o fez diversas vezes em sua trajetória artística.

A primeira sede do Atelier Coletivo instalou na Rua da Soledade nº 57. Após um ano mudou-se para a Rua Velha, e logo após para a Rua da Matriz. Ampliando os cursos de Artes Plásticas, Abelardo da Hora criou o Clube da Gravura e o processo didático de gravura em placa de gesso sobre o vidro. Ampliou o Atelier com setores de artes plásticas, música e teatro, criando uma espécie de universidade popular de artes. Todo esse trabalho recebeu o apoio político do então Governador Barbosa Lima Sobrinho, tendo sido todo o projeto exposto na Escola de Engenharia, na Rua do Hospício, com o nome de Casa das Artes.

Depois, no Governo municipal de Pelópidas Silveira, o mesmo projeto foi apresentado a uma grande comissão de intelectuais para a desapropriação do Sítio da Trindade, objetivando a instalação ali do projeto, com o nome de Parque de Cultura do Sítio da Trindade, proposta que recebeu, nessa reunião, o apoio do saudoso mestre Gilberto Freyre, que sugeriu o nome de Parque da Cultura do Arraial Velho do Bom Jesus para o projeto, assim aprovado por unanimidade.

Na administração do Prefeito José do Rego Maciel, Abelardo da Hora apresentou um plano para a construção de esculturas de tipos populares da nossa cultura, tais como Cantadores, Sertanejo, Vendedor de Caldo de Cana e Vendedor de Pirulito, ainda hoje existentes, expostas no Parque 13 de Maio, na Praça Euclides da Cunha e no Parque Dois Irmãos.

Na administração do então Prefeito Miguel Arraes, que fora Secretário da Fazenda do Governador Barbosa Lima Sobrinho e estivera presente junto a todo o Secretariado do Governo na exposição do Projeto Casa das Artes, Abelardo, por intermédio da sua assessora Maria de Jesus, sua ex-aluna, pediu que fosse acrescentada a toda a parte cultural já em andamento um setor de educação, para a alfabetização de crianças e adultos, tarefa que seria entregue a um grupo de educadores católicos de esquerda, conforme nomeou o Dr. Arraes. Esse grupo era composto dos seguintes professores: Paulo Freire, Anita Paes Barreto, Germano Coelho, Paulo Rosas, Maria Antônia MacDowel e Norma Coelho. Depois da exposição que o artista fez da estrutura do projeto, ele passou a ser chamado de Movimento de Cultura Popular - MPC, em parte porque o Prof. Germano Coelho viu nele uma semelhança com o Movimento Povo e Cultura que visitara em Paris.

Abelardo da Hora fez parte do Conselho de Direção do MCP, juntamente com Geraldo Menuchi, que já vinha dirigindo o setor de música, e Luiz Mendonça, que dirigia o setor de teatro, no projeto ampliado do Atelier Coletivo. Foi também Secretário de Educação dos Prefeitos Miguel Arraes, Artur Lima Cavalcanti, Carlos Duarte, Liberato Costa Júnior e ainda Pelópidas Silveira, no começo dessa administração municipal.

Em 1964 Abelardo da Hora foi preso e teve os direitos políticos suspensos durante o golpe militar. Nesse período, foi chamado para São Paulo pela arquiteta Lina Bo Bardi, que havia realizado no Museu do Unhão, Salvador, a grande exposição Civilização Nordeste, onde adquiriu para aquele museu uma escultura do artista, chamada Família do Nordeste.

Em São Paulo, junto a Walter Zanine, diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP, Abelardo realizou uma grande exposição de artistas de Pernambuco, que recebeu o nome de Oficina Pernambucana, em que foi adquirida por esse museu a escultura Desamparados, em concreto com banho de ácido, que permanece até hoje no acervo do MAC, e ainda inaugurou a Galeria Mirante das Artes, do Prof. Pietro Maria Bardi, com a série de desenhos Danças Brasileiras de Carnaval, e participou da grande exposição 50 Anos de Escultura Brasileira no Espaço Urbano, patrocinada pela Rede Globo e pela FUNARTE. Sua série Meninos do Recife está em exposição permanente na galeria do Seminário Metodista no Tenessee, EUA, e os originais dessa mesma coleção encontram-se no acervo do MAMAM, no Recife. Em 1952 sua escultura Água para o Morro foi levada para Euromuseum, ainda na antiga Checoslováquia, onde permanece em exibição. Há também uma escultura sua no Museu Salin, e outras obras suas fazem parte do acervo do MASP.

Convidado pelo Centro Internacional de Arte Contemporânea, Abelardo realizou, em 1986, uma grande exposição de esculturas na Galeria Debret, da Embaixada brasileira em Paris. Foi o delegado em Pernambuco da Internacional de Artes Plásticas, ligada à UNESCO - seção Brasil. É autor de inúmeros bustos e monumentos e da lei que obriga à exibição de obras de artes nos edifícios na cidade do Recife, e recebeu inúmeros troféus de várias entidades e Salões de Arte. Recebeu o troféu Construtores da Cultura do Governo do Estado no ano de seu lançamento, ao lado de João Cabral de Melo Neto. Em 1995, recebeu do Itamaraty a comenda da Ordem do Rio Branco, no grau de oficial, das mãos do Presidente Fernando Henrique Cardoso. E recentemente fez a estátua em bronze do ilustre brasileiro de Pernambuco mestre Gilberto Freyre, por quem sempre manteve amizade e admiração.

Extensa é a bibliografia sobre Abelardo da Hora, indo desde as edições brasileiras das enciclopédias Delta Larrouse e Barsa, da Editora Britannica do Brasil, que o destaca entre os maiores escultores brasileiros, a livros angulares sobre a arte nacional, como no definitivo Arte Para Que?, de Aracy Amaral, e catálogos nacionais e internacionais de arte como Memória do Atelier Coletivo, de José Cláudio, que testemunha seu trabalho como mestre dos artistas acima citados, e Abelardo de Todas as Horas, de Ronildo Maia Leite e Paulo Brusky, em comemoração aos 40 anos de sua primeira exposição.

Muito obrigado.