DEPARTAMENTO
DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO
DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO
COM REDAÇÃO FINAL
Versão
para registro histórico
Não
passível de alteração
COMISSÃO
ESPECIAL - PEC 182/07 - REFORMA
POLÍTICA |
EVENTO:
Audiência Pública |
REUNIÃO
Nº: 0267/15 |
DATA:
09/04/2015 |
LOCAL:
Plenário 9 das Comissões |
INÍCIO:
09h47min |
TÉRMINO:
13h31min |
PÁGINAS:
76 |
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DEPOENTE/CONVIDADO
-
QUALIFICAÇÃO |
MAURÍCIO
ROMÃO - Professor e Economista.
BRUNO
SPECK - Professor e Cientista
Político.
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Debate
acerca da reforma política, com ênfase em sistemas eleitorais
e financiamento de
campanha. |
OBSERVAÇÕES |
Houve
exibição de imagens.
Houve
intervenção ininteligível.
Há
oradores não identificados em breves
intervenções.
Há
palavras ou expressões
ininteligíveis.
Houve
intervenção fora do microfone. Inaudível. |
O
SR. PRESIDENTE (Deputado
Rodrigo Maia) - Declaro aberta a 15ª Reunião da Comissão Especial
destinada a proferir parecer à Proposta de Emenda à Constituição nº
182, de 2007, do Senado Federal, e apensados, de Reforma Política,
com a participação da Comissão Especial destinada a efetuar estudo e
apresentar proposta com relação às matérias infraconstitucionais da
Reforma Política.
Daremos início à reunião de audiência pública que atende aos
Requerimentos n°s 13, de 2015, deste Presidente, e 43, de 2015, do
Relator da Comissão, o Deputado Marcelo
Castro.
Convido a compor a Mesa os nossos convidados, Srs. Bruno
Speck e Maurício Romão. Sejam bem-vindos!
Peço a atenção de todos para as orientações sobre esta
reunião. Esta é uma audiência pública interativa. A sociedade civil
poderá participar com sugestões e questionamentos, pelo endereço edemocracia.camara.gov.br.
Na
fase dos debates, os Deputados poderão direcionar sugestões e
questionamentos aos convidados.
O
tempo concedido aos palestrantes será de 20 minutos, não podendo
haver apartes. Os Deputados interessados em interpelar os
palestrantes deverão se inscrever previamente junto à Secretaria. As
perguntas serão feitas ao final da palestra e deverão restringir-se
ao assunto da exposição, formuladas no prazo de 3 minutos, dispondo
o palestrante interpelado de igual tempo. Aos Deputados são
facultadas as réplicas e tréplicas pelo mesmo
prazo.
Feitos esses esclarecimentos, daremos inicio à nossa
audiência. Convido o Sr. Maurício Romão para fazer a sua
exposição.
O SR. MAURÍCIO ROMÃO -
Bom dia! Cumprimento o Presidente Deputado Rodrigo Maia, na pessoa
de quem saúdo todos os Parlamentares aqui presentes e os convidados.
Cumprimento o nosso Relator, Deputado Marcelo Castro, e o cientista
político Bruno Speck.
Eu vou fazer uma apresentação focada essencialmente na
questão dos sistemas de voto e, em seguida, tecer algumas
considerações sobre o problema de financiamento de
campanha.
(Segue-se exibição de imagens.)
Se os senhores bem lembram, estes são os tópicos que
constaram dos debates na Legislatura passada, que eu denominei de
temas pontuais. Pelo relato do Deputado Marcelo Castro em Recife, na
segunda-feira, eu pude perceber que há muita convergência em muitos
desses pontos, o que dá ao que chamamos de Relatório 1 da Comissão a
possibilidade de alcançar a maioria nos debates de
Plenário.
O grande problema, como todos sabem, cinge-se à questão do
sistema de voto e do financiamento de campanha. Com relação ao
sistema de voto, há os já conhecidos: o sistema majoritário
distrital, o sistema proporcional e o sistema misto. É aí que reside
o grande problema. Também confesso que pude perceber, dos debates da
segunda-feira e das informações que colhi de outras audiências, que
há ainda grande dificuldade de se avançar numa definição do sistema
de voto.
O grande problema nosso na definição desse sistema reside
primeiro no nosso querido e antigo sistema proporcional de lista
aberta, que já está conosco há 70 anos — é de 1945 — e que, ao longo
do tempo, vem acumulando distorções, afora aquelas próprias dos
modelos tradicionais.
Essas distorções não foram, em nenhum momento, nas
legislaturas passadas — e olhem que esta já é a sexta legislatura em
que se trata de reforma política —, tratadas como uma espécie de
modelo que precisava de uma lipoaspiração, de ter retiradas aquelas
distorções mais gritantes.
Aí também coincide que os vícios do sistema politico
conhecidos de todos nós — corrupção, mercado de siglas e essas
disfunções laterais, como suplência de Senadores — são sempre
associados ao modelo. Todas essas distorções são invariavelmente
associadas ao modelo.
Além do mais, as coligações proporcionais, que todos
reconhecem que são a maior deformidade do nosso sistema de lista
aberta, junto com essas distorções famosas — o caso de Enéas,
Tiririca, Luciana Genro, etc. —, causa ainda uma maior rejeição ao
nosso modelo vigente. E
essas crises, no caso agora, as superpostas política, econômica e
ética, terminam por respingar no nosso modelo tradicional em
uso.
Então, o que aconteceu? Passou-se a ideia de que o problema
do nosso sistema político, da nossa cultura política, dos nossos
vícios políticos seria o modelo tradicional que usamos. E
naturalmente, a premissa sendo essa, o corolário não poderia ser
outro: trocar de modelo. Mas para qual modelo? Qualquer um, contanto
que não seja esse. Isso ficou patente nas discussões principalmente
da Legislatura passada, em que não houve nenhuma preocupação em
rever o nosso modelo.
Para os senhores terem uma ideia — talvez todos saibam,
porque são Parlamentares —, estão sistematizadas aqui as propostas
discutidas na Legislatura passada. Aqui a referência “O País como laboratório de
experimentação de sistemas de voto” não é nenhuma crítica aos
Srs. Parlamentares, pelo contrário, mostra apenas a divergência de
opiniões que existe na Casa.
Inicialmente houve aquela discussão do distritão, proposto
pela cúpula do PMDB, que não andou muito. Então, passaram para o
distritão misto. O nosso Relator aqui presente, o distinto Deputado
Henrique Fontana, inicialmente começou com o proporcional misto.
Como houve dificuldades, apresentou-se uma nova proposta, talvez com
a ajuda do nosso Jairo Nicolau que é colega do Bruno Speck. Houve o
proporcional misto em dois turnos, que é um projeto da OAB. Houve o
proporcional distrital, que foi aquele grupo de trabalho presidido
pelo nobre Deputado Cândido Vaccarezza, cujo Relator foi o Deputado
Esperidião Amin e que resultou na PEC 352, que está servindo de base
para esta Comissão. Houve o distrital puro, apresentado por diversos
Parlamentares. Houve o distrital misto, ideia a que o nosso Relator
desta Comissão, pelo que percebi, é bastante simpático. Houve a
mista fechada do PT. E houve variantes desses
sistemas.
Mas o nosso tradicional modelo de sistema proporcional nunca,
em nenhum momento e em tempo algum, foi alvo de quaisquer indagações
sobre suas deficiências e os caminhos que poderiam ser traçados para
recuperá-lo ou minimizar tais deficiências.
Eu gostaria de apresentar aos senhores — aí houve a ajuda
também do nosso Jairo Nicolau — algumas características dos nossos
sistemas. Nós temos os seguintes sistemas: proporcional de lista
aberta; proporcional de lista fechada; distrital puro; distrital
misto; e distritão, que me parece que, nesta Legislatura, está
caminhando com um pouco mais de adesão e aceitação dos
Parlamentares.
O nosso Jairo Nicolau fez uma varredura em estudos de autores
internacionais, da qual colheu uma espécie de lista e elencou quais
seriam os principais tributos desejáveis de um sistema eleitoral.
São eles: simplicidade e inteligibilidade, pois o sistema deve ser
simples; proporcionalidade; poder de escolha do eleitor; partidos
devem ser solidários, coesos e portantes da nossa representação; e
finalmente, ligação entre o Parlamentar e a base, aquela accountability, a
possibilidade de interagir com o eleitor, de acompanhar o
representado.
Pois bem, se formos fazer uma matriz agora, colocando sistema
de um lado e esses atributos desejáveis de outro, nós vamos ver que
alguns atendem uns atributos e alguns atendem outros, mas que nenhum
atente todos os atributos. Por exemplo, o sistema proporcional de
lista aberta é simples? Não é. Há coeficiente eleitoral, coeficiente
partidário, distribuição de sobras, etc. É proporcional? É. Há o
poder de escolha do eleitor? Ótimo! Trata-se da afamada
possibilidade de ele escolher o seu representante. O partido é
disciplinado? Não. Há ligação entre o Parlamentar e a base? Não.
Se formos passando um a um — não temos tempo para isso —,
chegaremos à conclusão de que é muito difícil conciliar esses
requisitos desejáveis com os sistemas que nós temos. Aí a conclusão
é obvia: nenhum sistema satisfaz a todos esses requisitos.
Isso não deve causar espécie porque, em 1951, o economista
Kenneth Arrow, na defesa de tese chamada Escolhas Sociais, provou o
que ficou conhecido na literatura como Teorema da Impossibilidade de
Arrow: que dados certos requisitos da sociedade, não há nenhum
sistema eleitoral puro, ideal e perfeito. Então, o nosso Jairo
Nicolau apenas traz para a evidência empírica uma constatação
teórica dos anos 50.
Isso acontece até com os sistemas proporcionais, que são
considerados os mais “ideais” — entre aspas —, porque colhem a maior
parte das opiniões da população, são mais representativos,
fortalecem e defendem as minorias, etc. Neles os estamentos sociais
são representados no Parlamento em função da densidade populacional,
densidade eleitoral, densidade política, densidade representativa,
etc.
Mas os sistemas proporcionais têm um problema sério, que é
chamado de matemática da divisão proporcional. Eles precisam de
algum método para transformar os votos em determinadas vagas. Isso
se refere a todo problema que exige divisão proporcional de objetos
que não são divisíveis. Por exemplo, se tivermos dez canetas para
dividirmos por dez pessoas, haverá uma caneta para cada um, mas se
tivermos onze canetas para dividir por dez pessoas, teremos um
problema, porque alguém ficará com duas canetas.
Então, nós temos que achar um método, um critério. O problema
é saber qual é esse método, qual é esse critério. São esses os
métodos mais famosos. E o que é mais usado inclusive por nós é o
famoso D’Hondt, das
maiores médias, que todos conhecem.
Também dois matemáticos, Balinsky e Young, em 1980,
demonstraram o que ficou conhecido como Teorema da Impossibilidade
de Balinsky & Young: que não há nenhum método de divisão
proporcional perfeito, justo e ideal.
Então, nós não temos como fugir desta conclusão: não existe
sistema ideal, perfeito, puro e justo; que nenhum sistema satisfaz a
todos os requisitos desejáveis; que todos os sistemas têm vantagens
e desvantagens; e que não existe nenhum sistema superior a outro.
Então, se nós queremos trocar de sistema, será um trade-off, em que há ganhos
e perdas. Os ganhos: incorporamos as vantagens do sistema que
estamos absorvendo no momento e nos livramos das desvantagens do
sistema que estamos usando. As perdas: absorvemos as desvantagens do
novo, mas também nos desfazemos das vantagens daquele que tínhamos.
De sorte que chegamos à brilhante conclusão de que não há,
nas trocas de modelo, essas vantagens de superioridade que são às
vezes ditas. Eu vejo até alguns falando que o sistema misto junta as
vantagens do sistema proporcional com as vantagens do sistema
majoritário. Mas eles nunca dizem que nele também se somam as
desvantagens de cada um.
Há um manual extraordinário e maravilhoso sobre sistemas
eleitorais do famoso Instituto Internacional para a Democracia e
Assistência Eleitoral — IDEA,
que, no final das contas, diz isto: que a experiência
comparativa de reformas em sistemas eleitorais, até o presente,
sugere que mudanças moderadas, com base no que funciona bem nos
modelos vigentes, são bem melhores do que essas mudanças para novos
sistemas desconhecidos. Então, eu sou muito partidário dessa
filosofia.
E
aqui uma forma até de facilitar — não sei se forçaria muito em dizer
— uma conciliação, uma concertación, dentro do
plenário, dentro da Câmara, no Relatório 2, sobre sistemas
eleitorais, seria nós tratarmos a reforma como um processo, em vez
dessa correria no início das legislaturas, com toda aquela
movimentação e a dificuldade de se obterem adesões a modelos
alternativos ao nosso. Nós poderíamos tratar essa concertación do seguinte
modo: esquecemos aquela miríade de modelos que estamos tentando
impor ao País e colocamos o nosso em evidência, fazendo as
lipoaspirações mais importantes. E ao mesmo tempo, faríamos o que
está sendo feito na Comissão: aqueles tópicos listados, como
reeleição e temas pontuais de maneira geral, seriam tratados como
estão sendo, alcançando até aderência e possivelmente consenso para
aprovação.
Nesse contexto de aperfeiçoamento, pode haver dificuldade — e
elas são muitas — em se proibirem coligações proporcionais.
Eu
dou só um exemplo: no meu Estado, Pernambuco, na eleição passada,
todos os Deputados foram eleitos por coligações, Deputados Estaduais
e Deputados Federais. Então, não é fácil. O Senado aprovou, com uma
margem de 68 votos a 1 o fim das coligações proporcionais. O
problema é que o sistema do Senado é majoritário. Aí até eu aprovo.
Mas quando passar para o Plenário aqui na Câmara, nós
vamos...
(Intervenção
fora do microfone. Ininteligível.)
O
SR. MAURÍCO ROMÃO
- Exatamente. Então, se houver essa dificuldade, eu garanto aos
senhores que há possibilidade de convivência com as coligações. O
que nós precisamos é olhar para elas.
Um dos pontos é a questão da proporcionalidade. Dentro da
coligação, se entre dois partidos A e B, um tem 70% dos votos e
outro tem 30%, um deveria ficar com sete cadeiras das dez cadeiras
existentes e outro deveria ficar com três. Isso não acontece no
nosso sistema.
(Não
identificado) - Hoje pode acontecer exatamente o
contrário.
O SR. MAURÍCO
ROMÃO - Pode acontecer exatamente o contrário. Quando você
institui a proporcionalidade, você melhora esse sistema, no caso das
coligações, em torno de 80%, porque são vários os desdobramentos
dessa instituição.
Há o famoso caso da Luciana Genro, que foi a nona Deputada
mais votada no Rio Grande do Sul em 2010, para 31 vagas da Câmara
Federal, e, no entanto, não foi eleita. Por quê? O pessoal teve 150
mil votos, sendo que o quociente eleitoral era de 159 mil votos.
Então, ela não foi eleita porque, naturalmente, o pessoal não
conseguiu atingir o quociente. E a legislação é clara: não se
atingiu o quociente, não se disputam sobras.
Pois bem. Se houvesse uma pequena modificação
infraconstitucional na legislação que permitisse que os partidos que
têm intensidade eleitoral e chegam perto do quociente eleitora
pudessem disputar as sobras, a Luciana Genro teria sido eleita com a
quinta vaga que foi distribuída por sobras. Portanto, não haveria
essa distorção de ela ter sido a nona candidata mais votada e não
ter sido eleita.
Em Recife, um vereador, por coincidência do PSOL, ficou em
terceiro lugar entre as 39 vagas e, no entanto, não foi eleito.
É preciso haver essa chance que é própria do sistema
proporcional, de se dar oportunidade aos partidos menores, dar
oportunidade às minorias de se fazerem representar em função da sua
densidade eleitoral. Isso é uma incoerência do sistema e pode ser
revisto rapidamente.
Há o famoso problema do puxador de votos, como o Tiririca e
Dr. Arraes.
(Não
identificado) - Deputado Celso Russomanno.
O SR. MAURÍCIO
ROMÃO - (Riso) O Deputado Celso Russomanno também, o
Enéas, enfim. A própria PEC 352, de 2013, Deputado Rodrigo Maia, já
sugeriu uma alternativa, que seria ter uma cláusula de desempenho
individual — o Deputado Marcelo Castro colocou isso muito bem —, de
sorte que pelo menos aquelas grandes distorções fossem
eliminadas.
(Segue-se exibição de imagens.)
Eu sugeri aqui outra forma de calcular os votos válidos e,
portanto, o quociente eleitoral, em duas etapas. Isso está
demonstrado aí. Um Deputado até me solicitou para eventualmente
enviar como projeto de lei. Enfim, há várias possibilidades de,
mesmo com as coligações, melhorar essa questão. Eu citei apenas
essas três propostas simples, mas há outras, há espaço para se
melhorar muito mais isso.
Quanto aos sistemas eleitorais, para não ultrapassar o tempo,
eu acho que é o suficiente. Ao final, a minha posição é esta: eu
acho que nós deveríamos verificar, perceber, que não há condições de
nenhuma daquelas propostas alternativas avançar. Há várias
legislaturas que nós vimos tentando isso e não estamos conseguindo!
Então, tenhamos consciência um pouco dessa dificuldade, esqueçamos
isso, vamos dar uma resposta para a sociedade, que há seis
legislaturas espera que avancemos nisso, e voltemos as vistas para o
nosso modelo fazendo as depurações que ele
requer.
Na questão financiamento de campanha, nós temos o sistema
misto, em que há recurso do setor privado e recurso do setor
público. Eu vou passar isso aqui rapidamente, porque os senhores
conhecem já de monta, e vou, talvez até metodologicamente, fazer
algumas considerações, não chegam a ser propostas. O que nós estamos
vendo agora na discussão da Comissão e vimos no debate da
legislatura passada? Nós vimos que as opções são: manter o sistema
misto atual, manter o sistema misto com modificações ou instituir o
financiamento público exclusivo de campanhas.
Manter o sistema misto atual, já é quase unanimidade que não
convém. Há uma prevalência excessiva do poder econômico, há
desequilíbrio da competição, há desigualdade entre candidatos e
partidos, uma crescente escalada de gastos — ano passado, foram 5
bilhões, se tomarmos a eleição como um todo —, há esse estímulo de
relações pouco republicanas entre empresas, agentes públicos,
partidos, etc., e a questão da fiscalização, que é sempre muito
rememorada como extremamente deficiente.
A outra alternativa é instituir o financiamento público
exclusivo de campanha, que tem seus méritos, e são vários: além de
tornar o sistema geral transparente, diminui um pouco — não acaba —
essa influência do poder econômico, tem algumas simplificações, mas
tem vários pontos negativos. Eu vou me cingir àquele que eu acho
que, para a sociedade agora, soa como uma agressão. Estamos num
momento de dificuldade extremamente grave da economia, com um
descrédito inaudível sobre políticos, partidos políticos, e você vem
com uma proposta de financiamento público exclusivo de campanha,
tirando recurso de áreas prioritárias para essa área totalmente
desacreditada. Soa realmente como uma agressão. Então, eu acho que
não é por aí que nós vamos caminhar.
Portanto, resta o sistema intermediário. Então, eu acho que
nós deveríamos — e aí mais uma vez como conciliación — tirar
de evidência o sistema misto atual, esquecer essa questão de
financiamento público exclusivo e nos voltar para o sistema misto
com modificações. E aqui eu me vali de um excelente trabalho da
própria Câmara, da Assessoria Legislativa, de Backes & Vogel,
que me orientaram nessa concepção aqui.
São várias as propostas nesse sentido. Mas, num esforço de
síntese, talvez num reducionismo perigoso, porém garantindo que não
há perda de qualidade, todas essas propostas podem ser resumidas em
dois projetos de lei e na PEC 352. Os dois projetos de lei são o de
nº 6.147, de 2013 e o de nº 6.316, de 2013. O PL 6.147 pede para
limitar gastos de campanha, proibir doações de pessoas jurídicas e
estabelecer um teto de 700 reais para pessoas físicas. A da OAB, que
patrocina o PL 6.316, é a mesma coisa, só que abre espaço para uma
maior presença do financiamento público de campanha. E a da PEC 352
também limita gastos, estabelece teto para pessoa física, só não
define valor como as outras duas, e abre espaço para doações de
pessoas jurídicas só para partidos. Então, em resumo, podemos
observar que há dois pontos em comum: limites de gastos de campanha
e estabelecimento de teto para pessoas físicas — se serão 700 ou 800
mil, não se sabe, mas já há dois pontos em
comum.
Onde reside a discordância? Reside na questão da doação da
pessoa jurídica. Os projetos de lei proíbem, e a PEC 352 permite,
mas só para partidos. Então, o que é que nós temos? Eu acho que
ainda há um espaço de abertura para doação de pessoas jurídicas,
doação essa naturalmente sujeita a um teto fixado em dinheiro,
razoável, mínimo, diferente do atual, pois os tetos são
proporcionais ao faturamento da empresa. Isso não é teto. E isso
poderia suscitar uma discussão que envolvesse até uma aceitação mais
plena dos Srs. Parlamentares.
Antes de definir um sistema de voto, eu gostaria de fazer uma
observação sobre o tamanho da campanha. Como os senhores bem sabem,
na campanha passada, a renúncia fiscal para o tempo de rádio e TV
foi de 840 milhões de reais, para 45 dias. A pergunta que eu faço é
a seguinte: sem tolher o direito do eleitor à informação, sem tolher
o direito de o candidato se apresentar, há necessidade de 45 dias de
horário eleitoral gratuito? Ou, se nós ficarmos mantendo esses
direitos com 15, 20 ou 25, não seria o ideal?
Com relação à questão da propaganda de rua, tem havido
disciplinamento sobre esse tema, outdoors e tal, mas a coisa
ainda está fora de controle. Para vocês terem uma ideia, um
candidato a Deputado Federal em Pernambuco, na eleição passada,
tinha três comitês de votação nos bairros mais nobres e nas áreas
mais privilegiadas, com aquelas coisas suntuosas. Isso desequilibra
a competição, além da poluição visual, da poluição ambiental, da
poluição sonora, de carro de som, pirulito, cavalete,
banners, faixas, bandeiras e aquela coisa toda. Não estou
dizendo que não deva haver isso, estou apenas dizendo que há uma
preliminar. Antes de definir qual é o sistema ideal de
financiamento, vamos ver o tamanho da campanha, porque nós até
poderemos caminhar com mais segurança financeira para essa
definição.
Finalizando a minha proposta, é para isso que nós criamos
esse modelo que afasta a questão do financiamento público exclusivo,
diminui a prevalência do poder econômico, porque você modifica o
sistema atual, limita gastos de campanha, estabelece tetos
determinados em dinheiro para pessoas físicas e pessoas jurídicas. E
aí nós podemos caminhar para um modelo, que não é o ideal, e nunca
vai ser, mas é um modelo que atenda pelo menos à
maioria.
Uma das recomendações do
IDEA — International Institute for Democracy and Electoral
Assistance para a concepção dos sistemas eleitorais diz que todo
sistema que for elaborado tem que ter a anuência do eleitor, tem que
ter legitimidade. Então, a gente tem que fazer coisas que sejam
legítimas, que tenham o apoio do eleitor. Para isso, a gente deve
caminhar, parece-me, para alguma coisa que atenda a esses requisitos
que eu mostrei.
Muito obrigado pela atenção dos senhores. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Com a palavra o Sr. Bruno, por 20
minutos.
O SR. BRUNO SPECK
- Bom dia, Sras. e Srs. Deputados! Muito obrigado pelo convite,
muito obrigado por me ouvirem aqui. Vocês vão ver que eu arranho
ainda um pouco o português, mas, via de regra, eu acerto, estou há
20 anos no Brasil. Nasci e cresci num sistema eleitoral bem
diferente, mas me acostumei. Acho que conheço bem o sistema
brasileiro e queria falar para os senhores um pouco sobre o tema do
financiamento da política, exclusivamente sobre o financiamento. Eu
não vou entrar no assunto de como o financiamento também é
interligado essencialmente ao sistema eleitoral. É um assunto
complexo. Então, vou me ater somente a esse tema do financiamento e
vou proceder em quatro passos.
Primeiro, vou rapidamente recapitular um pouco alguns pontos
importantes e históricos do financiamento. Segundo, eu vou abrir um
pouco a caixa de ferramentas: quais são os modelos de regulação do
financiamento. Terceiro, vou falar sobre os objetivos da regulação.
E, quarto, vou tentar juntar essas peças, basicamente as ferramentas
com os objetivos. Então, nós vamos chegar a esse pequeno eslaide,
que é praticamente o único de que preciso para a
exposição.
(Segue-se
exibição de imagens.)
Primeiro, recapitulando um pouco como começou o financiamento
da política. Eu acho que é importante ter claro em mente como
começou o financiamento. Historicamente, a necessidade de financiar
campanhas começa com a necessidade de se comunicar com um número
muito grande de eleitores. Enquanto o número de eleitores é bastante
reduzido, 2% ou 3% da população, basicamente você não precisa de
muito dinheiro, muito recurso, para financiar a campanha. A partir
do momento em que os países aumentam o sufrágio, fase mais ou menos
entre 1850 e 1950 — a maior parte dos países, nesses 100 anos,
aumenta o sufrágio —, com poucos por cento da população participando
do processo eleitoral, hoje em dia praticamente 80% ou 90% da
população está apta a votar. Então, nesses 100 anos, o financiamento
começa a ser um problema, e a primeira solução para esse problema é
a riqueza pessoal do candidato. Portanto, inicialmente, até final do
século XIX, quem bancava a campanha era o Deputado ou candidato.
Isso tinha um impacto imediato sobre as chances eleitorais, porque
praticamente a atividade política estava, por definição, ou por esse
funil de necessidade de financiamento, restrita àqueles que podiam
se dar ao luxo de gastar dinheiro em campanhas. Então, esse foi o
primeiro modelo.
Nos Estados Unidos, foi inventado, depois, um segundo modelo.
Nas eleições presidenciais, no final do século XIX, dois modelos
muito diferentes, mas complementares, ajudaram a financiar campanhas
que começaram a custar muito caro. O primeiro foi o modelo de
arrecadar recursos quase compulsoriamente dos funcionários públicos.
Estes não tinham estabilidade. Então, o Governo nacional solicitou
ou impôs aos funcionários públicos que eles pagassem, perto das
campanhas eleitorais, uma parte do seu salário para financiar a
próxima campanha. E, como havia funcionários em todos os âmbitos e
como os dois partidos políticos tinham, digamos, o controle do
Governo em vários âmbitos, esse, de certa forma, foi o modelo que
permitiu a dois partidos políticos financiarem as suas campanhas com
recursos públicos. Essa foi uma fonte importante. Ela foi fechada à
medida que os Estados Unidos e muitos outros países fizeram a mesma
coisa: regularam o serviço público, deram estabilidade aos
servidores e os tornaram mais independentes. Então, essa torneira
foi fechada. A segunda torneira importante foi aquela que nós
conhecemos: o financiamento por empresas. Portanto, os Estados
Unidos, no final do século XIX, tornam-se um modelo de financiamento
de campanhas com recursos públicos unilaterais — os recursos
públicos financiam a campanha daquele que está no poder — e com
recursos privados empresarias.
O terceiro modelo, que também conhecemos até hoje, foi
inventado na Europa. O terceiro modelo é o modelo de financiamento
de campanhas por partidos políticos. Estes, além de serem
organizações em torno de um ideário comum, no final do século XIX e
início do século XX, foram criados como organizações para resolver
um problema econômico de candidatos socialistas, candidatos de
classe média, que não poderiam bancar as suas próprias campanhas,
não teriam o apoio de empresas e não tinham o controle da máquina
administrativa para arrecadar recursos ou desviar recursos daí.
Então, a invenção do partido político também é uma invenção para
financiar campanhas, para financiar a profissionalização da política
de candidatos, na época, socialistas ou de classe média, que não
poderiam viver para a política, mas que tinham que viver da
política, para usar a frase ou comparação de Weber, já que falamos
sobre esse assunto.
Então, esse modelo usa partidos como organizações que
arrecadam contribuições dos seus filiados e, com isso, bancam
campanhas e bancam também a sobrevivência de políticos, não só
quando ganham, porque um político que ganha as eleições, pelo menos
a partir do início do século XX, é remunerado. Mas o importante é
bancar o político quando ele perde eleições, porque você só pode se
dar ao luxo de entrar na política profissional se você puder perder
eleições e se você tiver o amparo para sobreviver quando perder as
eleições. Então, esse modelo de financiamento via partidos é um
modelo europeu.
O
quarto e último, que foi inventado na segunda metade do século XX, é
o modelo do financiamento público direto ou indireto. Na verdade, os
europeus, durante muito tempo, acharam que eles tivessem inventado
esse modelo. Depois, pesquisas mostraram que esse modelo foi
inventado na América Latina. Ainda há uma disputa. O primeiro país
pode ter sido Costa Rica ou o Uruguai, mas os dois introduziram, nos
anos 30, 40, já os primeiros modelos de financiamento público. Mas a
Europa fortemente adotou esse modelo. Então, hoje em dia, nós temos
a convivência dessas diferentes formas de
financiamento.
Agora, eu vou entrar no segundo tema: a questão da regulação
dessas fontes de financiamento, porque, com exceção do financiamento
público, todos os outros fluxos de dinheiro são, digamos, um tipo de
mercado. Um país produz mais recursos de empresas, sendo alocados
para as eleições, e outro país produz mais recursos de doações de
cidadãos individuais, mas basicamente é um mercado. Ninguém regula,
ou ninguém decreta, quantos recursos fluiriam dessas várias fontes
para o sistema eleitoral. Mas a regulação é organizada basicamente
para simplificar em torno de três tipos de regulação.
O primeiro tipo de regulação é estabelecer vetos e tetos para
doações. Então, a ideia básica é a de que algumas doações não
deveriam ocorrer, ou algumas doações não deveriam ocorrer no
montante em que estão ocorrendo. A primeira onda de regulação vai
nesse sentido. Então, vários países proíbem o financiamento por
organizações, como, por exemplo, sindicatos, empresas ou grupos
específicos, ou colocam tetos, inventam tetos máximos de doação,
traduzindo em reais, de mil reais ou de 10 mil reais. Os países que
adotam os vetos e os tetos variam muito em relação aos valores
adotados.
Hoje em dia, podemos dizer que mais ou menos a metade, menos
da metade, dos países adotam vetos para empresas. Então, não podemos
dizer que há uma prevalência ou que há um sistema que domina. Mais
ou menos a metade proíbe as doações de empresas, a outra metade não
proíbe. E as variações são muito grandes. O Chile, por exemplo, não
proíbe as doações de empresas, mas proíbe as doações de empresas que
têm determinada porcentagem do seu faturamento em contratos
públicos. O Brasil também adota, digamos, a exclusão seletiva de
empresas: às empresas que têm concessões ou permissões não é
permitido doar. Então, a variação em torno desses vetos é muito
grande e a variação em torno dos tetos é muito grande
também.
Uma diferença importante é aquela entre países que
estabelecem tetos para o volume total de recursos que um doador pode
alocar para todas as campanhas. Os Estados Unidos adotam este
sistema: por cidadão, você tem um teto máximo de aproximadamente 100
mil dólares que ele pode gastar em todas as campanhas que ocorrem
num prazo de 2 anos. Então, esse teto torna os cidadãos mais iguais.
Outros países adotam tetos relativos. A Argentina, por exemplo, tem
um teto em que os recursos privados alocados para um partido não
podem ultrapassar 10% da arrecadação total desse partido. O que eu
quero dizer é que, mesmo dentro dos tetos, há uma variedade muito
grande para se definirem esses tetos, e essa variedade importa,
importa muito. Então, a primeira gama de possibilidades de regulação
gira em torno de vetos e tetos de doação.
O segundo tipo de regulação estabelece tetos para gastos, o
que é bem diferente de tetos para doações. Teto para gastos se
refere aos partidos, aos candidatos, que podem gastar até um teto
“x” nas suas campanhas. Essa é uma regulação que ganhou muito mais
adesão recentemente. O primeiro país a adotar esse tipo de teto foi
a Inglaterra, ainda no final do século XIX, mas depois não houve uma
grande adesão dos países a esse método. Recentemente vários países
adotaram novamente esse sistema, e mais uma vez posso citar o Chile
como exemplo. Eu acho que isso tem a ver um pouco com a ideia de que
a fiscalização desse tipo de regra seria mais fácil do que a
fiscalização das contribuições.
Tetos máximos existem em várias modalidades. Nós podemos
colocar um teto para os gastos em valor monetário, mas também
podemos estabelecer tetos para gastos excluindo ou proibindo
determinados tipos de gastos. E o Brasil é mais uma vez um País que
adotou esse tipo de proibição quando veda qualquer tipo de compra de
espaço publicitário pelos partidos ou pelos candidatos. Então, essa
vedação de um tipo de gasto também é um teto para gastos. Outro tipo
de teto para gastos é a limitação do tempo, também já mencionada.
Vários países tentam limitar o gasto limitando o tempo de
campanha.
Essas três modalidades de estabelecer tetos — em relação ao
dinheiro, em relação aos itens de gasto, em relação ao tempo de
campanha — tiveram certa adesão dos países, nos últimos 20, 30 anos,
nas suas reformas de financiamento da
política.
E a terceira modalidade de que eu queria falar são os
subsídios públicos. Os subsídios públicos, como eu falei, foram
fortemente adotados na Europa, a partir da segunda metade do século
XX. E, para resumir um pouco, eu diria que o importante nos
subsídios públicos são dois pontos: primeiro, o quanto de recurso é
alocado; segundo, por qual critério ele é alocado. Sobre o quanto de
recurso é alocado, os países têm certa precaução, pois vemos que
países como a Alemanha estabeleceram tetos máximos para os recursos
públicos. A Alemanha inovou e ampliou o financiamento público em
várias frentes, mas, a partir de uma decisão do Supremo, o
legislador alemão estabeleceu um teto segundo o qual nenhum partido
pode receber mais do que 50% dos seus recursos de fundos públicos.
Então, já vemos certa preocupação também com o excesso de
financiamento público em países que fortemente adotaram esse
sistema.
Para entrar no segundo ponto, o critério de distribuição, nós
podemos dizer que a parte técnica das modalidades é muito complexa,
mas o que conta, no final, é se um país adota um sistema equitativo,
quer dizer, todos os partidos ou todos os candidatos recebem valores
iguais, ou adota um sistema proporcional, quer dizer, todos os
partidos ou candidatos recebem recursos tipicamente conforme o seu
sucesso eleitoral no passado, ou outro critério de desempenho. Mas o
que mais os países adotaram foi esse critério do sucesso eleitoral
no passado. E o terceiro modelo é o menos conhecido, mas eu acho
muito importante conhecer: é o modelo de incluir o cidadão na
distribuição, na alocação, dos recursos públicos.
Então, os senhores e senhoras já conhecem os primeiros dois
modelos, porque faz parte do modelo brasileiro distribuir recursos
públicos e horário eleitoral. O sistema brasileiro aloca um terço do
horário eleitoral de forma equitativa entre todos os partidos e dois
terços proporcionais à composição da Câmara no início da
Legislatura. E a mescla entre esses dois modelos é importante.
Então, quanto mais você aloca recursos igualmente, quanto maior é
essa fatia, maior será a equidade na distribuição dos recursos. E
quanto maior a fatia proporcional, maior será a proporcionalidade na
alocação dos recursos. Não vou entrar muito em detalhes, mas vários
outros países basicamente também mesclam distribuição equitativa com
distribuição proporcional. Mas o interessante é o terceiro
modelo.
O interessante é que alguns países incluem o cidadão na
distribuição dos recursos públicos. Eu queria citar pelo menos três
exemplos. Um deles é o sistema dos fundos complementares, ou, em
inglês, matching funds.
Quando falamos de financiamento público, todo mundo o associa à
Alemanha. Na verdade, os sistemas mais inovadores vêm da América do
Norte. Os dois que vou citar são dos Estados Unidos e do Canadá.
Então, matching funds é o
sistema de fundos complementares nas eleições presidenciais
primárias e funciona da seguinte forma: para cada 100 dólares que o
cidadão doa para o candidato nas primárias, nas eleições
presidenciais, o Estado complementa mais 100 dólares; para cada 200,
ele complementa mais 200. Eu acho que o teto é de 250 ou 300. Então,
há um teto. Mas a ideia é a de que o recurso público não seja
alocado via critério pré-definido, um critério “x” ou “y” por cento,
mas que o recurso público dependa da doação ou da capacidade de o
candidato convencer o eleitor. Então, o recurso público vai, via
eleitor, para o candidato.
O segundo sistema é o sistema de desconto do imposto de
renda, que é adotado no Canadá e é basicamente o seguinte: o
cidadão, ao pagar o seu imposto, pode optar por fazer uma doação
também a um partido político e descontar essa doação integralmente
do seu imposto de renda. Então, não é uma questão de isenção, é a
dedução integral: ele recebe o valor cheio de volta. E por que o
Estado não dá logo o dinheiro para o candidato? Por que ele tem que
passar pelo cidadão? Porque é o cidadão que vai decidir se faz a
doação ou não.
Eu acho extremamente interessantes esses sistemas menos
conhecidos, porque eles incluem o cidadão na distribuição de
recursos públicos, como por exemplo, o fundo partidário e outros
recursos alocados aos partidos. Então, esse é o panorama sobre as
três modalidades de regulação. Repetindo: primeiro, vetos e tetos
para as doações; segundo, tetos para gastos; e, terceiro, as várias
modalidades de alocação dos subsídios
públicos.
A penúltima parte é uma pergunta: para que nós estamos
regulando o financiamento? Tem que ter um objetivo. Se eu faço essas
regulações, se eu desenvolvo essas regras, elas terão um impacto.
Então, eu preciso claramente pensar sobre qual será o objetivo da
minha reforma. Pode ser um objetivo, ou dois, ou três, mas, enfim,
eu preciso ter uma clara visão do objetivo. E, com relação às
reformas do financiamento dos vários países que eu examinei — eu
trabalhei 10 anos na transparência internacional mexendo com esse
tema —, tipicamente há três objetivos. O primeiro objetivo é
equilibrar a disputa eleitoral. E isso tem a ver com as seguintes
questões: será que um candidato tem muito recurso e outro tem pouco?
Será que alguns partidos deveriam receber mais e o mercado aloca
menos? Basicamente a questão é o equilíbrio da disputa
eleitoral.
O segundo objetivo é aquele que talvez o leitor dos jornais
brasileiros conheça mais: combater a corrupção ou, de forma mais
neutra, tornar o representante eleito menos dependente de
determinadas fontes de financiamento. Então, a independência do
representante eleito é segundo o objetivo. E o terceiro objetivo é
tornar os cidadãos mais iguais, ou ter uma igualdade maior dos
cidadãos na questão do financiamento
eleitoral.
Então, cruzando as minhas três caixas de ferramentas — tetos,
limites de gastos e financiamento público — com esses três
objetivos, eu chego à minha tabela: em cima, tem vetos e limites;
nas colunas, tem os três tipos de regulação; e, nas linhas, tem os
três objetivos que muitos países visam. Não tenho tempo agora para
discutir detalhadamente os nove pontos, mas eu vou pinçar dois ou
três pontos importantes.
Se eu quero aumentar a equidade cidadã, o que eu posso fazer?
Em relação à primeira coluna — estou falando da primeira linha agora
—, eu deveria pensar em limitar o papel das empresas. Limitando o
papel das empresas — no caso brasileiro, 80% dos recursos vêm de
empresas —, para limitar esses 80%, eu posso, através disso,
aumentar o papel do cidadão. Para completar isso agora com recursos
públicos, eu posso ir à última coluna dos subsídios, equidade
cidadã: como eu aumento o papel do cidadão no financiamento
recorrendo aos recursos púbicos? Eu o aumento recorrendo àquelas
duas modalidades, que eu citei dos Estados Unidos e do Canadá: eu
dou ao cidadão um desconto no Imposto de Renda no valor de doações
pequenas ou eu completo as pequenas doações de cidadãos com recursos
públicos complementares. Aqui, nós temos dois exemplos, o da caixa
vetos e o da caixa subsídios, que aumentam a equidade cidadã. Vamos
pinçar outro exemplo. Vamos para questão do equilíbrio das eleições:
como eu posso equilibrar a disputa eleitoral entre candidatos? A
principal ferramenta é estabelecer tetos de gastos — é o slide número 5.
Estabelecendo tetos de gastos eu torno as eleições mais equitativas,
torno a disputa mais equitativa entre os candidatos.
Agora,
a solução não é tão fácil, não é? Se eu torno os candidatos iguais
estabelecendo tetos iguais, eu tenho pelo menos um grande problema
que a ciência política tematizou desde os anos 70, que é a enorme
vantagem dos mandatários — dos senhores e das senhoras — ao
disputarem eleições com novatos, porque, tipicamente, quem tem o
mandato precisa de menos recursos para disputar e ganhar a eleição,
do que quem não tem o mandato.
Então,
há uma enorme discussão na ciência política, embora esse ponto
esteja batido e consolidado: tetos de gastos iguais para todos
trazem o grande risco de diminuir a renovação do Parlamento e de
aumentar as chances dos mandatários de renovarem seus mandatos. Se
os senhores quiserem então renovar o mandato, o teto seria, talvez,
uma boa medida.
Vamos para o último exemplo: os subsídios públicos. Eles
podem ser, como eu disse, distribuídos de várias formas. Uma das
grandes teses na ciência política é a tese do partido-cartel,
desenvolvida por Katz e Mair, dois cientistas políticos importantes
nos anos 90. Basicamente, eles disseram que os partidos, na segunda
metade do século XX, na Europa, inventaram o financiamento público
para se autobeneficiar, para que aqueles partidos que estão no poder
tenham mais chance de se reeleger, e para excluir novos partidos,
pequenos partidos ou novos competidores. Eles mostraram isso através
dos números, indicando que vários países têm barreiras de acesso
muito altas para que partidos possam acessar esses recursos
públicos, muito similares às barreiras de acesso à representação
parlamentar.
A gente poderia se perguntar se isso também vale para o caso
brasileiro. Eu me fiz esta pergunta e fiz uma pequena comparação
aqui, e com isto eu vou terminar, em dois ou três slides.
Este slide mostra
a distribuição dos recursos públicos e privados nas eleições
brasileiras. São sempre os mesmo gráficos. A horizontal, na linha X,
indica a porcentagem de votos que o partido teve na última eleição
para a Câmara, e, no eixo Y, a vertical, a porcentagem de recursos
do fundo partidário. Nós vemos aqui que a diagonal seria a perfeita
proporcionalidade dos recursos. Ou seja, os partidos receberiam
recursos do fundo partidário exatamente proporcionais ao seu sucesso
eleitoral na Câmara na última eleição.
Como
a regra, no Brasil, é que 1% precisa ser alocado igualmente entre os
partidos, a distribuição real dos recursos caiu um pouco abaixo da
proporcionalidade. Então, aqui, só temos a reprodução, digamos, da
regra atual brasileira da alocação dos recursos do fundo partidário.
Todos os partidos recebem recursos mais ou menos proporcionais em
relação ao sucesso eleitoral no passado. Um pouco menos recebem os
partidos grandes, porque uma parte é alocada igualmente entre
todos.
No segundo slide,
nós vemos a distribuição do tempo eleitoral. Aqui, mais uma vez
lembro, a regra é: dois terços do horário são distribuídos
proporcionalmente, e um terço é distribuído igualmente entre todos
os partidos. O resultado é que partidos grandes têm menos tempo de
propaganda do que, proporcionalmente lhes corresponderia se nós
tivéssemos uma perfeita proporção entre o horário eleitoral e o
sucesso passado.
Vamos para o próximo slide. É o mesmo esquema:
agora é o horário, não o eleitoral, mas o horário de propaganda
partidária fora das eleições. Aqui a curva é um pouco diferente. Não
vou entrar no detalhe das regras, mas partidos muito pequenos têm
menos tempo por ano do que lhes corresponderia, proporcionalmente;
partidos médios têm mais tempo; e os partidos maiores, mais uma vez,
têm menos tempo do que lhes corresponderia pela exata
proporcionalidade.
Estas são as modalidades de financiamento público.
Vamos
agora para o financiamento privado, e, com isso, termino. Este slide mostra a relação entre
a proporção de votos no passado e os recursos alocados para os
partidos nas eleições municipais em 2012. Aqui, nós vemos que o
financiamento privado não distorce significativamente, em relação à
eleição passada, a distribuição de recursos. Nós temos uma
distribuição de recursos que mais ou menos segue o passado. Então, o
financiamento privado não muda o jogo eleitoral se nós olharmos para
a história das eleições, para a última
eleição.
Vamos para o último slide agora. Se nós olharmos
para as eleições 2010, comparando com o financiamento em 2014, aí,
sim, notamos uma distorção. Nós temos pequenos partidos e médios,
partidos recebendo menos recursos privados do que lhes
corresponderia levando-se em conta o sucesso eleitoral no passado, e
nós temos poucos partidos — na verdade são só três: PT, PSDB e PMDB
— que recebem mais recursos do que lhes corresponderia tomando-se
como base a eleição passada.
Então, com esse pequeno olhar sobre a distribuição de
recursos eu queria terminar a apresentação. Em resumo, minha
mensagem básica é que os senhores, quando reformam o sistema de
financiamento, precisam ter muito claros os objetivos da reforma,
porque, dependendo desses objetivos, os senhores terão que escolher
as ferramentas que os levarão a esses objetivos. Esta é a primeira
mensagem.
A segunda é um pouco complementar. No meu entender, a divisão
básica, a escolha básica, não passa pela escolha entre financiamento
privado ou financiamento público, mas pela escolha entre vários
modelos de financiamento privado, vários modelos de regulação e
vários modelos de regulação ou alocação do financiamento público.
Então, se eu quero atingir o objetivo X, eu preciso mexer tanto na
regulação do financiamento privado, como também na regulação do
financiamento público.
Com isso, eu termino.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado
Rodrigo Maia) - Concedo palavra ao Deputado Afonso
Motta.
O SR. DEPUTADO AFONSO MOTTA
- Quero cumprimentar o Presidente Rodrigo, Sras. e Srs.
Parlamentares e, de forma muito especial, os nossos conferencistas.
Pela
forma didática, objetiva e profunda com que foram apresentados os
temas, eu não tenho nenhuma dúvida em afirmar que é uma contribuição
muito especial, muito concreta, muito objetiva. Tenho certeza de que
várias referências colocadas aqui pelos ilustres palestrantes vão
contar muito no nosso debate. Muitas delas, inclusive, ainda não
haviam sido colocadas na forma em que estão sendo colocadas
aqui.
Quero me limitar nas minhas apreciações à questão — muito
interessante, aliás, e eu realmente já tinha feito esta reflexão e a
coloquei no emendão que apresentei —, dos limites e regulação do
financiamento de campanha.
Faço
algumas observações que — tenho certeza disso —, de certa forma, já
foram apreciadas, mas que eu acho que são muito importantes.
A primeira observação é sobre o fato de que, hoje, são os
partidos que estabelecem os valores de gastos das campanhas. Isto é
fato, e merece a nossa reflexão.
A segunda observação, de certa forma também já colocada aqui,
é a de que nós convivemos, do ponto de vista dos recursos públicos —
e eu não vou falar de financiamento de campanha — destinados aos
partidos políticos e, por via de consequência, às campanhas
eleitorais, com uma total falta de transparência e critério na
distribuição. O fundo partidário é notório. Há um descritério na
distribuição dos recursos por parte dos partidos que recebem esses
recursos, e há falta, também total, de transparência.
Faltam transparência e critérios, também, na utilização do
horário eleitoral gratuito. Em cada pleito são evidentes as
distorções. E, também, faltam limites para os gastos do candidato,
ou seja, para quem tem riqueza pessoal. Também passa meio batido
essa questão da diferença que o candidato que tem riqueza pessoal
pode fazer no desequilíbrio da competição.
Falta ainda, sem dúvida nenhuma, rigor no impedimento
necessário na hipótese de sistema misto, como é hoje. Falta rigor no
impedimento para as empresas que mantêm relações econômicas com os
governos e os próprios sindicatos; e para os próprios sindicatos,
porque nós não estamos falando aqui só do período de realização do
sistema eleitoral, há distorção na utilização dos recursos das
entidades sindicais para fins políticos e para fins eleitorais.
Falta rigor nisso.
E digo mais: em relação aos limites dos doadores —
principalmente, se nós avançarmos nessa questão do sistema misto do
financiamento de campanha, os limites dos doadores podem ter
diferentes nuanças —, eu acho que é importante nós nos apropriarmos
desse debate na hipótese de avançarmos nessa questão, porque isso
também passa batido. Qual é o valor total com o qual uma determinada
empresa pode contribuir para um determinado candidato? Os critérios
hoje existentes não representam limites. Se uma empresa como aquela,
por exemplo, que contribuiu com 600 milhões no último processo
eleitoral, ela contribuiu com 600, mas poderia ter contribuído com 1
bilhão, porque não existem limites, na verdade, para determinado
tipo de empresa.
O fato de nós termos recolhido, hoje, essa sistematização e
essa compreensão de que devam existir vetos e tetos para doações,
tetos para gastos e que os subsídios públicos devam ter um
determinado tratamento, enriquece muito o nosso debate futuro e a
construção, com certeza, que haveremos de
fazer.
Parabéns, muito obrigado pela contribuição dos
senhores.
O SR. PRESIDENTE (Deputado
Rodrigo Maia) - Passo a palavra ao Deputado Henrique
Fontana.
O SR. DEPUTADO HENRIQUE FONTANA -
Quero cumprimentar o nosso Presidente, o Relator, os nossos dois
convidados e agradecer-lhes pela contribuição e, evidentemente, por
tudo que acumularam em termos de estudo e dedicação a esse tema tão
importante que é pensar a política. Quero cumprimentar os colegas
todos, que, dentro de poucas semanas, estarão aqui votando um futuro
sistema político para o nosso País.
Eu quero me focar, nestes 3 minutos, na questão do
financiamento, e quero expressar as minhas convicções para tentar
conquistar o apoio dos colegas que compõem a nossa
Comissão.
Primeiro, eu entendo que, na democracia, a meritocracia de
candidatos deva ser medida pelos votos que esses candidatos
conquistam, e não pela capacidade que esses candidatos tenham de
amealhar recursos financeiros. Candidatos podem representar
diferentes visões que tenham mais ou menos facilidade de dialogar
com aqueles que têm acesso ao recurso financeiro.
Então, mesmo quando se pensa em alternativas, como, por
exemplo, que parte do financiamento venha de recursos doados, ou que
seja possível abatê-lo do Imposto de Renda: eu não tenho
contrariedade, se isso for aprovado, podemos votar, mas temos que
ter o cuidado de observar qual é a porcentagem da população
brasileira que paga Imposto de Renda — 5%, 8% —? Então, a elite
econômica é que teria condições de abater do Imposto de Renda,
porque a grande massa da população brasileira não tem Imposto de
Renda a pagar, e, portanto, não poderia doar recurso nesse
caso.
Então, a primeira grande questão, na minha opinião, é definir
um teto global que pode custar uma campanha para Governador no Rio
Grande do Sul, para Senador no Paraná, para Deputado Federal na
Bahia, no Rio de Janeiro, ou para Deputado Estadual, porque esse
teto organiza todo o restante.
Todas as leis que tentam evitar o gasto A ou B são inócuas. O
candidato e os seus marqueteiros descobrem como gastar. Então há que
ter o teto, para estudar uniformidade para os candidatos que
disputam diferentes cargos.
Segunda questão, na cultura e na realidade brasileira, e acho
que em diversos lugares do mundo, me parece brotarem evidências
muito mais negativas do financiamento empresarial do que positivas.
Nenhum sistema político é perfeito e nenhum sistema de financiamento
é perfeito. Portanto, cabe a nós escolher aquele que seja melhor, e
me parece que melhor é sem financiamento
empresarial.
Eu fico me perguntando: qual é a vantagem do financiamento
empresarial? Eu não as encontro. Alguns podem até alegar que isso
vai economizar dinheiro público, mas não é o que a realidade mostra.
Os escândalos de corrupção mostram que custa muito mais caro, em
termos de recurso público, esse dinheiro que é investido do
financiamento empresarial para buscar privilégios e vantagens
futuras.
Terceira questão — e eu mudei de posição —, é muito positivo
o financiamento de pessoa física, porque ele permite resolver um
problema que o financiamento público exclusivo nunca conseguiu
resolver. Como a parcela pública tem que trazer recursos que são
alocados conforme o número de votos que os partidos receberam na
eleição anterior, o candidato que representa um partido menor parte
com um valor mais baixo, e isso desequilibra a eleição. Então, se
esse candidato for popular de fato, com o financiamento de pessoa
física ele pode, inclusive, chegar à equidade, comparado com outro
candidato. Então, aqui temos uma vantagem desse avanço de pensar um
sistema com financiamento limitado de pessoa física a um salário
mínimo, mil reais, não o limite de 10, 20, 30 mil reais, porque aí,
de novo, se desequilibram as coisas em
demasia.
Por fim, eu entendo que há que criminalizar o caixa dois,
porque se vai haver uma regra com teto, tem que estar seguro para
todos nós que essa regra vai ser respeitada. Então, quando alguém
diz: “Se tirar o dinheiro da empresa, botar teto, aí vai prosperar o
caixa dois”. Mas o caixa dois prosperou nas últimas décadas, e não
há teto e há liberdade total para as empresas, e o caixa dois
prosperou violentamente na política brasileira. Não sejamos
hipócritas. Existe caixa dois a rodo na política brasileira. É
difícil comprovar? É difícil, mas quem é candidato sabe da
concorrência desleal que enfrenta muitas vezes. “Ah, mas aquele ali
gastou só 2 milhões, ou só 1 milhão", mas eu vi a campanha daquele
ali, custou muito mais do que 2 milhões.
Então, nós temos que adotar uma medida drástica para fazer
cumprir a lei. E, na minha avaliação, a meritocracia, portanto — e
eu concluo com essa frase —, vai prosperar a história de vida dos
candidatos, da qualidade da representatividade que eles têm para que
isso seja avaliado pelo eleitor, e não como é hoje, uma espécie de
corrida do ouro interminável. Quanto mais eu arrecado, mais chance
eu tenho de me eleger. Ou muitas vezes, inclusive, se eu não
arrecado pelo menos um X, eu disputo a eleição sem chance nenhuma.
Eu
entendo que nós podemos mudar isso com bastante força e vai melhorar
para todos nós.
Minha última frase: a política está cada vez mais sob
suspeição. Eu li uma matéria num jornal outro dia, não vou citar
porque não vale fulanizar, temos que pensar no futuro. A matéria
dizia o seguinte: um levantamento de todos os candidatos que
receberam recursos na última campanha, vindos de alguma das empresas
que estão sendo investigadas na Operação Lava-Jato. Esse era o eixo
da matéria. Qual era o subtexto dessa matéria? Todos esses
candidatos estão sob suspeição, mesmo que a doação tenha sido legal,
com recibo.
Então, que política nós queremos, senhores? Vamos continuar
criminalizando todos os políticos? Vamos criminalizar a política?
Vamos colocar toda a política sob suspeição? E quem manda no País,
quem dirige a democracia, se a política está desmoralizada? Ah, eu
sei: dirige quem tem poder econômico. A política tem seus defeitos,
a democracia tem seus defeitos, mas é ela que dá um equilíbrio para
conter o ímpeto dos que têm o poder econômico e gostariam de impor
as regras, como querem, dentro de um sistema.
É por isso que eu defendo, na nossa Comissão, esse sistema de
financiamento como uma saída para os limites que nós enfrentamos
hoje.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Com a palavra o Deputado Mendonça
Filho, como Líder.
O SR. DEPUTADO
MENDONÇA FILHO - Presidente Rodrigo Maia, eu quero cumprimentar
os colegas e pedir desculpas pela passagem meio rápida pela Comissão
que analisa o tema reforma política.
Mas eu tenho o prazer e a alegria de saudar aqui o meu
conterrâneo, economista e cientista, Maurício Romão, que expôs aos
presentes sua posição e, de certo modo, com certeza trouxe uma
colaboração relevante ao debate do tema reforma política na Câmara
dos Deputados.
Quero cumprimentar também o cientista político Dr. Bruno
Speck, que também traz a sua contribuição, para que possamos
aproveitar bem os debates na Comissão encarregada de analisar essa
proposta de emenda à Constituição, e sair daqui possivelmente com
algo que possa melhorar o sistema político brasileiro. É evidente
que não é fácil, esse tema é sempre muito, eu diria, quente, do
ponto de vista de debate, e, ao mesmo tempo, os pontos de vista nem
sempre convergem, porque cada Deputado tem uma realidade, tem uma
percepção do mundo político muito particular.
Eu sinceramente acredito na boa-fé dos propósitos
apresentados e defendidos aqui pelo Deputado Henrique Fontana em
relação ao tema financiamento de campanha, mas tenho uma opinião
completamente divergente da dele. Eu acho que imaginar que o
financiamento público seria a solução para o problema das campanhas
políticas no Brasil é uma simplificação. Não é o advento da adoção
do financiamento público que vai ensejar uma campanha mais limpa ou
não. Para mim, isso vai fazer a gente voltar aos tempos em que tinha
o caixa dois como único elemento ou um grande elemento de
contribuição às campanhas políticas.
É evidente que eu também não tenho nenhuma objeção a que a
gente possa melhorar o sistema, aprofundar o nível de transparência,
de fiscalização e até mesmo adotar, como o Deputado Rodrigo Maia já
teve oportunidade de defender, algumas proibições em relação a quem
tem interesses diretos no Estado, contratos de prestação de serviço
com o setor público; no caso, que possa haver restrição em termos de
atuação no mundo político.
Então, eu acho que não será a adoção do financiamento público
que vai resolver esse problema. Eu acho que a gente tem que atacar
dois grandes horizontes, o horizonte e o espaço relativos ao custo
das campanhas. E, para se baratear campanha, o primeiro passo, para
mim, é encurtá-la. A campanha no Brasil é longa demais, são 90 dias,
3 meses. Pode-se fazer uma campanha de menos de 60 dias, de 45 dias.
As convenções podem acontecer no final de julho, começo de agosto,
para termos uma campanha mais curta; isso vai ensejar menos custo.
E, ao mesmo tempo, devemos reduzir também o custo daquele item que é
o mais caro em qualquer campanha política e que reflete no geral: o
acesso à televisão. Apesar de ser gratuito o acesso, em tese, porque
há incentivo fiscal para as concessionárias de televisão, na prática
custa muito dinheiro produzir programas.
Eu acho que nós deveríamos avançar no sentido de acabar com o
bloco da propaganda eleitoral e restringi-la tão somente aos
comerciais, porque o bloco cada vez menos tem audiência. As pessoas
optam por TV a cabo, hoje temos streaming de programas na
Internet, e não se vai forçar alguém a assistir a algo que já é
motivo de uma antipatia natural da própria sociedade e que custa
muito elaborar e construir. Os programas políticos saem cada vez
mais caros. Então, a gente tem que trabalhar para baratear a
campanha política.
Eu não vou me estender demais aqui na discussão da temática,
que é bem ampla, envolve desde o sistema eleitoral. Aliás, para mim,
é um dos fatores que encarecem também a eleição, o sistema eleitoral
aberto, como é hoje, em que o espaço de campanha é de um Estado.
Isso torna a campanha ainda mais cara, além da dificuldade de
fiscalização da sociedade.
Conforme
comentou o Deputado Henrique Fontana sobre o que é dito da campanha
de A, B ou C, que gastou não sei quantos milhões, etc. e tal, isso se dá
porque a sociedade não tem oportunidade de espacialmente avaliar
aquele determinado candidato. Ele faz campanha de forma tão
pulverizada e ampla que é impossível a fiscalização. Mesmo a
imprensa dedicando-se a um determinado político não vai conseguir
construir um enredo de uma história de supergasto numa eleição. Se
houvesse uma circunscrição mais reduzida, evidentemente esse tipo de
advento, no sistema proporcional aberto, como é hoje, estaria mais
restrito.
Finalizando, Presidente Rodrigo Maia, eu quero aqui
manifestar o meu apoio ao modelo adotado na Casa — pelo menos, em
média, é a tendência —, que é o sistema majoritário, o distritão. Eu
sei que ele tecnicamente pode não ser o melhor dos modelos, mas eu
considero o modelo atual brasileiro o pior dos modelos, com todos os
defeitos, e acho que a gente tem que marchar para algo mais
interessante. Se eu pudesse definir um modelo com uma canetada, o
que não seria o caso, adotaria o sistema distrital misto, o modelo
alemão. Mas acho que politicamente não é fácil construir consenso
sobre matéria tão complexa como essa e numa casa de políticos, onde
todos, de certo modo, se sentem especialistas no assunto.
Eu finalizo cumprimentando o Relator, Deputado Marcelo
Castro, que haverá de captar as contribuições dos vários
colaboradores que aqui vieram, nossos convidados, entre os quais o
Dr. Bruno Speck e o Prof. Maurício Romão, e dos Parlamentares, para
que possamos produzir pelo menos um texto que avance, que signifique
um passo adiante na direção de um modelo de sistema eleitoral e
político mais adequado para a sociedade brasileira.
Obrigado, Presidente, e cumprimento, mais uma vez, os que
trouxeram aqui, com brilhantismo, a sua contribuição à temática em
debate neste instante.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Agradeço ao Líder Mendonça Filho.
Passo a palavra ao Deputado Renato
Molling.
O SR. DEPUTADO RENATO
MOLLING - Quero cumprimentar o Presidente, Deputado Rodrigo
Maia, o Relator, Deputado Marcelo Castro, os convidados, que tão bem
expuseram os seus pontos de vista sobre esses temas importantes.
A gente tem percebido que ainda há muitas pessoas, muitos
Deputados inclusive, que não acreditam que essa reforma vá
acontecer. Mas eu tenho certeza de que, pela celeridade dos
trabalhos, pelo empenho do Relator e do Presidente e pela
importância do tema, desta vez realmente vai acontecer.
Eu acredito que nós temos que diminuir os custos de campanha,
para termos equilíbrio nas eleições e evitarmos a corrupção, e
também nos preocupar com a eficiência na aplicação dos recursos
públicos, porque política, em síntese, é fazer o dinheiro chegar aos
locais para melhorar a vida das pessoas.
Nesse sentido, eu acredito que a unificação das eleições seja
uma dessas maneiras, tornando mais eficiente a aplicação dos
recursos públicos. Os Municípios, hoje muito carentes, dependem
muito do Estado, dependem muito da União, e as eleições de 2 em 2
anos interrompem os convênios. Assim, os recursos não são
repassados, pequenas obras são paralisadas, empresas quebram, por
causa dessa deficiência. Então, acredito que a unificação
corrigiria, em parte, essas distorções.
Financiamento de campanha. Muitos defendem que a corrupção
ocorre no financiamento privado de campanhas, e eu discordo
totalmente. A maior corrupção hoje ocorre no financiamento público,
por meio de trocas de favores: a empresa recebe recursos públicos
para uma obra se fizer doações às campanhas políticas, especialmente
fora da campanha política. As grandes doações de pessoas jurídicas
hoje ocorrem fora da campanha política, quando ninguém fica sabendo,
nem o Parlamentar, nem a sociedade. É ali que acontecem as grandes
doações para a campanha das empresas.
Isso tem que terminar, porque não se sabe o que é feito com
esse recurso. Agora, proibir o financiamento privado de empresas, de
setores, para os candidatos... A gente sabe da dificuldade de
conseguir recursos. Temos que, às vezes, ir a 50, 100 empresas para
conseguir arrecadar 5 mil aqui, 20 mil ali, 30 mil acolá. São
setores importantes da economia que precisam do Parlamento, que
precisam da Câmara, que precisam de defesa.
São as indústrias, no meu entender, que fazem o
desenvolvimento do País. A arrecadação é, principalmente, gerada
pelas empresas, pelo setor industrial. E nós, nos últimos anos, já
diminuímos muito a participação das indústrias no PIB brasileiro. Em
função disso, nós temos seriíssimas dificuldades hoje. Logo nós
vamos ter ainda mais desemprego em função das dificuldades que as
empresas vêm atravessando. Proibir às empresas participar da
sociedade, participar até de financiamento de campanhas para os
candidatos, eu acho, não é democracia. Por que só pessoas físicas
podem contribuir? Por que deixar de fora as empresas?
Existe um teto que dá o equilíbrio. O financiamento público
não evita o caixa dois, isso foi colocado aqui. Devemos
criminalizar? Já existe lei para isso, não se pode ter caixa dois.
É característica da democracia colocar limites, mas não se
pode proibir alguém de participar. Impor limites? Tudo bem! Que seja
proibida a doação fora de campanha. Agora, na campanha, que seja
transparente. A empresa, ao colaborar com qualquer valor para a
campanha do candidato, torna isso público, transparente. E ela tem
todo o direito de fazer isso, o que não significa que o candidato
vai se vender. O candidato vai trabalhar, vai lutar para que as
empresas possam sobreviver, para continuar gerando emprego. Somente
financiamento público de campanha, vamos eleger quem? Vamos eleger
sindicalistas? Vamos eleger padres, pastores, o poder das igrejas?
Os outros não vão ter oportunidade.
A gente respeita todas as opiniões. Agora, dizer que a
corrupção vem com o financiamento privado, no meu entender, não é
correto.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Peço ao Sr. Maurício e ao Sr. Bruno
que respondam os questionamentos. Vamos fazer blocos de três.
Tem a palavra, primeiro, o Sr. Maurício Romão.
O SR. MAURÍCIO ROMÃO
- Em relação ao financiamento público, o Prof. Bruno certamente
vai fazer uma análise mais aprofundada. De qualquer maneira, eu
gostaria de citar que, nesses relatórios da ONU e da IDA,
um apresentou a concepção de sistemas eleitorais; e o outro, o
financiamento de campanha. Este é de 2014, muito recente.
No que se refere a esse constrangimento que nós estamos vendo
agora de cada um ter uma posição diferente — o Deputado Marcelo
Castro disse, em Recife, que, possivelmente, teremos 513 posições
sobre o financiamento de campanha —, com esse relatório, observamos
que, nos cento e tantos países democráticos onde a análise foi
feita, não há dois países com o mesmo sistema. Isso ocorre em todo
lugar e depende da cultura, da tradição do País e das suas
instituições. Então, não deve haver esse constrangimento, que eu
noto: chegarmos a ponto de, depois de ultrapassar toda aquela
Legislatura passada, ver que a estaca é absolutamente zero em termos
de posicionamento, para levar essa discussão ao Plenário.
Eu defendo, mais uma vez, não o modelo, mas uma apresentação
pedagógica do processo, que já há algumas instâncias de aceitação,
de consenso entre os Parlamentares, como a limitação dos gastos e a
questão do teto para pessoas físicas. Resta a questão da pessoa
jurídica, que, reconheço, é mais dramática. Mas, enfim, já estamos
mais próximos de elaborar uma proposta que seja razoavelmente
consensual.
Eu notei, de novembro para cá — estive aqui numa audiência
pública da Comissão que estuda a PEC 352 —, pela fala do nosso
Deputado Mendonça Filho, que há predisposição, digamos assim, dos
Parlamentares em aceitar mais o distritão. Noto isso não só pelos
depoimentos apresentados aqui, mas pelos depoimentos que eu colhi
pessoalmente em outras instâncias.
Eu quero pedir permissão aos senhores apenas para fazer uma
observação sobre isso. As vantagens do distritão são inúmeras, não
tenham dúvida. Entre elas, o modelo simples, inteligível, como todo
modelo majoritário distrital. Mas ele tem outra vantagem em relação
aos modelos majoritários distritais simples e de necessidade
absoluta: não exige demarcação de distritos. Um dos grandes
problemas de todos os modelos de voto é a concepção, o desenho da
demarcação de distritos. Sempre é muito confuso, demoram-se anos até
se chegar à conclusão de quais distritos devam ser demarcados,
desenhados. Na Inglaterra, de 10 em 10 anos, eles estão remarcando
os distritos. Isso é muito complexo. O distritão tem essa vantagem.
A vontade do eleitor é respeitada, naturalmente, nesse
modelo, a chamada verdade eleitoral. Ele fortalece os principais
partidos e evita a fragmentação partidária. Essa também é uma
característica do distritão. Extingue as coligações. No distritão, o
mais votado é o eleito, não há o quociente eleitoral, que só faz
sentido em modelos proporcionais. Então, ele extingue as coligações
partidárias, que são formadas no sentido de ultrapassar o limite, a
barreira que é o quociente eleitoral. As coligações são episódicas,
porque, após a eleição, elas se estinguem. Não são federações
partidárias, muito menos blocos partidários, que seguem toda a
legislatura, com posições unânimes, equânimes, pelo menos similares.
Desmonta o mercado de siglas, o que existe hoje com as
coligações — o distritão tem essa característica — e acaba,
inexoravelmente, com a figura do puxador de votos. Se não há
quociente eleitoral, se não há ninguém que tenha spillover de votos para os
demais, ele extingue o puxador de votos. Então, realmente, concentra
algumas coisas muito factíveis e desejáveis.
Entretanto, há aspectos muitos interessantes que devem ser
abordados:
Reduz
o pluralismo político. O Parlamento não reflete a proporcionalidade
desses segmentos sociais. Essa é uma característica dos modelos
distritais majoritários. Eles não têm essa força do modelo
proporcional de representar no Parlamento os diversos estamentos
sociais em função da sua densidade política, eleitoral e
social.
As
minorias perdem totalmente a influência e é diminuída a sua
participação. As mulheres, que não são minoria, principalmente aqui
— 52% são mulheres —, perdem muito no sistema majoritário. Essa é
uma característica internacional.
Aumenta a personalização da representação, porque o mais
votado é o eleito. Então, ele faz uma campanha, com o seu partido,
sem interação com os representados, o que é outra característica.
Não elimina a competição entre os companheiros de partido.
Nosso Deputado Marcelo Castro falou muito bem sobre esse problema.
Um dos problemas desse sistema proporcional é que não brigamos com o
adversário, brigamos com o companheiro de partido. A nossa disputa é
com o companheiro ao lado.
O custo da campanha normalmente é muito elevado.
Há muitos votos não aproveitados. Esta semana mesmo, saiu uma
matéria na Folha de
S.Paulo cujo título era: Vem aí o voto inútil. O
autor estava malhando o distritão ao dizer que se perde muito voto.
De fato, dos votos válidos de uma campanha, como só são aproveitados
aqueles dos mais votados, o resto é descartado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - O resto fica na suplência.
O SR. MAURÍCIO
ROMÃO - Exatamente, fica para o Suplente.
Dá margem a feudos partidários regionais e ocorre a dispersão
de votos. Isso não é de muita importância.
Enfim, eu quero dizer que, como em todos os sistemas — eu
mostrei aos senhores — há vantagens, desvantagens, méritos e
deméritos, com o distritão ocorre a mesma coisa. Mais uma vez eu
faço aquele apelo de concertation: deveríamos nos
debruçar sobre o nosso sistema, depurar seus defeitos e dar uma
resposta à sociedade. Do contrário, não vamos sair do lugar, porque
cada pessoa tem um sistema na cabeça. Estamos vendo hoje, mais uma
vez, depois de tantos anos, essa coisa andando aí.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Tem a palavra o Sr. Bruno.
O SR. BRUNO SPECK - Eu sempre tento me
limitar, o máximo possível, a recomendações e também vou fazer isso
aqui, porque, afinal, os senhores escolheram ser políticos, e eu
escolhi ser cientista político. Então, eu posso me dar ao luxo de
não ter opinião.
Primeiramente, eu estudo um fenômeno, faço uma comparação,
espero os senhores decidirem e, depois, o estudo de novo. Portanto,
não vou fazer muitas recomendações. Mas eu queria fazer alguns
comentários em relação ao que disse o Deputado Afonso sobre a falta
de transparência.
Olhando para o mundo atual e para a parte que conheci na
África, na América Latina e um pouco na Ásia de sistemas de
financiamento e de transparência, o Brasil se sai bastante bem. Os
avanços que teve o Brasil, nos últimos 10 anos, 15 anos, em relação
à transparência são enormes.
Quando eu comecei a estudar o financiamento com os
estudantes, solicitávamos ao juiz o acesso à prestação de contas dos
partidos, e o juiz às vezes impunha ao estudante que ele nem pudesse
tirar uma cópia. O estudante tinha que copiar à mão a prestação de
contas.
Quanto eu trabalhei na Transparência Brasil, em 2003, nós
fizemos uma solicitação a todos os TREs do Brasil, para ter acesso
às prestações de contas dos partidos. Um dos TREs negou esse acesso
— isso depois da mudança na legislação, em 1996, 1997, que colocou
na lei a transparência —, um dos desembargadores nos respondeu que,
por falta de base legal de nosso pedido, ele não nos daria acesso a
essas prestações de contas.
No Brasil, hoje, é bastante diferente. A facilidade de acesso
a essas informações, realmente, é uma revolução. Então, acho que
temos que reconhecer essa revolução. Falta muito ainda, mas não
tanto quanto em relação a outros países.
Eu acho que o Brasil é um caso de sucesso em relação à
reformulação do financiamento e à maior transparência no
financiamento, mesmo que haja a tendência ao que chamo de
autoflagelação do brasileiro, que vê mais o que lhe falta. Mas,
mesmo em relação ao tema caixa dois, se nós olharmos os números,
estaremos convictos de que a porcentagem do caixa dois, daquele
valor não declarado está diminuindo bastante. O sistema é bastante
generoso, é bastante permissivo. Qual seria a razão de uma empresa
não declarar uma doação, se a doação do volume de 600 milhões
representa um escândalo?
Então, existe a permissividade de um lado do sistema, em
relação à falta de limites, e essa exigência da transparência trouxe
grandes resultados.
O Deputado Fontana colocou que o Parlamentar não deveria ser
julgado pela sua capacidade de arrecadar recursos, mas pela sua
capacidade de ganhar votos. Olhando um pouco para o mundo, vemos que
há bastante divergência nessa filosofia. Há países, como os Estados
Unidos — não digo que são exemplos —, onde a capacidade de arrecadar
recursos virou o principal indicador da popularidade do candidato.
Por exemplo, na primeira campanha e na campanha para a reeleição, em
ambas as eleições, Obama brilhou pela capacidade de mobilizar
recursos. Ele teve muito mais recursos de pequenos valores do que os
seus principais concorrentes.
Eu não tenho certeza se a capacidade de arrecadar recursos
também não transmite a capacidade de se vincular à sociedade. Nos
Estados Unidos é diferente, porque eles precisam arrecadar recursos
de pessoas físicas, não de pessoas jurídicas. Essa combinação entre
tetos para doações de empresas e incentivos para doações de cidadãos
talvez traga uma nova realidade para o caso brasileiro. De outro
modo, a incapacidade de levantar recursos também não transmite um
pouco da incapacidade de se comunicar com o potencial apoiador da
campanha.
O último comentário — para o Deputado Renato Molling — é
sobre o financiamento privado. Acho que tem sim um pouco dessa
diabolização do financiamento privado. Eu acredito que, de um lado,
há o excesso de financiamento privado, como ele está sendo praticado
agora. Eu não generalizaria em relação ao financiamento privado, mas
diria que um dos principais problemas que enxergo é o excesso do
peso de poucos financiadores na eleição geral, mas também o excesso
do peso de poucos financiadores na campanha do Deputado individual.
Eu
não encontrei em nenhum outro país que um único financiador fosse
responsável por 30%, 40% dos recursos de uma campanha. Não em todas
as campanhas assim, mas o peso médio do principal financiador nas
campanhas individuais no Brasil é muito alta. Então, não é a
diabolização, digamos, do financiamento privado em si, mas essa
dependência excessiva do candidato individual de financiadores de
peso. Esse é um dos problemas que deveriam ser atacados.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Quero aproveitar para dar uma opinião
sobre o tema do financiamento. A gente tem que tomar muito cuidado,
porque nós estamos reformando o sistema eleitoral. Nós não estamos
tratando de lavagem de dinheiro, não estamos tratando de sonegação
fiscal. Então, a corrupção vai ser reduzida quando o sistema de
controle do Governo for melhor, não acontecer o que aconteceu na
PETROBRAS.
Aqui
a política é a ponta final de um sistema corrupto, às vezes, que não
corrompe apenas políticos. Não é a reforma do sistema eleitoral que
vai resolver isso. Nós queremos um sistema, no meu ponto de vista,
que seja equilibrado, em que todos tenham o mínimo de condições de
disputar eleição. Esse tem que ser o nosso
objetivo.
O nosso objetivo não é justificar aqui a corrupção do PSDB,
do DEM, do PMDB, de qualquer partido que seja. Eu acho que o nosso
objetivo tem que ser o de construir um sistema em que todos tenham
um mínimo de condições de disputa, em que uma campanha não receba
sozinha 50% dos recursos de uma única empresa. Claro que ele está
refém daquela empresa, sem dúvida nenhuma. Não tem saída.
Nós temos que tomar esse cuidado. Outro dia, eu fui dar uma
entrevista, a repórter me perguntou: “Mas você acha que, com isso,
reduz a corrupção?” Eu falei: “Não, mas eu não estou tratando
de corrupção. Estou tratando de sistema
eleitoral.”
Se a gente quiser tratar de corrupção, vamos mudar a reforma
política, vamos chamar aqui o Banco Central, a Receita, e vamos
discutir como fechar, como o Governo já vem fechando há muitos anos,
os sistemas de desvio de dinheiro público ou privado, qualquer um
que seja. Essa é apenas uma opinião que eu tenho, para não
transmitirmos ao eleitor a expectativa falsa de que nós vamos fazer
uma reforma — se conseguirmos, sabemos que não é fácil — para
reduzir a corrupção.
O SR. DEPUTADO AFONSO
HAMM - Presidente, permita-me dar também uma colaboração. Eu
acredito que vá haver reflexos muitos positivos, o que acho
interessante.
À
medida que nós estamos tratando de uma eleição que venha a ser
transparente, com o estabelecimento de critérios, de limites de
gastos, tudo isso vai colaborar de forma significativa para o
sistema de controle e de fiscalização e, futuramente, com certeza,
evitará a corrupção.
O
SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Mas a gente não pode justificar a
corrupção em qualquer estatal. Eu não estou falando deste Governo.
Eu não estou aqui para bater no PT, no PSDB, no DEM, não é isso. Nós
não vamos poder justificar o dinheiro que o Barusco tem lá, desde
1997, com corrupção política. Uma coisa não tem a ver com a outra.
A
gente tem que tomar esse cuidado, senão iremos gerar uma
expectativa. A gente já tem dificuldade de aprovar alguma coisa,
maior será se aprovarmos algo, gerando uma expectativa. Eu acho que
não é esse o objetivo da reforma do sistema
eleitoral.
Tem
a palavra a Deputada Renata Abreu.
A
SRA. DEPUTADA RENATA ABREU
- Bom dia a todos! Eu queria, inicialmente, lembrar que está
acontecendo um ciclo de debates da Academia Brasileira de Direito
Eleitoral e Político — ABRADEP, no Plenário 7, que vai até às 5
horas da tarde. Agora de manhã estamos tendo a participação do
Leonardo Barreto, que é cientista político da UnB, e também do
ex-Ministro, Dr. Joelson Dias. Aos Deputados aqui presentes estendo
o convite. O nosso Relator vai estar lá. Eu acho que é importante
também para a gente adentrar em ene temas.
Eu
queria elogiar o nosso querido Maurício e o Bruno por suas
palestras. Concordo com o Maurício. Acho que nós poderíamos resolver
algumas distorções do nosso atual sistema, eliminar o excedente de
votos dos puxadores, o spillover, e todos
participando da distribuição das sobras seria essencial para o nosso
País.
Eu
disse, na última reunião da Comissão, que o fim das coligações me
preocupa sob o seguinte aspecto: quando você pensa nele ideológico
faz sentido, mas, na prática, aumentar-se-ia demais a quantidade de
candidatos, ainda mais se amanhã unificarem-se as eleições. Seria
realmente uma grande confusão. Só em São Paulo, na última eleição,
nós tivemos uma média de três mil e poucos candidatos, entre
Deputado Federal e Deputado Estadual, o que passaria a quase 8 mil
candidatos. Ou seja, seria gerada uma grande confusão no eleitor e
não tornaria mais fácil para ele conhecer efetivamente as propostas
dos seus candidatos.
Gostei
muito do que o Maurício propôs, achei excelente. Meus parabéns!
Eu
queria entrar na questão do financiamento, que o Deputado Henrique
Fontana comentou. Quanto à doação por parte de pessoas físicas, eu
só faria uma sugestão: que as pessoas comissionadas tivessem essa
restrição, para evitar que o emparelhamento das máquinas públicas
pudesse ser uma forma de arrecadação dos grandes partidos, e que
realmente as doações de pessoas físicas atingissem o seu objetivo,
que é justamente a participação do povo, não por interesses
individuais, mas efetivamente para participar do processo político.
Esta é uma sugestão.
O
Deputado Henrique Fontana também falou da meritocracia. Acho
importante tocar nesse assunto. E queria relatar para vocês que eu
me senti muito injustiçada na eleição. Eu presidi uma ONG — eu tive
que me descompatibilizar, porque a lei prevê isso — que há 23 anos
faz um trabalho social, com parceiros, com dedicação, ajudando a
população, fazendo alfabetização de adultos, educando crianças. Essa
ONG é mantida com o nosso próprio recurso, não tem nada de apoio do
Governo. Nada, nada!
Você
preside uma ONG há 23 anos, e no momento em que você se candidata,
tem que se afastar da presidência, porque, se você explorar aquilo
politicamente, gera uma desigualdade eleitoral, gerada pelo seu
trabalho social, pela sua dedicação, pela sua preocupação com o
povo. Ao mesmo tempo, na contramão disso, há um financiamento
privado sem teto, que gera uma desigualdade econômica efetiva, por
pessoas que detêm somente o poder econômico e que pouco participam
ativamente dos problemas da população.
Eu acho que, numa desigualdade eleitoral, fruto de um
trabalho de meritocracia, de um trabalho social, assistencialista,
esse cidadão tem que ser preservado, sim, na eleição. É mérito. É
fruto de um trabalho, de uma dedicação.
Eu levantei aqui esse ponto porque ele está previsto na nossa
legislação. E acho errado um financiamento privado gerar uma
desigualdade eleitoral tão grande. Não estou falando de dinheiro,
não, porque você tem grandes lideranças de comunidades, como uma que
me apoiou no Butantã, que não tem dinheiro. Sabe o que esse cidadão
faz? Ele usa, porque conhece as facilidades de Fundo Social, como
conseguir apoio nas entidades, nas subprefeituras, para ajudar a
população. E esse cidadão, se criar uma entidade, não pode explorar
isso no momento da eleição.
Acho
que a gente tem que discutir isso aqui, realmente criar um
equilíbrio eleitoral, valorizar as pessoas que têm uma participação
e um trabalho social ativo.
O financiamento privado é ruim, ao contrário do que disse o
Deputado Renato Molling. Ele falou que o problema não é o
financiamento privado, mas, sim, o financiamento público, e que o
financiamento de empresas tem contrato com o poder público.
Inevitavelmente,
a gente sabe que o investimento das empresas privadas nessas
eleições vem desses contratos, muitas vezes superfaturados, feitos
com o poder público. Então, no fundo, é dinheiro público. A
corrupção tem, sim, dinheiro público. Ao se criar um financiamento
público, a meu ver, está-se gerando um equilíbrio melhor. Eu
sugeriria, de repente, um kit por candidato, poderia
até ser gerido pelo TSE, justamente para dar igualdade.
E
ao falarmos de financiamento público, também precisamos pensar,
Deputado Henrique, no critério de distribuição para os candidatos,
para não acontecer, como um dos palestrantes comentou, de o recurso
ficar concentrado em poucos candidatos. Deve haver uma distribuição
mínima obrigatória, até para garantir que um cidadão comum, um
cidadão com poucos recursos tenha o mínimo para chegar
aqui.
Era essa a minha contribuição, lembrando a todos do evento de
hoje.
Muito obrigada.
O SR. DEPUTADO RENATO
MOLLING - Presidente, como a Deputada Renata citou meu nome, eu
queria fazer uma colocação. Ela disse que as empresas contribuem,
mas que o empresário não tem nenhuma função social, o que eu
discordo totalmente. Eu acho que hoje o empresário é um herói que
gera emprego — é muito difícil aqui no Brasil —, às vezes tem mil, 5
mil, 10 mil funcionários. Acho que não tem ação mais louvável do que
essa de gerar emprego, com muita dificuldade. Pode ser que a
Deputada Renata tenha se expressado mal. Eu acho que os empresários
fazem um grande trabalho social, no momento em que eles dão emprego
para as pessoas.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Antes de passar a palavra para o Deputado
Marcelo Castro, vou ler a pergunta de um internauta, o Siqueira,
para os dois palestrantes. Ele gostaria de saber a opinião dos
convidados sobre a distribuição do tempo de rádio e
TV.
Tem a palavra o Sr. Deputado Marcelo
Castro.
O SR. DEPUTADO
MARCELO CASTRO - Eu quero cumprimentar todos, o nosso Presidente
Rodrigo Maia e os nossos ilustres palestrantes, que nos enriqueceram
hoje nesta manhã trazendo as suas valiosas
contribuições.
O Dr. Maurício Romão é de um didatismo a toda prova, tornou
muito clara a sua exposição, trouxe aqui as transparências e um
critério de avaliação dos sistemas eleitorais. Isso é muito
importante. Esse critério de avaliação foi fruto de um trabalho,
internacional, de vários cientistas, que chegaram à conclusão de que
o sistema ideal seria aquele que atendesse aqui a estes atributos.
E, naturalmente, ele frisou bem: nenhum atende a todos.
Então, todos os sistemas eleitorais — a gente tem que partir
desse princípio — têm vantagens e têm desvantagens, têm virtudes e
têm defeitos. Alguns têm umas qualidades, outros têm outras.
Por isso, professor economista Maurício Romão, alguns
cientistas acham que o melhor que se faria seria a conjugação dos
sistemas, já que todo sistema puro têm vantagens e desvantagens.
Quando a gente conjuga os sistemas, há uma tendência a somar as
vantagens e anular as desvantagens. V.Sa. falou que se somariam
também as desvantagens.
Vamos ver aqui, por exemplo, as qualidades de um bom sistema:
simplicidade; proporcionalidade, ou seja, que venha para o Congresso
Nacional um número de Parlamentares proporcional à representação na
sociedade daquela vontade, daquele sistema partidário; poder de
escolha do eleitor, ou seja, o eleitor pode votar no candidato, pode
votar no partido, pode votar em ambos, tem a alternativa de poder
escolher; partidos disciplinados e coesos, o que é hoje um caos no
Brasil, não há nada disso; e a ligação entre o Parlamentar e o
eleitor, que é fundamental.
Então, se você pegar qualquer sistema puro, ele vai atender a
uns pré-requisitos desses e não vai atender a outros. Mas, por
exemplo, o sistema misto, sobre o qual V.Sa. sabe já da minha
posição, o sistema-modelo alemão, em que a metade dos deputados é
eleita pelo distrito e a outra metade pela lista fechada.
Eu acho desses cinco pré-requisitos, nós só não atenderíamos
o da simplicidade, mas eu acho que para a gente desprezar um sistema
só por causa da simplicidade...
Então, se nós
olharmos o pré-requisito proporcionalidade, não é 100%, mas a parte
da lista é 100% proporcional. E a parte do distrito não é 100%
proporcional, mas é em grande parte proporcional, porque vêm para cá
os que têm mais votos.
Poder de escolha do eleitor. Não tenham dúvida de que o poder
de escolha do eleitor é amplo. Se ele quiser votar numa questão
local, ele vota no candidato distrital; se ele quiser votar numa
tese nacional, numa causa nacional, ele vota no partido que está
defendendo aquela causa nacional; se ele quiser votar só em um, ele
vota só em um; se ele quiser votar nos dois, quer resolver o
problema local e quer se identificar com a causa nacional, ele vota
nos dois. Então, atende-se a 100% da exigência.
Partidos disciplinados e coesos. Tudo o que eu já li de
sistema eleitoral, inclusive li um excelente livro, com todos os
dados, todos os números, todas as estatísticas.
Eu só entendi o livro de V.Sa. porque fui professor de
Física. (Riso.) Mas é um
livro que traz fórmulas. Tive dificuldade, mas terminei
entendendo.
O SR. DEPUTADO MARCUS
PESTANA - Não atende ao princípio da simplicidade.
(Riso.)
O SR. DEPUTADO
MARCELO CASTRO - Pois é, o livro dele não atende o princípio da
simplicidade. (Riso.)
Então, qual o sistema que mais disciplina os partidos, que
torna os partidos mais coesos, mais doutrinários, mais coerentes,
mais ideológicos e programáticos de uma identificação? É o sistema
de lista. Acho que não há um cientista político que discorde disso.
O sistema de lista faz com que os partidos procurem ter uma
identidade para se distinguir dos outros partidos. Se forem todos
iguais, como ele vai conquistar o voto? Vai votar no PMDB por quê?
Porque tem uma sigla do PMDB? Não, porque o PMDB defende teses tais
e quais. Vai votar no PT por quê? Porque defende teses tais e quais.
Então,
cada partido vai procurar se distinguir um do outro. E isso vai
facilitar demais, porque quando o eleitor for votar, vai votar
exatamente num determinado partido que defenda aquelas teses com que
o eleitor simpatiza, não há a menor dúvida.
Ligação entre o Parlamentar e o eleitor. O sistema distrital
clássico é imbatível. Por exemplo, um Deputado da Inglaterra
trabalha num distrito de 74 mil eleitores, é muito pequeno, é desse
tamaninho, é uma cidade — 74 mil eleitores! (Riso.) Um Deputado de São
Paulo se reporta a 32 milhões de eleitores. Então, há uma dispersão
imensa.
E
permita-me, Dr. Maurício — a quem peço mil vênias —, com todo o
respeito, discordar de V.Sa. quando diz que todos os sistemas têm
defeitos e vantagens, e assim eles se igualam. Não, eu não acho que
se igualam. Eu acho que todos têm defeitos, todos têm vantagens. Mas
uns têm mais vantagens e outros têm mais desvantagens. Dos que eu
conheço, eu acho que o que tem mais desvantagem é o nosso. Por quê?
Porque propicia um número infindável de campanhas. Eu disse isso lá
na palestra em Recife. Na eleição passada, nós tivemos 6 mil
candidaturas a Deputado Federal e 14 mil candidaturas a Deputado
Estadual, isto é, nós
tivemos 21 mil campanhas — e eu não estou falando de campanhas para
Vereador.
As campanhas no Brasil são diferentes das campanhas do resto
do mundo. Na Inglaterra existe campanha? Existe, mas é num
distritozinho deste tamanho. Quantos concorrem? Dois, três, quatro,
cinco ou seis candidatos vão concorrer naquele distrito, não mais do
que isso. Então, Deputada Renata, o eleitor tem muita facilidade de
escolher o candidato, porque estão lá televisão, no palanque, nos
comícios e na propaganda quatro ou cinco candidatos disputando como
se fosse uma eleição para Prefeito. E podem vir dizer que o sistema
não é o distrital puro, é o proporcional de lista pré-ordenada, como
na Espanha, mas também são poucos os partidos que estão disputando,
e têm tempo de televisão para fazer as suas
propostas.
No Brasil, não. Na eleição passada, em São Paulo, Deputado
Daniel Almeida, nós tivemos 3 mil campanhas: mil quatrocentas e
tantas campanhas para Deputado Federal; e mil oitocentas e tantas
campanhas para Deputado Estadual. Diga-me se existe um mínimo de
sensatez, de razoabilidade nisso? Nós submetemos o eleitor a um
constrangimento, a um vexame que não existe em canto nenhum do
mundo. Como o eleitor vai poder escolher entre 3 mil
candidaturas?
O SR. DEPUTADO MARCUS PESTANA - O que o distritão não
corrige.
O SR. DEPUTADO MARCELO CASTRO - E cada candidato tem
os seus próprios carros de som. Existe algum candidato que não tenha
carro de som? É muito difícil. Cada candidato tem as suas músicas.
Alguns outros que vão fazer propostas de campanha têm seus cartazes,
seus santinhos, seus cavaletes, suas placas e seus cabos eleitorais
trabalhando para eles.
Bom, com essa pequena observação aqui, eu acho que, se nós
adotássemos aqui o Brasil o distrital misto, atenderíamos a todas as
exigências dos cientistas internacionais que se juntaram e disseram:
“O que é um bom partido? Um
bom partido é o que tem essas qualidades aqui”. Nós só não
cumpriríamos aqui a simplicidade.
E quero também pedir vênia para discordar de V.Sa.,
quando fala das virtudes do distritão dizendo que o distritão
fortaleceria os partidos. Eu acho o contrário, data venia. Por que eu penso
que o distritão enfraqueceria os partidos? Porque eu acho que a
lógica que vai presidir cada ente político vai ser a seguinte. Ora,
se eu me elejo com os meus próprios esforços, com o próprio
trabalho, o partido não me dá voto, não me dá recursos, sou eu que
arrecado os meus recursos, eu que faço a minha campanha.
O
SR. DEPUTADO HENRIQUE FONTANA -
Companheiros partidários não te ajudam.
O SR. DEPUTADO
MARCELO CASTRO - Eu sou um ente autônomo, eu sou um partido
político. Eu que faço as minhas propostas, eu que faço a minha
campanha, eu que presto conta ao tribunal, eu que arrecado o
dinheiro. Eu preciso de partido para quê?
Entendo que, na hora em que nós aprovarmos o distritão, a
primeira consequência inevitável vai ser a aprovação da candidatura
avulsa.
O SR. DEPUTADO
HENRIQUE FONTANA - É automático. Já está
provado.
O SR. DEPUTADO
MARCELO CASTRO - E aí qual é o raciocínio que vai haver na
cabeça de cada um de nós? Ora, se eu faço tudo sozinho, para que eu
vou entrar num partido grande, que já tem história, que já tem nome,
que já tem “dono” — entre aspas —, já tem os caciques no
partido?
O SR. MAURÍCIO
ROMÃO - Deputado, a observação — permita-me — foi a de que ele
fortalece os principais partidos, os grandes
partidos.
O SR. DEPUTADO
MARCELO CASTRO - É isso mesmo.
O SR. MAURÍCIO
ROMÃO - Ele os fortalece mais ainda, mas não os
partidos...
O SR. DEPUTADO MARCUS
PESTANA - É possível ou não?
O SR. DEPUTADO
MARCELO CASTRO - Eu penso o contrário.
O SR. DEPUTADO
HENRIQUE FONTANA - Ele fortalece aqueles indivíduos que têm
força eleitoral. A renovação vai tender a zero na política
brasileira, na minha opinião.
O SR. DEPUTADO
MARCELO CASTRO - Eu acho que vai
enfraquecer...
O SR. DEPUTADO JOSÉ
FOGAÇA - (Ininteligível) partido
pequeno.
O SR. DEPUTADO MARCUS PESTANA -
Fale a sua famosa frase.
O
SR. DEPUTADO MARCELO CASTRO -
Eu já usei essa expressão algumas vezes. O Deputado Pestana está
pedindo que eu use uma expressão que venho usando. Ora, se eu faço
tudo sozinho, para que eu vou entrar num grande partido, para eu ser
cauda de baleia? Eu vou ficar num pequeno partido em que eu vou ser
cabeça de sardinha. E vou decidir. Quando houver qualquer decisão
política, o presidente do partido será chamado para decidir. E quem
vai? Quem vai é o cabeça de sardinha. A cauda de baleia não vai ser
chamada nenhuma vez pelas cúpulas para decidir
nada.
O SR. DEPUTADO
HENRIQUE FONTANA - (Ininteligível) triplicar o
tamanho. A
reunião da Liderança do Governo tem que ser no Auditório Nereu
Ramos, para preparar o plenário. (Risos.)
O
SR. DEPUTADO MARCELO CASTRO -
O outro grande problema que nós temos é o financiamento da campanha.
Eu vejo aqui, Prof. Bruno Speck, professor já renomado, conhecido e
estudioso do assunto, que fez uma palestra brilhante, é que nós
marchamos aqui... Eu sinto aqui, pelo menos na Comissão, que alguma
coisa ou muita coisa nós vamos ter que fazer nessa questão do
financiamento. Como está, não pode ficar, porque aí é um descontrole
completo.
Não vou falar aqui do caixa dois que o Deputado Henrique
Fontana puxou aí. Aliás,
Deputado Fontana, eu tenho um amigo que é muito crítico; um dia,
conversando comigo, ele disse: “Olha, Deputado, caixa dois em
campanha é o seguinte. Na endocrinologia, os médicos
endocrinologistas, eles têm uma máxima que diz assim: só existem
dois tipos de gordos, o que come muito e o mentiroso. E só existem
dois tipos de políticos: o que tem caixa dois e o mentiroso”.
(Risos.) Eu disse: “Rapaz, aí você já está exagerando.”
Ele pensa assim. Ele disse de brincadeira, mas dizendo a
verdade.
Então, nós temos que conciliar isso. Mais ou menos a metade
dos países do mundo, como foi dito aqui pelo nosso cientista
político Bruno Speck, permite doações de empresas — mundo
democrático — e a outra metade não permite doações de
empresas.
Se nós continuarmos com o sistema atual, eu acho que não há a
menor dúvida de que nós temos que impor limitações. A famigerada PEC
Vaccarezza, tão demonizada, coloca isso de uma clareza meridiana.
Quer dizer, as empresas, pela PEC Vaccarezza, só poderão doar a
partidos políticos. Então, tira-se essa vinculação entre o candidato
e o doador da empresa. Já é um ganho extraordinário. E determina-se,
na Constituição, que a lei estabeleça limites — hoje existem limites
percentuais —, estabeleça limites em valores nominais para
que
empresa possa doar. Hoje são 2% do faturamento. De uma empresa
pequena, 2% podem ser 10 mil reais; de uma empresa grande, podem ser
100 milhões de reais. A empresa pode doar 100 milhões de reais? Todo
o mundo está vendo que isso distorce a vontade popular, distorce a
igualdade de competição entre os candidatos.
Não podemos nos esquecer de que o princípio basilar da
democracia, sobre o qual se assenta todo o arcabouço democrático, é
dar igualdade de oportunidade aos candidatos, aos concorrentes. Se
isso não existir, a democracia não é plena, é uma democracia pela
metade, é uma democracia manca. Então, nós temos que fazer todo o
esforço para que a competição tenha um mínimo de igualdade entre os
candidatos.
Quero pedir vênia mais uma vez ao Prof. Maurício, que fez uma
explanação extraordinária — eu só queria fazer essas pequenas
observações —, e parabenizar o nosso cientista Bruno Speck, que fez
uma palestra tão brilhante.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Com a palavra o Deputado Samuel
Moreira.
O SR. DEPUTADO SAMUEL
MOREIRA - Dr. Maurício, uma das frases que o senhor utilizou na
sua palestra foi que nós devemos tratar a reforma política como um
processo. E aqui me preocupa muito o fato de nós querermos tratar a
reforma política como um fim em si mesma, como se não houvesse mais
assuntos, após a nossa deliberação, a serem tratados
posteriormente.
Nós estamos tratando aqui da unificação de mandatos, nós
estamos tratando aqui do fim da reeleição, nós estamos tratando de
voto facultativo, nós estamos tratando de 5 anos de mandato, nós
estamos tratando de sistema eleitoral, nós estamos tratando de vida
partidária, de criação e funcionamento de partidos, e financiamento
público. É muita coisa para um prazo tão curto com uma deliberação
nesta Comissão em maio. Isso me preocupa. Eu tenho muito receio de
que nós possamos cometer alguns erros por conta tempo, por termos
como meta, inclusive, as eleições do ano que
vem.
Eu gostaria de frisar que nós deveríamos nos dedicar a três
aspectos que eu considero mais importantes, vida e funcionamento
partidário, as regras de criação e do seu funcionamento, para obter
fundo partidário, para ter representação, para a sua eleição —
tratar partido político enquanto alguém também que tenha que se
eleger tendo certo desempenho.
A questão do financiamento é uma questão fundamental. A
sociedade pede campanhas mais baratas, mais transparentes. E aí eu
concordo muito com a proposta do Deputado Henrique Fontana. Eu acho
a proposta dele muito viável. Eu acho que nós devemos ter cuidado,
porque eleição também é algo importante. Nós não devemos pensar que
estamos tirando dinheiro de áreas importantes da sociedade para
tratar de eleição como se eleição não fosse também algo importante
para a sociedade.
Então, o financiamento, com a regulação de pessoas físicas,
com teto estabelecido, poderia ser algo importante. Ou seja, nós
precisamos continuar conversando sobre isso e concluir. PJ é pessoa
jurídica. Hoje, eu não sei exatamente qual é a alma de uma pessoa
jurídica numa campanha eleitoral. Então, nós precisamos discutir
isso e deliberar sobre isso.
O fundamental, que eu acho que tem como consequência as
outras decisões, inclusive financiamento de campanha, é o sistema
eleitoral que nós vamos escolher. Ou seja, qual é o mecanismo que
nós vamos criar para que o eleitor possa escolher? E aí ele vai
escolher com simplicidade — o sistema simples, como o senhor disse
aqui. Qual é o sistema mais simples para que ele escolha, mas que
seja eficiente depois na sua participação no mandato? A escolha só
tem sentido para um mandato. Nós não estamos escolhendo por
escolher; nós estamos escolhendo para que depois haja um mandato e
esse mandato permita a participação do
eleitor.
Como nós vamos estabelecer esse canal entre o eleitor e o
eleito, essa questão da representação? É isso que o distritão
infelizmente não preenche. Ele até facilita na escolha, porém nem
tanto, porque ainda apresenta milhares de candidatos para o eleitor
escolher um só. Então, ele não simplifica tanto, em que pese o
discurso simples de eleger os mais votados, com um aspecto de
justiça que possa parecer real. Ele não é tão simples, porque ele
bota milhares de candidatos para o eleitor. Ele inviabiliza a
representação que o eleitor tanto deseja, porque a distância é
enorme.
E aí é que nós precisamos estabelecer o tamanho do território
e o tamanho do pleito eleitoral, da quantidade de eleitores que nós
queremos determinar para estabelecer essa relação. Não pode ser o
Estado inteiro. Na grande maioria das cidades do Estado de São
Paulo, o mais votado nas cidades tem 5% ou 6% dos votos; 94% dos
eleitores não votaram no candidato mais votado, ou seja, não se
sentem representados. Nós precisamos definir que responsabilidade
nós queremos dar ao eleitor e ao eleito nessa
relação.
Eu me preocupo muito com o sistema que nós vamos escolher e
queria muito centrar nessa questão, para definir as outras com
clareza. E eu vejo a possibilidade de fortalecer partidos e de
fortalecer a relação do eleitor, a sua participação. Todo o mundo
diz: “Ah, mas o eleitor vai
poder cobrar no voto distrital majoritário!” Não é só cobrar! É
a participação que se dá de forma mais intensa! Ele pode participar
da vida do mandato com mais intensidade no modelo de distrital
majoritário.
Então, eu pediria essa reflexão, porque a nossa
responsabilidade é histórica. Nós vamos mudar regras que podem ser
perenes, regras que melhoram o nosso estágio civilizatório. Este é
um momento em que a sociedade vai definir as suas regras para algo
da maior importância: a política. O nosso momento aqui é histórico e
de uma responsabilidade enorme. Eu queria chamar a atenção para essa
priorização, porque me chamou muito a atenção a frase do Dr.
Maurício de que a reforma política é um
processo.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Com a palavra o Deputado José
Fogaça.
O SR. DEPUTADO JOSÉ
FOGAÇA - Obrigado, Presidente Rodrigo
Maia.
Eu queira inicialmente agradecer aos palestrantes, porque
esta sessão da nossa Comissão tem para mim uma característica
especialíssima Relator Marcelo Castro. Ela me parece algo meio que
fecha, meio que sintetiza. É um grande resumo, eu diria quase um
grande corolário de todo o trabalho realizado até
aqui.
Por acaso, evidentemente — isso não foi deliberado nem foi
adredemente combinado —, os dois palestrantes trouxeram uma síntese
e um acabamento de tudo o que nós aqui discutimos, talvez porque
acompanharam as sessões anteriores ou talvez também porque tenham
essa visão complexa, abrangente, universalizada das questões
relativas a uma reforma política.
Então, quero dizer que os dois foram absolutamente brilhantes
e esclarecedores. E, para nós, trouxeram a certeza de que estamos
enveredando cada vez mais por um caminho certo, que é o de procurar
agregar todos esses elementos que o Maurício Romão trouxe aqui muito
bem, o da simplicidade, da proporcionalidade, da relação entre o
eleitor e o eleito, a questão da cidadania por
excelência.
Esse é o primeiro registro que eu queria fazer. E quero dizer
ao nosso Presidente Rodrigo Maia que ele tem toda a razão. Uma
reforma política não tem como objetivo salvar o mundo nem salvar um
país.
Nós temos instituições financeiras, nós temos instituições
educacionais, nós temos instituições empresariais, nós temos
instituições sindicais. O mundo da política é apenas uma parte ou um
elo dentro desse sistema todo que se
entrelaça.
A reforma política não pretende salvar o mundo nem pretende
salvar o Brasil, mas, com a reforma política, eu pretendo, pelo
menos, salvar a política — salvar a política —, e a política por
excelência. E política por excelência é
cidadania.
Nós não temos aqui uma hostilidade ao mundo do capital, ao
mundo das empresas. Não se trata disso. Ninguém deixa de reconhecer
o papel importante na economia, no desenvolvimento, na geração de
empregos e na sociedade que tem uma empresa. Sem empresas o Brasil
seria um deserto. Estaríamos ainda nas Capitanias Hereditárias. Aqui
não se trata de preconceito ou de rejeição; aqui se trata apenas de
reconhecer um fato que para mim é muito
simples.
Eu acho importante afastar, excluir, retirar as empresas
privadas, as grandes pessoas jurídicas, as mais poderosas pessoas
jurídicas do País, do mundo da política, não só por causa da
corrupção, não só porque elas podem representar uma cooptação ou até
uma forma de suborno, mas também porque o mundo da política tem de
ser um mundo independente.
Foi trazida pelo Prof. Maurício, foi trazida também pelo
Prof. Bruno Speck, a questão da independência. Por que a
independência é importante no mundo da política? Porque só assim
atendemos às exigências mais básicas da cidadania, do princípio da
igualdade, do princípio da equidade entre os
cidadãos.
No momento em que colocamos as empresas no mundo da política,
elas trazem consigo todos os seus problemas. São valores distintos.
As empresas buscam lucro — as empresas fazem isso legitimamente —,
buscam enriquecimento, buscam geração de riquezas. O mundo da
política busca o quê? Busca equidade, busca respeito aos direitos da
cidadania, busca a distribuição de renda e a justiça social, busca
atender aos anseios da grande maioria da população e respeitar as
minorias, dentro de padrões éticos, de padrões morais, de padrões
políticos que, quando jogados para o mundo empresarial, se
distorcem.
A questão do financiamento por empresas privadas não é uma
discussão apenas tópica em relação ao que está acontecendo hoje, ao
que se denuncia hoje, ao que se denunciou no passado, ao que se
denuncia pontualmente de um caso e daquele outro, deste partido ou
daquele partido. Não. Trata-se da própria essência da política.
Reduzir, portanto, a presença das empresas significa salvaguardar e
assegurar a essência da política. Essa é a minha visão e o meu
sentimento em 36 anos de vida pública.
Parece-me que o que foi trazido aqui hoje nos induz a essas
conclusões. Eu fico muito feliz. A análise do Relator é perfeita. As
deduções que ele faz são inteligentes e cabais, porque são baseadas
no processo que aqui foi estabelecido, de análise e de raciocínio.
Eu não poderia concordar mais do que concordo com a sua manifestação
de hoje, Relator. Tem o meu apoio total, absoluto e irrestrito, a
sua posição.
O que eu gostaria de dizer, para finalizar, em agradecimento
aos palestrantes pelo que aqui trouxeram, é que realmente temos de
começar pelo limite de gastos, pela possibilidade de o cidadão —
ele, sim, indivíduo, pessoa física — poder doar, com a limitação
devida.
Por que o Presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, quando
apenas Senador, quando candidato, teve uma campanha de tão
extraordinário sucesso? E por que havia, conforme disse o Prof.
Speck, na campanha dele, esse efeito de popularidade associado ao
aumento das doações? Não era porque ele mobilizava as maiores
empresas, as grandes empresas, as grandes corporações, a General
Motors ou a Exxon, as grandes corporações americanas. Não foi por
isso. Foi porque, através de uma das redes sociais mais famosas e
populares, então recém-nascidas, recém-surgidas, ele conseguiu
conquistar a participação de milhares e milhares — creio que até
milhões — de eleitores individuais, que fizeram pequenas doações à
campanha de Obama.
Quando um candidato consegue isso, por aí se mede a sua
popularidade, por aí se mede a qualidade do seu mandato, por aí se
mede a estatura dele como homem público, como líder. Também não há
demérito — pelo atual sistema é legítimo e é legal —, mas não há
mérito nenhum em alguém obter financiamento e apoio desta ou daquela
grande empresa do Brasil. O mérito está realmente na chamada doação
individual.
Isso, na minha opinião, não é para salvar o Brasil, não é
para acabar com a corrupção. Existem instituições financeiras que
não são políticas. Existem instituições educacionais que não são
políticas. Existem instituições sindicais que nada têm a ver com
partidos políticos. Existem instituições filosóficas,
histórico-geográficas que não têm nada a ver com partidos políticos.
Também lá poderá haver ou não distorções ou
corrupção.
O que eu quero dizer é que nós estamos aqui desejosos,
concentrados na vontade de salvar a política. Salvar a política faz
bem ao Brasil — salvar a política faz bem ao Brasil! Por isso, eu me
rejubilei — posso dizer assim — com as palestras que aqui
tivemos.
Apenas completo com o seguinte. Eu vi que a maioria daqueles
que defendem o distritão também defendem a doação de empresas
privadas. Esta combinação é extremamente perigosa: com distritão,
mantendo o atual modelo de financiamento de campanhas, nós estamos
diante do caos, nós estamos diante da situação atual elevada à
enésima potência.
Por isso, sou contra o distritão e apoio inteiramente, de
maneira irrestrita, aquilo que o Relator manifestou. Espero que ele
coloque isso no seu relatório.
Muito obrigado.
O SR. DEPUTADO MARCUS
PESTANA - A resistência democrática está se
formando.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Vou passar a palavra aos Profs.
Maurício e Bruno para que possam fazer seus comentários.
Tem a palavra o Prof. Bruno.
O SR. BRUNO SPECK
- Respondo ao comentário da Deputada Renata Abreu, que se ausentou
por um momento. Ela mencionou o fato de alguém fazer parte de uma
ONG impedir a candidatura. Vou aproveitar esse gancho. Olhando o
Brasil, comparativamente, eu fico impressionado com o grau de
isolamento que a legislação impõe aos partidos políticos. Vou pegar
o exemplo do sindicato. A relação entre sindicatos e partidos
políticos é muito estreita em vários países. Isso também se estende
ao financiamento. Por exemplo, na Inglaterra e no Canadá também os
sindicatos são praticamente os fundadores do Partido Trabalhista,
ou, quando não o são, aderem em bloco ao partido político ou
transferem em bloco recursos ao partido político. Ao que eu quero
chegar é que, em relação aos partidos políticos, me impressiona que
a legislação brasileira isole os partidos de entidades empresariais,
em termos financeiros, a possibilidade de ter vínculos financeiros,
de sindicatos, de ONGs.
Eu não sei se é esse o caminho certo. Na verdade, é
importante que os partidos estejam inseridos na sociedade, que eles
estejam representando esses segmentos da sociedade. Não tenho uma
proposta concreta, mas, olhando um pouco para trás, essa é uma
herança da ditadura militar aqui. A lei de partidos políticos de
1965 ou a de 1971 — eu não lembro agora —, uma das duas leis é que
proibiu o financiamento privado de partidos, o financiamento
empresarial e o financiamento por sindicatos. E a legislação
pós-ditadura, quer dizer, a reforma de 1995-1997 reintroduziu a
possibilidade de financiamento por empresas, mas não reintroduziu a
possibilidade de financiamento por outras entidades
sociais.
Eu não sei se esse é o caminho certo de sonhar, digamos, com
uma situação em que, podando as possibilidades de financiamento dos
partidos e campanhas, a política melhore. E eu pego um pouco o
gancho do Deputado Fogaça de que a política precisa ser defendida
aqui. O fato de haver mais recursos na política não piora a
política; o fato de haver mais recursos na competição eleitoral
melhora a competição eleitoral. A situação contrária seria
candidatos que estão com mandatos terem muito mais chances de se
elegerem, e candidatos, digamos, desafiantes terem muito menos
chances de chegar a vencer uma eleição. Então, haver mais recursos
na política é uma chance de haver mais competitividade na
política.
Respondendo à pergunta do internauta sobre o que eu achava da
distribuição do horário eleitoral gratuito — penso que fui muito
claro —, eu acho que o horário eleitoral gratuito, pela distribuição
atual, favorece os pequenos partidos. Ele é um teto de vidro para os
grandes partidos. Para ser bem explícito, é mais negócio você ter
dois partidos de 10% do que um de 20%, porque você vai ter mais
horário eleitoral com dois partidos de 10% do que com um de
20%.
Eu acho que uma das razões pelas quais os grandes partidos
políticos... Grandes no
Brasil são 15%, 18%. Levei muito tempo para entender o que era um
partido grande. Grande na Alemanha era 40%, 50%. Então, eu sempre me
perguntei por que os partidos não crescem.
O SR. DEPUTADO JOSÉ
FOGAÇA - O Congresso mais fragmentado do mundo é o
brasileiro.
O SR. BRUNO SPECK
- Uma das razões por esse teto de vidro, que os partidos não
ultrapassam os 20%, eu tenho certeza de que é a distribuição do
horário eleitoral gratuito, que desfavorece os partidos
grandes.
Fazendo um comentário aqui para o Deputado Marcelo, eu creio
que temos dois pontos de partida possíveis para pensarmos a reforma
do financiamento. Um ponto de partida é tentar imaginar um sistema
ideal, quer dizer, partir do princípio de que estamos com uma tábula
rasa, não há nenhum sistema, e vamos inventar agora o melhor
sistema. Eu creio que esse é um pouco o espírito reinante, na
verdade, também induzido pela gente que sugere aqui sistemas que vêm
de várias partes do mundo. Eu acho que esse é um ponto de partida
errado. Um sistema eleitoral ou um sistema de financiamento emenda
um sistema existente. Isso é essencial. É essencial que a maior
parte do sistema continue como está, para haver continuidade na
política, previsibilidade.
Algo que aprendi como cientista social é que as coisas podem
dar errado. Uma das grandes razões da existência da ciência política
é estudar coisas que dão errado. Se as coisas não dessem errado,
seríamos todos administradores públicos. Alguém faz um plano e,
depois, o plano é implementado; funciona assim. A ciência política,
em grande parte, alimenta-se do fato de as coisas darem
errado.
Então, aí eu vou um pouco contra o que falei antes. A minha
única recomendação é tomar muito cuidado ao reformar: reformar
pouco, reformar um ponto talvez e ver como o sistema político reage.
Escolham um ponto, reformem esse ponto; depois de 2 anos, revejam o
impacto desse ponto de reforma e, aí, deem o próximo
passo.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Tem a palavra o Prof. Maurício
Romão.
O SR. MAURÍCIO
ROMÃO - Vou fazer algumas observações sobre as intervenções do
Deputado Samuel e do Deputado Fogaça e também sobre essa última
conotação que o nosso Bruno deu sobre os cuidados que devemos
ter.
Todos estamos pressionados pela opinião pública, em face das
crises superpostas, e tomamos um rumo de apressar os trabalhos, até
para atender àquele princípio da anualidade. As coisas têm que ser
votadas e postas em prática até setembro. Corre-se o grande risco de
se basear numa coisa conjuntural para legislar sobre coisas mais
perenes, mas demoradas.
Vou me lembrar agora do Deputado Fontana, quando era Relator
da Reforma Política. Depois de algum tempo, ele chegou à conclusão
de que todas as propostas puras — distrital puro, lista fechada,
etc. —, nenhuma delas evoluiu na Casa. A erupção de propostas mistas
que vimos na Legislatura passada não foi fruto dos fundamentos
dessas propostas; foi fruto da necessidade de atender a uma pressão
e de elas caminharem nas Comissões numa primeira instância e em
Plenário numa segunda instância. Isso é muito perigoso, mais uma
vez. Longe de mim dar lições de metodologias à Comissão, mas há uma
série de pontos já convergentes, eventualmente até consensuais, que
podem ser tratados para a eleição de 2016.
Quanto à questão do financiamento de campanha e de sistema
eleitoral — aí eu falo como o nosso Bruno —, faz-se a reforma ou
apenas uma intervenção ou intervenções pontuais, uma coisinha aqui e
outra acolá. Se pretendermos mudar tudo de uma vez, pode acontecer
como na França em 1986: mudaram o sistema distrital puro,
uninominal, de maioria absoluta, que precisava de mais de 50% dos
votos, para outro sistema, por conta de uma pressão conjuntural da
época, e isso só demorou 2 anos, tiveram que voltar ao que era
antes. Então, corremos o grande risco de não ter essa legitimidade
que a ONU recomenda que todos os sistemas devam ter: a sua
legitimidade sendo percebida, apreendida pelo eleitor. Senão, a
pressão volta, e nós vamos ter que mudar
novamente.
Acho que essas observações traduzem mais ou menos a do
Deputado Samuel, a do Deputado Fogaça e a do nosso Bruno. Elas
traduzem mais ou menos o meu pensamento de que talvez devêssemos
usar nossa capacidade criativa e metodológica e rever essa pressão
enorme de trazer a público alguma coisa para satisfazer as questões
conjunturais.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Tem a palavra o Deputado Daniel
Almeida.
O SR. DEPUTADO DANIEL
ALMEIDA - Sr. Presidente, nobre Relator, convidados que
participam desta audiência pública, eu queria cumprimentar a todos,
também valorizando a reflexão serena, desapaixonada, mas com muito
conteúdo, que nos serve muito para o posicionamento que teremos que
adotar ao final deste debate sobre reforma política.
Penso que, no correr dos debates que aqui estamos fazendo,
todos nós nos vamos dando conta da complexidade e de limites que
podemos encontrar para a resposta que, em algum momento,
sinalizou-se para a sociedade que seria possível. Provavelmente não
teremos condições — nem é oportuno, pelas reflexões que foram feitas
aqui — de pensar assim: uma virada de mesa. Analisar como um
processo penso que é um conceito bastante apropriado para a
complexidade que o tema tem. Mas é óbvio que nós temos que produzir
resultados. E o Relator tem feito, de forma didática, com muita
propriedade, as reflexões necessárias a respeito dos debates que
aqui estamos fazendo.
Sobre sistema, penso que nós temos que apontar alguma
alteração. Eu vou começando a me inclinar na direção da tese de que
pode ser que o resultado deste debate todo em relação ao sistema
seja um ajuste, um conserto. Pode ser que isso aconteça — não é o
mais provável no debate que estamos produzindo até aqui.
Dois grandes eixos de opinião vão se constituindo: o
distritão e a referência do modelo alemão. Nós temos que aprofundar
a análise sobre esses dois. Podem surgir outros, mas sobre esses
dois grandes eu não tenho uma convicção. Cada vez mais, vamos
percebendo os limites, e fico com muita preocupação sobre a ideia
de, em função de constituir uma maioria, juntar coisas que podem não
combinar entre si, podem resultar em algo disforme, um monstro para
ser administrado lá na frente. Mas vamos continuar fazendo nossas
reflexões.
Eu queria me deter um pouco mais nesse elemento da nossa
realidade, da nossa conjuntura, que é o problema do financiamento.
Parece-me que esse é um elemento a que nós necessitamos de
responder. A avaliação que tenho é que, a esse modelo de
financiamento com eleições caras, com as distorções das campanhas
eleitorais, nós temos que dar uma resposta. A nossa realidade indica
80% de financiamento — em torno disso — empresarial, concentrado em
um grupo pequeno de grandes corporações. Nós precisamos dar essa
resposta. Eu tenho defendido aqui o fim do financiamento
empresarial. Acho que, se nós retirarmos isto —o financiamento
empresarial —, vamos dar conforto às empresas, ao ambiente da
política, aos partidos. É uma experiência que a nossa realidade, na
minha avaliação, indica que seria conveniente, necessário e possível
fazer, mantendo, naturalmente, o financiamento privado de pessoa
física.
Estabelecer teto de gasto das campanhas — acho que isso é
essencial — e um limite para as doação, esses elementos podem
garantir campanhas com um nível de equidade nas disputas, sem
permitir as distorções que verificamos hoje. Acho que, se avançarmos
nesse campo, poderemos produzir uma boa contribuição. Se não houver
teto, nós poderemos transferir de empresas para pessoas físicas a
possibilidade de fazerem uma contribuição sem limite, sem um teto
numérico, ou seja, sem o estabelecimento de valores para cada
candidatura, Governador, Presidente, Deputado, Vereador, etc., como
limite de financiamento.
Surgiu o seguinte debate: um candidato que tem maior
prestígio político pode corresponder a uma maior capacidade de
arrecadação? Há que se refletir sobre isso. Depende da base
eleitoral desse candidato. O candidato pode ter muito prestígio
político em uma base eleitoral de pessoas muito pobres, que não têm
nenhuma capacidade de contribuir, e outros, numa base política de
pessoas com maior capacidade de contribuição. Ter um teto de
contribuição individual, portanto, penso que é algo absolutamente
necessário e desejável.
Assim, eu queria aqui reafirmar o seguinte ponto de vista:
fim do financiamento empresarial; estabelecimento de teto e limite
de financiamento de pessoa física, combinado com financiamento
público de campanhas eleitorais.
Para
concluir, em relação á legitimação do que deliberamos aqui, eu tenho
feito uma reflexão sobre a conveniência de se fazer um referendo
daquilo que deliberarmos. Parece-me que, num tema desta
complexidade, com o tempo restrito que nós temos e com a necessidade
de o eleitor compreender e se comprometer com as decisões que
tomarmos, seria necessário — queria ouvir aqui opiniões sobre a
possibilidade de isto ocorrer — um referendo após a deliberação do
Congresso.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Concedo a palavra ao Deputado
Esperidião Amin.
O SR. DEPUTADO
ESPERIDIÃO AMIN - Sr. Presidente, saúdo os eminentes
palestrantes. Vou ser muito breve, porque eu perdi a reunião que
mais me interessava. Por isso, quero apenas trazer algumas
contribuições. Primeiramente, observo que o senhor já expôs em
audiência pública na Comissão de Justiça, quando eu ainda era o
Relator da PEC lá, e foi muito didático, tanto é que eu utilizei
parte dos seus eslaides nas minhas exposições futuras, resguardando
sempre a autoria dos seus.
A
questão do financiamento de campanha é hoje diretamente proporcional
a por que queremos fazer reforma política. O que eu quero dizer com
isso? Nós estamos aqui reunidos, a Presidente já falou em
plebiscito, nós já falamos em reforma política em Comissões, em
grupos de trabalho, etc., porque há um bordão no ar que é verdadeiro
— em parte, pelo menos: “Você
não me representa”. Isso sintetiza a nossa busca de
legitimidade, confere? Por que eu quero fazer uma reforma política?
Não é por perfeccionismo; é por fragilidade do que nós temos. Nesse
sentido, estamos analisando as alternativas. Eu não vou me
alongar.
Ora, se você não me representa, e a questão de financiamento
é a que está na berlinda hoje, ali na sala 2, para ser mais exato,
inclusive com a presença de mamíferos, pequenos mamíferos... Rato é
mamífero, não é?
O SR. DEPUTADO JAIR
BOLSONARO - É roedor.
O SR. DEPUTADO
ESPERIDIÃO AMIN - Mas é mamífero. Nós estamos com essa
pendência. E o financiamento privado de campanha por empresa acabou,
nós só vamos formalizar seu fim. Se nós não acabarmos com ele, o
Supremo vai acabar. Alguém tem alguma dúvida? Uma indicação pessoal
ao Dr. Marcelo: não tenha dúvida, acabou — acabou! Eu afirmo; posso
errar. Já vou dando um cálculo para o Deputado Marcelo Castro: 80%
do financiamento, do dinheiro da campanha vem hoje das empresas? É o
que foi afirmado aqui pelo Deputado Daniel? Então, amigo, o limite
de despesa para a próxima eleição será de 20% da última. É isso! Nós
temos que sair de um número realista, ou não?
O
financiamento foi de 100 milhões na eleição passada. O montante de
dinheiro para a próxima eleição, amigo, sem o financiamento privado
por empresa, será de 20 milhões. A partir daí, vai-se ratear os
números objetivos. Esse é o ponto de partida do financiamento de
campanha. Se quiser fazer outra conta, vai chegar ao mesmo lugar,
por um caminho mais longo. Vai chegar ao mesmo lugar!
Se
não vai poder haver financiamento privado por empresa, você tem que
partir do da última campanha, ou das últimas, ou fazer uma média.
Mas essa é uma sugestão objetiva do número, que vai significar:
ninguém pode gastar mais do que isso. E é esse número que vai
permitir fiscalização, auditoria e algum exemplo de punição. Se vier
algum exemplo de punição, o modelo pegará; se não houver nenhuma
punição — “É, todo o mundo
faz! —, o modelo não vai pegar, como muitas leis excelentes, no
Brasil, que não pegaram.
Finalmente, eu vou tratar aqui de uma questão absolutamente
vestibular. Eu estava pesquisando no telefone uma data. O senhor
sabe onde nasceu a urna eletrônica? O senhor
sabe?
(Intervenção fora do
microfone. Inaudível.)
O SR. DEPUTADO
ESPERIDIÃO AMIN - Negativo! Nasceu em Santa Catarina, em 1988! E
nasceu em Brusque! As primeiras urnas que usaram esse modelo de hardware nasceram em Santa
Catarina. Será um catarinense que vai dar razão à dúvida que o Sr.
Deputado Jair Bolsonaro colocou nesta Comissão.
Mais
vestibular do que o bordão “Você não me representa” é
“Valeu o meu voto?”. Essa
pergunta está no ar, ou não está? Fui eu que a inventei? Enfim, “O meu voto valeu? Posso recontar?” Não. Nós
somos o único país do mundo em que não se pode recontar voto! Ou não
é?
Até aquela eleição fajuta — desculpem-me a expressão — do
Bush na Flórida, no ano 2000, em que uma folha não casava com a
outra... Lembram-se disso? Como chama aquele tipo de caderno?
Existem cadernos com grampos e cadernos com espiral. Ali a votação
era registrada em caderno espiral. Quer dizer, se se puxasse o
espiral para cima, a linha da pergunta não coincidiria com a linha
da resposta; para baixo também. Lembram-se da recontagem? Houve
recontagem, até que a Suprema Corte mandou parar de recontar. O
último número foi de 500 votos em 19 milhões de votos. Repito, 500
votos deram a vitória ao Presidente da República dos Estados Unidos,
porque ele ficou com todos os votos da Flórida. Tanto o é que alguém
pode eleger-se Presidente dos Estados Unidos, perdendo no voto
popular. Mas lá houve recontagem; aqui não há.
Então, Sr. Presidente, Sr. Deputado Marcelo, para terminar,
quero pedir que, de ofício, seja submetido a votação um pedido: que
nós tenhamos um espaço de meia hora para discutir o
voto.
O SR. DEPUTADO
MARCELO CASTRO - A validade do voto.
O SR. DEPUTADO
ESPERIDIÃO AMIN - Se o voto... Há uma emenda apresentada que
pede que haja — e vou usar uma expressão grotesca — o recibo do voto
dentro do saco da urna. Esse é o meu pedido, para ver se consigo a
pacificação do meu candidato ao Prêmio Nobel da Paz: Deputado Jair
Bolsonaro. (Riso.)
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Tem a palavra o Sr. Deputado Alceu
Moreira.
O SR. DEPUTADO ALCEU
MOREIRA - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, esta
certamente não será a primeira nem a última vez que nós, que já
estamos falando de reforma eleitoral, e não de reforma política,
porque esse não passa de um apelido que demos para
isso...
O SR. DEPUTADO
ESPERIDIÃO AMIN - Sr. Deputado Alceu, só para registar
algo...
O SR. DEPUTADO ALCEU
MOREIRA - De novo, Deputado Amin?
O
SR. DEPUTADO ESPERIDIÃO AMIN
- Só isto aqui: em 1989, foi a experiência de Brusque. Em 1996,
houve em 57 Municípios, mas a primeira experiência é de 1989.
Desculpe-me, Deputado Alceu.
O
SR. DEPUTADO ALCEU MOREIRA
- Obrigado.
Digo
isso porque essa não é uma discussão da reforma política. Nós não
discutimos a estrutura do Estado, o exercício do poder nem o
controle dele; nós estamos discutindo o jeito de votar, só reforma
eleitoral, mas insistimos em chamar de reforma política no Brasil
inteiro. Então, vamos lá. Tem que ser, vai ser.
Mas,
antes de fazer expressamente um comentário sobre as locuções do Dr.
Bruno e do Dr. Maurício, brilhantes por sinal, eu queria falar de
uma experiência que fizemos há pouco tempo sobre o patrimônio
genético nacional. Descobrimos o seguinte: se colocássemos todos os
Parlamentares à mesma mesa, para fazer o debate sobre aquele texto
complexo, nós chegaríamos seguramente a lugar nenhum. Nunca íamos
conseguir consenso sobre quase ponto algum, porque as diferenças
seriam tão grandes e a argumentação tão restrita, pelo conhecimento
genérico que temos, que nós não conseguiríamos aprofundar o debate.
A
reforma eleitoral tem muito a ver com isso. Nós ouvimos propostas
brilhantes. Acontece que as propostas aqui são ditas de acordo com a
convicção de quem as profere — de acordo com a convicção de quem as
profere! E não há na mesma intensidade um contraponto de alguém que
possa se contrapor como cientista político, como alguém que
passou... Vejam o meu prejuízo olhando para o Dr. Bruno e pensando
que ele veio da Alemanha, passou 10 anos discutindo e estudando
reforma eleitoral, depois chega aqui e despeja esse balde de
conhecimentos sobre nós, e nós temos que ruminar tudo isso e
devolver num texto que seja uma lei regulatória do Brasil. Não há
como fazer isso. Não há!
Portanto,
eu queria fazer para o Presidente e para o Relator uma proposta de
encaminhamento. Antes de nós fazermos o próximo relatório, sugiro
que o Relator convide todos esses cientistas políticos para se
sentarem à mesma mesa e fazerem o debate entre eles sobre as
vantagens e as desvantagens de suas propostas, trazendo para cá um
texto já pré-elaborado, com todas as argumentações possíveis, para
nós o discutirmos. Tenho certeza de que o caminho seria muito mais
curto do que o que nós estamos fazendo agora, podendo nadar esse
tempo todo e descobrir que chegamos a lugar nenhum. Os músculos
cansados, sujeitos a perder para a maré, e vamos chegar a lugar
nenhum.
Ora,
a proposta que fizeram os dois, só no capítulo financiamento de
campanha... Quando eu vejo o Dr. Maurício dizer coisas que eu
imaginava que seriam rasas, e eu ia ter que fazer o raciocínio
reducionista do alto ou baixo, ele diz: “Não, é possível tudo que tu pensas; só põe veto
e teto nisso, estabelece
que pode ser mais ou menos”. Só essas duas palavras, ditas
várias vezes pelo Dr. Bruno, “veto” e “teto”... Ele estabelece
assim: o que é vetado não está em discussão. Está vetado, pronto! E
o que está permitido tem teto de contribuição. Esses dois valores
discutidos resumem a nossa interminável discussão nesse processo.
Diria
o Deputado Esperidião Amin: “Olha, o Supremo pode decidir
isto ou aquilo”.
Não, o Supremo, com todo o respeito... Quem legisla é esta
Casa. E o que nós decidirmos até outubro deste ano é o que valerá
para a eleição que vem, gostando o Supremo, ou não gostando o
Supremo. Quem faz lei é o Congresso Nacional. Quando nós observamos
para outra Casa, é porque admitimos a incompetência desta Casa, para
a qual o povo nos elegeu, de fazer o que é mais
importante.
Quanto
às outras questões, meu querido Relator Marcelo Castro,
absolutamente dedicado e competente para esse tema, nós estamos aqui
e agora, já no quinto ano fazendo este mesmo debate. Ouvimos
explicações fantásticas! Só hoje, por exemplo, quantas pessoas
saíram daqui elucidadas sobre uma série de questões! Mas ele sai no
corredor e encontra um cidadão que nunca participou de nenhuma
reunião da reforma eleitoral ou política...
O
SR. DEPUTADO MARCELO CASTRO
- E sabe tudo!
O
SR. DEPUTADO ALCEU MOREIRA
- Ele sabe tudo! (Risos.)
Não apenas sabe tudo, ele vai votar. Lá, no plenário, ele vai
votar, sem ter ouvido os senhores — nunca! —, sem saber de nada! As
perguntas que ouvimos — e dá vontade de pegar um tijolo de seis
furos e jogar em cima na primeira hora — é para saber o seguinte:
“E isso termina com o caixa
dois?” Dá vontade de perguntar: “E a sua progenitora vai
bem?” (Risos.) Depois
de fazer todo esse debate com profundidade, o cara me pergunta o
seguinte: “Bom, fizeram a lei
de trânsito, e parou de morrer gente acidentada? Fizeram o Código
Penal, e pararam de matar?” Como se a lei fosse uma cortiça no
buraco: nós a botamos lá e arrolhou. Acabou, agora não tem mais
nada. Pronto e acabou! A pergunta é de tamanha estupidez e
ignorância que a gente tem dificuldade de responder. Só que essa
estupidez e arrogância vão estar lá naquele plenário, não por
maldade, mas por absoluto desconhecimento do que vai ser
votado.
Portanto, essa discussão prévia de costura de texto, de se
chegar à conclusão do que eu penso e de compatibilizar com o que o
outro pensa, essa discussão feita por cientistas políticos que não
têm que se afirmar como grande vencedor do texto, que não têm que
ver sua tese vencedora para dar satisfação a quem quer que seja,
essa discussão, que é técnica, científica e política, num debate na
mesma mesa, seria de uma riqueza fundamental, porque, sobre ela e
com toda riqueza de argumentação que ela traz no seu arcabouço, é
que nós vamos fazer a escolha rasa disso ou daquilo, mas um isso ou
um aquilo já profundamente debatido.
Então, eu queria fazer um pedido, meu ilustre. No meu
primeiro mandato, eu passei e andei com muito entusiasmo por todas
as cidades do Rio Grande do Sul e do Brasil inteiro, achando
que eu tinha descoberto a roda, achando que sabia tudo e dizia "agora vai ser aprovado",
mas, chegando aqui, em cada esquina eu encontrava uma pergunta
dessa. E, quando ouvi a décima pergunta, eu disse: “Não adiantou nada o que fiz.
Nada!". Não adiantou, porque quem vai votar não ouviu o que eu
ouvi, não discutiu o que eu discuti, não tem o mínimo conhecimento
do processo e vai decidir igual a mim sobre tudo isso. Então, não
resolve. E o pedido que faço é esse.
A outra questão o financiamento, porque o eixo do jeito de
votar que gera toda essa incompreensão que nós temos hoje é o
financiamento de campanha. Aliás, é por financiamento de campanha
que chega um cidadão aqui, e é por compromisso com o financiamento
de campanha que também chega com ele a corrupção, chega tudo aqui.
Os maiores vícios deste Parlamento não estão na capacidade ou na
incapacidade de o cidadão, na média geral, decidir sobre todos os
assuntos; é sobre as obrigações prévias que ele tem quando chega
aqui. E esta pré-condição lhe tira a única questão que ele precisava
ter: a autonomia e a identidade com o seu eleitorado para decidir
sobre esse processo. Logo, ele não o representa. É claro que não o
representa! Quem votou nele não lhe perguntou quem o tinha
financiado, para saber se ele vai votar como o eleitor pensa ou como
a empresa quer. Há uma contradição. Então, o financiamento é eixo
nesse processo.
Para concluir, agradeço-lhes muito a oportunidade de ter-lhe
ouvido. Há 50 Comissões em funcionamento ao mesmo tempo em sendo
titular de 5 dessas comissões, fica muito difícil estar aqui com
V.Exas. Eu queria estar aqui o tempo todo.
Queria fazer dois questionamentos ao nosso Relator sobre
temas que não estão nesse debate, mas que, certamente, são
fundamentais e dizem respeito ao que o Deputado Esperidião Amin
mencionou. Tudo isso é muito importante, se continuarmos a usar a
urna eletrônica, que é certamente um saco de gato gigantesco — eu
não vou falar de rato, porque despejaram ali recentemente — em que
ninguém confia. Se um hacker consegue entrar na NASA, imaginem como
é fácil entrar na eleição do Brasil, entrar num
processo como esse. Então, é preciso discutir essa questão, sim,
senhor. De nada adianta fazer um sistema perfeito para a apuração do
resultado dos votos se ele é completamente anárquico e duvidoso.
Isso não adianta nada. O sistema é uma beleza, ótimo, só que não
produz o resultado desejado, porque, na hora de apurar a urna,
ganhou quem queriam que ganhasse. Então, isso certamente nós temos
que discutir. Essa discussão está no eixo do processo. Se for com a
urna eletrônica, ela certamente vai ter que mostrar para nós, como
extrato de banco, o quanto depositamos e para quem. Não pode
continuar, o tempo todo, uma maquineta falando por
nós.
E a última questão é a seguinte. Passando por uma crise como
nós estamos passando — e certamente passaremos por tantas outras —,
seria prudente discutirmos tudo isso e continuar com o
presidencialismo? Continuar com essa anarquia em que todo mundo
decide, mas ninguém é responsável pelo que decidiu? Ou nós temos que
trazer para o seio do debate o parlamentarismo como forma de
governo?
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Tadeu Alencar) - Com a palavra o Prof.
Maurício.
O SR. MAURÍCIO
ROMÃO - Eu deveria ter antes lido aqui umas recomendações do
IDEA —Instituto Internacional pela Democracia e Assistência
Eleitoral da ONU para concepção de desenhos de sistemas eleitorais,
mas acho que o momento ainda é oportuno, até porque o Deputado
Daniel falou um pouco sobre a questão da legitimidade do referendo,
etc. É bem rapidinho. Eles fazem essas recomendações para países que
estão tratando ou de modificar seus sistemas, ou eventualmente de
implantar novos sistemas eleitorais e para países emergentes, em
termos de democracia, que precisam ter um balizamento eleitoral. São
elas: manter a simplicidade e clareza do sistema; usar inovações
para problemas específicos; atentar para as instituições políticas e
a tradição cultural do país — esse é um ponto deveras importante,
porque a gente é de um país continental, com diferenças regionais,
culturais, linguísticas, etc. e, às vezes, a gente não observa isso
nas nossas elucubrações; não subestimar o eleitorado — essa também é
uma recomendação importante, que, às vezes, a gente pensa que o
eleitorado não vai entender, ou, enfim, vai ser conduzido; fazer o
sistema o mais incluso possível — essa aí também é uma das vantagens
do sistema proporcional, pois ele tem essa propriedade; dar
legitimidade ao processo com referendo, de maneira que eles
recomendam que quando você termina de elaborar a sua receita, que
ela seja submetida a teste na população; cuidar que o sistema seja
justo, com chances iguais aos participantes; fazer o eleitor se
sentir empoderado, de forma que ele participe, esteja consciente de
que ele está mudando, que o voto dele tem uma finalidade que pode
mudar certas realidades; saber que o sistema eleitoral não é uma
panaceia para todos os males — foi colocado aqui reiteradamente que
a gente tem que ter esse cuidado de não imaginar que o que vai ser
colocado aqui, ou decidido aqui, possa resolver toda essa ambiência
que nós estamos vivenciando agora; e, por último, procurar
estabilidade de longo prazo versus vantagens eleitorais
de curto prazo. Esse foi caso da França, que eu citei. Um partido
lá, muito forte, resolveu mudar o sistema eleitoral, e teve que
voltar atrás porque estava se usando do momento crítico, da
apolítica momentânea para tirar vantagens, quando os processos devem
ser imaginados mais perenes, mais de longo
prazo.
Era isso o que eu tinha a observar. Essa apresentação toda
está aqui. Se alguém precisar, posso disponibilizá-la
depois.
O SR. PRESIDENTE (Deputado
Tadeu Alencar) - O Deputado Nelson Marchezan parece que não está
presente; o Deputado Pestana também não.
Com a palavra o Deputado Adail
Carneiro.
O SR. DEPUTADO ADAIL CARNEIRO -
Quero cumprimentar o Sr. Presidente, Deputado Tadeu Alencar; os
palestrantes Prof. Bruno e Prof. Maurício Romão, e cumprimentar esse
cidadão, o Deputado Marcelo Castro, que tem sido um homem bastante
empoderado em todas as suas colocações, porém, com muita
inteligência, com muita sabedoria e com firmeza em todos os seus
relatos. Quero cumprimentar os demais Deputados e também todos os
assessores que nos acompanham até este presente momento. Embora seja
obrigação de muitos, devemos cumprimentá-los.
Eu quero aqui externar uma preocupação que raramente é
externada nesta Comissão. A gente escuta, nos bastidores, que essa
reforma política não sai para agora — isso é preocupante —, embora a
gente também assista a muita gente colocando que é absolutamente
necessária essa reforma política para já. Precisamos fazer com que o
Congresso Nacional volte a ter um nível de credibilidade diferente
do que o que tem hoje. E acredito que, para isso, necessária se faz
essa reforma, que não seja em todos os pontos que estão sendo
discutidos, mas, pelo menos, naqueles que nós consideramos que não
podem mais ser adiados, como, por exemplo, o fim das
coligações.
Aqui é colocado como alternativa o distritão, ou distrital
misto, ou a federação partidária. Eu acredito que, com o fim das
coligações, o que mais se aproxima, para ir avançando devagarinho,
seria a federação partidária.
Sobre o financiamento de campanha, nós ouvimos aqui do
Deputado Esperidião que 80% são financiados por empresas privadas.
Eu posso aqui citar como exemplo o meu Estado, o Ceará. Eu fui
eleito pelo PHS, mas numa coligação de 11 partidos, e essa coligação
já tinha 16 Deputados com mandato. Aqui no Congresso Nacional o
Estado do Ceará ocupa 22 vagas. O Estado do Ceará tem 184
Municípios, e muita gente ficou assustada, naquela ocasião, por eu
ter conseguido, no período de 1 ano que antecedeu a eleição, período
de pré-campanha, quando eu havia me determinado a colocar o meu nome
como candidato a Deputado Federal, frequentar 150 dos 184 Municípios
do Estado e ter conseguido ser votado em 176 deles. Para isso, eu
rodei 50 mil quilômetros e tive como apoiante principal um único
Prefeito desses 184 Municípios. Com esse trabalho, com a minha fala,
dizendo qual seria o meu compromisso aqui na Câmara dos Deputados,
consegui conquistar 114 mil votos, ficando em 14º lugar entre os 22.
O PHS é um partido pequeno, que até a Legislatura passada não
tinha sequer um Deputado Federal. Hoje nós temos uma bancada de
cinco. Mas até a Legislatura passada só havia 22 partidos
participando do Congresso Nacional, e hoje são 28. Esses 6, que
fizeram aumentar o número de 22 para 28, são partidos pequenos. Como
ficarão esses partidos pequenos dentro dessa reforma política? Isso
é uma grande preocupação minha. Eu, sou um Deputado que se elegeu
por meio de uma coligação, e lá só tinha gente com patamar acima de
100 mil votos, mas nós temos Deputados aqui eleitos com 6 mil votos,
com 15 mil, com 20 mil, com 22 mil.
Portanto, eu quero aqui deixar uma pergunta para saber qual o
critério usado para quem já está como Deputado, que busca
futuramente a sua reeleição, quando for estabelecido o teto para
doações de campanha, para participação de PJ. Eu sou absolutamente
contrário a doações por pessoas jurídicas. Aliás, eu sou contra a
doação de pessoa jurídica; eu sou a favor da doação de pessoa
física, e que seja realmente estabelecido um limite que fique em
torno de 1 salário mínimo, como limitador, ou, no máximo, 1000
reais, se não houver uma debacle na economia brasileira.
E como fica o financiamento público para essa campanha? Como
fica para quem já está no mandato e para quem está a pleitear nesse
próximo pleito uma vaga no Congresso Nacional, para que haja um
sentimento de igualdade de todos aqueles que querem
concorrer?
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado
Tadeu Alencar) - Só restam dois oradores aqui. Vamos ouvir todos,
depois, passamos às considerações finais.
Com a palavra o Deputado Valtenir
Pereira.
O SR. DEPUTADO VALTENIR PEREIRA -
Sr. Presidente, nobres palestrantes, Sr. Relator, nobres pares,
achei esta audiência pública muito importante. No primeiro dia,
quando nós tivemos a primeira audiência pública lá no Plenário 1, eu
fiz uma ponderação de que nós não precisávamos fazer uma reforma,
vamos dizer assim, geral; nós precisávamos tocar em alguns pontos e
aperfeiçoá-los. E fiz até mesmo uma ponderação a respeito da
fidelidade partidária. Isso ajudou muito e, vamos dizer assim,
fortaleceu os partidos, fortaleceu a política, fortaleceu as
bancadas aqui na Casa. Isso foi extremamente importante.
Logo em seguida, nós tivemos um outro instrumento que ajudou
muito, a aprovação da Lei da Ficha Limpa, que já fez, vamos dizer
assim, uma boa limpeza nas disputas eleitorais, buscando nomes
praticamente sem envolvimento, com situações mais adequadas para o
exercício da política.
E há algumas mudanças que a gente precisa fazer. Entre elas,
cito a redução do custo de campanha. Do jeito que está, daqui algum
tempo só aqueles que têm boa relação com grupos econômicos, vamos
dizer assim, é que vão poder estar aqui e é quem irão poder
representar o povo brasileiro. Nós temos pessoas humildes na
sociedade brasileira e temos pessoas abastadas, e o Parlamento tem
que ser composto de forma a manter-se mais próximo possível à
proporcionalidade do seu povo. Esta Casa, a Câmara dos Deputados, as
Câmaras de Vereadores, as Assembleias Legislativas são compostas
pelos estratos da sociedade que elas representam. Então, nós temos
que buscar exatamente fazer com que esse estrato seja representado
aqui. Então, gostei muito das palestras.
Como reduzir o custo de campanha? Uma medida simples: vamos
acabar com as contratações de cabos eleitorais. Os estudiosos aí do
assunto, cientistas políticos, analistas políticos, podem fazer um
levantamento sobre qual o custo da campanha, qual é o item mais caro
de uma campanha, nas campanhas declaradas e verão que é a
contratação de pessoal. E você não vê esse pessoal na rua, você não
vê esse pessoal batendo às portas. Nós sabemos que é compra de voto
disfarçada. Nós legalizamos, aqui, essa compra de
votos.
Eu disse ao Deputado Flávio Dino, hoje Governador do
Maranhão, em 2009 : “Não
vamos fazer isso; se nós fizermos isso, nós vamos estar legalizando
a compra de votos”. Mas foi a maneira que nós encontramos, que
foi encontrada, dentro da discussão, vamos dizer assim, “Não, é melhor fazer essa
legalização”. Só que, aí, todo mundo... Não tem um limite de
contratação. Realmente, nós precisamos de pessoas trabalhando na
nossa campanha. Mas eu não preciso, na minha campanha de Deputado
Federal, de 20 mil pessoas trabalhando; eu preciso de 20 pessoas, 50
pessoas, no máximo. São pessoas que vão, realmente, trabalhar,
produzir, levar a mensagem, levar cartaz, fazer alguma
coisa.
Sobre a questão dos cavaletes, existe candidato que coloca
cavalete de manhã, tira à tarde, no outro dia faz isso de novo e,
assim, passam 40 dias, 60 dias fazendo isso. Por que não
substituirmos por outdoor? Poderíamos usar o
outdoor da mesma maneira
em que se dá o uso hoje do tempo de televisão. Vamos dividir isso de
forma proporcional ao tempo de televisão. Se forem dez placas ou se
forem cem placas que vão abrigar propaganda, que os partidos
políticos e os seus candidatos utilizem o espaço em tempo
proporcional, como ocorre com o tempo de televisão, porque é de alto
impacto, é de um custo bem menor do que o dessas placas nas ruas,
que poluem e que não têm a mesma eficiência que tem um outdoor.
Em 2004, podia-se utilizar outdoor. Foi a primeira
campanha que eu fiz, de Vereador. Muita gente ligava: “Ué, você é candidato?” “Como você ficou sabendo da
minha candidatura?” “Eu
vi um outdoor. Tem um outdoor lá na saída de Rondonópolis”, “Ah, tem
um outdoor lá na Avenida do CPA”. Então, esse tipo de propaganda
é de alto impacto, ajuda na divulgação das candidaturas, das
propostas e tudo o mais.
E eu queria aqui, para encerrar, colocar uma proposta para
uma reflexão, já que nós estamos falando em barateamento de
campanha. Hoje nós temos o sistema de eleição de 2 em 2 anos, com
uma eleição local para Prefeito e Vereador e, depois, uma eleição
regional e nacional, para Governador, Deputado Estadual, Deputado
Federal, Senador, e Presidência da República. Eu proponho exatamente
separar as eleições para o Executivo das eleições para o
Legislativo, com um período de 2 anos, mantendo-se de 4 em 4 anos as
eleições para cada grupo, mas com eleição de 2 em 2
anos.
Aqui no Legislativo nós temos temas importantes sendo
discutidos. Votamos ontem a terceirização. Era importante que o
eleitor escolhesse Deputados que, na opinião do eleitor, defendesse,
a terceirização ou que, na opinião do eleitor, não a defendessem,
portanto, que ele escolhesse pelo tema. Seria importante o eleitor
saber o que pensa o seu candidato sobre determinados temas. Há
vários temas importantes que estamos debatendo aqui: a maioridade
penal, a demarcação de terras indígenas. Esses temas ficam todos
escondidos nas eleições, porque são temas do Legislativo e porque
quem ocupa a pauta é o Executivo. Na eleição de Prefeito, o Vereador
fica escondido, o Parlamento fica escondido. E aí não se escolhe
adequadamente conforme o que pensa cada candidato. Na eleição de
Governador, o Deputado Estadual fica escondido; na eleição de
Presidente, o Senador e o Deputado Federal ficam escondidos. E esses
temas ficam também escondidos, não entram na pauta de
discussão.
Quando falo de Executivo, eu estou falando de gestão, eu
estou falando de planejamento estratégico, eu estou falando de plano
de ação, de execução, de administração, o que é totalmente diferente
do Parlamento, que envolve discussão de temas, de projetos de lei.
Então, eu gostaria que os analistas políticos, cientistas políticos
pudessem fazer uma reflexão e começassem a pensar sob essa
perspectiva. E eu tenho certeza de que isso vai baratear a eleição.
Em 2012, eu organizei o partido, andei pelos 141 Municípios
de Mato Grosso. Lançamos 670 candidatos e elegemos 80 Vereadores.
Tivemos um aproveitamento de 12% a 15%. Dois anos depois, vamos
admitir — isso não aconteceu — que os 80 Vereadores me apoiaram. Mas
os 590 que eu ajudei, com quem estive, a quem chegou algum
investimento, seja de tempo, seja de organização, de construção de
estratégia, esses 590 sumiram. Quer dizer, esse investimento foi
para o ralo. Não virou nada. Agora, se a eleição legislativa fosse
junto, eu teria 670 cabos eleitorais comigo. E eu tenho certeza de
que, com as nossas propostas e ações, eu teria muito mais do que 80
Vereadores. Eu teria elegido, de repente, até o dobro, porque você
vai dar uma atenção especial. É a sua campanha e a campanha do
Vereador. É a campanha do Deputado Estadual junto, é a campanha do
Senador junto, dentro de teses, de temas importantes do
Parlamento.
O fato de nós não valorizarmos o Parlamento alimenta o
conceito que a opinião pública tem da Câmara dos Deputados, do
Parlamento. A Câmara de Vereadores de Cuiabá, por exemplo, é tida
como “A Casa dos Horrores”. O Parlamento é o lugar onde só há
mazelas. O Executivo, não! O Executivo passa ileso a isso, por mais
que esteja fazendo as piores barbaridades. Ele passa ileso. Quem
paga o pato é exatamente o Parlamento, e é o Parlamento o lugar onde
se decide, onde acontecem as decisões mais importantes, no âmbito
municipal, estadual ou nacional. Então, nós precisamos valorizar o
Legislativo.
Por isso, nós não precisamos fazer uma reforma
estratosférica, virar de cabeça para baixo, virar ao avesso. Não.
Nós precisamos tomar medidas paulatinas, observando o ganho positivo
que a sociedade tem no decorrer do processo, como aconteceu com o
projeto da Ficha Limpa e com a fidelidade partidária.
Eu defendo o financiamento público de campanha com pessoa
física. O de pessoa jurídica, longe daqui! Isso, porque, como já
disseram nesta Casa, quem contrata a banda escolhe o repertório.
Então, quem paga as campanhas políticas vai escolher quais são os
temas que o Deputado que ele bancou vai ter que escolher, vai ter
que votar aqui. Então, é isso.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Tadeu Alencar) - Com a palavra o Deputado Afonso
Hamm.
O SR. DEPUTADO AFONSO
HAMM - Parece que sou o último. Eu gostaria de, em primeiro
lugar, cumprimentar todos. Estou aqui com o nosso Secretário Chico
Noronha, de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, que pacientemente me
acompanha e que permaneceu aqui atento ao que eu considero a
discussão mais estratégica do ponto de vista estrutural para o
País.
Se nós estruturarmos ou criarmos uma reforma política, na
dimensão desta Comissão e do Plenário, da lei, da legislação a ser
estabelecida, Câmara e Senado, fazendo a estruturação de pontos
cruciais — e aqui estamos abordando os principais — e tivermos
exatamente o êxito em relação à aplicação dessa legislação que vai
servir... Às vezes até se confunde reforma política com reforma
eleitoral. São dois temas que estão caminhando juntos. Há questões
tratadas que dizem mais respeito à eleição, mas que se refletem na
estrutura e que, portanto, também fazem parte de uma grande
estruturação política, que poderíamos tratar separadamente. Mas o
País clama por uma reestruturação política em razão da conjuntura,
do momento por que passa. Por isso, neste mandato estou priorizando
a participação nesta Comissão Especial.
Eu gostaria de fazer uma sugestão. Ontem, no Plenário, eu
falava com um dos Parlamentares colega nosso, e ele dizia que queria
saber um pouco sobre a reforma. É verdadeiro que alguns de nós
estamos com intensidade de participação e alguns Parlamentares com
superficialidade ou nenhuma profundidade de participação. Parece-me
ser importante haver uma Comissão Especial, com palestrantes —
tivemos vários — dos quais três façam algumas exposições numa linha
de entendimento com o nosso Relator, Marcelo Castro, com a nossa
Comissão.
Essa reforma não é reforma da individualidade, do pensamento
individual de cada um ou do interesse de cada um. Nessa reforma, há
que se ter desprendimento até mesmo de algumas convicções. Diz-se
que não se abre mão de convicção, mas se abre, na medida em que
exista o convencimento de uma adequação. Por exemplo, em relação ao
sistema eleitoral, nós debatemos muito a questão do distritão e, com
o debate, com o avanço e com o modelo do distrital misto, com o qual
é desafiador fazer a distribuição de distritos menores... No meu
Estado, o Rio Grande do Sul, seriam 15 distritos, 31 Deputados, dos
quais 15 seriam eleitos pelo distrito, localizados, enquanto a outra
metade seria os mais votados. Parece-me um modelo que evoluiu a
partir das conversas, a partir dos esclarecimentos. E há muitos
defensores desse modelo. No Plenário parece-me que ainda é a
maioria, pelo que eu percebi. Pelo menos com quem eu conversei. E
muitos pensam ainda no distritão, porque, democraticamente, no
primeiro momento, a avaliação é a de que ele é o principal, já que
os mais votados são os escolhidos. Mas há as repercussões, os
aprofundamentos e os questionamentos em relação ao fato de o partido
definir quem são seus candidatos. Mas também é democrático. Então,
nós estamos caminhando para dois modelos: um bastante distinto e um
outro que aqui na Comissão está evoluindo muito
bem.
Eu queria me referir a duas emendas que eu tive a iniciativa
de apresentar e discordar um pouco do meu colega que falou antes, o
Deputado Valtenir Pereira. Já relatei aqui que, ao coletar as
assinaturas para essas duas emendas, nós percebemos — o próprio
Relator tem dito — que quem vai decidir pelo voto entende que não
cabem eleições a cada 2 anos. Nesse modelo que aí está, não cabem
eleições a cada 2 anos. Temos que trabalhar na unificação das
eleições, e esse é um pensamento político bastante aceito
conceitualmente.
Por isso, nós fizemos uma emenda e ela teve ampla aceitação.
Muita gente só assina para apoiar, para tramitar, mas não apoia o
mérito. Quando eu coletei as assinaturas, que passaram de 200 —
claro que apenas menos da metade, até porque não tive acesso a todos
—, essa emenda de coincidência de 5 anos dos mandatos, sem a
reeleição para os três níveis do Executivo — Prefeito, Governador e
Presidente —, com mandatos logicamente de 5 anos, teve uma aceitação
muito grande no conjunto dos Parlamentares que estão aqui e que
representam, sim, a sociedade no modelo que está vigente. Mas
representamos porque há que se ter uma representatividade, um número
necessário de votos para estarmos aqui representando e, com esta
representatividade, estamos fazendo o debate com várias
instituições.
Atrevi-me também a fazer outra emenda, que é uma emenda que
evoluiu no sentido do pensamento que tenho e que segundo o qual é
impossível conviver com o financiamento empresarial. Hoje a maior
contestação é essa. Ainda se fala num limite muito pequeno, mas os
vínculos, as razões, conforme aqui dito, colocam de maneira
conflitante o interesse empresarial e o interesse político do ponto
de vista do que pensa o empresário. “Ah, mas não vai haver
recursos”. Mas, esse modelo que está aí e que tem que mudar,
porque é exageradamente trabalhado em cima de muitos recursos, em
que quem capta mais recursos consegue mais votos, na grande maioria,
ele não é democrático. Tem que se disciplinarem gastos, fontes e
limites. Nós vimos evoluindo em relação a isso, evoluindo nos
debates, nas outras Comissões e na atual.
E houve um fato novo e importante: em razão do momento em que
vive o País, em que vive o Congresso, em que vive a Câmara, o nosso
Presidente Eduardo Cunha definiu seu posicionamento junto à
Comissão, do ponto de vista político, e, como o sistema é
presidencialista, agora em maio vai dedicar uma ou duas semanas,
após o nosso relatório, a fazer essa discussão mais ampla. Aí, vamos
ter uma oportunidade de todos ouvirem um pouco sobre esse
pensamento.
E eu queria concluir dizendo que, acompanhando a proposta da
OAB, da CNBB e de tantos movimentos, fiz uma emenda que limita, que
cria um indexador de financiamento de pessoa física a um salário
mínimo. Embora alguns não concordem com o mérito, muitos a
assinaram, tanto é que ela está aí apresentada. Por que um salário
mínimo? Porque nós temos a correção do salário mínimo com a
frequência anual e porque ele é um balizador. Se na proposta da OAB
era de 700 reais, imaginei que um salário mínimo seria razoável.
Essa é uma emenda de nossa autoria, do Deputado Afonso Hamm,
corroborada por quase 200 assinaturas.
Ela estabelece também o limite de 50%, porque também tem que
haver limite na captação. O limite de valor é um salário mínimo e o
limite de captação é de 50%, porque senão a arrecadação se dará de
forma indiscriminada. O limite é amarrado a quê? Aos outros 50%, que
será calculado através de um fundo específico a ser criado para a
eleição, um fundo orçamentário. Se vamos ter eleições a cada 5 anos,
é plenamente possível alocar um recurso orçamentário possível para
disciplinar a distribuição de recursos para as campanhas de
Presidente da República, de Senador, de Deputado Federal, de
Deputado Estadual, de Prefeito e de Vereadores. Por maior que seja o
valor — não vai ser muito —, esse valor vai representar metade, e a
outra metade será captada de pessoas físicas, com limites. Isso
exclui exatamente o financiamento de empresas. Alguns não concordam,
ou talvez muitos não concordem, mas há uma evolução muito grande em
relação a essa mudança de pensamento e de entendimento sobre o que é
melhor para o País.
Da mesma forma, quando a gente propõe haver eleições
coincidentes, tem que haver um sacrifício. Se formos fazer eleições
coincidentes já em 2018, o mandato de Prefeitos e Vereadores do
próximo pleito será só de 2 anos. Os Prefeitos e Vereadores não
querem, mas, se quisermos uma mudança estrutural, com coincidência
de eleições, o caminho mais rápido é esse. Senão, o caminho é 2022,
com mandatos de 6 anos. Mas alguém sempre terá que abrir mão das
suas convicções ou principalmente do seu interesse.
Fazer campanha hoje e ter acesso aos empresários é mais fácil
para quem já está eleito, mas não é pelo fato de ter acesso mais
facilitado em função de atuarmos como Parlamentar e de termos o
trabalho que nós não vamos trabalhar exatamente na diretriz de
excluir o que deixa dúvidas, o que cria vínculos. Aqui foi falada a
palavra “independência”. Não pode haver codependência. Mesmo que
seja em valores baixos, é uma relação
complexa.
E nós vamos ter que trabalhar com campanhas de baixo custo e
com fiscalização eficiente. Se a campanha é de menor valor, de menor
custo, nós vamos ter tanto os órgãos de fiscalização, como uma
validação, uma autonomia, um questionamento, um acompanhamento do
próprio eleitor, das pessoas e da sociedade com transparência, com
divulgação, porque campanhas grandes ficam difíceis de dimensionar.
Agora, em campanhas menores, de menor valor, consegue-se visualizar
o que tem de material, o que tem de gente nas ruas, e trabalhar o
sentido da política, que é o sentido da credibilidade, do voto de
confiança, da espontaneidade, e não da remuneração, que é o modelo
que está aí.
Precisamos
de um modelo que realmente mude a convicção de quem faz política. É
difícil mudar estruturalmente, de forma significativa, mas essa é a
mudança necessária.
Como disse o Deputado Fogaça, que falou muito sobre essa
mudança, para chegarmos ao patamar de credibilidade na política — e
eu vou mais longe ao falar em políticos —, porque a credibilidade na
política e em cada político com mandato, essa validação de
representatividade, de autenticidade, de conquista democrática pelo
acesso...
Assim como nós falamos, o candidato que tem bastante recurso
não pode talvez passar de 10% do valor que representa uma campanha
política. Tem que haver também um limitador, se não alguém com
bastante recurso coloca-o todo na campanha,
desequilibrando-a.
Então eu vejo neste modelo, tanto em relação ao sistema
eleitoral quanto ao financiamento, e puxando as eleições
coincidentes, nós temos uma contribuição extraordinária, do ponto de
vista da representatividade e da transparência, que é o que vai dar
autenticidade legislativa à representação de cada
um.
Se essa representatividade puder ser mais regionalizada, será
importante. Mas só a regionalização também é questionada, porque nós
tratamos temas nacionais, temas de dimensão das Federações. Temos os
Deputados Estaduais, mas nós estamos aqui para trabalhar o todo do
País e o todo dos nossos Estados. E também para ter algum carinho,
lógico, com a região que a gente mais
representa.
Falou-se muito, por exemplo, em lista fechada e financiamento
público associado, e deu para ver que esse tema não avançava. E eu
queria dizer que nós conseguimos esses avanços a que nos referimos
agora baseado exatamente nesse argumento.
Então eu queria finalizar agradecendo e cumprimentando
principalmente os palestrantes. Eu acompanhei parte da palestra, mas
acompanhei na íntegra o debate, e eu acho que efetivamente os
senhores serão os nossos convidados para uma Comissão Geral.
A Comissão Geral vai permitir exatamente a colaboração de
mais alguns componentes para aqueles que, como foi dito aqui, ainda
não se aprofundaram na questão, mas vão decidir no voto. E o mais
importante é que tem data para acontecer.
Para essa reforma, fatiada em alguns pontos, no ritmo em que
está estabelecido e no sistema que foi acordado, nós vamos ter a
votação. Não estamos fazendo discussões em vão e todas elas foram
importantes. Eu mesmo mudei muito minhas questões conceituais,
abrindo mão para poder colaborar com um modelo futuro que nos dê
realmente segurança. E muda bastante.
Todos
nós temos medo da mudança, mas tem que ser uma mudança para melhor.
E será muito melhor para o País, com certeza.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Tadeu Alencar) - Vamos às considerações finais.
Primeiro, concedo a palavra ao Prof. Maurício
Romão.
O SR. MAURÍCIO ROMÃO
- Bem, naturalmente dado o avançado da hora, não cabe mais
nenhum alongamento nessa discussão, mas eu me sinto muito
gratificado de ter sido convidado inicialmente para tecer essas
considerações junto aos senhores e saio daqui com a convicção de que
está havendo um trabalho, um esforço bastante efetivo de se ter uma
reposta breve para essas demandas.
Quero fazer apenas uma observação sobre o baixo custo das
campanhas, que foi mais ou menos o mote geral. Eu tenho um filho que
mora em Tampa, nos Estados Unidos, e faz aniversário no dia 5 de
novembro. Fui para lá no dia 3 do ano passado, saímos à noite para
jantar e fiquei surpreso quando ele me disse que ia acordar cedo
para votar. Ele nasceu lá, quando eu estudava. E eu fiquei surpreso
porque ia ter eleição para Governador e passei pelas ruas, por todos
os lugares, e não vi absolutamente nada de cavalete, nem de banner, nada!
Eu tenho insistido em dizer que nunca se deve aqui importar
experiências de outros países para nossa vivência, pois são bem
diferentes, mas é interessante observar que eles têm outra forma de
comunicação entre representante e representado. Lá, a Internet, a
televisão e os comitês são muito frequentados. Enfim, mas a poluição
visual, sonora e ambiental não havia no Estado. Então esse é um fato
sobre o qual falou o Deputado Mendonça Filho, de diminuir também o
tempo de campanha, etc. Tudo isso colabora para esse enxugamento
financeiro que todos estão buscando.
Fico à disposição dos senhores. Não tenho apenas os eslaides
que apresentei. Na verdade, acho que tenho bem uns 60 eslaides, que,
se os senhores quiserem, estão à disposição.
Agradeço, mais uma vez, o convite e a honra de estar aqui ao
lado do Deputado Tadeu Alencar, de Bruno Speck e do nosso Relator
Marcelo Castro.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Tadeu Alencar) - Concedo a palavra ao Prof. Bruno
Speck.
O SR. BRUNO SPECK
- Muito bem. As minhas palavras serão
breves.
Um dos principais ensinamentos, digamos, da ciência política
é que é preciso começar a reforma pelos objetivos, depois pensar as
técnicas e os métodos. Às vezes, parece-me que acaba ocorrendo o
contrário: pensa-se em várias técnicas ou em medidas de reforma e
nos vários possíveis desfechos que isso poderia ter.
Eu penso que o primeiro caminho é o mais certo. Ele é o mais
duro, porque é preciso acordar os objetivos.
Em relação ao financiamento na política, eu tentei trazer
aqui minha contribuição na qual basicamente se pode alcançar três
objetivos. Um que está mais visível no Brasil é o de tornar o
Parlamentar mais independente de grupos econômicos; o segundo, que
tem menos visibilidade, é a questão da competitividade eleitoral, da
disputa eleitoral; e, o terceiro, que, a duras penas, chega ao
debate, é a questão de fortalecer o cidadão no processo eleitoral.
Eu creio que vale a pena pensar um pouco mais sobre quais
seriam as formas de fortalecer o cidadão no processo eleitoral e no
processo de financiamento da política.
O meu olhar buscou trazer algumas experiências de fora, não
para copiá-las, porque nunca se obtém o mesmo resultado quando se
copia, mas para simplesmente conhecê-las como alternativas de países
que apostam no fortalecimento do papel do cidadão e no financiamento
da política. Um exemplo é o dos Estados Unidos e o outro exemplo é o
do Canadá.
Mais uma vez, muito obrigado pelo convite e também estou à
disposição dos senhores.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Tadeu Alencar) - O Relator quer dizer alguma coisa? (Pausa.)
Não.
Agradeço, então, a participação dos Profs. Maurício Romão e
Bruno Speck.
Convoco
audiência pública para a próxima terça-feira, às 10 horas, para
ouvirmos a explanação do Presidente do Partido dos Trabalhadores,
Rui Falcão. E, às 14h30min, ouviremos o Sr. Guilherme Campos,
Presidente interino do PSD; o Sr. Carlos Siqueira, Presidente do
Partido Socialista Brasileiro; o Sr. Renato Rabelo, Presidente do
Partido Comunista do Brasil; e o Sr. Carlos Lupi, Presidente do
Partido Democrático Trabalhista.
Aviso que as apresentações aqui feitas estão na página da
Comissão. E também que a Comissão participará, juntamente com o
Câmara Itinerante, nesta sexta-feira, dos seminários em João Pessoa,
na Paraíba, no período da manhã, e em Natal, no período da tarde.
Ambas as reuniões acontecerão nas Assembleias Legislativas dos
respectivos Estados.
Muito obrigado e uma boa tarde a todos.
Está encerrada a reunião.