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CÂMARA DOS DEPUTADOS |
COMISSÃO DE LEGISLAÇÃO PARTICIPATIVA
55ª Legislatura - 3ª Sessão Legislativa Ordinária
RELATÓRIO DA REUNIÃO DA COMISSÃO DE LEGISLAÇÃO PARTICIPATIVA
NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO EM 11 DE DEZEMBRO DE 2017
REQ 172/2017, do Deputado Glauber Braga (PSOL/RJ)
Foi
realizado no dia onze de dezembro de dois mil e dezessete, de quatorze às
dezessete horas, o Seminário “Política Pública
Habitacional Brasileira”, da Comissão de Legislação Participativa, na
cidade do Rio de Janeiro.
No
panorama nacional existe um déficit de seis
milhões de moradias, sendo que 80% atinge as famílias de mais baixa
renda.
Com
a participação de movimentos de luta por moradia e contra as remoções, debatemos
as questões que estão sendo relatadas nesse documento.
Estiveram
presentes no Seminário representantes das seguintes Comunidades: Vila Hípica,
Horto (Associação de moradores e amigos do horto), Araçatiba, Rádio Sonda, Vila
residencial da UFRJ, Tubiacanga, Barrinha (AMALBA), Indiana, Rio das Pedras e
Vila Autódromo. Compareceram também
representantes das seguintes entidades: MTST (Movimento dos Trabalhadores
Sem Teto), Brigadas Populares, FAFERJ ( Federação das Associações das Favelas do
Estado do Rio de Janeiro), Polo Comunista Luiz Carlos Prestes (PCLCP), Movimento
Popular de Favelas, e Movimento do Aluguel Social e de Moradia da Região
Serrana, além de representantes da ocupação Povo Sem Medo na Pavuna e do gerente
Regional de negócios da Caixa Econômica Federal.
Os
Mandatos Parlamentares também se fizeram representar por suas assessorias: Paulo
Passarinho, representando o Deputado Federal Chico Alencar, Cláudio Jorge Soares
representando o Deputado Federal Wadih Damous, Ruan Diego de Andrade
representando a Deputada Estadual Zeidan e Yago Euzébio Bueno de Paiva
Junho, representando o Vereador da cidade do Rio de Janeiro, Brizola Neto, da
mesma forma Divino Lopes Siqueira representou o vereador Reimont
Otoni.
O
Seminário foi aberto com minha explicação sobre a importância desse debate e que
se tratava de uma reunião de trabalho, onde todos teriam vez e voz e que ao
final sairíamos com propostas de ações bem objetivas.
Passada
a palavra para o Yuri Moura, morador da
cidade de Petrópolis e um dos representantes do Movimento do Aluguel Social e de
Moradia da Região Serrana. Ele foi uma das pessoas que buscou a Comissão de
Legislação Participativa para a realização desse Seminário.
Yuri
Moura fez uma breve análise sobre os programas habitacionais do governo, como
Minha Casa e Minha Vida, demonstrando que existem muitos desafios quando o
assunto é política habitacional. Para ele, a discussão de moradia é algo mais
amplo, mas com a urgência da resolução do déficit habitacional, sociedade e o
próprio governo acabam não debatendo, mais profundamente, a questão.
O
Yuri trouxe uma questão muito importante na sua vivência na cidade de
Petrópolis. Ele afirmou que um grande problema para as pessoas que sofrem com a
falta de moradia, é a desinformação. Ele relatou que os órgãos públicos dão informações
diferentes para as mesmas questões. Isso faz com que as famílias, que já sofrem
com os problemas habitacionais e até mesmo de remoção, fiquem ainda mais
perdidas, sem saber em qual informação confiar e a forma de ter seus direitos
constitucionais garantidos.
Para
ele, é necessário debater uma nova política habitacional. O modelo atual está
ultrapassado e não atende as necessidades reais e emergenciais de tantas
famílias.
Por
fim, Yuri complementa que a questão habitacional passa diretamente pelos
Governos Federal, Estadual e Municipal, mas que a sociedade civil pode e deve se
organizar nos movimentos de ocupação, resolução de pequenas demandas e pequenas
intervenções nos bairros.
A
segunda fala do Seminário foi de Inês de
Abreu, representante da Favela
Indiana - morro do Borel. Segundo Inês, a comunidade que nasceu em 1947 sofre ainda com a ausência do poder
público. Ela relata que os moradores são vistos como invasores. Dentro da
história dessa comunidade existiram dois grandes movimentos do poder público
para remoção: em 2010 e 2012.
Inês
relata que em 2012 a Secretaria Municipal de Habitação da Cidade do Rio de
Janeiro, entrou na comunidade e fez a divisão para a entrega de apartamentos do
Programa Minha Casa Minha Vida. Ela
denuncia que, na ocasião, a secretaria citada deixou a cargo do Presidente da
Associação de Moradores da época, a seleção das famílias que deveriam receber os
apartamentos. Apesar de terem famílias morando em três áreas consideradas
vermelhas pela Defesa Civil, isto é, com eminência de grande risco e famílias
que já recebiam aluguel social por quase 15 anos, as unidades habitacionais
foram distribuídas injustamente. Inês relata que houve famílias que receberam três unidades e
outras famílias necessitadas não foram atendidas.
Inês
indagou se não havia controle dessa distribuição. E se existe, quais são e as
formas.
A
representante da favela Indiana faz um desabafo sobre a má utilização de
recursos públicos. Para ela é inaceitável faltar verba para pagamento de
salários, insumos hospitalares e até para construção de mais moradias, enquanto
o Governo desperdiça recursos para a construção de moradia para entregas sem
controle e pagamento de aluguel social por muitos anos, sem resolver
definitivamente a questão.
Inês
também trouxe a preocupação que apesar de ter como regra, nos programas
habitacionais que os beneficiados não podem alugar ou vender os imóveis, isso
acontece o tempo todo.
Inês
apresenta as seguintes propostas:
PROPOSTAS:
-Necessidade
de cuidar da urbanização das favelas e não da remoção.
-Necessidade
de regras e fiscalização quanto a distribuição das unidades habitacionais e
também do que cada proprietário faz com as unidades (sobre venda e
locação)
-Solicita
que seja marcada uma reunião com o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, para
serem discutidos assuntos relacionados a infraestrutura da comunidade e os
serviços básicos.
-Solicita
que seja criado, pela prefeitura, um sistema de comunicação interno, onde as
secretarias possam se comunicar e ter as informações de cada pasta municipal
para acelerar os atendimentos e respostas aos moradores.
-Necessidade
que a prefeitura receba os moradores de favelas.
O
terceiro a usar a palavra foi Vitor Guimarães, representante do MTST e do
Povo Sem Medo. Ele iniciou com um relato sobre a falta de credibilidade dos
governos e da institucionalidade como um todo. Para ele, as famílias recebem o
aluguel social, mas sofrem com a ausência do Estado.
Vitor
faz o relato também de que algumas comunidades são removidas de suas casas, com
a promessa feita pelo poder público de que receberão uma casa mas, que na
realidade, isso raramente acontece. Isso faz com que famílias fiquem dependendo
do aluguel social por anos e anos e o valor desse auxilio não é reajustado com o
passar do tempo, o que dificulta a vida dessas pessoas. Já outras famílias
dependem da justiça para conseguir receber o aluguel social.
Para
o representante do MTST todas as questões relacionadas a políticas
habitacionais, teriam que ter respostas e ações diferentes para cada caso. Para
ele, o Governo espera que chegue o caos para lucrar ainda
mais.
O
relato de Vitor sobre as questões relacionadas ao aluguel social, se assemelham
com a oradora anterior, a Inês. Nesses dois relatos fica claro que existe um
vácuo quando o assunto é aluguel social. Famílias recebendo por muitos anos,
outras sem receber. Não existe um equilíbrio, uma forma de controle e medidas
efetivas de curto, médio e longo prazo.
Vitor
solicita que esse relatório seja apresentado à Comissão de Legislação
Participativa, antes da votação da Lei Orçamentária para 2018. Para ele, é um
absurdo o Governo de Temer não ter destinado nenhum centavo para
habitação.
Ele
ainda relata que no país existe um corte de classes: o rico e a classe média,
não precisam de subsídios para a habitação. O que precisa ser feito é uma
política habitacional para os mais pobres e garantia de direitos
constitucionais.
Vitor
ainda levanta mais uma questão: para ele, o Governo não investe em uma política
habitacional por interesse imobiliário. Dessa forma, as comunidades não são
regulamentadas e a população que precisa de moradia, fica sem respostas e sem
resolução. Existe uma legislação que diz que os prédios vazios devem cumprir
funções sociais, mas na verdade, proprietários dessas construções encontram
formas de burlar essa lei.
PROPOSTAS:
-Apresentação
desse relatório na CLP antes da votação do Orçamento de
2018.
-Legislação
que consiga demarcar as questões sobre a função social de forma séria e
competente. Sendo necessário, o dono do imóvel apresentar projeto concreto, com
prazos, para a utilização daquele imóvel.
-Legislação
garantindo que os movimentos sociais não sejam criminalizados.
-Reunião
com o Prefeito da cidade do Rio de Janeiro para ser debatida a política
habitacional e seus programas.
A
quarta fala do Seminário foi de Emília
Maria de Souza, representando a comunidade do Horto. Ela inicia com um
desabafo sobre a pressão política e judicial que os brasileiros estão passando.
A comunidade que ela vive é alvo constante de remoções. Que apesar do poder
público afirmar que serão dadas moradias, na prática, isso não acontece. Segundo
a Emília, o judiciário é conivente com a especulação imobiliária que os Governos
têm interesse.
PROPOSTAS:
-Reunião
com o Prefeito da cidade do Rio de Janeiro para ser discutido o formato do
programa Favela Bairro, as remoções e infraestrutura.
A
quinta palavra no Seminário foi de David Gomes, representando as Brigadas Populares. Ele foi bem objetivo no seu tempo de fala, focando no
encaminhamento de proposta e relatando que quando os representantes das
comunidades, que sofrem com as questões habitacionais vão até a prefeitura, são
recebidos com violência! Para ele, pela falta de programas que garantam moradia,
o que resta são as lutas dos Movimentos Sociais e as ocupações.
PROPOSTA:
-Reunião
com o Prefeito da cidade do Rio de Janeiro e representantes de todas as
comunidades que estão sofrendo com as remoções, para debater políticas públicas
habitacionais.
Representando
a Deputada Estadual Zeidan, o Ruan Digo
de Andrade, colocou o mandado da deputada à disposição para auxiliar em
qualquer questão relacionada a habitação e apresenta
proposta.
PROPOSTA:
-Repensar,
coletivamente, a forma de como resolver o déficit habitacional no país.
O
representante do Deputado
Federal Wadih
Damous, Cláudio Jorge Soares, traz o seu ponto
de vista sobre a visão da Prefeitura do Rio. Para ele, o Poder Executivo
Municipal tem uma política habitacional voltada para a especulação imobiliária.
Segundo Jorge, a cidade do Rio está lotada de galpões abandonados e que a
prefeitura fecha os olhos, permitindo que esses locais se tornem condomínios
luxuosos.
Para
o Jorge, o Governo Federal tem total responsabilidade, junto com o Estado e a
Prefeitura, para assumir a criação de uma política habitacional eficiente e
justa.
PROPOSTA
-Criar
uma Frente Parlamentar com diversos deputados federais, para cobrar e fiscalizar
que o poder público assuma as responsabilidades do déficit
habitacional.
Outra
participação foi da representante da Comunidade
Radio Sonda, Ednalva Cunha. Essa comunidade fica próxima ao aeroporto
Internacional do Galeão e sofre com
as remoções feitas pela
aeronáutica.
PROPOSTA:
-Reunião
em Brasília com o Ministério da Defesa e Secretaria de Patrimônio da União para
tratar das remoções.
-Reunião
com INEA
-Reunião
com o Prefeito da cidade do Rio de Janeiro.
O Emerson Souza, representante da Comunidade do Horto Florestal (área
federal que divide espaço ao Jardim Botânico), fez uso da palavra dizendo que
precisa ser resolvida a questão da permanência das famílias que moram na
comunidade. Segundo ele, essas famílias lutam há 35 anos por
isso
PROPOSTA:
-
Realização de uma audiência pública, em Brasília, com o Ministério do Meio
Ambiente e com o Instituto de Pesquisa do Jardim Botânico, focada na questão da
comunidade do Horto Florestal e de outras comunidades que também estão em área
federal.
A
representante da Ocupação Povo Sem Medo - Pavuna, Leila Oliveira,
trouxe para o seminário o relato sobre a ocupação de um galpão industrial,
na Pavuna, que completa dois meses. São mais de 80 famílias morando no local, a
maioria mulheres e crianças. Ela informou que graças à luta coletiva dessas
pessoas, está se conseguindo conquistas como água e até saneamento na ocupação,
mas é necessário que o poder
público cumpra seu dever.
PROPOSTA:
-Garantir
que o direito à moradia seja respeitado.
-Que
se cumpra a lei da função social dos prédios.
-Prefeitura
desapropriar o imóvel dessa antiga fábrica onde está a
ocupação.
-Reunião
com o Prefeito da cidade do Rio de Janeiro, para debater as questões de
desapropriação e infraestrutura.
A Cláudia Renata, representante do Movimento Aluguel Social e Moradia da
Região Serrana, fez uso da palavra, representando as cidades de Petrópolis,
Teresópolis, São José do Vale do Rio Preto e Areal. Diferente da maioria dos
relatos desse Seminário, a Cláudia Renata, trouxe questões relacionadas à
moradia de famílias que perderam suas casas em tragédias climáticas. Ela faz o
desabafo que a maior tragédia foi em 2011 e que até hoje quase nada foi feito
pelas famílias atingidas.
Ela
destacou em sua fala que a situação em Areal é que existem unidades
habitacionais prontas, mas falta infraestrutura. Por outro lado, em São José tem
terreno para a construção de moradias, mas não tem
projeto.
Já
em Petrópolis, existem três programas habitacionais diferentes, um deles é o
Somando Forças, no bairro da Posse. No local, tem famílias desde 1988 aguardando
moradia, após uma tragédia. E que existe um condomínio habitacional nesse
bairro, mas que ele está parado. Já no bairro Carangola, o programa habitacional
é o Minha Casa, Minha Vida, mas que faltam informações de como serão
selecionadas as famílias que vão receber as unidades habitacionais. E por fim
existe o programa Morar Seguro, nos bairros do Alto da Serra. A grande questão é
que o INEA não fez a urbanização nesse local, como deveria, responsabilizando a
Prefeitura que por sua vez, responsabiliza o INEA.
Ela
apresentou propostas que atendem todas as cidades que ela representou:
PROPOSTA:
-Reunião
com o INEA
-Reunião
com a Caixa Econômica Federal
Um
dos presentes no Seminário foi o Fabio Quintino – Gerente Regional de
Negócios da Caixa Econômica Federal. Ele explicou o que é de
responsabilidade da Caixa Econômica Federal.
Sobre
as questões relacionadas a Região Serrana, Fábio informou que a maior
dificuldade está na localização de terrenos topográficos aceitáveis para os
projetos habitacionais. Com a dificuldade de localização desses terrenos, os
projetos de construção tem que se adequar ao terreno, o que eleva o gasto com a
obra e muitas vezes, acaba inviabilizando. Fábio informou que será agendada uma
reunião com representantes das comunidades de Petrópolis para debater as
questões relacionadas a habitação no Município.
O
Representante da Caixa Econômica se colocou à disposição para participar de
qualquer debate sobre o assunto. Para ele é fundamental o órgão ouvir as
comunidades, responder aos questionamentos e tentar resolver as questões
pendentes.
Representando
a Sociedade Civil- Luciana Mendes Barbosa,
falou sobre a realidade da comunidade Hípica. Ela informou que no local vivem
atualmente três famílias. Entre elas, uma senhora de idade avançada e acamada. A
grande questão dessa comunidade está relacionada a infraestrutura. Foi
modernizada a rede elétrica da localidade, mas não contemplou essas famílias.
Essas pessoas que residem na comunidade vivem sem energia elétrica.
PROPOSTA:
-Reunião
em Brasília com a Secretaria de Patrimônio da União, ICMBIO, a Prefeitura do Rio
de Janeiro e representante das famílias da comunidade Hípica.
A
Jaqueline Andrade - representante da Comunidade da Barrinha, foi
objetiva em sua fala e focou na proposta.
PROPOSTA:
-Reunião
em Brasília com todos os órgãos competentes, para resolver a questão
habitacional de todas as comunidades da cidade do Rio de
Janeiro.
-Reunião
com o Prefeito da cidade do Rio de Janeiro.
O
último orador do seminário foi o Beto do
Vidigal. Ele fez um desabafo sobre a história de remoções na comunidade, a
falta de organização do poder público e a falta de políticas públicas
habitacionais eficientes para quem realmente precisa. Ele apresentou também
propostas.
PROPOSTAS:
-Fala
na Tribuna da Câmara Federal em defesa das ocupações e também da importância de
políticas públicas habitacionais.
-Comprometimento
dos Parlamentares de forma pública na defesa de políticas
habitacionais.
O Yuri Moura fechou o seminário
elencando as propostas recebidas nesse encontro. Falou da importância da criação
de uma Frente Parlamentar, para tratar da questão habitacional e também de
ampliar o Sistema de Habitação de Interesse Social fazendo, inclusive, uma
cartilha explicando o que é e como funciona esse Sistema.
Foi
pactuado no final do Seminário, por todos os presentes, que as reuniões em
Brasília e com o Prefeito da cidade do Rio de Janeiro poderão ter a participação
de todos os representantes das Comunidades.
Por
nada mais haver a tratar, eu Glauber de Medeiros Braga, Deputado Federal
solicitante da reunião lavrei a presente, que assino.
Sala
das Reuniõies, em 11
de dezembro
de 2017.
Deputado GLAUBER BRAGA
(PSOL/RJ)