DEPARTAMENTO
DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO
DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO
COM REDAÇÃO FINAL
Versão
para registro histórico
Não
passível de alteração
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COMISSÃO
ESPECIAL - PEC 182/07 - REFORMA
POLÍTICA |
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EVENTO:
Audiência Pública |
REUNIÃO
Nº: 0075/15 |
DATA:
12/03/2015 |
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LOCAL:
Plenário 9 das
Comissões |
INÍCIO:
09h44min |
TÉRMINO:
12h03min |
PÁGINAS:
51 |
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DEPOENTE/CONVIDADO
- QUALIFICAÇÃO |
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DÉBORA
ALMEIDA - Prefeita de São Bento do Una, representante do Presidente
da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo
Ziulkoski.
GILSON
CONZATTI - Presidente da União dos Vereadores do
Brasil. |
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Debate
sobre a proposta de reforma
política. |
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Houve
intervenção fora do microfone.
Inaudível. |
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Declaro aberta a 8ª Reunião da Comissão
Especial destinada a proferir parecer à Proposta de Emenda à Constituição
nº 182, de 2007, do Senado Federal, e apensados.
Encontra-se à disposição dos Srs. Deputados cópias da ata da 7ª
Reunião.
Pergunto se há necessidade da leitura da referida
ata.
O SR. DEPUTADO RUBENS OTONI
- Sr. Presidente, peço a dispensa da leitura da
ata.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Dispensada a leitura da
ata.
Em discussão. (Pausa.)
Não havendo quem queira discutir, em votação. (Pausa.)
Aprovada.
Informo o recebimento do Ofício nº 101, de 2015, do Conselho
Temático das Relações Federativas do Movimento Pró-Paraná, encaminhando
sugestões a respeito da reforma política.
Daremos início à reunião da audiência pública, atendendo aos
Requerimentos nº 2, de 2015, de autoria do Deputado Renato Molling, e nº
11, de 2015, do Deputado Afonso Hamm.
Convido a tomarem assento o Sr. Gilson Conzatti e a Prefeita Débora
Almeida, que está representando o Sr. Paulo
Ziulkoski.
Esta é uma audiência pública interativa. A sociedade civil poderá
participar com sugestões e questionamentos pelo endereço
edemocracia.camara.gov.br. Os Deputados poderão acompanhar as sugestões e
perguntas dos internautas por meio de pauta eletrônica ou pelos
computadores das bancadas.
Na fase dos debates, os Deputados poderão direcionar as sugestões e
questionamentos ao convidado.
Ao final da reunião, todas as sugestões recebidas serão entregues
ao Relator, Deputado Marcelo Castro.
Quanto às exposições e debates, o tempo concedido aos palestrantes
será de 20 minutos, não podendo haver apartes. Deputados interessados em
interpelar os palestrantes deverão inscrever-se previamente junto à
Secretaria. As perguntas serão feitas ao final da palestra, deverão
restringir-se ao assunto da exposição e ser formuladas no prazo de 3
minutos, dispondo o palestrante interpelado de igual tempo. Aos Deputados
são facultadas a réplica e a tréplica.
Feitos os esclarecimentos, passo a palavra à Prefeita Débora
Almeida.
A SRA. DÉBORA ALMEIDA -
Bom dia a todos, ao Sr. Presidente, a todos que estão aqui! Estou aqui
representando o nosso Presidente Paulo Ziulkoski, que tinha outro
compromisso, mas me mandou aqui, trazendo o que os prefeitos filiados à
Confederação Nacional dos Municípios — CNM, os prefeitos de todo o Brasil
pensam sobre a reforma política e as suas propostas.
Foi realizada na Marcha dos Prefeitos de 2013 uma pesquisa para nós
podermos saber o que eles pensavam. Alguns pontos ainda não foram bem
definidos, mas, em outros, já há posições bem definidas, como a questão da
reeleição.
Quase a unanimidade dos prefeitos é a favor de acabar com o
instituto da reeleição. Eles acreditam que a reeleição não é boa, não foi
uma proposta boa, até porque nós, prefeitos, ficamos muito reféns. Com um
mandato de 5 ou 6 anos — aqui há a proposta de que o mandato seja de 6
anos, sem possibilidade de reeleição —, nós teríamos mais liberdade em
administrar, em sermos gestores dos nossos
Municípios.
Outro ponto que foi definido de forma muito clara, quase pela
grande maioria dos prefeitos, foi a questão da coincidência das eleições.
Para nós, nos Municípios, que estamos passando por uma crise e
necessitamos muito dos recursos que vêm do Governo Federal, do Governo do
Estado, eleições a cada 2 anos é muito ruim, porque os Municípios
param.
Hoje nós estamos no dia 12 de março, e o Município ainda está
parado, porque nós dependemos do Orçamento do Estado, que depende do
Orçamento da União, e isso é muito ruim. É ruim também o clima que se gera
no Município, onde as pessoas, quando acaba a eleição, já estão pensando
na próxima eleição. Isso é muito ruim. Na Câmara de Vereadores, gera-se
uma inquietação muito grande, pois só se pensa em política, em eleição, e
isso prejudica muito o andamento do que realmente foi programado para ser
executado nos Municípios.
Outro ponto que também foi definido pela CNM foi a coincidência de
eleições, até porque, nas eleições gerais, o Brasil poderia andar 4 ou 5
anos pensando realmente em gestão.
De acordo com a pesquisa, 40,7% são a favor do sistema proporcional
na votação para Vereadores e Deputados; 42,4% são a favor do voto
distrital. Então, foi quase um misto.
O SR. DEPUTADO AFONSO
MOTTA - Proporcional ou atual?
A SRA. DÉBORA ALMEIDA -
O proporcional.
O SR. DEPUTADO AFONSO MOTTA
- O atual sistema?
A SRA. DÉBORA ALMEIDA -
O atual sistema.
A favor da manutenção do sistema proporcional: 40,7%; a favor do
voto distrital: 42,4%. Isso aí quase coincidiu, foi quase
fechado.
O voto obrigatório...
O SR. DEPUTADO JOSÉ
FOGAÇA - Misto?
A SRA. DÉBORA ALMEIDA -
Misto. Isso.
Sessenta por cento querem que o voto continue sendo
obrigatório.
No que se refere ao financiamento de campanha, houve a prevalência
do financiamento público de campanha. A favor do financiamento público e
privado, ou seja, financiamento misto, 36,6% dos Prefeitos
opinaram.
O SR. DEPUTADO MARCELO
CASTRO - E público exclusivo?
A SRA. DÉBORA ALMEIDA -
Público exclusivo, apenas 49,2%; e privado, 14,1%.
Nós também fomos contra candidaturas avulsas. O nosso entendimento
foi de que, para ser candidato, é preciso se filiar a um partido
político.
A questão da data da posse é uma das coisas que prejudica muito,
porque a eleição normalmente é em outubro, e a posse é apenas no dia 1º de
janeiro. Em muitos Municípios, não existe uma transição realmente como
deve ser. Muitas vezes solicitamos documentação, informações, e, às vezes,
essa solicitação é considerada uma investigação, mas, na verdade, estamos
nos inteirando. Então, seria assim: eleição e, logo depois, a posse; ou,
então, definidas regras claras para a transição, que hoje não
existem.
Eu sou de Pernambuco, onde foi aprovada uma lei estadual, em que há
regras para a transição. No caso da minha transição, ela ainda não estava
vigorando. Vamos ver nas próximas eleições.
Também 85% entenderam que o suplente de Senador deve ser votado e
nominado, não em chapa completa. O suplente deve ser o candidato que
obteve o segundo lugar.
Quarenta e três por cento acreditam que não é preciso um plesbicito
sobre a reforma política; e 57% acreditam que é necessário um
plebiscito.
No geral, esse foi o entendimento dos Prefeitos. Segundo a opinião
da grande maioria dos Prefeitos, nós precisamos de condições políticas
para administrar os nossos Municípios.
Quanto às eleições, é inviável a realização de eleições a cada 2
anos, porque nós não conseguiríamos andar. No primeiro ano do nosso
mandato, nós pegamos o orçamento do último. Você ainda não sabe como vai
administrar. Neste ano de 2015, nós não vamos conseguir executar muitas
coisas, porque a União ainda está se orientando, como também os Estados.
E, no próximo ano, quando as coisas já estão andando, temos as eleições,
e, a partir de junho, não podemos receber mais recursos. Portanto, é muito
importante rever essa situação.
Obrigada, Sr. Presidente.
O SR. DEPUTADO PEDRO
FERNANDES - A senhora é Prefeita de que Município em
Pernambuco?
A SRA. DÉBORA ALMEIDA -
Eu sou Prefeita de São Bento do Una, em Pernambuco.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Agradeço a exposição à
Prefeita.
Passo a palavra ao Sr. Gilson Conzatti, Presidente da União dos
Vereadores do Brasil.
O SR. GILSON CONZATTI -
Sr. Presidente, Deputado Rodrigo Maia, Deputado Rubens Otoni, Deputado
Marcelo Castro, Deputado José Fogaça, do Rio Grande do Sul, Deputado
Afonso Motta, que também é do Rio Grande do Sul, e Deputado Esperidião
Amin, nosso vizinho, na divisa entre Palmitos, em Santa Catarina, e Iraí —
eu sou do Município de Iraí, do Rio Grande do Sul —, eu venho aqui em nome
da União dos Vereadores do Brasil.
A União dos Vereadores do Brasil — UVB é uma entidade que tem 50
anos de existência, foi fundada em 16 de novembro de 1964, em Recife,
Pernambuco. Agregamos todas as Câmaras de Vereadores do País e
representamos os 57.261 Vereadores existentes no
Brasil.
Tenho dito que nós somos a maior força política deste País, mas
muitas vezes a mais desorganizada também. Eu não tenho receio de dizer
isso, porque, se nós tivéssemos uma organização forte, os Vereadores
poderiam ajudar mais o Brasil nas mudanças estruturais de que precisa o
País.
Nós recebemos o convite desta Comissão Especial para dar a nossa
contribuição e passar o pensamento da média dos Vereadores que se integram
à UVB.
Registro aqui a presença do Vereador Kiki Bispo, de Salvador, que
veio especialmente para esta reunião.
Quero dizer que fiquei muito agradecido, Deputado Marcelo Castro,
quando recebi o seu telefonema, porque nós Vereadores — e os Srs.
Deputados sabem disso — somos os grandes cabos eleitorais de vocês na
maioria de suas campanhas. Nós estamos em todos os Municípios brasileiros
sempre trabalhando para eleger os nossos candidatos, e assim tem
sido.
Muitas vezes, no entanto, a importância do Vereador só acontece na
época da eleição. Eu quero voltar um pouco atrás para falar da PEC 35, de
autoria do Senador Cyro Miranda. Em 2011, o Senador apresentou essa PEC
para retirar o pagamento de subsídio a Vereadores. Para o Senador,
Vereador não precisa de subsídios. Precisamos mudar a política, e a
política tem que ser mudada de baixo para cima. O Vereador lá não precisa.
Eu não questionei o Senado Federal, mas, graças a Deus, o Senador Cyro
Miranda depois decidiu retirar a PEC.
Eu quero falar sobre essa proposta da reforma política. Nós ainda
estamos nos organizando, mas temos pesquisas. A questão do sistema
eleitoral está dividida, mas a grande maioria defende o distritão, um
sistema em que os mais votados são eleitos, independentemente da soma de
votos do partido. Uma parte também defende o voto distrital, mas, nesse
caso, é preciso fazer um cálculo. No sistema eleitoral, a maioria dos
Vereadores ainda defende o distritão, em que os mais votados seriam os
eleitos.
Em relação ao financiamento de campanha, os Vereadores entendem que
pode ser público e privado, até porque nós entendemos que o financiamento
público já existe. Perdoem-me os Deputados Federais e os Senadores, mas as
emendas parlamentares já são uma forma de financiamento público. Se eu for
candidato a Deputado e concorrer com alguém que já tenha mandato, eu saio
com, no mínimo, 15 milhões de reais por ano a menos no orçamento da minha
campanha.
Essa questão é uma polêmica muito grande. Daqui a pouco, Deputado
Afonso, vamos entrar numa discussão. Nós defendemos a utilização de
financiamento público e privado, de pessoas físicas e um percentual da
pessoa jurídica para o partido. Entendemos que tem que haver um limite,
sim, dos gastos nas campanhas eleitorais.
Somos favoráveis ao fim da reeleição do Executivo. Nós entendemos
que o mandato tem que ser de 5 anos para Vereadores, Prefeitos, Deputados,
Governadores e Senadores. A maioria dos Vereadores entendeu que, em caso
de vacância do cargo de Senador, deveria assumir o segundo candidato mais
votado. Então, no caso de vacância, entra o segundo candidato e não o
suplente, que muitas vezes não é conhecido da
população.
Somos favoráveis ao fim das coligações proporcionais. Somos
contrários ao voto facultativo, porque o voto facultativo já existe
praticamente no País, considerando que 30% dos eleitores não votaram no
segundo turno na última eleição, e não existe um impedimento maior a não
ser uma pequena multa. Eu acho que o voto facultativo vai permitir ao
detentor do poder econômico buscar as pessoas para votarem. Portanto, a
União dos Vereadores do Brasil é contra o voto
facultativo.
Nós somos favoráveis à cláusula de barreira, um desempenho mínimo
do partido. Acho que deve haver um limitador para a criação de novos
partidos, e essa PEC está aberta a isso, embora o limitador seja a questão
financeira. Ontem, eu ouvi o Presidente da Assembleia gaúcha dizer que as
bancadas aumentaram em 50%. Eram dez bancadas; hoje, a Assembleia, no Rio
Grande do Sul, tem 15 bancadas. É claro que isso aconteceu em razão do
voto, mas eu acho que não existe tanta ideologia neste País para tantos
partidos políticos.
O SR. DEPUTADO ESPERIDIÃO
AMIN - Fragmentação.
O SR. GILSON CONZATTI -
Fragmentação.
Nós temos mais de 30 partidos para serem criados, e há processos no
Tribunal Superior Eleitoral. Eu acho que não existe tanta ideologia neste
País. Então, é preciso ter, sim, um limitador de alguma maneira, não sei
como, mas entendo que deveria haver esse limitador.
Nós não somos favoráveis a candidaturas avulsas. Somos contrários,
pois entendemos que temos que fortalecer os partidos
políticos.
Quanto à fidelidade partidária, somos favoráveis a uma janela para
a troca de partidos, como propõe a PEC 352, que estabelece o prazo de 6
meses, antes da eleição, para fazer essa troca.
A Prefeita colocou a data da posse. Eu acho importante que a data
da posse seja revista, repensada, até para dar condição mais para os
Executivos do que para os Legislativos.
Uma questão que nos chama a atenção — e eu vou me centralizar nesse
tema — é a unificação das eleições. Os Vereadores do Brasil são favoráveis
à unificação das eleições, desde que sejamos contrários ao que propõe a
PEC 352.
O que propõe a PEC 352? Propõe eleição normal, em 2016, para
Prefeitos e Vereadores e, em 2018, a unificação. Ou seja, os próximos
Prefeitos que vão assumir as Prefeituras e os Vereadores eleitos terão o
mandato-tampão de 2 anos. Nós somos contrários a esse mandato-tampão de 2
anos com eleição. Não existe possibilidade nenhuma de mandato-tampão com
eleição, porque, primeiro, não haverá candidato. Ninguém vai entrar em uma
campanha política para montar o governo em 6 meses, trabalhar mais 6 meses
e, daqui a pouco, pensar na próxima eleição, pois já se entrou
praticamente no período eleitoral. Não há como, isso é totalmente
inviável.
Eu sei que o Relator tem uma posição favorável a essa PEC, até
porque ela foi criada na Comissão que no ano passado era presidida pelo
Deputado Cândido Vaccarezza, mas nós somos contrários, porque não tem...
Ou se faz em 2022 e o próximo mandato então para 6 anos, Prefeitos e
Vereadores, ou se faz um mandato tampão para 2018, mas sem eleição, vamos
prorrogar o mandato. É ousado dizer isso. É vir aqui defender o interesse
de quem já tem o mandato de Vereador e de Prefeito? Pode ser, mas nós
viemos aqui para tentar colaborar com a Comissão.
Então, nós temos que repensar — e peço aos Srs. Parlamentares desta
Comissão — esse artigo da proposta que propõe eleição em 2016 e depois em
2018 para Prefeitos e Vereadores. É aí que eu coloco sempre, sempre o
Prefeito e o Vereador, sempre o Vereador. Por que nós teríamos 2
anos?
Então, vamos inverter, vamos passar para os Deputados e
Governadores 2 anos! Não vai acontecer isso. Mas por que Vereador sempre?
Ah! Temos que mudar a política, temos que dar a contribuição para o País!
Mas é o pequeno. É o que está lá ouvindo a sociedade. É o para-choque da
sociedade, que está todo dia lá. O cargo do Vereador é uma
ambulância...
O SR. DEPUTADO ESPERIDIÃO
AMIN - Eu peço perdão para interromper o senhor. Eu quero dizer o
seguinte: existe um provérbio popular que diz: “Quem parte e reparte e não fica com a
melhor parte ou é bobo ou não tem ar”.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Peço a compreensão dos Srs. Deputados, para
que a gente possa continuar a exposição.
O SR. GILSON CONZATTI -
Eu agradeço o aparte, Deputado.
Só quero simplificar essa questão e bater forte nisso, porque os
Vereadores estão angustiados. Nós, que os representamos neste momento,
nesta voz, estamos dizendo o seguinte: não ao mandato tampão com
eleição.
Segundo, não tendo o mandato tampão com eleição, automaticamente
que venha a prorrogação dos nossos mandatos de 2 anos. Mas, se não der,
que se faça então o trabalho de uma eleição em 2016, que se faça para 6
anos o mandato e aí se unificaria em 2022, que é a proposta do Senador
Romero Jucá. Ele tem essa ideia, propondo uma unificação em 2022. Como
esta Comissão está colocando a unificação em 2018, nós temos que dizer
aqui que somos totalmente contra.
Inclusive eu queria propor aqui a esta Comissão que nos dias 22, 23
e 24 de abril a União dos Vereadores vai fazer um debate em Brasília só
sobre reforma política, e nós queremos ver com o Relator e com a Mesa a
possibilidade de nós fazermos um encontro dos Vereadores com os
Parlamentares e com a Comissão.
Claro, precisaria ser um local maior, porque até nós vamos estar
representados por todos os Estados brasileiros, porque a apreensão é muito
grande e nós viremos a Brasília, nos dias 22, 23 e 24 de abril, para fazer
uma grande concentração em defesa da reforma política, porque nós
defendemos a reforma política. Nós assinamos junto com a CNBB e a OAB,
embora não concordando 100% com aquela proposta, mas nós demos o nosso
aval também à coalizão e temos que defender essa questão do nosso mandato
sem mandato tampão de 2 anos com eleição.
Então, fico nessa condição. Estou à disposição e solicito à
Comissão que, se pudermos nos juntar nos dias 22, 23 e 24 de abril num
grande encontro, para nós trazermos os Vereadores do Brasil, seria uma boa
oportunidade para ouvir também os Parlamentares, embora representados
aqui, mas para ouvir as diferenças, as diferentes regiões brasileiras e os
pensamentos.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Obrigado, Vereador Gilson Conzatti,
representando aqui a União dos Vereadores do Brasil, mais uma vez aqui
cumprimentando a todos os participantes, Deputados e Deputadas, visitantes
que participam conosco.
Nós daremos agora a palavra aos Deputados que são autores deste
requerimento e posteriormente passaremos a palavra ao nosso Relator e
abriremos as inscrições de acordo com a ordem de inscrição à mesa. Os
Deputados e Deputadas que quiserem fazer sua inscrição poderão fazê-lo
aqui junto à nossa Assessoria.
Concedo a palavra ao Deputado Renato Molling, depois ao Deputado
Afonso Hamm.
O SR. DEPUTADO RENATO
MOLLING - Sr. Presidente, Vereador Gilson Conzatti, Sra. Débora
Almeida, representando a Confederação Nacional dos Municípios, eu sou
autor da PEC 160, que apresentei em 2007, depois de 8 anos como Prefeito
da minha cidade de Sapiranga, no Rio Grande do Sul. O que eu vi de perto
passou do errado, com eleições de 2 em 2 anos: as coisas não funcionam, os
repasses não acontecem. Infelizmente, enquanto nós não tivermos autonomia
e recursos nos nossos Municípios...
Muitos Municípios, a maior parte deles, para fazer algum
investimento, dependem ou de um convênio federal ou de um convênio
estadual. E esses convênios são interrompidos a cada 2 anos: a um, até
pela legislação; a dois, principalmente pela interrupção, quando acontece
alguma eleição.
Cito as eleições de 2012, por exemplo. Até que um Prefeito novo,
que assumiu em 2013, se ache no cargo, já passou o ano! O ano passado foi
um ano de 3 meses. Quem não conseguiu encaminhar nada em 3 meses não fez
mais nada. Este ano está pior, nada está acontecendo. Nós nem votamos o
Orçamento ainda! Enquanto isso, não se consegue encaminhar nada. Vai ser
um ano difícil. E, no ano que vem, já são eleições de
novo!
A unificação ou a coincidência de mandato, com certeza, é um
avanço. Enquanto vários Municípios do mundo têm mais autonomia para
administrar, têm recursos suficientes para atender à sua comunidade, aqui
no Brasil nós ainda não temos isso. Então, a coincidência de eleições,
principalmente por esse lado da eficiência e da aplicação dos recursos
públicos, eu tenho certeza de que será um avanço.
Mas quando? Eu acho que tem que ser quanto antes possível, se nós
achamos que isso vai melhorar o desempenho. Nós não podemos perder meio
ano, nem 1 ano! Não há como nós esperarmos até 2022; nós temos que fazer
isso logo. E o mais rápido possível será em 2018.
Nesse sentido, eu apresentei uma emenda, protocolada ontem, que
prorroga os atuais mandatos de Vereador e de Prefeito para 2018 e unifica
as eleições. A partir dali, haverá mandato de 5 anos, sem reeleição,
prorrogando também por 1 ano o mandato de Senador que foi eleito este ano,
para coincidir em 2023. Eu acho que nós não aguentamos fazer uma eleição,
no ano que vem, para 2 anos, não há como fazer essa eleição. E fazer por 6
anos é muito tempo.
Então, eu acredito que seja legal, e, principalmente, nós estaremos
dando uma oportunidade aos atuais Prefeitos, porque estes, com raras
exceções, não têm conseguido atender a sua comunidade como deveriam, em
função das dificuldades econômicas e em função das dificuldades políticas,
neste tempo muito conturbado. Acredito que as coisas vão melhorar, e aí
seria justo também que eles pudessem ficar mais 2 anos, para atender bem à
sua comunidade. Acho que é mais lógico.
Nesse sentido, se nós acreditamos nisso... É claro que sempre
haverá um e outro que vai pensar: “Ah, aquele Prefeito, meu
adversário... Não quero isso!”. Sempre vamos ter isso. Só que nós
temos que olhar o País. Se nós acreditamos que isso seja bom para o País,
nós temos que nos mobilizar, temos que levantar essa bandeira. E os
Vereadores têm uma importância muito grande nesse sentido, assim como
também os Prefeitos. Acho que não é trabalhar em causa própria, mas é
trabalhar em causa do País, porque é o mais lógico, o mais coerente e o
mais possível de fazer, desde que cada um de nós abrace essa ideia,
divulgue essa ideia, pois temos certeza de que isso é bom para o nosso
País.
Então, parabéns, Gilson! Espero que os Vereadores possam abraçar
essa ideia, junto com a maior parte dos Deputados, e os Prefeitos
também.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado
Rubens Otoni) - Obrigado, Deputado Renato, pela iniciativa da audiência e
também pela sua participação.
Concedo a palavra ao Deputado Afonso Hamm, lembrando que o tempo da
intervenção é de 3 minutos. (Pausa.)
É o Afonso Hamm, que é autor do requerimento.
O SR. DEPUTADO AFONSO HAMM
- Isso é uma confusão boa. Imaginem, dois Afonsos pelo Rio Grande do
Sul e pelo País!
O SR. PRESIDENTE (Deputado
Rubens Otoni) - E sentados na primeira fila.
O SR. DEPUTADO AFONSO
HAMM - E tem o terceiro Afonso, o Deputado Afonso Florence, que também
é nosso tocaia.
Eu queria cumprimentar o Deputado Rubens Otoni, que preside neste
momento a nossa Comissão Especial de Reforma Política, e também o nosso
Relator, Deputado Marcelo Castro. Todos têm sido pacientes na escuta,
acompanhando 100% das audiências, o que é difícil. Acho que só saem em
intervalos de alguma entrevista ou alguma coisa muito importante, mas a
presença tem sido aqui uma constante — eu queria cumprimentá-los —, a
exemplo do Presidente Rodrigo Maia, que se afastou apenas neste
instante.
Eu sou autor, junto com outros autores e também com o Deputado
gaúcho e colega Renato Molling. Nós aqui representamos o Partido
Progressista do Rio Grande do Sul, eu e Renato Molling, em relação a essa
reforma.
Eu também tive a iniciativa. Inclusive, agora há pouco, eu dei uma
entrevista à Rádio Câmara e
disse que eu entendo que, de todos os itens, o item de maior aceitação, de
maior convergência, parece-me que é a coincidência de eleições. Talvez
estejamos diante do principal tema de entendimento ou de maioria, não é de
consenso, mas talvez é de absoluta maioria.
E agora estamos ouvindo, conforme fizemos a convocação — eu fiz
neste requerimento o convite —, o Vereador Gilson Conzatti, Presidente da
nossa UVB — União dos Vereadores do Brasil, que representa a capilaridade.
Eu até costumo dizer que, para chegar aqui, o ideal é começar lá como
Vereador, como eu comecei na minha cidade. Às vezes, uns começam como
Prefeito, outros têm outra história, mas isso dá uma experiência
extraordinária do ponto de vista legislativo. Acumula-se experiência, mas,
principalmente, sabe-se o que representa conquistar um voto, o que
significa a representatividade, a delegação de representação que se faz. E
ela começa pelo Vereador, que está ali na comunidade, na localidade.
Então, isso é muito importante.
Da mesma forma são os Prefeitos. Eu acabei não acompanhando a fala
da Débora Almeida, que representa aqui a CNM — Confederação Nacional de
Municípios, que é um dos nossos convidados. Estariam convidados também os Prefeitos — não sei se
eles vão vir —, da Frente Nacional de Prefeitos. O Prefeito Fortunati, lá
do Rio Grande do Sul, acho que não se fez presente. E entendemos que,
neste primeiro debate, seria interessante ouvir essas representações para
que nós pudéssemos ver o que estão pensando.
Eu disse ali na Rádio,
também, que essa reforma não é de interesse nosso. Ela é a reforma
estrutural política para o País. Então, todos nós já estamos trabalhando
como membros que vão votar tanto na Comissão como também, depois, no
plenário. Nós é que vamos decidir se vamos ter a melhor reforma, porque
vai ser pelo nosso voto, pelas nossas escolhas. Naturalmente, vai ter que
haver, consequentemente, muitos que precisarão ceder sob alguns
aspectos.
Então, eu fiz uma emenda, a Emenda 22 à Proposta de Emenda à
Constituição nº 344, que é a da coleta das assinaturas. Já foi bom para
conversarmos com vários de nossos colegas. A gente assinou também, de
forma compartilhada, outras iniciativas, uma só para apoiar, para andar,
mas eu queria dizer, para finalizar, que a coincidência de eleições, a
ideia dos 5 anos e a não reeleição nos três níveis, do ponto de vista de
Executivo — Prefeitos, Governadores e Presidente da República —, é o
grande entendimento e o formato exatamente que nos
cabe.
Eu gostaria, mas é inconstitucional, que mudássemos em relação aos
Vereadores e Prefeitos. Fariam só 2 anos. Falaram que é inconstitucional.
Não sei se eu estou fazendo confusão. Aliás, é sobre a prorrogação. O
tempo está limitado, e quero completar o raciocínio. Mas nós temos talvez
duas grandes alternativas: a prorrogação da próxima eleição de 2016, com
mandato de 6 anos para os Vereadores, e a eleição que vai ser coincidente
lá em 2023, que parece que prorroga 1 ano para os Senadores. Mas o que é
importante foi me questionado, apesar de não ser tão imediato. Mas vai
acontecer. Se tivéssemos feito isso há 6, 10, 15 ou 20 anos, nós já
teríamos em andamento e teríamos a finalização da
coincidência.
Então, ressalto e finalizo que a economicidade, o desenvolvimento
do País, não tendo eleições a cada 2 anos, por si só já é uma
racionalização de gastos absoluta. Portanto, já que o Presidente está
preocupado com o tempo, eu encerro e fico feliz em poder ser autor desta
proposição, que terá mais debates consequentes. Quero cumprimentar os
palestrantes, que com certeza serão de grande contribuição para nós
podermos decidir e finalizar um relatório que possa ser aceito pela grande
maioria e votado em plenário.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Parabéns, Deputado Afonso Hamm, pela
iniciativa desta audiência pública. Obrigado pela participação e
compreensão na questão aqui de encaminhamento dos nossos trabalhos. Nós
vamos passar aqui a palavra ao nosso Relator, Deputado Marcelo Castro,
para que ele possa fazer sua intervenção. Logo após, continuamos com as
inscrições no plenário com o Deputado Afonso Motta.
O SR. DEPUTADO MARCELO
CASTRO - Eu quero cumprimentar a todos, ao nosso Presidente Rubens
Otoni, à representante aqui da CNM, a Prefeita Débora, e ao Gilson,
representando aqui a UVB. Quero dizer, em particular, que foi muito
proveitosa para nós a exposição de V.Exas., porque trouxeram para nós
aqui, de maneira concreta e objetiva, o pensamento da ampla maioria dos
Prefeitos do Brasil e da ampla maioria dos Vereadores do nosso País. Como
estamos fazendo uma reforma política, que obrigatoriamente irá mexer com a
vida de toda a sociedade, especialmente da classe política e com certeza
dos Prefeitos e Vereadores, é importante termos esses dados aqui para
legitimar as decisões que vamos tomar. E fiquei muito feliz aqui quando a
Débora trouxe uma pesquisa, porque aqui não é uma mera impressão. Aqui é
uma autorização que os Prefeitos do Brasil estão dando à sua Confederação
para falar em nome deles e defender esses pontos de vista.
Então, com relação à reeleição, que é um dos temas que, na próxima
semana, nós vamos debater aqui, a partir de segunda-feira pela manhã ou à
tarde na quinta-feira, nós não teremos audiências públicas. Vamos fazer só
debates internos sobre todos os temas possíveis da reforma política,
exceto sistema eleitoral e financiamento de campanha. Conforme consta no
plano de trabalho que eu apresentei, eu quero fazer uma espécie de limpeza
da pauta para a gente se concentrar naquilo que vai ser o núcleo da
reforma, que é o sistema eleitoral e o financiamento das campanhas.
Observem que este dado aqui é fundamental. A pesquisa foi feita com
os Prefeitos. Nem os próprios Prefeitos querem as suas reeleições. Ou
seja, que os Deputados achem que a reeleição não está bem, que a sociedade
ache que a reeleição deve terminar, não, são os próprios beneficiários!
Nós temos também o testemunho do Senador Aécio Neves, que usou do
instrumento do instituto da reeleição e já declarou publicamente que é
contra a reeleição. Acha que foi uma experiência, ele diz, positiva, mas
eu acho que não. Foi uma experiência muito negativa. Nós não devemos
continuar com esse instituto no Brasil.
E dos próprios Prefeitos aqui, Deputado José Fogaça, o resultado
não dá margem a dúvida: 60% dos Prefeitos são contra as suas reeleições.
Não são contra a reeleição dos outros, mas a deles
mesmos!
Há outros assuntos importantes. Duração do mandato. Nós estamos
propondo, naquela pequena cartinha que distribuí, um mandato de 5 anos. O
nosso Gilson, representante dos Vereadores, concorda com 5 anos. Os
Prefeitos já acham que não deve haver reeleição e que o mandato deveria
ser de 6 anos. Um Deputado amigo nosso, Alfredo Kaefer, é contra a
coincidência das eleições. Ele propôs uma PEC defendendo que o mandato
fosse de 6 anos, mas que as eleições fossem feitas de 3 em 3 anos. Os
Prefeitos e os Vereadores seriam eleitos por 6 anos; os Deputados
Federais, Estaduais, Governadores, Senadores, Presidente da República, por
6 anos, mas com a eleição no meio, descasada. A nossa tese não é essa. A
nossa tese é a da unificação das eleições, com mandato de 5 anos. Mas os
Prefeitos propõem 6 anos.
Estamos perto de um entendimento. Com o fim da reeleição, parece
que há o consenso de que o mandato não deveria continuar de 4 anos, mas
passar a 5 ou 6 anos. Parece que está ganhando o de 5 anos.
Há uma novidade aqui sobre os sistemas que os Vereadores preferem,
o sistema proporcional ou o sistema distrital. Não sei se isso foi bem
explicado na pesquisa, mas aqui eles ficam divididos, dando uma leve
preferência, de 42 a 40, ao sistema distrital. Não sei se eles podem ter
entendido “distritão”, ou seja, os Vereadores mais votados. Talvez seja
isso, a pesquisa aqui não explica. Como nós fizemos uma confusão no Brasil
chamando o sistema majoritário de “distritão”, isso pode ter induzido os
Vereadores a essa resposta.
Financiamento de campanha. Ouvimos muitas pessoas dizerem que a
população não aceita financiamento de campanha, mas não é o que as
pesquisas dizem. Eu tive acesso a uma pesquisa do IBOPE recentemente. De
todos os tipos de financiamento, o que a população brasileira mais quer,
embora não seja de maneira expressiva, é o financiamento público de
campanha. É a pura realidade.
E estão aqui os Prefeitos: 49,2% são favoráveis ao financiamento
público exclusivo de campanha; privado, apenas 14%. Então, ouvimos muitas
pessoas falarem com muita autoridade contra o financiamento público, que o
povo não aceita, só aceita se for privado, mas as pesquisas não estão
batendo bem com essas informações, não! Estou falando aqui de pesquisa,
não estou emitindo a minha opinião. A minha eu já a
emiti.
Há pessoas contra a candidatura avulsa. Acham, como nós estamos
propondo, Deputado Esperidião Amin, que os suplentes de Senadores seriam
os derrotados mais votados. Os Prefeitos e os Vereadores estão propondo a
mesma coisa. Como é hoje, acho que há um consenso de que assim não deve
ficar. Nós estamos numa democracia representativa. Só deve falar em nome
do povo brasileiro quem tem representatividade, quem recebeu voto. O
suplente de Senador, na verdade, não recebeu voto. Então, se nós fizemos
como a CNM está propondo, Deputado Renato Molling, como a UVB está
propondo, como nós estamos propondo também... Qual é a nossa proposta?
Estamos propondo mandato de 5 anos para todo mundo. Os três Senadores
seriam eleitos num dia só.
O Estado do Maranhão, Deputado Pedro Fernandes, tem 15 candidatos a
Senador. Quem são os eleitos? Os três mais votados. Quem são os suplentes?
Os que vierem em ordem, em sequência. Um Senador foi ser Prefeito de São
Luís: O primeiro suplente assume. O outro foi ser Governador... Ah, sim,
agora não vai haver isso, porque as eleições já são todas num dia só. Mas,
se vai ser Ministro ou algo semelhante, assume o primeiro suplente, assume
o segundo, e assim vai em sequência. Parece que está se cristalizando a
ideia de que o suplente de Senador precisa ser votado. E o que estava
prevalecendo era que aquele que concorreu esteve perto de chegar lá, mas
não chegou, mas tem representatividade, teve voto, seria o primeiro
suplente, e assim por diante.
Este tema aqui eu não abordei em minha cartilha, mas vejo que tem
sido um tema recorrente. Os Prefeitos se queixam muito da distância entre
a eleição e a data da posse. Aqui, a nossa Débora, com toda a sua
educação, não falou, mas muitos dizem que os Prefeitos que estão no
comando e vão entregar o cargo utilizam muitas vezes a política da terra
arrasada, e o prazo é muito longo para eles tomarem posse. Eles acham que
a posse deveria ser imediata ou pouco tempo depois. Eu acho que nós
deveríamos pensar sobre isso.
Coincidência das eleições — 83,5% dos Prefeitos são a favor da
coincidência das eleições. Nem nós aguentamos mais fazer eleições de 2 em
2 anos, nem os Vereadores, nem os Prefeitos, ninguém aguenta mais. Na
Legislatura passada, Deputado Henrique Fontana, eu fiz uma pesquisa no
PMDB e, de todos os itens que apresentei, esse foi o que teve maior
concordância: 92% dos Deputados do PMDB eram a favor da coincidência das
eleições. Nesta Legislatura eu ainda não fiz a pesquisa.
Então, resumindo, é como a própria CNM diz:
“Defendemos a coincidência
dos mandatos e eleições gerais para todos os cargos, pelo fato de que, no
sistema atual, os orçamentos federal e estadual não combinam, não
coincidem com os orçamentos municipais. Isso atrapalha a administração.
Levando-se em conta ainda que, 3 meses antes do pleito, não pode haver
transferência voluntária de recursos públicos, termina paralisando as
administrações. Isso prejudica muito a execução das políticas públicas e
os investimentos e não permite o planejamento das ações” — estou lendo
a carta da CNM — “conforme
determina a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Os resultados são bastante interessantes: a maioria não quer
reeleição; o mandato deve ser de 6 anos; para os Parlamentares têm que
haver um limite de reeleição; o sistema preferido é o voto distrital
misto; o financiamento de campanha deve ser público; o voto deve continuar
sendo obrigatório; a candidatura avulsa foi rejeitada juntamente com o
‘recall’; o suplente de senador deve ser votado e nominado; deve-se mudar
a data da posse dos eleitos e haver coincidência dos mandatos.”
O SR. DEPUTADO AFONSO HAMM
- Eu só não ouvi se o voto é obrigatório ou facultativo. Isso está na
pesquisa?
O SR. DEPUTADO MARCELO
CASTRO - Só falou do voto obrigatório.
O SR. DEPUTADO AFONSO
HAMM - Obrigatório. Qual é o percentual? Esse dado é importante.
O SR. DEPUTADO MARCELO
CASTRO - O voto obrigatório ganhou por 58,4% a
41,6%.
Bom, aproveito para parabenizar a Comissão e dizer que foram muito
proveitosas as audiências de hoje.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Obrigado, Deputado Marcelo Castro, pela
participação.
O Deputado Marcelo é o nosso Relator, que tem cumprido um papel
importante no diálogo, ouvindo a todos e sempre muito atento a todas as
contribuições. Certamente apresentará um trabalho importante de mediação
de todas essas posições.
Nós vamos agora retomar as inscrições. Vou conceder a palavra ao
Deputado Afonso Motta, por 3 minutos, e depois ao Deputado Esperidião
Amin.
(Intervenção
fora do microfone. Inaudível.)
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Perfeitamente, Deputado Marcus Pestana. Nós
vamos providenciar então cópia dessa pesquisa da CNM, porque, com toda
certeza, é um material importante de orientação para todos nós.
Com a palavra o Deputado Afonso Motta. (Pausa.)
O SR. DEPUTADO PEDRO FERNANDES
- Temos o Presidente da Confederação Nacional de Municípios e o Presidente
da Federação Nacional dos Prefeitos. Todos os Prefeitos fazem parte dessas
duas entidades? Ou uma parte é de uma entidade e outra parte é da outra
entidade? Porque temos que ver o universo dessa pesquisa. São só filiados
a esta entidade aqui ou são todos os Prefeitos? Eu recomendaria nós
fazermos uma pesquisa com todos os Prefeitos do Brasil.
O SR. DEPUTADO MARCELO
CASTRO - A situação é a seguinte, Deputado Pedro Fernandes: a Frente
Nacional de Prefeitos congrega os Prefeitos de capitais e grandes
Municípios, e a ampla maioria dos Prefeitos do Brasil são da CNM.
(Não identificado) -
Inclusive os da Frente são da CNM.
O SR. DEPUTADO AFONSO
HAMM - E talvez estejam na pesquisa.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Eu faria um apelo aos ilustres Deputados:
com toda certeza, procedem os questionamentos, as dúvidas, mas que nós
pudéssemos dirimi-las no momento oportuno, para que o nosso trabalho seja
encaminhado e possamos garantir a inscrição dos Srs. Deputados e das Sras.
Deputadas.
Com a palavra o Deputado Afonso Motta; depois, o Deputado
Esperidião Amin.
O SR. DEPUTADO AFONSO MOTTA
- Eu queria cumprimentar os eminentes Deputados Rubens Otoni e Marcelo
Castro, que coordenam os nossos trabalhos, os colegas Parlamentares, a
Prefeita Débora Almeida e o Vereador Gilson Conzatti, aqui representando,
respectivamente, o conjunto dos Municípios do nosso País e os nossos
Vereadores.
Eu quero dizer que há uma consciência muito grande na realização
dos nossos trabalhos, aqui na Comissão, já expressada em várias
oportunidades — e quero colocar isso do ponto de vista provocativo àqueles
que vêm trazer a sua contribuição neste momento —, de que nós só
conseguiremos aperfeiçoar o nosso sistema político nacional se avançarmos
no pacto federativo.
O nosso pacto federativo, todos nós sabemos, é injusto e determina
aquele movimento nacional na Federação conhecido como, até bem pouco
tempo, a vinda a Brasília de chapéu na mão ou a vinda ao centro do poder
de chapéu na mão, que é a luta pela conquista da política pública. Até bem
pouco tempo, não era assim que se dizia. Hoje são programas, projetos,
fontes de financiamento que praticamente impõem à base municipal vir a
Brasília buscar política pública. Hoje é investimento público; a base
municipal vem aqui conquistar recursos.
De certa forma, há uma interferência desse movimento e dessa
realidade injusta do pacto federativo na representação partidária e no
próprio papel do Prefeito, do Vereador, desvirtuando a decência na
atividade política, o exercício da função, a qual recebeu através da
investidura pública, dos votos, da eleição.
Nós, no debate da reforma política, sabemos que essa questão
federativa, no desdobramento das diferentes esferas, abriga na verdade uma
grande ficção nos Estados, nos entes federados e no Governo Federal. Onde
a vida acontece, onde tudo acontece é na base municipal, e a eleição
também acontece lá.
Então, eu acho que é muito importante a contribuição nesse sentido.
O mais importante, Gilson — eu acho que os Vereadores também têm que ter
essa consciência —, é a produção de um conteúdo que atenda minimamente à
questão do sistema eleitoral e do financiamento de campanha. Todos os que
participam do debate têm que ter essa consciência.
Agora, vencidas essas questões, nós vamos ter que fazer um ajuste.
Vai haver ambiente para prorrogação de mandato? Porque nós temos que
prestar contas para a sociedade. Vai haver ambiente para nós fazermos uma
prorrogação? Bom, se não houver ambiente para uma prorrogação de mandato,
nós vamos ter que encontrar uma alternativa, e evidentemente a
participação daqueles que estão na base municipal é fundamental.
Eu acho também, Relator, permita-me fazer uma colocação, que nós
temos que fazer um ajuste de linguagem. Eu acho que nós estamos falando
aqui de coincidência de mandatos, em primeiro lugar. Ocorrem ideias de
que, obtido o conhecimento de mandato, as eleições possam ser realizadas
até com a diferença de dias. Há teses de diferença de dias. Bom, de
repente, eu acho que é uma questão também.
Nós
estamos querendo a redução do prazo da campanha eleitoral. Por quê? Porque
o objetivo maior é redução dos custos das campanhas e igualdade. Nós vamos
ter condições de realizar uma eleição no mesmo dia com redução dos custos
de campanha e com igualdade? Os senhores devem ter respostas. De repente,
nós podemos construir uma alternativa que possa se ajustar. Então, eu
queria deixar também essa questão do prazo da campanha.
Só para terminar, 1 segundo a mais, eu acho que nós temos que
trabalhar, como falamos com o Procurador Aragão, o conceito de campanha
antecipada. Campanha antecipada é uma questão que envolve muitos
Vereadores e Prefeitos, que têm problemas com a Justiça Eleitoral
exatamente porque esse conceito não está bem
firmado.
São contribuições que eu queria deixar para os senhores nos
devolverem.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Obrigado, Deputado Afonso Motta, pela
contribuição ao debate e também pela compreensão no que tange ao tempo
para que possamos dar a todos os Deputados e Deputadas a oportunidade de
expressarem seu posicionamento.
Com a palavra o Deputado Esperidião Amin; depois falará o Deputado
Henrique Fontana.
O SR. DEPUTADO ESPERIDIÃO
AMIN - Em primeiro lugar, quero cumprimentar o Vereador Gilson
Conzatti porque ele leu a PEC 352. Eu não sei se a CNM leu, porque na
pesquisa não aparecem vestígios. Pelas perguntas e pelas respostas, eu,
inspirado em Sherlock Holmes, diria que a CNM não leu. Essa pesquisa é de
quando?
A SRA. DÉBORA ALMEIDA -
É de 2013.
O SR. DEPUTADO ESPERIDIÃO
AMIN - De 2013. É de antes da PEC 352. Como dizia Sherlock Holmes: “Elementar, meu caro Watson”. Ou
seja, não é uma censura à senhora, mas é uma censura ao Sr. Paulo
Ziulkoski. Fazê-la trazer uma pesquisa defasada é uma desconsideração com
o assunto que está sendo debatido.
Nós estamos reunidos aqui em torno das PECs 344 e 352. A PEC 352 é
de 2013 e só foi recepcionada pela Comissão de mérito agora. Portanto, eu
sugiro, assim como já foi feito, que seja feita uma nova pesquisa, tendo
pelo menos os temas atuais como pontos para debate.
Gostaria de informar àqueles que defendem, inclusive ao meu querido
amigo Renato Molling, que é membro da Comissão, mas não assistiu à
palestra do Ministro Toffoli, e pedir ao Deputado Marcelo Castro que,
mesmo sendo psiquiatra e não gostando de dar má notícia, diga o que o
Ministro Toffoli disse anteontem: o único ponto pacificado no Supremo
Tribunal Federal é o de que não há prorrogação de 1 dia sequer. Todo poder
emana do povo. Portanto, esqueçam! “Ah! Mas já houve.” Sim, já houve
em outros tempos, assim como já houve coincidência de mandato também, em
1982. Então, o já houve não é uma referência.
Eu queria cumprimentá-los por terem considerado a PEC 352 e
lamentar que a proposta que foi vitoriosa no Grupo de Trabalho tenha sido
a da circunscrição. É a última vez que eu defendo a proposta do Deputado
Marcus Pestana. Vai ser mineiro assim em Minas Gerais! Ele fica escondido,
e a gente é que fica vendendo o peixe que ele nos entregou. Eu o aprovo
ainda, mas ele não o defende, ele fica esperando o nosso
esforço.
Eram esses os meus comentários. Por favor, uma pesquisa atualizada
porque ouvir os Prefeitos é muito importante.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Obrigado, Deputado Esperidião Amin, pela
contribuição.
Com a palavra o Deputado Henrique Fontana, por 3 minutos; depois
falará o Deputado José Fogaça.
O SR. DEPUTADO HENRIQUE
FONTANA - Quero cumprimentar nosso Presidente; nosso Relator, Deputado
Marcelo Castro; e nossos convidados de hoje, a Prefeita Débora e o
Vereador Gilson, que representam dois segmentos fundamentais que estão na
base do sistema político. Os Vereadores e Prefeitos, por óbvio, exercem um
papel importantíssimo na democracia.
Eu quero pedir licença aos colegas para ler dois trechos de
publicações de ontem e de hoje sobre um dos temas em relação ao qual nós
vamos sempre brincar aqui na Comissão: provavelmente vai ser aquele sobre
o qual o Fontana, nos seus 3 minutos, mais vai escolher falar ao longo do
nosso debate.
Ontem o Papa deu uma entrevista e disse o seguinte:
“O
financiamento da campanha eleitoral envolve muitos interesses, que depois
cobram a conta. Evidentemente, é preciso de dinheiro para manifestos, para
a televisão. Em todo caso, que o financiamento seja público. Eu, como
cidadão, sei que financio esse candidato com essa exata soma de dinheiro,
que tudo seja transparente e limpo”.
Hoje, o nosso grande escritor gaúcho, Luís Fernando Veríssimo, que
sempre mistura conteúdo muito qualificado e forte com ironia e bom humor —
e eu conversava com o Deputado Esperidião Amin; não vou ter tempo nos 3
minutos; ele mesmo conta a situação que ele me descrevia sempre com o seu
bom humor infalível nas nossas reuniões. Mas diz o escritor Veríssimo:
“Não
faz muito, a Suprema Corte dos Estados Unidos, dominada por conservadores,
deu ganho de causa a uma organização chamada Citizens United, que pedia o
fim de limites para as doações de particulares e de empresas a partidos
políticos. Hoje, milionários e grandes corporações podem dar, abertamente,
o que quiserem para eleger quem quiserem, criando assim oportunidade para
os americanos terem o melhor governo que o dinheiro pode
comprar”.
Veríssimo
segue dizendo que ele tem a expectativa — provavelmente ele leu a cartilha
do nosso Relator — de que o Brasil desta vez caminhe no sentido inverso e
faça o contrário do que fizeram os americanos. Seguramente — é o ponto de
vista dele, e eu também tenho essa visão —, vai ser muito positiva para a
democracia brasileira essa mudança no sentido inverso, ou seja, retirarmos
o dinheiro de empresas do financiamento, definirmos teto e acolhermos uma
contribuição moderada de pessoas físicas.
Por fim, três questões rápidas: prorrogação não é só uma questão
constitucional, como disse o nosso colega Deputado Esperidião Amin; não há
ambiente político. Quais os Deputados da Comissão, com todo o respeito,
aprovariam uma prorrogação de mandato?
Sobre a coincidência, eu assumo a minha opinião: eu não sou a favor
da coincidência, mas sei que ela é popularíssima no Congresso Nacional.
Portanto, sei que vou ter que negociar nesse sentido. Há uma maioria
constituída que quer a coincidência.
Eu não sou a favor, Deputado Marcelo Castro, porque eu acho que
existem sistemas de contrapeso na democracia. Quando uma conjuntura
política está desenhada de uma só maneira, se nós modificarmos toda a
estrutura de poder do País, obviamente haverá uma concentração muito
grande de poder na mão do grupo que está bem naquela conjuntura, mas, se
nós caminharmos — eu concluo, Presidente, Deputado Rubens Otoni — mesmo
por vontade da maioria nessa trilha da coincidência, que pelo menos nós
separemos as eleições, colocando 2 meses de diferença, por exemplo, entre
a eleição municipal e a eleição nacional. Eu temo que os Prefeitos pouco
consigam debater o programa para o Município se tudo for no mesmo dia, se
tudo for no mesmo espaço eleitoral. Eu acho que perde muito vigor o
debate, especialmente o municipal, mas é óbvio que eu estou aqui aberto a
todas as nossas negociações e diálogos que vão ocorrer nas próximas
semanas.
Obrigado, Presidente.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Obrigado, Deputado Henrique Fontana. Lembro
aqui tanto ao Vereador Gilson quanto à Prefeita Débora que eles terão
oportunidade de manifestação logo depois das falas dos Deputados para que
possam também expressar o seu pensamento.
Com a palavra o Deputado José Fogaça; depois falará a Deputada
Renata Abreu.
O SR. DEPUTADO JOSÉ FOGAÇA
- Obrigado, Sr. Presidente.
Deputado Rubens Otoni, Presidente em exercício desta Comissão; Sr.
Relator, Deputado Marcelo Castro; querido Vereador Gilson Conzatti,
Presidente da União dos Vereadores do Brasil; Prefeita Débora; colegas de
Comissão, em primeiro lugar, acho importante registrar o seguinte: 1982
foi um ano traumático na história da tortuosa democracia brasileira. Eu
acho que aqui ninguém tem idade suficiente para dar esse testemunho,
talvez apenas eu e o Senador e Deputado Esperidião Amin. Aquele momento de
coincidência foi absolutamente traumático. O Senador Pedro Simon até hoje
repete e lembra com insistência que a coincidência foi amarga,
difícil.
É importante também registrar que havia um detalhe naquela eleição
que realmente criava um embaraço e trazia uma camisa de força para o
processo político: o voto vinculado. Como o voto era vinculado de alto a
baixo, criou-se uma verdadeira prisão, um enjaulamento do voto e uma
dependência hierárquica do Vereador para o Deputado Estadual e do Deputado
Estadual para o Deputado Federal. Verdadeiros feudos eleitorais foram
montados naquele processo, e o senhor feudal do voto era o candidato a
Deputado Federal, que montava um feudo, uma república eleitoral e somava
vários Deputados e uma grande quantidade de Vereadores.
Como todos tinham a sua eleição em jogo, foi algo realmente muito
difícil.
Não sou contrário à coincidência de mandatos. Acho salutar,
necessário que tenhamos menos eleições intervindo nos governos, no sistema
de administração pública, na necessidade de continuidade, agilidade de
decisão, efetividade de Governo. As eleições realmente criam embaraços,
mas é importante dizer: o voto vinculado não pode repetir-se.
A decisão mais importante e mais crucial que temos diante de nós,
infelizmente, não é apenas essa. Decidir se os mandatos vão coincidir ou
não é muito mais fácil do que nós supomos, do que nós imaginamos. O
difícil é a transição. Fazer a transição, sim, é muito difícil. A palavra
do Vereador Gilson Conzatti, para mim, é altamente esclarecedora, quase
definitiva, do ponto de vista dos Vereadores. Eles não aceitam o mandato
tampão de 2 anos.
Este é o registro que deve ser feito, porque, com todas as questões
que se colocam, precisamos ter a capacidade criteriosa, supina de chegar a
uma sintonia fina e entender que a transição é o essencial. Há a palavra
do Supremo, do Ministro Toffoli, aqui relatada pelo nosso Deputado Marcelo
Castro, e agora a dos Vereadores, que são os agentes passivos dessa
decisão.
Eu acho que isto fica muito claro: se nós não exercitarmos com
inteligência e com critério essa transição, a coincidência de mandatos não
sairá.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Obrigado, Deputado José
Fogaça.
O SR. DEPUTADO MILTON MONTI
- Deputado Fogaça, V.Exa. falou da eleição de 1982 e falou do Senador
Esperidião Amin, nosso colega Deputado. Estou me sentindo velho. Essa foi
a eleição em que eu estreei na vida política, sendo candidato a
Prefeito.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Pela manifestação do Plenário, Deputado José
Fogaça, parece-me que V.Exa. não é o único que usufruiu desta experiência.
Muitos aqui já fizeram esta manifestação.
O SR. DEPUTADO MARCUS
PESTANA - Só para aproveitar o momento, Deputado Fogaça, são
engraçadas as percepções, não é? Eu tenho a percepção mais positiva
possível dessa eleição. Fui candidato a Vereador aos 22 anos, contra o meu
pai. A nossa chapa era absolutamente coerente. Éramos Tancredo, Itamar,
Tarcísio Delgado candidato a Prefeito, Riani, Zé Luiz Guedes e eu
candidato a Vereador. Eu saí candidato contra o meu pai, ex-Prefeito,
candidato pelo PDS, e eu era candidato pelo PMDB.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Faço um apelo aos Deputados. Nós damos espaço só
para descontrair um pouco, mas faço um apelo às Sras. Deputadas e aos Srs.
Deputados, para que retomemos nossa ordem de inscrição e também o tema,
para que possamos concluir a nossa audiência dentro do prazo
previsto.
Concedo a palavra à Deputada Renata Abreu; depois ao Deputado
Samuel Moreira.
V.Exa. tem 3 minutos.
A SRA. DEPUTADA RENATA ABREU
- Bom dia a todos. Eu fico muito feliz de estar neste debate porque, em
princípio, sou a favor da unificação da eleição. Ouvir a experiência do
Deputado Fogaça, do Deputado Henrique Fontana, com seus argumentos, faz-me
criar uma tabelinha, na minha cabeça, dos prós e dos contras de cada
colocação, de cada proposta que enfrentamos aqui.
Acho que precisamos também debater as consequências da unificação.
Sou a favor da unificação. Qual seria a consequência para o Prefeito e
para o Vereador ao se priorizar as suas propostas? Talvez isso seja um
prejuízo para o cidadão, para o eleitor.
Ao mesmo tempo, também há outro contraponto: a unificação da
eleição — eu que sou dirigente partidário falo isso — talvez ficasse mais
fácil em um sistema eleitoral como o distritão, porque haveria menos
candidatos. Imaginem montarmos uma chapa de Vereador em São Paulo, por
exemplo, com mais de cem Vereadores, mais de cem Deputados Estaduais, mais
de cem Deputados Federais, Governador. Então, isso realmente geraria
confusão. Acho que a definição do sistema eleitoral é muito importante
para este debate.
Eu queria colocar minha posição aqui: sou a favor da extensão do
mandato de 5 anos, mas com uma única reeleição também no Legislativo. Acho
que isso não foi colocado aqui, mas acho importante o Legislativo também
se oxigenar, também se renovar. Sei que posso ser sempre a minoria aqui,
mas acho que colocar o debate é muito importante.
Em relação à transição, creio que o mandato tampão sem reeleição,
sem a eleição em 2016, que vai gerar para os cofres públicos um grande
gasto, realmente seria uma economia.
Quanto à inconstitucionalidade, eu ouvi também o que o Ministro
Dias Toffoli falou. A Consultoria Legislativa da Câmara me falou o oposto.
Acho que também é uma questão incontroversa. Eu tinha também uma sugestão,
talvez nem para um nem para outro, que seria justamente estender a
eleição, fazê-la em 2019, tendo eleição em 2016. É uma opção. Os
Vereadores ficariam 3 anos. Como existe a possibilidade de se estender o
mandato de todos para 5 anos, haveria uma extensão do mandato dos
Deputados para 5 anos, mas, como a regra foi criada para 5 anos, então
estaria dentro da regra. Pode ser uma possibilidade, porque os Vereadores
e Prefeitos eleitos ficariam 1 ano a mais do que está sendo proposto na
PEC, mas o ideal, a meu ver, seria a extensão de 6 anos para facilitar a
vida de todos.
Deixem-me ver se eu falei tudo. Em relação à questão da suplência
dos Senadores, eu queria colocar aqui uma dúvida que eu tenho. Eu concordo
que os suplentes deveriam também ter participado da votação, mas o mesmo
não se aplicaria aos vices? Ao Vice-Prefeito, ao Vice-Governador. Acho que
a lógica é a mesma. Se a regra vai ser colocada para os Senadores, por que
não para outros cargos majoritários? Acho que é uma questão que temos que
debater aqui.
Estas são minhas colocações.
Obrigada.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Obrigado, Deputada Renata Abreu, pela
colaboração e pela participação.
Passo a palavra ao Deputado Samuel Moreira e depois ao Deputado
Carlos Zarattini.
O SR. DEPUTADO SAMUEL MOREIRA -
Eu quero colocar o seguinte: primeiro, eu sempre considerei que nós vamos
ter que ter foco, porque são muitos os desejos de alteração das nossas
regras com a reforma política, mas o foco principal, para mim, está
realmente no sistema e no financiamento, como já foi dito
aqui.
Sou um defensor muito convicto do voto distrital puro. Acho que
facilita muito as coisas para o eleitor. Ele se sente mais partícipe do
mandato. Com o voto distrital puro é possível — e eu acredito muito nele —
o financiamento público de campanha. Acredito que nós possamos criar
condições iguais de competição, privilegiando mais as propostas e dando
mais transparência, mas nada impede de discutirmos o que é secundário.
Para mim, as questões centrais são essas. As outras são secundárias, mas
importantes. Não vejo o desejo do povo de mexer nessas questões. Acho que
é mais um desejo nosso de aprimorar, mas não vejo o desejo do povo de
fazer essa alteração.
Por exemplo, a prorrogação de mandato é algo, como já foi dito
aqui, impossível, inaceitável. Nós estaríamos praticamente surrupiando uma
decisão que já foi tomada de um mandato, tanto para menos quanto para
mais. Nós não podemos prorrogar nem tirar dias de mandato de alguém que já
foi eleito para isso. Acho que isso está fora de
questão.
A segunda questão é a coincidência de mandato: eu era um dos que
eram a favor, mas, no decorrer do tempo, fiquei contra a coincidência das
eleições. Eu fui Prefeito. Sei o que os Prefeitos passam no período em que
são proibidos os convênios, porém mais por ausência de recursos, por falta
de autonomia financeira, por falta de um pacto federativo decente que
prestigie as Prefeituras que prestam serviço e que têm pouco dinheiro do
que por conta desse período em que ficam sem convênios. Então, nós vamos
tentar mexer num assunto para tentar resolver outro?
Corremos o risco de mexer num sistema que não está sendo
questionado sob o ponto de vista do eleitor neste momento, que é a
coincidência dos mandatos. Essa coincidência é muito arriscada, porque
pode fazer com que hoje uma eleição que é municipal, de Prefeitos e
Vereadores, que prestigia a discussão exclusivamente dos problemas dos
Municípios, passe a ser embutida numa eleição de Presidente da República,
de Governador, enquanto esses problemas dos Municípios passem a ser
secundários, deixando os compromissos dos candidatos de lado. Acho que
esta é uma questão com a qual temos que ter cuidado: os Municípios serem
levados a reboque na eleição.
A segunda questão é uma dúvida que quero deixar para que todos
pensem e me ajudem a tirar uma conclusão: tentar fazer uma simulação do
que seja uma eleição unificada. São oito candidaturas. Hoje, um Deputado
chega num Município e encontra uma classe política organizada em dez,
quinze Vereadores, ex-candidatos, já meio que adormecidos, e um Prefeito.
O candidato chega e presta um serviço para aquele Município. Há muito
tempo, libera recursos, articula, está presente. Hoje ele praticamente
define um pouco as suas relações políticas e como conduzir sua
eleição.
Eu fico imaginando a situação numa eleição conjunta: o candidato
chega ao Município e encontra duzentos candidatos a Vereador, tendo como
prioridade a sua sobrevivência, a sua eleição. Duzentos! Encontra, ali
candidatos a Prefeito — tudo bem, porque tem os partidos —, mas candidatos
a Vereador querendo sobreviver, associando-se e às vezes até tentando
negociar de maneira espúria a sua sobrevivência eleitoral para se eleger
Vereador. Quem vai pagar essa conta? Como é que um Deputado vai chegar
ali?
Para concluir, eu queria tentar uma simulação prévia para ver o
impacto disso, inclusive nas nossas eleições como Deputados. Como é que
vai ficar essa relação desse monte de candidatos dos Municípios com os
candidatos a Deputado chegando e encontrando candidatos a Vereador
praticamente leiloando os seus apoios?
Vejam que não estou depreciando. Tem gente boa, mas é por uma
necessidade de sobrevivência. Isto é só para uma reflexão de como ficaria
a situação.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Obrigado, Deputado Samuel Moreira pela sua
participação e pela sua colaboração no debate.
Passo a palavra ao Deputado Carlos Zarattini por 3 minutos e depois
ao Deputado Milton Monti.
O SR. DEPUTADO CARLOS ZARATTINI -
Bom dia a todos. Infelizmente, não pude chegar na hora da exposição do
Gilson e da Débora.
Então, desculpem-me se eu falar alguma coisa sobre a qual vocês trataram,
porque infelizmente não deu para chegar.
Mas eu queria dizer, primeiro, que essa questão da coincidência
está bem debatida aqui e me parece que todo mundo que defende a
coincidência não defende a prorrogação do mandato, nem mandato tampão.
Resta uma discussão aqui, colocada pelo Deputado Henrique Fontana, a
respeito da coincidência, se no mesmo dia ou em datas diferentes da
eleição.
Agora, eu queria falar um pouco sobre o sistema eleitoral nos
Municípios, porque isso também pode nos levar a uma reflexão sobre o
sistema eleitoral geral. O Deputado Samuel apresentou agora um panorama
baseado no sistema atual. Eu acho que nosso objetivo aqui é o de reduzir o
custo da campanha, e, ao mesmo tempo, isso implicaria também em reduzir o
número de candidatos: um sistema que tenha menos candidatos do que o que
nós estamos observando hoje, porque há um número astronômico de
candidatos. Há um Município, por exemplo, que o Samuel conhece, São
Bernardo do Campo, que, na última eleição, teve 683 candidatos — um único
Município. Então, é uma coisa fantástica.
Agora, nós já temos duas categorias de Municípios no sistema
eleitoral brasileiro. Nós temos Municípios com até 200 mil eleitores, que
têm um turno só, e de 200 mil acima nós temos dois turnos. Se eu não me
engano, são cento e cinquenta e poucas cidades que têm acima de 200 mil
eleitores. E com uma disparidade muito grande: há cidade com 200 mil, que
é cidade média; e há cidades acima de 200 mil como São Paulo, Rio, Belo
Horizonte, que são grandes cidades. Então, ao falar sobre cidades acima de
200 mil habitantes, há uma diferença muito grande, entre 200 mil e um e os
12 milhões de São Paulo.
Por exemplo, há uma discussão agora de se fazer voto distrital nas
cidades, nas grandes cidades, acima de 200 mil; uma proposta que foi
apresentada no Senado pelo José Serra. Mas há essa diferença.
Eu, por exemplo, que não vejo o menor sentido em fazer voto
distrital numa cidade de 200 mil e um, mas vejo algum certo sentido de
você discutir isso numa cidade como São Paulo, que é muito grande
territorialmente e é muito populosa.
Então, eu acho que a gente tem que aprofundar aqui um pouco a
questão do sistema eleitoral nos Municípios. A minha opinião é que não
cabe um sistema distrital em Municípios, na maioria deles, com exceção de
dois ou três no País, o que poderia ser aceito. Mas na grande maioria não
dá para dividir um Município. Vou citar aqui Carapicuíba, Osasco, que eu
conheço em São Paulo: são Municípios cujo território é muito pequeno.
Então, falar “você vai ser
Vereador desse distritozinho aqui” é reduzir muito o papel do Vereador
em discutir os problemas da cidade. Quer dizer, ele vai ficar um Vereador
de um pedaço, de um bairro. E vai ter um papel assim: vai cuidar
unicamente de tapar o buraco, de podar a árvore e cortar o mato do bairro
dele, e não se preocupar em debater problemas maiores da cidade.
O Samuel está sorrindo aqui, porque uma parte, eu acho, só faz isso
mesmo... Mas existem aqueles que querem debater os grandes problemas das
cidades das cidades acima de 200 mil. Então, eu não concordo que a gente
estabeleça o sistema distrital nos Municípios. Eu acho que, ainda que
alguns defendam aqui o distrital misto, isso também não é viável.
Então, eu gostaria de defender aqui a ideia — e queria ouvir a
posição dos representantes dos Municípios — de que se mantenha o voto
proporcional nos Municípios. Qualquer decisão que a gente tomar em âmbito
federal ou estadual, que não é a minha proposta, seja distrital misto ou
qualquer outro sistema, mas que a gente mantenha o sistema proporcional
nos Municípios, porque me parece que a gente não vai chegar a um sistema
coerente se a gente tiver qualquer divisão distrital nos Municípios, a
gente vai reduzir enormemente o papel do Vereador, a situação do
Vereador.
O SR. DEPUTADO SAMUEL
MOREIRA - Vai escrever que ele não pode participar dos problemas da
cidade? Vai escrever na eleição?
O SR. DEPUTADO CARLOS
ZARATTINI - Não, não vou escrever aqui na eleição.
O SR. DEPUTADO SAMUEL
MOREIRA - Você pode ficar ali no...
O
SR. DEPUTADO CARLOS ZARATTINI -
Evidentemente que não. Mas, se o camarada é eleito pelo distrito, a
tendência dele, até pela sobrevivência, é ficar cuidando do assunto
paroquial. Alguns talvez não façam isso, mas a cabeça do cara vai ser
cuidar do problema distrital. É a minha opinião.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Com a palavra o Deputado Milton
Monti.
O SR. DEPUTADO MILTON MONTI
- Sr. Presidente, caros colegas, Prefeito que está representando aqui
a Confederação dos Municípios, caro Vereador, primeiramente, eu peço
desculpas, pois também não pude assistir à palestra dos nossos convidados.
Eu acho que ficou claro que esta Comissão, o Congresso, de modo geral, não
apoia qualquer tipo de prorrogação de mandato. Isso está completamente
descartado.
Há uma tendência — ainda não é uma maioria consolidada, mas há
adeptos de pessoas que não concordam — para a coincidência de mandatos. E
aí nós vamos ter que arrumar uma solução. Não dá para fazer omelete sem
quebrar ovo, se essa for a decisão adotada por esta Comissão e pelo
Congresso Nacional. Vamos ter que arrumar um jeito de fazer isso.
Eu sou favorável à coincidência. Acho que a ideia que foi colocada
aqui de talvez espaçar em 60 dias as eleições, para que os debates possam
ser feitos no Município, na questão nacional, é interessante. Sei como as
coisas acontecem hoje — todos nós sabemos. Eu vi a preocupação do Deputado
Samuel Moreira, mas essa é uma preocupação presente. Nós participamos,
colaboramos nas eleições municipais. Às vezes, com 200 candidatos a
Vereador, já na eleição municipal. Colaboramos e, depois, temos que
colaborar novamente com os eleitos nas nossas eleições. Essa é a
realidade.
Nós somos demandados sempre, em todo momento, e acho que nós
tínhamos que fazer uma fórmula para que isso pudesse ser feito
conjuntamente. Nós, na minha modesta opinião, não podemos continuar dessa
forma. E nós sabemos que a nossa ausência nas eleições municipais são
fatais nas eleições seguintes, são fatais. Então, sou favorável à
coincidência de mandatos.
Não tenho preocupação com a orientação política no mesmo vetor.
Vejam, por exemplo, o que acontece com a eleição para Presidência da
República e para Governos de Estado: nem sempre o candidato a Presidente
consegue eleger os Governadores. Ao contrário, tivemos eleições... O
Presidente Lula, na sua primeira eleição, foi eleito, e eu acho que foram
eleitos do PT dois ou três Governadores de Estados pequenos. A Presidente
Dilma foi eleita, e tivemos a eleição de vários Governadores que não são
do campo político da Presidente Dilma.
Então, eu vejo que o eleitor não mistura o voto. Ele escolhe de
acordo com as conveniências que ele tem no seu Estado e na Presidência da
República. O que foi diferente na eleição de 1982. Como eu disse aqui, foi
minha estreia, e eu estou me sentindo já bastante antigo, para não dizer
velho, Relator Marcelo Castro. Então, eu vi que naquela época realmente,
pela circunstância do voto vinculado...
O SR. DEPUTADO MARCELO
CASTRO - O Fogaça pensava que estava sozinho aqui em 82, não é? (Riso.)
O SR. DEPUTADO MILTON
MONTI - Não está. Pela circunstância do voto vinculado, houve um revés
do Governo. O Governo vinculou o voto na época, porque o PDS queria eleger
os Governadores. O PDS tinha predominância nos rincões do Brasil e
imaginava que através dos rincões do Brasil, através de Prefeitos e
Vereadores, pudesse alavancar os seus Governadores. Aconteceu o contrário:
os Governadores é que induziram as eleições municipais, e aí o Governo, a
Situação da época, perdeu os Governos do Estado e também as Prefeituras e
as Câmaras Municipais, coisa que eu não vejo hoje com grande dificuldade.
Acho que o voto é mesclado pelo próprio eleitor.
Acho que nós temos que aprofundar o debate, sou favorável a que
isso aconteça. Nós precisamos ter os objetivos colocados pelo Deputado
Samuel Moreira. Nós temos que racionalizar a eleição, temos que ter a
ideia de fazer com que a população se sinta mais participativa, que as
coisas aconteçam de forma a elevar a vida política; que a vida política
não seja apenas as negociações que acabam ocorrendo na eleição municipal
ou nas eleições estaduais e federais.
Ontem, com muito prazer, debati com o Deputado Fogaça, através da
TV Câmara, a questão do
financiamento. Não tenho restrições a financiamento de empresas. Acho que
nós temos que tomar cuidado, porque nós temos que ter regras de
transparência de limites, isso é importante. No Brasil, em tudo se dá um
jeitinho. De repente, proíbe-se o financiamento por empresa, a empresa
arruma as suas pessoas físicas para fazer a doação e participa do mesmo
jeito.
Nós não podemos vender uma falsa ideia de que tirar o financiamento
de empresa vai resolver o problema da corrupção. O problema da corrupção é
outro: é a sensação de impunidade que está mudando no País, é a situação
de termos transparência, de termos mecanismos oficiais. Nós temos que
mostrar à população que isso pode acontecer.
Em relação ao financiamento público, também sou contra. Eu tenho
conversado com o meu povo lá. O pessoal, quando fala disso, arrepia e me
fala: “Mas nós não temos saúde. O
pessoal está morrendo na fila dos hospitais, nós não temos educação! Vocês
querem gastar dinheiro nosso para fazer campanha política?” E já
gastamos bastante.
Eu estive fazendo um estudo. No ano passado — só o programa
eleitoral —, nós devemos ter feito compensações tributárias da ordem de
839 milhões, 840 milhões. O Fundo Partidário, em 2014, 308 milhões. Nós
vamos passar de um bilhão em relação ao custo público na
campanha.
Agradeço a participação de todos e estou feliz, Sr. Presidente,
Relator, porque o debate está sendo produtivo aqui na
Comissão.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Concedo a palavra ao Deputado Orlando
Silva.
O SR. DEPUTADO ORLANDO
SILVA - Bom dia aos palestrantes, representantes das entidades de
Prefeitos, Vereadores, aos colegas!
Eu quero fazer três observações que têm a ver com o debate que foi
introduzido pelas entidades e que esta Comissão faz, neste
momento.
Queria começar pelo final da fala do nosso Deputado Milton Monti,
quando se refere a financiamento público da campanha. O querido Deputado
Milton Monti se refere a isso como se fosse um problema, sendo que a
democracia tem o seu preço. É a democracia que estrutura o Estado, que
garante o exercício de políticas públicas e que deve atender às
necessidades da população brasileira e do nosso País. Portanto, haver
algum custo, digamos assim, para a sustentação do sistema político
brasileiro, num limite, é parte das regras do funcionamento do Estado
brasileiro e é absolutamente fundamental.
Evidentemente, nós vivemos num País em que a política e os
políticos vivem um processo de criminalização. E tudo o que se fala em
torno da política e dos políticos é tido como indevido, inadequado, sujo,
desnecessário. Portanto, o que eu considero, de fato, é que nós deveríamos
fazer um debate sobre quem paga a conta. Quem paga a conta, como é hoje —
as empresas —, num dado momento cobra a fatura. É contra isso que eu me
levanto. É por isso que nós combatemos o financiamento privado de campanha
pelas regras hoje, porque, como dizem os liberais clássicos, “não existe almoço grátis”. Esse é
o problema.
Uma segunda observação diz respeito ao sistema eleitoral. O
Deputado Zarattini foi muito feliz, considero, quando, ao analisar as
possibilidades de sistema eleitoral no Brasil e diferenciar pequenas,
médias e grandes cidades, aponta que o Brasil é um continente — na prática
se fala essa palavra —, que tem realidades muito diversas. E nós temos que
encontrar caminhos para a representação política brasileira levar em conta
essa diversidade de Municípios no Brasil, essa diversidade de realidades
políticas no País.
Imaginem vocês que, em cerca de 4 mil Municípios no Brasil, deve
haver menos que 20 mil habitantes. Essa é a realidade. Nós temos que levar
em conta a montagem e o sistema que opere nessa realidade. Não adianta ter
a cabeça da cidade de São Paulo, porque não é essa a realidade do conjunto
de Municípios do Brasil.
Eu radicalizaria a tese que o Deputado Carlos Zarattini apresentou,
para as cidades com menor população. Eu sou defensor do sistema
proporcional. O Parlamento, o Congresso Nacional brasileiro não pode se
converter numa gincana, numa disputa de equipes, numa disputa de
interesses locais. Aqui se discutem, ou se deveriam discutir, os temas
estratégicos para o desenvolvimento do País, na relação com o mundo.
Deveriam ser discutidos os temas centrais da macropolítica, os temas que
são estruturantes para o desenvolvimento do País. E isso não se faz apenas
com o olhar do bairro, o olhar de uma cidade, o olhar mesmo de um
tema.
Portanto, eu considero que, como é o sistema brasileiro hoje,
proporcional, que procura expressar as diferentes visões que existem no
Brasil, você produz um Parlamento legítimo. Por isso, eu queria ouvir a
opinião dos representantes das entidades sobre essa matéria, porque eu
vou, volto, tento refletir, observar as defesas que são feitas do sistema
distrital, e, francamente, o sistema distrital vai estruturar ordens de
interesse, vai reforçar interesses localistas, particularistas. Isso não
serve nem à construção da identidade programática nem da identidade dos
partidos.
Nós falamos aqui que é necessário fortalecer os partidos. Como
fortalecê-los? Vão mudar a regra: o sujeito vai ser eleito, se ele
defender aquele interesse local, não é o programa do partido. O sistema
proporcional, sim, garante uma identidade determinada e adesão a essa
identidade.
Por isso, considero que nós deveríamos refletir e mudar o que há de
ser mudado. Sinceramente, companheiros, a população está distante dos
eleitores, o que ouço falar é isso, não é? Em 2015,
francamente.
Milhões de brasileiros devem estar assistindo a essa sessão pela
Internet, agora ou quando for representado. No tempo das redes sociais —
dizem que manifestações são convocadas por redes sociais —, o Deputado não
se relaciona com seu eleitor se não quiser. Francamente, existem muitos
mecanismos hoje de comunicação, de relacionamento, sem a presença
física.
Por isso, eu considero que, para defender o direito das minorias,
que têm que se expressar, mas que o voto distrital restringe, para
combater o localismo e fortalecer a identidade programática dos partidos,
o sistema proporcional brasileiro é eficiente.
Por fim, faço uma observação com relação à coincidência das
eleições. Pelo amor de Deus, que não voltemos a discutir prorrogação de
mandato. Seria, a meu ver, uma aberração política qualquer insinuação para
que esta Casa apresente sugestão de prorrogar o mandato de Deputado, de
Vereador, de Prefeito, de Governador. Aliás, já houve essa experiência no
Brasil, mas hoje seria um verdadeiro desastre. Tenho dúvidas com relação à
coincidência.
Tudo o que sugere a redução de custos é muito bom, mas a minha
dúvida é se, sendo tão relevantes os temas da cidade, os temas
metropolitanos que impactam a vida das pessoas, nós não deveríamos dar
peso para que, no momento adequado, os Municípios pudessem debater as suas
realidades e as suas necessidades. Tenho dúvida, mas é um tema que
considero secundário.
Do meu ponto de vista, as eleições, como são hoje, ajudam,
inclusive, a politizar mais o povo. É a única hora em que o povo pensa em
política, discute política. Isso serve ao desenvolvimento da cultura
política no Brasil. Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Concedo a palavra ao Deputado Arthur
Oliveira Maia.
O SR. DEPUTADO ARTHUR
OLIVEIRA MAIA - Meu caro Presidente Rodrigo Maia, caro Relator, quero
saudar os nossos palestrantes, a Dra. Débora Almeida e o Dr. Gilson
Gonzatti.
Eu estava na CPI da PETROBRAS, no depoimento do Presidente Eduardo
Cunha, e não tive tempo de ouvir as duas falas dos nossos convidados, mas,
como sei que foi tratada a questão da coincidência de mandatos — esse é um
tema que atinge diretamente os Municípios nessa reforma eleitoral —,
cumpre dizer que a ideia da prorrogação de mandato não é uma opção que a
Câmara dos Deputados, que o Congresso Nacional tem, não é, porque seria,
sem sombra de dúvidas, a ruptura com a ordem
constitucional.
O Ministro Dias Toffoli, em participação brilhante que teve aqui
nesta Comissão esta semana, disse ser absolutamente — e eu comungo,
plenamente, da ideia dele — inaceitável, impensável, em um regime
democrático, nós termos esse absurdo precedente de prorrogação de
mandatos. Não existe isso. Isso não é uma possibilidade que nós
temos.
Portanto, superada de plano essa possibilidade, nós passamos a
tratar se deve ou não haver a coincidência de mandatos. E, em havendo a
coincidência de mandatos, qual seria a alternativa que nós teríamos para
fazer essa coincidência.
Eu quero me declarar favorável à ideia da coincidência de mandatos.
Eu penso realmente que o Brasil vive uma overdose de eleições. Não há como
a gente continuar convivendo com essa realidade que vem de maneira
perversa banalizando a nossa democracia.
Eu não penso que as eleições no Brasil, da forma como estão
acontecendo, meu caro e eminente Ministro Orlando, estão qualificando a
nossa democracia. Ao contrário, são eleições que têm desqualificado a
democracia; desqualificado pelo excesso de tempo, pelo excesso de custo e
pela permanente luta eleitoral. Ninguém aguenta mais assistir ao programa
eleitoral. Os índices do programa eleitoral vão diminuindo a cada eleição,
porque as pessoas não suportam mais essa, repito, overdose de
eleições.
Então, pessoalmente, eu sou a favor dessa coincidência de mandatos.
Penso que nós temos de fazer isso o quanto antes, o mais rapidamente
possível. De sorte, Relator, a minha ideia pessoal é que tenhamos, é
claro, eleição para Vereadores e Prefeitos em 2016 com mandatos de 2 anos,
para que todos nos encontremos na eleição de 2018, e tenhamos eleição, em
2018, de Presidente da República a Vereador.
Podemos até avançar para outra possibilidade, como foi colocado
aqui por outros, a de que poderíamos ter uma data em dias diferentes: 30
dias ou 60 dias; primeiro, uma parte da eleição, e depois a outra. Isso eu
acho plenamente possível, até para poder acabar com o argumento daqueles
que acreditam que a campanha ficaria exageradamente nacionalizada ou
municipalizada. Então, poderíamos ter duas datas para que se fizesse a
escolha dos candidatos, mas dentro de um mesmo processo eleitoral. Eu acho
que esse realmente deve ser o nosso escopo e o nosso
objetivo.
As eleições municipais, a meu ver, com a experiência que tenho tido
como Deputado, têm trazido, a partir do advento da reeleição,
consequências nefastas aos Municípios.
Eu fui Prefeito entre 1992 a 1996. O fato de não existir a
reeleição me trouxe uma tranquilidade que certamente os atuais Prefeitos
que estão pensando na sua reeleição não têm; definitivamente não têm. De
forma que pude terminar o meu mandato sem dever nada a ninguém, com as
contas em dia, e, mesmo assim, pude eleger o meu sucessor com belíssima
vantagem. Não há nenhuma dificuldade.
Outra coisa é o Prefeito que se elege e no dia que assume a cadeira
de Prefeito já está montando o seu Governo, organizando a sua
administração com vistas à reeleição. Essa definitivamente não tem sido
uma boa experiência. Temos visto que os Prefeitos, em seus segundos
mandatos, em regra, Deputado Rodrigo Maia, em regra, é claro que existe
uma exceção para confirmar a regra, mas a regra é que os segundos mandatos
têm tido qualidade muito inferior ao primeiro mandato, quando o Prefeito
se elege.
Então, a minha sugestão ao Relator, nesse diapasão que estamos
tratando da
A
Fundação Ulysses Guimarães — FUG realizou no Brasil um questionário sobre
reforma política. Já vem fazendo isso desde o ano passado. Foi feita a
síntese — já está em suas mãos, Presidente Gilson? Esse trabalho já foi
sintetizado. Vai ser apresentado à Comissão Executiva Nacional do PMDB.
Queremos depois apresentar também a síntese do trabalho do PMDB, feito
pela Fundação Ulysses Guimarães, a esta Comissão e ao Deputado Marcelo
Castro.
Obrigada.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) -
Concedo a palavra à Deputada Moema Gramacho.
A SRA. DEPUTADA MOEMA
GRAMACHO - Sr. Presidente, Srs. Deputados, senhores convidados, eu
quero começar parabenizando-os pela iniciativa do convite às
representações dos Prefeitos. Quero parabenizar a CNM — Confederação
Nacional de Municípios pela vinda. Parabenizo a representação dos
Vereadores.
Senti falta da Frente Nacional de Prefeitos. Sei que foi convidada,
mas não pôde se fazer presente. Eu acho que é extremamente importante
ouvi-la também, até porque a Frente Nacional de Prefeitos reúne
Prefeituras de capitais, regiões metropolitanas e cidades grandes. Eu acho
importante que sejam ouvidos.
E quero parabenizar a CNM pela pesquisa que fez, que acho
importante. Pode ser até que a entidade tenha uma posição, mas fazer a
pesquisa demonstra o sentimento de ouvir os munícipes, e eu acho isso
extremamente importante. Quero parabenizá-los.
Concordo com algumas das exposições que foram aqui feitas pela
população. Quanto a outras, tenho dúvidas. Acho que este debate pode
aprofundar cada vez mais essas posições que têm sido apresentadas pela
população. E eu queria parabenizar a Comissão por permitir este debate tão
amplo.
Fiquei feliz em ver que não tivemos muitas emendas com
dificuldades, do ponto de vista do que já vínhamos discutindo. Foram mais
de 40 emendas feitas nesta Comissão. Ontem foi o prazo final. Acho que
essas emendas vieram para somar e para contribuir, e vai ser muito
importante fazer este debate.
Eu queria aproveitar para dizer que na segunda-feira que vem, dia
16, às 9 horas, realizaremos o seminário da Bahia. Os Deputados da Bahia
já estão todos empenhados para que possamos fazer uma grande discussão na
Bahia sobre a reforma política. Vai acontecer na Assembleia Legislativa do
Estado da Bahia, em parceria, portanto, com os Deputados Estaduais, que
também subscreveram a nossa proposta. Fizemos o convite para todos os
representantes das entidades e dos movimentos sociais. Esperamos que seja
uma audiência pública bastante participativa e que possamos trazer, nobre
Relator, como contribuição ao seu relatório, os resultados da discussão
que realizaremos na próxima segunda-feira. Não tenho dúvida de que será
bastante rica e, com certeza, contribuirá muito.
Fui Prefeita por dois mandatos consecutivos, então fui beneficiada
com o processo da reeleição. Ainda assim, nosso partido ainda não tem
posição fechada. Eu tenho a minha posição. Acho que efetivamente é
possível se trabalhar sem a reeleição, mas acho que tudo isso precisa ser
bastante discutido, porque não é algo que se possa discutir isoladamente.
Ao se discutir o fim da reeleição, deve-se discutir a ampliação ou não do
mandato, o posterior.
Também concordo em que não há que se discutir mais o alongamento
desses mandatos, em função da própria inconstitucionalidade. Mas me coloco
à disposição para ouvir e espero que, a partir do fim dessas contribuições
que estão vindo, nós possamos fazer um juízo melhor do que pensa a
população e também do que é melhor para a população.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Concedo a palavra ao Deputado Sandro
Alex.
O SR. DEPUTADO SANDRO ALEX
- Obrigado, Sr. Presidente.
Sr. Relator, senhores e senhoras, quero falar aqui a respeito dessa
pesquisa. Não concordo — e acredito que a população do Brasil não concorda
— com os pontos aqui colocados nessa pesquisa. Vou ater-me ao
financiamento.
Há um índice de 49% de aprovação ao financiamento público, e eu
tenho convicção — vou trazer números e pesquisas que encomendei para
trazer a este plenário — de que a maioria absoluta da população não
concorda com o financiamento público. Eu já disse isso inclusive na nossa
última Comissão, quando a OAB trouxe um número que colocou em dúvida o
resultado. O Deputado Rodrigo Maia também fez parte daquela audiência. A
pergunta foi mal formulada para que fosse dada a interpretação de que o
resultado era verdadeiro.
Enfim, a população não concorda, ainda mais neste momento, em que a
Polícia Federal estanca recursos privados que foram desviados,
superfaturados. Qual seria a saída? Financiamento público? A população,
portanto, já não concorda. Conforme a pesquisa que se trouxe na nossa
última reunião, mais de 90% não concordam com o financiamento
público.
E isto não significa que eu sou também favorável ao financiamento
privado. Eu sou contrário ao financiamento de pessoas jurídicas, e disse
isso ao portal Globo. Sei que
minha proposta, que é pelo financiamento apenas de pessoa privada, com
limitação, não será aprovada, dificilmente seria, porque ela retira
justamente o dinheiro da campanha. Alguns me perguntaram: “Mas aí não tem campanha?”, como se
a campanha fosse dinheiro. E é o que acontece hoje. A eleição é a semente
da corrupção, porque o montante do dinheiro é o que move todo o mecanismo
que vem em seguida. Então, eu tenho uma proposta, que é pelo financiamento
apenas de pessoa privada, com limitação. O Estado já participa com tempo
de rádio e TV, já temos uma contribuição. Vai se tirar mais
dinheiro?
E ninguém respondeu, Deputada Margarida, primeiro: de onde virão os
recursos? Do orçamento, mas vai ter que sair de algum lugar. Vai sair da
educação, da saúde, da infraestrutura, de onde? Segundo: Quem é que vai
receber? Será o partido, será o Presidente, serão os candidatos todos?
Qualquer cidadão também será candidato para receber esse recurso,
independentemente se vai até prestar uma campanha ou não, porque ele terá
o direito de receber o recuso da campanha. Terceira pergunta: quanto é que
vai ser? Pergunta-se isso para deixar claro à população brasileira quanto
é que vai se pegar do Orçamento para se pagar mais isso na política
brasileira.
Então, eu tenho um posicionamento e sei que é difícil. Eu penso
que, se nós retirarmos esse volume de dinheiro das campanhas, nós vamos
começar a falar de boa política no Brasil.
Antes de falar de financiamento e de sistema eleitoral, falo sobre
voto facultativo — e dirijo-me ao nosso Deputado Esperidião Amin, pois,
aliás, por causa do voto de S.Exa. consta na PEC o voto facultativo no
Brasil, porque nós ganhamos por um voto, e foi o de S.Exa: nós conseguimos
convencê-lo ao final. Enfim, a proposta de voto facultativo está presente
na PEC...
O SR. DEPUTADO ESPERIDIÃO
AMIN - Eu já cometi outros erros piores.
O SR. DEPUTADO SANDRO ALEX
- Mas tenha certeza de que o debate que o senhor trouxe para o
Parlamento é o que vai estar domingo nas ruas, porque não veremos nas
ruas, nas manifestações, placas sobre o financiamento ou sobre o sistema
eleitoral, mas veremos que querem o fim do voto obrigatório no
Brasil.
E a primeira reforma política feita neste País, sabe qual foi,
Deputada? Foi o voto feminino. O sufrágio das mulheres foi a primeira
reivindicação dentro de uma reforma política no Brasil, quando houve
movimentos para que elas votassem. Hoje é inadmissível pensar que elas não
votam ou que elas não votariam, assim como daqui a 1 ano, 10 anos ou 100
anos será inadmissível pensar que o voto é obrigatório no Brasil, porque o
voto é um direito.
Então, eu tenho orgulho de ter apresentado a proposta, Relator. Sei
que é difícil a aprovação, porque muitos consideram que essa mudança
representa até o interesse de alguém, e é o contrário: é o fortalecimento
da democracia no Brasil tornar o foto facultativo.
Antes de se pensar o que é melhor para os políticos, primeiro se
deve perguntar ao povo: “Você quer
ou não votar?” Assim, com aqueles que queiram votar, discute-se se é
distrital, se é financiamento. Mas é meu direito não querer votar. É
expressão da população também não querer.
Então, eu tenho orgulho de estar aqui defendendo essa proposta, que
defendi na última Comissão.
Vamos falar ainda muito sobre outros temas, Sr. Presidente. Aliás,
eu tenho uma emenda apresentada, que também é polêmica, sobre a proibição
de o Legislativo ir para o Executivo, de Deputado ou Senador virar
Ministro ou Secretário. Vamos debater isso na próxima
reunião.
Muito obrigado a todos.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) -
Concedo a palavra ao último inscrito, Deputado Odorico
Monteiro.
O SR. DEPUTADO ODORICO
MONTEIRO - Sr. Presidente, Srs. Deputados, quero parabenizar a CNM
pela pesquisa. Eu acho que este é um debate importante, que tem que
envolver todos os atores nesse processo.
Eu queria aqui me ater especificamente ao tema da coincidência de
mandatos e de eleições gerais. Eu estou iniciando aqui a minha primeira
experiência como Parlamentar, mas estive durante 25 anos no Executivo. Fui
Secretário Municipal de Saúde de pequenos e médios Municípios e de
capitais. De 1989 a 1992, fui Secretário de Saúde de Icapuí, uma cidade de
15 mil habitantes. Depois, de 1993 a 1996, de Quixadá, uma cidade de 83
mil habitantes. Ali nós criamos o Programa Saúde da Família. Depois, em
Sobral, fui Secretário de Saúde quando o Ministro Cid Gomes foi Prefeito
por 8 anos. Depois, de 2005 a 2008, Secretário de Saúde de Fortaleza, na
gestão da Prefeita Luizianne Lins, hoje nossa colega aqui. Nos últimos 3
anos, eu fui Secretário do Ministério da Saúde, onde implantamos o
Programa Mais Médicos.
Por
que estou dizendo isso? Para esclarecer o seguinte: a primeira coisa que a
gente tem que ter clareza é o desenho do modelo federativo brasileiro. Nós
somos o único país do mundo que tem este modelo federativo. E a
Constituição de 1988 aprofundou esse federalismo, aumentando a autonomia
dos Municípios e municipalizando um conjunto de políticas públicas. Nós
somos o único país do mundo que tem o sistema de saúde descentralizado por
município. As experiências europeias de descentralização são de
descentralizações administrativas e financeiras. Nós fizemos a
descentralização administrativa, financeira e política para os
Municípios.
Então,
qual é o grande problema desse processo da coincidência de mandatos de
políticas públicas? Quando os Municípios estão se organizando, depois das
eleições municipais — em 2 anos eles ainda estão se organizando —, a União
e os Estados entram em eleição. Quando o Ministério da Saúde está se
organizando, desenhando suas políticas públicas, os Municípios entram em
eleição. Do ponto de vista da continuidade de políticas públicas, isso é
um desastre. Nós somos o único país do mundo que tem a descentralização
política, administrativa e financeira para os
Municípios.
Vou
falar sobre o modelo europeu, o desenho europeu. Primeiro, são sistemas
unitários. A França é dividida em 26 departamentos: 22 departamentos no
continente e 4 nas ilhas. A descentralização da saúde e da educação na
França é administrativa e financeira, porque o Estado é unitário e não tem
descentralização política. Se considerarmos a Espanha, o país está
dividido em 17 comunidades autônomas. Cada comunidade autônoma —
Catalunha, Andaluzia, Madri — tem sua autonomia no âmbito da província. Em
qualquer cidade espanhola, como Barcelona, por exemplo, o Secretário de
Saúde não gerencia nem um centro de saúde sequer, porque a atribuição é da
Catalunha. Então, a descentralização é no âmbito da província. No Canadá,
ocorre o mesmo. Nas dez províncias canadenses — a centralização está na
província de Quebec —, o plus
para a saúde e para a educação é administrativa e financeira, mas não é
política, porque a política está centrada na província de Quebec.
Nós
fizemos um monstro de duas cabeças, de certa forma, em algumas políticas.
Há muito poder concentrado na União, que faz a arrecadação e seu processo
redistributivo; muito poder nos Municípios, que têm a descentralização
política, administrativa e financeira; e, muitas vezes, pouco poder nos
Estados. É o contrário do modelo americano, onde há muito poder nos
Estados, havendo relativamente na união e nas cidades americanas. Nestas,
isso é relativo porque eles não têm o conceito de município que temos
aqui.
Então,
nós precisamos discutir esse tema da coincidência de mandatos à luz da
questão do desenho de políticas públicas interfederativas. O que vai
contribuir mais para a continuidade e o alinhamento interfederativo de
políticas intersetoriais e setoriais? Com o impacto dessas políticas que
vão acontecer nos Municípios, se não tivermos um alinhamento estratégico
na saúde, na educação, entre o que está sendo concebido em Brasília e o
que está sendo pensado e o que vai ser executado na ponta, nunca nós vamos
ter a potencialidade. Há muito retrabalho, há muito desperdício de energia
e não há esse alinhamento necessário.
Está
aqui o Secretário Pestana, que foi Secretário de Saúde de Minas Gerais e
foi Presidente do CONASA, que deve ter vivenciado isso. Isso é uma
vivência.
Então, nós temos que pensar no que a eleição geral vai
potencializar no conjunto das políticas públicas nos
Municípios.
Esse
não é um debate ainda no PT. Não há um consenso sobre isso. Nós ainda
estamos discutindo isso, debatendo sobre isso. Mas, à luz da minha
vivência como Secretário Municipal e depois de ter estado no Ministério da
Saúde, eu estou convencido de que o alinhamento de eleições gerais para as
políticas públicas é o melhor cenário.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Passo a palavra ao Sr. Gilson Conzatti para suas
considerações finais.
O
SR. GILSON CONZATTI -
Sr. Presidente, Deputado Rodrigo Maia, Srs. Deputados, eu quero fazer
algumas considerações sobre as manifestações.
Sistema
eleitoral e financiamento de campanha é primordial. Confesso que os
Vereadores ainda têm dúvidas em entender bem qual é o caminho que se vai
tomar, até porque nós também temos pesquisa e esta está praticamente
empatada.
Quero
colocar aqui de novo a unificação das eleições. Nós somos favoráveis, com
mandato de 5 anos, assim como ao fim das coligações proporcionais. Somos
contra o voto facultativo. Somos favoráveis à cláusula de barreira,
limitadora da criação de novos partidos. Não às
candidaturas avulsas. Somos favoráveis à fidelidade partidária com a
janela de 6 meses, como está na PEC 352.
Mas
eu fui aqui induzido pelo Deputado Esperidião Amin, quando eu disse que
nós não concordamos com o mandato-tampão — e aqui o Deputado José Fogaça
colocou muito bem: “Não, não, eu
fui induzido, mas tem a prorrogação” —, daí eu disse: “Sim, então vamos para a
prorrogação”. Mas a ideia da minha tese, defendida aqui, é “não à eleição com
mandato-tampão”, ou seja, nós não concordamos com a eleição
2016-2018.
O Deputado Arthur Maia se manifestou favorável. Eu sei que há
outros aqui também favoráveis. Nós temos que repensar isso. Nós não
queremos prorrogação? Então, está bem, não pode, é inconstitucional, mas é
preciso achar uma maneira de não fazer com que o Prefeito vá para uma
campanha e daqui a 2 anos ter que ir de novo. Que tipo de administração
vai fazer? Como vai formar um governo? Isso não existe! No caso do
Vereador, é um pouco mais fácil, mas também é uma eleição
complicada.
Então,
eu faço o apelo à Comissão para repensar essa questão do mandato-tampão
com a eleição. No Brasil, neste momento, não cabe essa questão eleitoral e
o mandato de 2 anos para um Prefeito. Não é viável isso. Não é viável, e
eu sempre coloco isso.
Também
me chama a atenção a manifestação do Deputado Samuel Moreira, que
mencionou Vereadores leiloando apoio, candidatos a Vereador querendo
sobreviver, esperando o Deputado Federal chegar lá à campanha. Até pode
acontecer alguns casos, mas esse é o sistema eleitoral brasileiro. Aí nós
temos que repensar o sistema eleitoral, em como fazê-lo. “Ah, o Vereador é o cabo eleitoral de
luxo. Tenho que ajudar o
Vereador a fazer a minha campanha, depois tenho que ajudar o Vereador na
campanha dele.” Até pode ser, então vamos mudar o sistema eleitoral.
Mas eu quero dizer que o Vereador é muito importante na sociedade, na sua
cidade. Eu sempre digo: “Nós somos
os transformadores da sociedade!”
Sou
Vereador do Município de Iraí, que tem 8 mil habitantes, e já fui, por
dois mandatos, Vereador do Município de Encantado, que tem 23 mil
habitantes. Nós somos importantes, nós transformamos a vida das pessoas,
mas, é claro, na competência do Município. E não somos fundadores, eu
quero deixar isso bem claro. Muitas vezes, o Vereador tem que ajudar, mas
não na totalidade.
Também
apresenta o Deputado Carlos Zarattini a questão do voto distrital.
Imaginem os senhores eu lá, em Iraí, um Município pequenino: “Vamos fazer por distritos”. Não
há como fazê-lo. Para as eleições estaduais e federais ou para os
Municípios grandes, até pode ser. Como disse o Deputado, há dois tipos de
Municípios: uns acima de 200 mil habitantes e outros abaixo, em que as
eleições têm dois turnos. Então, nós defendemos também isto: o sistema
eleitoral tem que ser ou o proporcional ou o chamado distritão, em que o
mais votado elege.
Faço
essa defesa e agradeço à Comissão, ao Presidente Rodrigo Maia e ao
Deputado Marcelo Castro.
Quero
dizer a todos os Deputados que realmente nós queremos fazer um apelo. Não
cometam essabrasileiros:
uma campanha 2
anos de mandato. Mandato-tampão com é
muito complicado. Vamos pensar lá na unificação em 2022, vamos pensar para
frente, mas achar uma forma que não prejudique. Imaginem o custo para o
País também! E aqui, se não me engano, foi o Deputado Afonso Hamm que
colocou sobre a economicidade das eleições. Eu acho que é por aí. Vamos
pensar.
E falo, para encerrar, Srs. Deputados: os são
nos
Estados, porque a população ainda não se deu conta de que vai haver uma
.
se
você pergunta, ela nem acredita que vai existir a reforma