DEPARTAMENTO
DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO
DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO
SEM REVISÃO
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COMISSÃO
ESPECIAL - PEC 182/07 - REFORMA
POLÍTICA |
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EVENTO:
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REUNIÃO
Nº: 0043/15 |
DATA:
10/03/2015 |
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LOCAL:
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INÍCIO:
10h25min |
TÉRMINO:
12h49min |
PÁGINAS:
52 |
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DEPOENTE/CONVIDADO
- QUALIFICAÇÃO |
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TEXTO
SEM REVISÃO. APENAS PARA
CONSULTA. |
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Declaro aberta a 6ª reunião da Comissão
Especial destinada a proferir parecer à Proposta de Emenda Constitucional
nº 182, de 2007, do Senado Federal e apensados.
Encontra-se à disposição dos Srs. Deputados cópias das atas das 3ª,
4ª e 5ª reuniões.
Pergunto se há necessidade da leitura das referidas atas.
O SR. DEPUTADO AFONSO HAMM
- Peço a dispensa da leitura da ata presente.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Dispensada a leitura da ata.
Em discussão.
Não havendo quem queira discuti-las, em votação.
Aprovadas.
Daremos início à reunião de audiência pública, atendendo a
Requerimento nº 7, de 2015, de autoria do Deputado Padre João.
Convido-o a tomar assento à mesa.
Já está à mesa o Sr. Eugênio José Guilherme de Aragão,
vice-Procurador-Geral Eleitoral do Ministério
Público.
Peço a atenção de todos para as seguintes orientações:
Esta é uma audiência pública interativa. A sociedade civil poderá
participar com sugestões e questionamentos pelo endereço
e-Democracia.Camara.gov.br. Os Deputados poderão acompanhar as sugestões e
perguntas por celulares e tablets.
Na fase dos debates, os Deputados poderão direcionar as sugestões e
questionamentos aos convidados.
Ao final da reunião, todas as sugestões recebidas serão entregues
ao Relator, Deputado Marcelo Castro.
Quanto ao tempo de exposição e debate, solicito a compreensão de
todos no tocante ao tempo de exposição dos debates, conforme as seguintes
orientações: o tempo concedido ao palestrante será de 20 minutos. Os
Deputados interessados em interpelar o palestrante deverão se inscrever
previamente junto à Secretaria. As perguntas deverão ser feitas ao final
da (ininteligível) e deverão
restringir-se ao assunto da exposição formuladas no prazo de 3 minutos,
dispondo o palestrante de igual tempo.
Aos Deputados são facultadas a réplica e a tréplica pelo mesmo
prazo.
Feitos os esclarecimentos, daremos início à audiência.
Convido o Sr. Eugênio Aragão para fazer sua exposição.
O SR. EUGÊNIO JOSÉ
GUILHERME DE ARAGÃO - Sr. Presidente, agradeço a deferência desta
Comissão em convidar o Ministério Público Eleitoral para aqui colocar sua
posição a respeito da reforma política.
Em nome de V.Exa. cumprimento todos os Parlamentares presentes e as
demais autoridades.
Minhas senhoras, meus senhores, é com grande satisfação que venho
aqui expor algumas ideias a respeito da reforma política que temos
discutido internamente na equipe do Ministério Público Eleitoral.
A opção por uma reforma política que se faça pela via da emenda
constitucional é um desafio muito grande, porque um tema central como esse
para a sociedade brasileira pressupõe que o produto final seja resultado
de um largo consenso dentro da sociedade.
Uma reforma eleitoral feita na base da emenda constitucional deve
pressupor também por isso um largo consenso para que se possa atingir o
quórum de 3/5 de sua aprovação.
Essa discussão, realmente, é processualmente complicada. Vemos com
certa preocupação, no Ministério Público, a enorme polarização política
que nós temos experimentado ao longo do processo eleitoral, que possa
contaminar esse debate ou que possa, vamos dizer, até tornar esses
consensos mais amplos, às vezes, mais difícil do que em épocas mais
tranquilas de convívio na classe política.
De qualquer forma, esse é um problema político. Não é um problema
que eu, como jurista, tenho de enfrentar. A opção foi fazer uma reforma
política por via de emenda constitucional. Portanto, temos de nos ater a
pontos realmente essenciais que possam produzir esse consenso. Não adianta
querer transformar essa reforma constitucional numa panaceia de rever
tudo, porque o procedimento escolhido não vai permitir essa amplitude.
Fosse um procedimento com um quórum mais baixo talvez se pudesse atacar
maior número de problema, mas com esse quórum de emenda constitucional há
que ser uma reforma muito pontual.
Nós temos, no Ministério Público, para nós que a principal
fragilidade da democracia brasileira está na ausência de partidos
políticos programáticos sólidos, com identidade clara e com uma estrutura
de democracia interna transparente. Essa daí talvez seja a maior
fragilidade que nós temos hoje. E me parece que todos os demais problemas
decorrem, no fundo, no fundo, disso, da nossa paisagem partidária caótica,
pouco definida, em que nós temos alguns partidos grandes e outros partidos
pequenos, todos compartilhando a mesma arena, mas com estruturas internas
que não os permitem terem uma solidez muito clara de propósitos. Muito
mais me parece que os partidos são caminhos para garantir a eleição de
alguns atores. Isso realmente torna o resto muito
complicado.
Portanto, parece-me que qualquer reforma política deve se centrar,
em primeiro lugar, em uma reforma partidária. Sem isso, não adianta a
gente falar em reforma de sistema de financiamento, em reforma eleitoral,
se a gente não começar pelos partidos políticos. Democracias sólidas
pressupõem hoje partidos sólidos.
Não é à toa que o art. 5º da Carta Democrática Interamericana, de
2001, diz com todas as letras: “O
fortalecimento dos partidos e de outras organizações políticas é
prioritário para a democracia. Dispensar-se-á atenção especial à
problemática derivada dos altos custos das campanhas eleitorais e ao
estabelecimento de um regime equilibrado e transparente de financiamento
de suas atividades”, art.
5º da Carta Democrática Interamericana. Parece-me que diz tudo do que a
gente está precisando aqui neste momento, é uma síntese
clara.
Somente partidos fortes conseguem conferir transparência ao
financiamento. No momento em que candidatos são levados a colher por si os
recursos para o seu financiamento, acaba o candidato ter o contato com o
dinheiro, com as fontes de financiamento, e isso pode contaminar o
processo. O ideal seria que o candidato não tivesse que se preocupar com
isso, que a estrutura partidária contasse com os meios para garantir um
financiamento equânime de todos aqueles que queiram concorrer, e isso
pressupõe transparência e democracia interna. Ou seja, que realmente os
escolhidos pelo partido para concorrer sejam todos eles igualmente
suportados e financiados por esse partido, que não haja, dentro dos
partidos, candidatos melhores e candidatos piores. Pode até haver, na
medida em que um partido pode, até com transparência, dizer: “Este ou aquele candidato tem maiores
chances de colher votos do que aquele outro. Então, eu vou colocar mais
prioridade nesse candidato que é uma fonte de maiores votos”. Isso é
perfeitamente legítimo, desde que os critérios sejam transparentes, mas
não se pode perder esse princípio do financiamento democrático num
caciquismo, em que alguns dizem quem é que vai receber mais dinheiro e o
outro menos dinheiro e, com isso, criar uma situação de desigualdade
interna dentro do partido.
Então, é fundamental que o partido seja fortalecido para isso, para
ele ser uma estrutura democrática de dar chances a todos, mulheres e
homens que queiram se candidatar, e não permitir que essas pessoas venham
elas a correr por fora, coletando dinheiro. Isso fragiliza o partido e
cria o contato entre o financiador e o candidato, que acaba muitas vezes
contaminando o mandato.
Conheço inúmeras situações de Deputados amigos, pessoas conhecidas
minhas que quebraram financeiramente por causa de uma campanha eleitoral.
Isso não é justo. Não é justo que os recursos pessoais do candidato sejam
levados a uma situação extrema de transferi-lo para a pobreza. E há casos
realmente de políticos que foram para a pobreza, porque usaram os seus
recursos próprios e não têm recursos para pagar suas dívidas de campanha.
Parece-me que o problema central que está por trás disso é a
estrutura partidária fragilizada.
A nossa Constituição fez uma opção muito clara pela centralidade
dos partidos políticos no nosso sistema político. Por quê? Porque a nossa
Constituição determina que ninguém poderá se candidatar a não ser que seja
por via de um partido político. Nós não admitimos no Brasil candidaturas
avulsas. Então me parece que isso é realmente a mens legislatoris. O constituinte
quis isto: que, na centralidade do sistema, esteja o partido. É disso que
nós temos que conversar, parece-me, antes de falar em financiamento e em
qualquer outra coisa, é na centralidade do partido neste sistema político
nosso. Parece-me que é a nossa principal fragilidade.
A Constituição, por outro lado, foi omissa. Ela não ofereceu a nós
nenhum conceito operativo de partido. O que é um partido político? Cada um
de nós pode ter uma ideia completamente do que seja um partido, porque a
Constituição não oferece uma definição normativa. E podem ter com isso
também, vamos dizer, perspectivas distintas, expectativas distintas do que
se espera de um partido.
Se a gente for para o direito comparado, por exemplo, a
Constituição alemã, no art. 21, a lei fundamental alemã é muito clara. O
que ela diz a respeito dos partidos políticos? Os partidos atuam na
formação da vontade política do povo. Isso é fundamental. Então, o papel
principal dos partidos é a formação da vontade política popular. Isso
significa o quê? Que o partido mesmo não é o autor da vontade política. O
partido é um veículo para essa formação. Significa que, se eu sou um
produtor rural, estou preocupado com o financiamento da minha produção e
eu gostaria que houvesse neste País mecanismos mais democráticos e
economicamente mais sustentáveis de financiamento, eu tenho o direito de
escolher um partido que se afine com essas minhas ideias programaticamente
e usar esse partido como veículo, para eu chegar ao resultado final de uma
elaboração de uma agenda necessária para facilitar o financiamento rural.
Esse me parece que é o papel correto dos partidos. É isto o que se
espera deles, não que o partido em si gere as políticas, faça as
políticas. Não, ele leva as políticas para as instâncias que são aquelas
que vão a respeito delas decidir, formar a vontade política popular. É
esse o papel do partido político. E me parece que a gente se perdeu muito
nisso. O papel do partido político é visto por muitos como um veículo para
fazer carreira política. E aí a gente se perde no individualismo.
O aspecto programático acaba a ser de só menos importância. Nós
sabemos hoje que há uma tendência muito grande de troca de partidos no
sistema brasileiro. Um mandatário, se o sistema for completamente aberto,
acha que não tem nada de mais sair de um partido para outro. E realmente
parece que não tem na medida em que o aspecto programático do partido é
absolutamente secundário. O que importa é onde, em que partido, em que
agremiação ele tem mais chance de se reeleger. E me parece que não é essa
finalidade de um partido.
É isso o que eu acho que nós temos que repensar. E aí realmente
todos os ingredientes que fortaleçam o partido, que garantam a
centralidade do papel do partido no financiamento eleitoral e na obra
final que é a empreitada democrática são salutares neste momento. É nisso
que me parece que nós tínhamos que nos concentrar.
Infelizmente, a nossa lei dos partidos trata da criação de partidos
de uma forma um tanto descuidada. Dos 492 mil apoiamentos que são hoje
cobrados de uma agremiação para se registrar como um partido, nós sabemos
que a grande maioria das situações é uma balela, por quê? Porque o
apoiamento é colhido onde? Ele é colhido em praça pública, em ponto de
ônibus, nos supermercados, onde as pessoas estão preocupadas com tudo,
menos com a formação de um partido. O sujeito, muitas vezes, assina aquele
papelucho lá com os seus dados, para se ver livre daquele chato com a
prancheta na mão. A gente sabe que é assim, ao invés de a gente demandar
realmente uma intenção sincera do eleitor de apoiar aquele partido. Então,
me parece que aí o TCU tem sido omisso.
Parece-me que procedimentalmente era muito mais razoável se exigir
que o eleitor se dirigisse à sua zona eleitoral e lá registrasse o seu
apoio à formação daquele partido. Seria muito mais fácil e mais autêntico.
Por quê? Naquela hora o eleitor vai gastar 10, 20 minutos do dia dele para
se concentrar naquela questão,
formação de partido. Aquilo é uma vontade sincera dele. Senão, ele não ia
gastar esse tempo. Ele não ia lá. Lá chegando, ele coloca os seus dados em
um sistema. E pode centralmente já ser verificada a autenticidade daquele
apoio. É muito mais fácil a gente depois, no final, ter os apoios reais e
autenticados, porque ele vai diretamente ao
cartório.
Muitos diriam: “Ah, mas isso
vai demorar muito mais tempo. É muito mais difícil conseguir isso.”.
Claro que é. Mas quem disse que criar partido deve ser uma coisa fácil.
Não deve ser fácil não. O partido é uma instituição que é essencial à
formação da vontade política. Ele
precisa ser uma instituição perene. Uma instituição perene não se cria num
estalar de dedos. Não se facilita a criação dele com coleta de assinaturas
a rodo, em um final de semana, no Parque da Cidade, entre as pessoas que
estão andando de skate.
Parece-me que é uma questão muito mais séria do que
isso.
Então, fazer campanhas para chamar as pessoas para irem a seus
cartórios e darem seu apoio à formação daquele partido, e também a Justiça
Eleitoral ter um papel mais claro em convocar as pessoas... Seja um
eleitor pleno, também contribua para a formação dos seus partidos
políticos, trabalhe para isso.
É uma coisa impressionante. Eu conheci bem a paisagem política
alemã. Na Alemanha, os grandes partidos, como o SPD, o CDU, têm um número
de pessoas, que eles chamam de (ininteligível), com o livrinho do
partido, com a carteirinha do partido, um número expressivo. São milhões
de pessoas que são inscritas no partido. Isso faz parte. Muitas vezes,
você vê famílias inteiras, desde o pai, o avô, o filho, todo mundo sempre
apoiou aquele partido, faz parte da tradição daquela família. O partido é
isso, ele deve representar realmente a expressão da
sociedade.
Então, não dá para a gente criar um partido a toque de caixa só
porque precisamos de um partido novo para facilitar a migração de
mandatários para uma nova agremiação sem perder os seus mandatos, o que
hoje está acontecendo. Parece-me que isso vai na contramão da consolidação
democrática do País. Então, partido é uma coisa séria. E nós temos que
tratar nossa paisagem partidária com muito carinho. Parece-me que todos os
outros problemas que nós vamos apontar agora rapidamente são decorrentes
disso.
Eu passo para o problema do financiamento eleitoral. O
financiamento eleitoral hoje é pouco transparente. Por quê? Porque o
financiamento eleitoral é pulverizado. A gente não sabe quem é que está
buscando dinheiro de quem. Não é isso?
A prestação de contas dos partidos e a das campanhas eleitorais já
estão muito melhores, é verdade, do que eram alguns anos antes. Mas nós
sabemos quantas portas existem de escapatória para sair do sistema. Nenhum
sistema de prestação de contas é tão fechado que possa apreender as
inúmeras possibilidades de escapar das suas exigências. E existe uma
natural tendência do político de querer escapar disso, porque o sistema é
muito exigente.
Não quero, vamos dizer, me entreter nisso, porque me parece que
essa é uma questão lateral, talvez fosse para uma Constituinte, e não para
uma reforma política pontual, mas me parece que nisso daí temos uma grande
culpa da própria estrutura da Justiça Eleitoral.
Eu tenho para mim — posso até estar falando algo que possa soar
para alguns como heresia — que
a Justiça Eleitoral do jeito
que temos no Brasil hoje é um
constructo autoritário. Não é a toa que foi criado pouco antes do Estado Novo, fortalecido nele e
depois fortalecido durante o regime militar. É um construto autoritário,
porque ele realmente controla o político a partir de uma estrutura
burocrática, não representativa. As grandes democracias não têm justiça
eleitoral. Elas têm comissões eleitorais e são formadas paritariamente por
todos os atores que participam do processo. Por que um Juiz, que nunca fez
parte desse processo político, vai decidir melhor uma questão eleitoral do
que um político que esteja ali, vigiado por seus pares, numa comissão
paritária? Todas as democracias modernas têm comissões paritárias para
regular eleições. Não tem Justiça Eleitoral.
A Justiça Eleitoral é um construto autoritário. Está na hora de a
gente pensar seriamente nisso. Aliás, é uma estrutura, diga-se de
passagem, completamente fora de seu tempo. Como é que, em Roraima, nós
temos sete Juízes no TRE e, em São Paulo, também? No mínimo, São Paulo
deveria ter alguns TREs para dar conta do recado. Ele acaba tendo a mesma
estrutura de Roraima e do Amapá.
Então, não faz sentido. Essa é uma estrutura, me parece, que está
superada. Num outro momento — parece-me que essa reforma não tem tamanho
para isso —, ela terá de ser repensada. A Justiça Eleitoral, porque é
autoritária, trabalha no viés da proibição, no viés da criminalização da
política. É com isso que nós temos de parar. Existem crimes eleitorais?
Existem, a fraude eleitoral, por
exemplo. Por que a Justiça Criminal não deve ser capaz de lidar com
isso? Por que tem que ter uma justiça especializada, que expõe muito mais
o ator político do que uma justiça comum? Quando se tem uma justiça
especializada, o foco é outro. Você olha para o político como um potencial
criminoso.
Então, parece-me que essas são questões que nós temos de repensar,
mas bom isso, aqui, a
latere.
Voltemos
ao que nos interessa que é a questão do financiamento. O financiamento
brasileiro tem alguns gargalos. O principal deles é o tamanho do nosso
território. Nós sabemos que o político, para se eleger, tem de fazer muita
viagem. Vai para cima e para baixo. Aluga avião particular. Não é isso? O
custo de locomoção é enorme. O custo de agregar pessoas que vêm de
diversos rincões é muito grande. Precisa de algum motivo para isso, fazer
um churrasco, alguma coisa que chame essas pessoas, porque o território é
enorme. Então, isso é custo. Território grande custo.
Quando nós temos um custo muito grande, a primeira pergunta é: quem
vai pagar o custo desse território enorme? A iniciativa privada? É o que
tem sido até hoje, e a experiência do custeio privado das eleições não tem
sido boa. Não tem sido boa, porque esse custeio privado admite que
interesses, muitas vezes pouco claros, muitas vezes não muito kosher — não é isso? — enfestem a
eleição. Muitas vezes, uma empresa vai financiar um candidato, porque ela
espera algo do candidato, se ele se eleger. Claro, ninguém está aí para
fazer bondades.
Então, espera-se algo em troca. E se isso é para um cargo
majoritário de Governo, é claro que espera contratos vantajosos que venham
compensar largamente o investimento feito no político. Bom, é assim que
funciona o sistema capitalista. Ninguém vai conseguir convencer os seus
sócios ou os seus acionistas a dar dinheiro para um político se isso não
trouxer vantagem para o acionista ou para o sócio. Faz parte.
Então, você acaba contaminando a campanha com o lucro da economia
capitalista. Me parece que você está misturando as coisas. Não que eu
entenda que a empresa não possa participar porque ela não tem legitimidade
em si.
Se uma empresa fosse financiar um candidato, outro candidato,
porque tem afinidade com um partido e sua agenda, espera, sinceramente,
que alguns projetos de interesse da empresa sejam levados através daquele
partido sem que, com isso, se esteja condicionando ou fazendo algum tipo
de corrupção indireta do agente político. Mas não. Legitimamente,
canalizando seu interesse através da eleição para aquele objetivo final,
que é obter algum projeto. Se todos nós fossemos carmelitas de pés
descalços e esta fosse uma prática corrente das empresas, não teria nada
demais. O fato de a empresa não votar é um argumento xucro para mim. Se a
empresa não votar, não pode financiar. Não. O fato de a empresa não votar
não deixa de mantê-la no espectro político. A empresa tem interesses
políticos sim. E legítimos interesses políticos de sobrevivência econômica
e do seu setor. Isso não tem nada de errado, mas depende de como ela
traduz essa prática — se ela traduz essa prática no toma lá dá cá, dizendo
“eu vou comprar um político”,
ou se ela simplesmente diz que vai fortalecer um partido... Por exemplo, a
indústria alemã tradicionalmente centrava no partido liberal alemão. Seus
financiamentos iam para o partido liberal. Os sindicatos, por sua vez,
todos deles, financiavam o SBD, o Partido Social Democrata. Ninguém está
dizendo que isso é errado. O eleitor deve se questionar sim: “Ué! Esse candidato aqui só teve
financiamento daquela empresa? O que ele tem com aquela empresa?” Isso
pega mal para o candidato. Então, isso em si não está errado. Agora, nós
sabemos que na nossa prática isso não tem sido a regra. Na nossa prática,
o financiamento de campanhas por empresas tem levado ao toma lá dá cá.
Parece-me que, por isso, não é desrazoável a gente pensar no afastamento
do financiamento privado de campanha. Ou pelo menos por parte de as
empresas deixarem para o indivíduo até certa quantidade do percentual da
campanha eleitoral, ou seja, dos custos. E essencialmente que se admita. A
população tem que aceitar isso. Campanha e democracia custam dinheiro. O
poder público vai ter que financiá-la. A verdade é que as eleições
passadas custaram mais de 1 bilhão de reais para a União, se levarmos em
consideração os 800 milhões de reais que foram para o efeito da propaganda
dita gratuita. O poder público paga aquela propaganda gratuita por meio de
isenções fiscais e compensações fiscais. Então, a propaganda só é gratuita
para o candidato. Não é gratuita para o contribuinte. Então, nós já temos
hoje uma campanha eleitoral que custou aos cofres públicos mais de 1
bilhão de reais. Então, tudo é uma questão de a gente começar a começar a
criar proporções mais claras nesses gastos. Mas me parece que o
financiamento público é uma boa proposta hoje. Não sei se é a única, mas
pelo menos é como eu vejo. É claro que existe o risco de, mesmo com o
financiamento público, partidos e pessoas se utilizarem do financiamento
privado por via de determinados caminhos pouco claros. Por exemplo, uma
empresa pode perfeitamente pagar para um candidato, um ano antes da
eleição, um tremendo contrato de consultoria, fazendo com que esse recurso
que ele vai investir na sua campanha integre o seu patrimônio. E a
legislação eleitoral atual permite que o candidato use ilimitadamente seu
patrimônio próprio no financiamento da sua campanha. Então, parece-me que
não é somente proibir o financiamento privado. Temos que fechar outras
portas também, senão fatalmente o financiamento irá pela via do
financiamento privado do candidato. O ideal por isso mesmo, e volto a
dizer, é o fortalecimento da estrutura partidária, fazendo com que o
partido concentre todas as finanças das campanhas. Esse tipo de caminho
elisivo desaparece. Agora, nós temos que garantir. É democracia interna no
partido. A democracia interna no partido significa que o partido é
obrigado a distribuir os recursos de forma equânime ou através de
critérios transparentes e discutidos. Como eu falei para os senhores, sim,
é legítimo que financie melhor um candidato do que o outro desde que
aquele candidato tenha mais chances de arrecadar votos para o partido que
outros. É razoável. Mas isso tem que ficar claro, isso tem que ficar
claro.
E, por isso mesmo, eu sei que hoje aqui, só para terminar, Sr.
Presidente, é uma polêmica, que está aqui, me parece que, infelizmente, o
distritão, por mais apoio que possa ter, ele não é a melhor solução para
fortalecer partidos. O distritão dispensa o partido em nome da figura de
proa de um candidato. Na verdade, ele enfraquece o partido. O que
fortalece o partido, hoje, é o voto em lista. Ou seja, o partido
estabelece, na sua convenção, a lista dos seus candidatos por uma ordem de
prioridade a partir das chances que cada um tem, da sua popularidade,
feito através de institutos de pesquisa, o que seja; e, a partir dessa
lista, então, o partido vai colocar x candidatos, até certo ponto dessa
lista, dentro do grêmio parlamentar. Não é isso? Parece-me que isso
fortalece o partido, porque o eleitor passa a ser obrigado a votar num
partido, o partido passa a ter uma cara, uma identidade e é isso o que nós
temos que fortalecer hoje.
O distritão, infelizmente, não tem essa consequência. O distritão
hoje, ele faz desaparecer a importância do partido, o partido passa a ser
um detalhe, o importante é o candidato. E o distritão também, ele não
diminui o custo da campanha, em absolutamente nada; ao contrário, na
verdade, ele pulveriza mais ainda o financiamento partidário. Então, é
tudo o que a gente não gostaria de ter aqui para fortalecer realmente,
vamos dizer, a estrutura de partidos e ter transparência no financiamento
das campanhas. Agora, para diminuir custo, o voto
distrital
é uma grande ajuda. Eu estive agora, há pouco, no Reino Unido e tive
reunião com algumas autoridades, inclusive com a Comissão Eleitoral do
Reino Unido. No Reino Unido, cada candidato tem direito a arrecadar
recursos. Mas os recursos que eles podem arrecadar é até o montante de 45
mil libras, ponto. Quarenta e cinco mil libras, isso hoje dá mais ou menos
220 mil reais. É o que cada candidato pode arrecadar hoje; os partidos,
por sua vez, em cada distrito, podem arrecadar até 200 mil libras. É o
limite de financiamento nos distritos. A vantagem do distrito eleitoral é
que, aquilo que eles chamam de constituency o eleitorado, ele é
muito mais limitado. O custo da campanha é menor. As pessoas já se
conhecem. Inclusive, se um candidato fizer alguma coisa errada, aquilo vai
que nem fogo de palha, corre a notícia. Então, o distrito tem esta
vantagem: ele diminui enormemente o custo da campanha, porque o candidato
vai se concentrar naquele distrito. O voto distrital, com o voto em lista
junto, me parece, hoje, para enfrentar os problemas que nós temos, no
Brasil, ser a solução ideal, com financiamento público de preferência,
porque nós sabemos dos riscos e das contaminações das candidaturas através
do dinheiro privado.
Ao mesmo tempo, é interessante isso o que eu achei no Reino Unido.
No Reino Unido, é interessante que as empresas podem contribuir
ilimitadamente. Teoricamente, um candidato pode obter os seus 45 mil de
uma única empresa, financiá-lo, só que o eleitorado vai querer dizer “Mas, espera aí, como é que é isso,
esse candidato Coca-Cola, ele é 100% financiado pela Coca-Cola? Então, esse cara não é um candidato,
esse cara é um agente da Coca-Cola!”, e ele não é eleito, porque, num
distrito desse tamanho, todo mundo fica sabendo. É claro que ele, pelo
menos, vai ter que colher um dinheiro plural, não adianta ele querer pegar
dinheiro de uma fonte só, mas teoricamente é possível. Nós temos essa coisa dos 10% da
renda do exercício anterior, se for pessoa física e 5% do faturamento. Na
verdade, a gente sabe que essas...Hoje, a jurisprudência do TSE ficou tão
flexível que permite a correção pela empresa do seu imposto de renda.
Depois, se for verificado que ele estourou o Imposto de Renda, faz uma
retificadora, aquilo o Tribunal (ininteligível): Agora está tudo
bem.
Então, passou simplesmente a ser uma questão atuarial, a questão
dos 5%. E isso não facilita as coisas.
Parece-me que hoje nós temos este problema: a forma extremamente
liberal, leniente com que a justiça eleitoral tem tratado a questão
partidária, a formação dos partidos, misturado com a pouca consistência
das regras que são essencialmente repressivas. A justiça eleitoral tem a
prática de regras repressivas. E não me parece que isso é
bom.
Por exemplo: uma das coisas que eu sempre coloco em xeque, por que
essa questão de proibição de campanha antes do
tempo?
Afinal de contas, tudo bem! No regime militar em que fazer política
tinha hora certa: Oh! Você vai estar liberado para falar de tantas a
tantas horas. Isso fazia sentido. Mas no regime democrático, não tem
problema nenhum de hoje alguém querer falar sobre a sua perspectiva de
reeleição em 2018. Qual é o problema para a democracia, sinceramente? O
que significa isso, a chamada campanha antecipada? Desde que, claro, isso
corra pelos partidos políticos e os recursos sejam transparentes. Todo
mundo saiba o que está acontecendo, e os recursos sejam os recursos
públicos. Mas não tem nada de errado alguém querer fazer campanha antes da
hora. Se estiver fazendo dentro de um contexto de igualdade de
chances.
Então, parece-me que, só para resumir, então, Sr. Presidente, o
nosso problema essencial está na paisagem partidária. Essa tem que ser
pensada. E essa questão partidária é que leva fatalmente a todos os
desvios nas práticas de financiamento.
E não custa nada tematizar e pensar para um futuro a própria
viabilidade democrática de uma justiça eleitoral.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Eu vou informar aos Deputados e Deputadas
que eu vou dar 4 minutos para cada um de pronunciar. Depois de 4 minutos
vou cortar a palavra, porque senão a gente não...
Vamos começar pelo Deputado Henrique Fontana.
O SR. DEPUTADO HENRIQUE
FONTANA - Sr. Presidente, quero cumprimenta-lo, cumprimentar o nosso
Relator Marcelo Castro, Deputado Rubens Otoni e o nosso convidado de hoje
para este debate e reflexão da nossa Comissão, Vice-Procurador-Geral
Eleitoral Ministério Público Eleitoral, Eugênio José Guilherme de Aragão e
os colegas Parlamentares.
Nós aqui hoje, eu vinha entrando no corredor e vi que ao mesmo
tempo se realiza uma sessão plenária da CPI, mais uma CPI nesta Casa, e a
sessão de debate da nossa Comissão de Reforma
Política.
Eu, como a minha formação é Medicina, eu sou médico-geral
comunitário, eu sempre valorizei muito todos os atos de educação e
prevenção em saúde, sob pena de que se eles não forem aplicados o sistema
de saúde pode triplicar o seu orçamento e ele nunca vai conseguir
resolver, de fato, o problema de saúde pública, geral, da
população.
E nós temos essa responsabilidade. Nós temos a oportunidade de
proporcionar uma mudança estrutural para a política brasileira, que
diminua profundamente a necessidade de realização de novas CPIs, pelo
menos no que tange ao debate dos temas que envolvem corrupção, que
obviamente não tem como única causa o financiamento eleitoral, mas tem
como causa estrutural o financiamento eleitoral.
E eu nesta Comissão vou conversar muito com os colegas, porque eu
quero conquistar uma maioria aqui. É o papel de cada um de nós, tentar com
os argumentos conquistar uma maioria para cada um dos itens que nós
queremos ver votados, com argumentos, com
convencimentos.
E em 4 minutos a gente sempre escolhe uma coisa só para falar. E a
coisa que eu quero falar hoje de novo, dentro dessas prioridades que foram
colocadas, é pedir a reflexão dos colegas sobre o tema financiamento
eleitoral.
Algumas perguntas: qual a vantagem para uma democracia, para uma
sociedade, de empresa financiar eleições. Qual a vantagem comparativa com
outros métodos de financiar eleições que teria um sistema como o nosso,
que amplifica o papel das empresas no financiamento eleitoral?
Segunda pergunta que eu me faço, todos nós nos fazemos: qual a
vantagem de ter um sistema em que o céu seja o limite, em termos de gastos
eleitorais? Porque, se nós criarmos um teto para cada nível de eleição —
ou seja, candidato a Governador no Estado “x” pode gastar no máximo “y”;
candidato a Deputado Federal, qualquer que seja o sistema eleitoral, no
Estado “z”, pode gastar, no máximo, “x”, obviamente levando-se em conta o
tamanho dos Estados, números de eleitores, etc. —, esse teto é que
permitirá que todos nós nos sintamos seguros de fazer uma campanha mais
barata, porque hoje nós vivemos a chamada corrida do ouro: o nosso
adversário, de repente arrecadou três vezes mais do que nós, e nós temos
que correr atrás de mais dinheiro, porque o dinheiro decide boa parte da
eleição. E o teto permitirá que todos nós nos acompanhemos, que, se todo
mundo está sob o mesmo teto de gastos, não é possível que alguém possa
aparecer na rua com cinco mil placas, em todas as cidades, e o outro
candidato não tenha dinheiro, porque o material custa o mesmo para todo
mundo. Então, isso facilita a fiscalização do processo eleitoral no que
diz respeito ao abuso do poder econômico.
E eu concluo, respeitando aqui a regra correta que o nosso
Presidente está tentando trazer para todos nós, dizendo que além de outros
problemas — digo isso ao nosso Procurador, que trouxe informações muito
preciosas, o ponto de vista de quem conhece muito o sistema eleitoral —,
não é o problema que a empresa não tem o direito de votar; o problema é
que o direito de fazer fluir o nosso conjunto de ideias tem que ser
tratado em igualdade de condições por todos. Então, não é possível que eu
queira fazer fluir uma ideia, defender uma ideia, e eu tenha a
possibilidade de falar, de participar de reuniões, como cidadão, de ir à
associação de bairro do meu bairro, e o meu voto... E um outro tomador de
decisões,...
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Deputado...
O SR. DEPUTADO HENRIQUE
FONTANA - ... que é o diretor de relações institucionais — é a última
frase, Sr. Presidente — de uma grande financiadora de eleições, tem a sua
a sua opinião, o direito de falar, e mais 100 milhões para destinar para
quem ele queira, em listas fechadas, que não têm nenhum republicanismo, e,
obviamente, nenhum critério equitativo.
Esse, no meu ponto de vista, é o
argumento fundamental para retirar as empresas do financiamento eleitoral.
E é isso o que nós vamos continuar debatendo. E eu quero conversar muito
com cada um dos colegas, com o nosso Relator, para que nós consigamos sair
desta Comissão com esse avanço, além de outros, para o nosso sistema
eleitoral.
O
SR. PRESIDENTE (Deputado
Rodrigo Maia) - Vai ganhar o meu voto, Governador Espiridião, quem
conseguir falar nos quatro minutos as suas teses.
O
SR. DEPUTADO ESPERIDIÃO AMIN -
Então, eu vou ganhar o voto. (Risos.)
O
SR. PRESIDENTE (Deputado
Rodrigo Maia) - Deputado Rubens Otoni.
O
SR. DEPUTADO RUBENS OTONI -
Nossa saudação ao nosso Presidente; ao nosso Relator, Deputado Marcelo
Castro; e, de maneira especial, ao nosso convidado, Dr. Eugênio, que hoje
nos traz aqui uma colaboração importante neste debate. Cumprimento as
Sras. Deputadas e os Srs. Deputados.
O
Dr. Eugênio traz aqui uma reflexão hoje, nesta manhã, importante, quando
ele joga luz sobre o debate do fortalecimento dos partidos. E diz(?) que o
fortalecimento dos partidos está no centro dessa discussão do
aperfeiçoamento do nosso sistema eleitoral, e, mais do que isso, o
fortalecimento dos partidos é essencial para que, no nosso sistema,
possamos superar uma série de debilidades que nós temos enfrentado no
nosso dia a dia.
O
Deputado Henrique Fontana levantou um ponto que eu também prezo muito: é a
questão do financiamento das campanhas e quais as alternativas que nós
teremos de busca de superação para diminuir a influência do poder
econômico na escolha de nossos representantes. Isso, para mim, parece-me
central, mesmo.
Mas
eu queria aqui apenas deixar para o Dr. Eugênio — tento aproveitar a
presença dele aqui — que, nessa essência do debate do fortalecimento dos
partidos, qual é a reflexão que ele faz e o entendimento que ele tem a
respeito das coligações proporcionais. Qual o impacto que isso tem, ou não
tem, na questão do fortalecimento dos partidos e a influência nesse
sistema que nós estamos buscando.
Então, aproveito a presença dele aqui para que ele possa, nesse
ponto, também, dar a sua contribuição, jogar luz sobre este
debate.
O SR. DEPUTADO ESPERIDIÃO
AMIN - Ganhou o voto.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Ganhou o voto.
Com a palavra o Deputado Daniel Almeida.
O SR. DEPUTADO DANIEL
ALMEIDA - Sr. Presidente; nobre Relator; Sr. Eugênio, nosso convidado,
eu também queria externar a alegria de ouvir, porque compartilho desse
sentimento do diagnóstico a respeito do papel dos partidos políticos, e do
desafio de fortalecer as instituições políticas, os partidos políticos no
nosso País.
E
eu fico muito à vontade porque sou membro de um partido que completa
agora, no dia 25 de março, 93 anos de existência. É uma corrente de
pensamento, de organização e de ideologia identificada na sociedade
brasileira. Eu tenho uma única filiação partidária na minha vida, desde
1981. Eu nunca pertenci a nenhuma outra organização partidária, e não
pretendo, jamais, afastar-me daquilo que acredito como caminho para a
atividade política do ponto de vista ideológico, programático e orgânico.
Mas isso é quase exceção, e eu não quero fazer nenhum juízo sobre nenhuma
outra organização partidária, mas não faz parte da regra do funcionamento
político-partidário no nosso País.
Portanto,
é fato: nós devemos fazer um esforço permanente de fortalecer os partidos
— ideologicamente, programaticamente, organicamente. E isso precisa
evoluir na expressão política, na disputa dos espaços eleitorais. O
problema é como fazer isso, qual é a realidade, como avançar olhando a
realidade objetiva. Eu defendo o financiamento exclusivamente público de
campanha. Defendo lista preordenada. Acho que lista preordenada com voto
distrital, no modelo clássico, não tem como existir. O distritão, na minha
opinião, é isso que o nosso convidado expressou, é a destruição das
organizações partidárias. Qualquer um que queira ser candidato e que
imagina que pode alcançar o número suficiente para ser eleito não precisa
de nenhum... Em qualquer partido ele vai encontrar espaço para fazer a
disputa.
No
entanto, não imagino que seja possível, e nem o caminho adequado,
estabelecer mecanismos restritivos da liberdade de organização partidária
para fortalecer partidos apenas do ponto de vista numérico. São várias as
correntes de opinião, vários os perfis de composição da nossa sociedade, e
cabe ao eleitor... Claro, estabelecendo condições transparentes,
democráticas, no funcionamento das direções partidárias e na organização
dos partidos, na própria formação dos partidos, mas não estabelecendo
certas condições, a ideia de cláusulas, cláusula de barreira, etc. Acho
que temos que fazer um debate mais aprofundado. Isso acaba ferindo um
princípio, que alguns afirmam ser cláusula pétrea de nossa Constituição,
que é a livre associação, a livre filiação e a livre associação entre
pessoas e entidades, instituições.
Mas queria dizer, concluindo, nobre Presidente, que me parece que
não é possível avançar naquilo que eu imagino. Nenhuma reforma vai avançar
de acordo com a cabeça de cada um de nós. O que é possível? Acho que é
possível avançarmos no sistema eleitoral, mas principalmente no modelo de
financiamento. Parece-me que esse aí, nas condições do Brasil hoje, é o
principal elemento perturbador, destruidor desse processo político que
está em curso. Esse, na minha opinião, é o elemento central. Retirar o
financiamento empresarial, nas condições de hoje, do debate que, no País,
se faz hoje, me parece algo absolutamente essencial. Se não pode ser o
financiamento exclusivamente público, que tenha limite para o
financiamento individual, do cidadão.
Por isso, eu me associo, para concluir, à proposição defendida pela
coalizão, liderada pela OAB, CNBB: de financiamento público combinado com
financiamento pessoal, privado, pessoa física no limite que eles defendem,
de 700 reais. Poderia ser em torno de um valor nessa
dimensão.
Agradeço ao nobre convidado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Com a palavra o Deputado Odorico
Monteiro.
O SR. DEPUTADO ODORICO
MONTEIRO - Quero saudar o Presidente, o nosso Relator Rubens Bueno e o
nosso Vice-Procurador, Dr. Eugênio Aragão, e parabenizar os que trazem
aqui uma luz importante.
Mas, Sr. Presidente, queria também aproveitar este momento para dar
um informe da audiência que nós tivemos lá em Fortaleza, no Ceará, uma
audiência descentralizada, uma das primeiras por orientação desta
Comissão, e também dar o depoimento da importância que foi a presença do
nosso Relator Marcelo Castro lá. Tivemos lá a presença de vários
Parlamentares, prefeitos, lideranças da sociedade civil. Enfim, acho que
foi um momento muito importante para a descentralização desse debate, que
nós precisamos fazer com a sociedade brasileira.
Eu queria dizer que uma das coisas que me chamou a atenção lá,
depois do nosso Relator Marcelo Castro, foi a satisfação das pessoas com a
tese defendida pelo nosso Relator, que é a mesma tese defendida aqui pelo
Dr. Eugênio Aragão, ou seja, a necessidade do fortalecimento dos partidos
políticos. Isso me parece uma coisa extremamente
importante.
Nós temos uma equação extremamente danosa na política: a conjugação
de você ter campanha totalmente individualizada, o enfraquecimento dos
partidos no processo eleitoral e o fato de você ter o financiamento
empresarial quase que hegemônico no processo eleitoral. Eu fico muito
feliz por estarmos começando a construção de um consenso aqui na Casa
neste sentido: de que a nossa equação tem de apontar nessa
perspectiva.
Eu queria colocar aqui para o nosso Vice-Procurador algumas
questões importantes: primeiro, eu acho que essa questão do distritão,
trazida pelo Vice-Procurador, é extremamente importante. É muito sedutor,
às vezes, essa ideia de que vai resolver o problema, mas não vai. Pode
ser, digamos, uma pegadinha desse processo.
Nós estamos falando também de um país continental, como o nosso,
extremamente desigual, com desigualdades do ponto de vista da sociedade,
com 200 milhões de habitantes, com um pacto federativo único no mundo. Nós
somos o único País que tem esse modelo interfederativo. Temos que eleger
5.570 prefeitos, 27 governadores, num País continental e desigual, com
eleições que não estão casadas. Isso causa um dano enorme na construção
das políticas públicas!
Então, nós temos que pensar na perspectiva de eleições gerais. Só
sabe o que é isso quem é Secretário Municipal do pequeno Município ou
prefeito, porque quando ele está começando a organizar as coisas, vêm
eleições para os Executivos Federal e Estaduais. Quando o Executivo aqui
está se organizando, vêm eleições municipais, num País em que nós temos de
fazer um alinhamento interfederativo de políticas públicas importantes
como saúde e educação.
Só para concluir, eu já estou convencido de que esta questão da
reforma política é uma dívida que a Constituição de 1988 deixou para este
País, porque nós não fizemos a reforma política na Constituição de 1988
por um conjunto de razões que não vamos aqui debater. E não fizemos a
revisora que fizesse isso. E mantivemos uma inércia que deu no que está
hoje aí.
Por isso eu acho que o nosso Vice-Procurador deixou uma pista, a
questão da Constituinte, alguns temas. Eu queria ouvir do senhor como o
senhor vê essa questão. Se é realmente uma reforma como nós queremos, ela
pode ser feita aqui? Podemos pensar em parte ou podemos ver se, em algum
momento não conseguirmos o que precisamos aqui, a Constituinte poderia ser
também um debate para essa questão.
Eu acho que o nosso Vice-Presidente, o Rubens, colocou a questão
das coligações profissionais. Eu quero reforçar. Queria ouvir sobre isso e
também sobre a questão do desempenho. Como é que o Vice-Procurador vê essa
questão. E, numa perspectiva de fortalecimento dos partidos, como é que
passamos, então, a ter um desenho partidário que dê conta dessas questões.
Obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Governador Esperidião
Amin.
O SR. DEPUTADO ESPERIDIÃO
AMIN - Sr. Presidente, queria saudar os companheiros da Comissão,
nossos visitantes e especialmente nossos convidados.
Eu quero fazer um registro preliminar. Eu esperava que o nosso
convidado fosse comentar o texto-base sobre o qual nós estamos reunidos. O
texto-base não fala em distritão. O texto-base fala em circunscrição, que
se aproxima muito da ideia de Distrito. Aliás, é o primeiro caminho para a
ideia de Distrito. Ninguém vai desenhar Distrito no Brasil sem antes
desenhar circunscrição.
Pensem bem nisso. Como é que você vai desenhar um Distrito para
eleger um, como há na Inglaterra, burgos podres? Aliás, a Inglaterra tem
uma missão contraditória para nós. Ela não tem Justiça Eleitoral, e
funciona. Como nos Estados Unidos. Nem sei em quantos países existe a
Justiça Eleitoral e não sei o que ela contribui para melhorar as eleições.
Não sei. Mas lá tem burgo podre.
Burgo podre é a deformação por redução de densidade demográfica de
núcleos que elegem. E isso é fraude que já foi praticada na Argentina, que
já foi praticada na França sobre o De Gaulle etc. Então, ninguém vai
desenhar Distrito honesto. O que está em debate aqui é a circunscrição,
que é um sistema honesto, que valoriza o partido.
Segundo, o que está aqui na 352 é um modelo que moraliza o que
existe hoje em matéria de financiamento. E não merece ser demonizado, como
ilustres líderes desta Casa têm feito reiteradamente, como se a 352 fosse
o núcleo da futura corrupção, ignorando que se é verdade que o
financiamento de empresas complica o mandato, o que está corrompendo no
Brasil é o caixa dois, é o dinheiro oculto. Está lá. Procure ali na CPI da
PETROBRAS e você vai ver o que é que está corrompendo o
Brasil.
E, finalmente, eu queria fazer a seguinte ponderação. Nós temos
essa profusão de partidos. E eu lembro, gostei da sua frase: partido deve
ser coisa séria. Ninguém prejudicou mais a estrutura partidária no Brasil
do que as decisões da Justiça Eleitoral. Se há um réu nessa história é o
Tribunal Superior Eleitoral, que passou a considerar justa causa para
migrar de um partido para um partido novo, numa fábrica corrupta e
corruptora que ainda está movimentando as suas engrenagens. Tanto é que o
Congresso reagiu agora, impedindo as fusões. Ninguém ajudou mais essa
corrupção do que a Justiça Eleitoral do Brasil.
Nós demos a nossa contribuição. O Congresso também tem culpa, mas
ninguém provocou uma alavanca tão poderosa quanto o Tribunal Superior
Eleitoral ao incluir como justa causa essa indústria. Então, queria os
seus comentários a respeito disso. E me perdoe se eu fui um pouco
enfático, mas eu queria não passar despercebido e cumprir o horário.
Obrigado.
E dou parabéns ao Jean Wyllys, que está de aniversário,
aproveitando a sua presença hoje aqui. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Dr. Eugênio.
O SR. EUGÊNIO JOSÉ
GUILHERME DE ARAGÃO - Eu vou ser breve, porque são várias questões
aqui que foram postas.
Naquilo que diz respeito à fala do Deputado Henrique Fontana sobre
o limite de gastos eleitorais me parece que aqui, Dr. Esperidião, o
culpado, mais uma vez, também, vamos fazer mea culpa, é o TSE, porque a
legislação permite que o teto...
O SR. DEPUTADO ESPERIDIÃO
AMIN - Não, mas nós tínhamos que fazer as leis e não
fazemos.
O SR. EUGÊNIO JOSÉ
GUILHERME DE ARAGÃO - Sim, mas a lei diz que enquanto a lei não sair o
TSE pode estabelecer o teto.
O SR. DEPUTADO ESPERIDIÃO
AMIN - E no projeto aqui, doutor, enquanto não sair a lei, não pode
haver a doação. Ou seja, a PEC 352 radicaliza a
proibição.
O SR. EUGÊNIO JOSÉ
GUILHERME DE ARAGÃO - Então, bem ou mal, me parece que esse teto já
deveria existir até por intervenção jurisdicional. Poderia haver, e não
houve. E todo mundo estava ciente desse problema.
O fato é que também me foi dito lá na Inglaterra que o teto deles é
curto. E, aliás, os Deputados reclamam muito, porque lá também existe
inflação.
O SR. DEPUTADO ESPERIDIÃO
AMIN - Para poder fiscalizar.
O SR. EUGÊNIO JOSÉ
GUILHERME DE ARAGÃO - Vamos dizer, lá também existe inflação. E há
anos que esse teto não é corrigido. Então, o que acontece? Aqui, na
verdade, as despesas de campanha estão reduzindo.
Disseram que, se ficarmos deixando isso aberto, a tendência é
haver, realmente, uma corrida do ouro. A cada eleição, a eleição fica mais
cara. O teto é absolutamente necessário para pôr um basta nisso. Mas me
parece que aí houve uma omissão também no caso da jurisdição. Já que temos
Justiça Eleitoral que estava capacitada a fazê-lo, por que não o
fez?
E concordo com o Deputado Henrique Fontana também que um dos
problemas essenciais do financiamento público e privado de campanha por
empresa é isso, é a desigualdade que isso causa.
Por isso é interessante. Eu acho muito curioso que a nossa
legislação eleitoral permite o financiamento por empresa, mas proíbe o
financiamento por sindicatos. Isso é muito curioso, porque na Inglaterra
eles não querem proibir o financiamento por empresa porque o Tory, o
partido conservador, se financia por empresas. E o partido trabalhista se
financia pelos sindicatos. Então, ninguém quer mexer no sistema porque
está equilibrado, um pega os sindicatos e o outro, as
empresas.
Mas no Brasil você botou o torniquete em cima dos sindicatos, e por
que, rigorosamente? Enquanto a empresa está livre para financiar a
política. Aí também cria uma enorme desigualdade.
Deputado Rubens Otoni, quanto às coligações proporcionais, me
parece que, para mim, entendo que a liberdade partidária também implica
liberdade de formar, vamos dizer, coligações, significa junções de um
partido com o outro. E me parece que é perfeitamente possível que dois
partidos menores, para se viabilizarem eleitoralmente, possam fazer
federações de partido que, aliás, é algo que, em muitos países, é comum.
Na Alemanha mesmo também existe o chamado wahlbündnis, quer dizer, a
coligação eleitoral, que permite que dois partidos se fundam como se um só
fosse, na eleição.
Claro que, se esse partido vier a entrar na coalizão governamental,
que tem uma distinção entre coligação e coalizão... A coligação é, vamos
dizer, um construto para eleições. A coalizão é um construto para
governar. Então, se a coligação entrar na coalizão, ela se comporta como
se fosse um só partido. Aí, não tem o direito de um dizer que quer de um
jeito e o outro fazer de outro.
Para você fazer uma coalizão governamental na Alemanha, você
precisa de um acordo de coalizão. Esse acordo de coalizão estabelece todas
as cláusulas em que há consenso entre os partidos que formam o Governo. Já
a coligação não precisa disso, porque na coligação, já que nas eleições
andaram juntos, é de se pressupor que eles são um partido só. Então, não
preciso de um acordo.
Eles podem ter um acordo interno deles para formar a coligação, mas
não precisam de um acordo de coalizão. Agora, partidos, por exemplo, que
estavam em campos opostos durante a eleição, e resolvem governar juntos,
esse, a bem da transparência, a bem do conhecimento do que está
acontecendo para o eleitor, esses precisam fazer um acordo de coalização,
e esse acordo tem que ser registrado no Parlamento. Ou seja, é uma coisa
para valer. E, se o acordo é rompido, o Governo cai. Claro, porque aí o
partido não é mais obrigado a continuar. E me parece que no Brasil nós
temos esse problema da governabilidade. É que nós temos vários partidos
formando a base do Governo sem acordo. O acordo é de boca. Mas não temos
transparência, dizendo claramente em base de quê que esses partidos estão
juntos.
E como é que eu, vamos dizer, eleitor de um dado partido, posso
entender que esse meu partido, para governar, entrou em coalizão com o
partido que, nas eleições, estava na direção oposta? Isso só é possível se
tiver um acordo que mostre para mim: olha, a base desse trabalho conjunto
é isso e é limitado a isso, no restante, todos os outros são livres a
andar solo, ou seja, nós só estamos de acordo nesses
pontos.
Eu acho que isso é muito mais honesto com o eleitor: ele saber com
base em quê partidos que, aparentemente, estão em bancadas opostas, estão
trabalhando junto para um governo. Mas eu não tenho nenhum problema com
coligações proporcionais nesse aspecto, desde que, claro, haja
transparência. Isso é o mais importante.
Deputado Daniel Almeida, a questão da cláusula de barreira e também
o limite para financiamento individual pelo cidadão. Eu não acho que
cláusula de barreira, em si, seja um pecado. Eu tenho um problema muito
maior. Pessoalmente, teoricamente, eu vejo um problema muito maior: é a
convivência, no sistema, de partidos que não têm a mínima chance de chegar
ao poder. A essência de um partido político, que é a essência de se fazer
política, é chegar ao poder. Ninguém faz política para não chegar ao
poder.
Então, você tem que ter mínima chance de conquistar o poder para
realmente se tornar um partido funcional. Aquele que jamais terá vai virar
moeda de troca. O destino é partido com “abadá” e partido na “pipoca”. Não
é isso? Ou seja, o partido da “pipoca” quer entrar no clube, mas não
consegue. E ele vai fazer o quê? Vai fazer barulho em volta, mas na
verdade ele não vai ser da essência do sistema.
Devo lembrar que em 1932, na Alemanha, o Sr. Adolf Hitler conseguiu
chegar com um partido no poder por causa da extrema fragmentação da
paisagem partidária alemã. Ele não tinha nada. Num sistema sólido ele não
teria chegado ao poder. Da mesma forma também em 1933, nas novas eleições,
ele mal conseguiu chegar, pouco mais do que isso, trinta e poucos por
cento. Mas ele nunca teve, realmente, a maioria da população alemã
eleitoralmente atrás de si. Mas isso foi possível por quê? Por causa da
fragmentação da paisagem partidária.
E é por isso que, na Alemanha, para evitar esse tipo de desastre,
existe a experiência da cláusula de barreira, para evitar essa
fragmentação do espectro partidário. E me parece que essa fragmentação é
contrária a todo esforço de governabilidade. E um país precisa ter
governabilidade para funcionar.
Agora, isso é antidemocrático? Veja bem, por isso eu entendo que
partidos pequenos podem existir, isso não é problema nenhum. É o partido
que não tem a chance eleitoral. Os Estados Unidos têm inúmeros partidos
que não fazem nem parte do sistema, mas existem, não têm problema criar o
partido. O problema é saber se esse partido pode, por causa da sua
representatividade, estar dentro do grêmio parlamentar ou não estar dentro
do grêmio parlamentar.
E aí, para ele poder entrar no grêmio parlamentar, é perfeitamente
legítimo que ele entre numa federação de partido com outros partidos,
desde que isso faça sentido para o eleitor, e se junte para ter, depois, a
cláusula e poder entrar no sistema. Mas aí você terá, vamos dizer, um
sistema de coagulação partidária, através de vários partidos que formam
uma base, que é mais facilmente negociável. É importante que o poder possa
ser negociado com menos gente. Negociar com uma infinitude de partidos,
cada um atirando para outro lado, é muito complicado para se chegar a
consensos. E o País precisa de consenso para
avançar.
Então, eu não tenho problema nenhum com cláusula de barreira. Mas,
na contrapartida, na cláusula de barreira, sim, a liberdade de coligação
tem que existir. Essa é a condição.
Deputado Odorico Monteiro, quanto à questão da Constituinte. Olha,
há certas coisas que um processo normal de reforma constitucional por PEC
não consegue realizar, precisamente por causa do seu quórum muito
restrito. Não é possível. É o que eu falei desde o início. Aqui, como
houve essa opção, claramente não se pode esperar muita coisa dessa
reforma. Ela vai ser pontual, porque só pontualmente vai haver, por
exemplo, consenso suficiente para passar por cima dessa barreira dos três
quintos. Eu não estou falando em Constituinte, mas me parece que um
processo de reforma constitucional, como estava previsto, Sr. Presidente,
na Constituição — e infelizmente fracassou —, uma reforma pelo menos com
um quórum reduzido para se fazer a reforma política, ainda que seja por
este Congresso, não necessariamente por outro grêmio, já facilitaria as
coisas.
Se
queremos realmente mexer na essência, temos um problema sério com a
limitação natural do mecanismo da PEC. Era só isso o que eu queria dizer.
Agora, eu acho que a Constituinte é mais democrática, na medida em que a
população vota num grêmio só para repensar a Constituição, que não se
deixa, vamos dizer, contaminar pelos conflitos normais da atividade
parlamentar ordinária.
Eu acho que seria, vamos dizer, mais... Mas aí temos que ver o
custo disso. Há uma série de outras questões a serem levadas em
consideração.
Deputado Esperidião Amin, realmente, eu reconheço a minha falha.
Não me ative ao texto, mas também porque o tempo é curto. Preferi fazer
uma exposição mais ampla. Entendo, sim, que o projeto tem grandes méritos,
o projeto circunstancial. Eu tive o prazer de lê-lo para chegar aqui.
Realmente, concordo com o senhor quanto ao aspecto da migração partidária.
Nós tivemos esse problema desde o início. Nós fizemos, aliás, uma
distinção no Ministério Público Eleitoral. Nós distinguimos a migração
partidária dos votos proporcionais com os majoritários. Por quê? Porque no
majoritário, em princípio, a pessoa realmente, vamos dizer, o eleitor vota
naquela pessoa. Então, nós não temos visto problema de fidelidade
partidária na migração dos majoritários. Isso tem sido uma posição que nós
do Ministério Público temos assumido, até porque os mandados de segurança
no Supremo Tribunal Federal que deram origem a esse debate no TSE e a
resolução sobre fidelidade partidária no TSE só falavam em voto
proporcional. O TSE, na resolução, estendeu o tema e colocou os
majoritários no meio da conversa, mas eles não estavam na conversa, porque
a questão que o Supremo Tribunal Federal discutiu foi precisamente o
índice, o coeficiente partidário, que permitiu àquela pessoa obter aquele
mandato — e talvez ela não obtivesse aquele mesmo mandato se tivesse em
outra agremiação partidária.
Então,
de certa forma, permitir que essa pessoa saia do seu partido para outro
partido é uma fraude ao eleitor, porque, na verdade, ele está levando
consigo um coeficiente que pertence ao partido de origem e não a ele. Essa
era a grande discussão que nós tínhamos — e isso não atinge o majoritário.
Aliás, no majoritário, muitas vezes, há uma situação até pior. Quando você
diz que o Senador ou principalmente o Governador deveria ser destituído
porque mudou de partido, o que acontece? Quem vai para o lugar dele muitas
vezes não é alguém do partido que está reivindicando o mandato, e sim do
partido até adversário. (Riso.)
Na verdade, a complicação fica muito maior no voto majoritário.
Então,
por isso, distinguimos essas duas coisas, mas, realmente, a possibilidade
do chamado “pit stop”, a
possibilidade de se migrar para um partido novo, e com isso não incorrendo
em fidelidade partidária, é um completo nonsense. Desculpem-me, porque
isso é um pit stop. Por quê?
Porque o sujeito sai para um partido novo, e a partir daí ele tem uma
carta branca para ir para qualquer outro partido, porque o partido novo
não tem como reivindicar o mandato dele, que dele não é. Então, é
simplesmente como se o sujeito fizesse um pouso naquele partido, e depois
ele está liberado para fazer qualquer outra coisa. É uma fraude ao
sistema. Então, nós do Ministério Público fomos contra, sempre, a esse
sistema de pit stop, como a
gente chama.
(Não identificado) - (Intervenção fora do microfone.
Inaudível.)
O SR. EUGÊNIO JOSÉ DE
GUILHERME ARAGÃO - Na verdade é como se o carro saísse da pista para
trocar o óleo, não é isso?
Então, nós fomos contra isso e acho que aí houve realmente
leniência do TSE em relação a essa questão da fidelidade partidária.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Com a palavra o Deputado Marcelo
Castro.
O SR. DEPUTADO MARCELO
CASTRO - Quero cumprimentar todos, o nosso Presidente Rodrigo Maia, o
Dr. Eugênio José de Guilherme Aragão, que deu uma palestra aqui brilhante,
bem centrada, profunda, que eu acho que V.Exa. conseguiu tocar no cerne,
no que é essencial para a gente promover uma reforma
política.
Em verdade, quando aqueles de junho de 2013 foram para as ruas e
mostraram cartazes “vocês não nos representam” é porque, na realidade, a
representação popular aqui no Congresso Nacional está distorcida por essa
pulverização de partidos que nós temos, por esse mecanismo de votos
individualizados.
O nosso sistema eleitoral hoje, a gente vota em João e elege Pedro.
A vontade nacional, que é a finalidade do sistema eleitoral, não está
sendo captada e expressada no Congresso Nacional.
Nós estamos nos perdendo no meio do caminho e a expressão da
vontade do Congresso Nacional está dissociada, distante e divorciada da
vontade nacional.
Acho que V.Exa. tratou isso com uma profundidade! Não posso elogiar
muito a ele, porque vou terminar me elogiando. (Riso.) Como disse aqui o nosso
colega Deputado Odorico Monteiro, do Ceará, as teses que ele defendeu aqui
são as teses que eu venho defendendo aqui há longo tempo. Inclusive está
nessa cartilha que eu quero passar a V.Exa.
V.Exa. fala em outro aspecto muito importante, do fortalecimento
dos partidos. V.Exa. caminhou, caminhou, eu esperei que dissesse uma
palavra que V.Exa. não disse.
O grande agente pulverizador e enfraquecedor dos nossos partidos é
o nosso sistema eleitoral de lista aberta que permite as campanhas
individualizadas. As campanhas no Brasil não são
partidárias.
As campanhas no Brasil não são partidárias, como de resto ocorre no
mundo inteiro. No restante do mundo ou é o sistema majoritário distrital
ou o sistema proporcional de lista fechada ou de lista preordenada.
Num sistema ou em outro, as campanhas são partidárias e aí, os
partidos, para poderem conseguir voto da população, é evidente que os
partidos têm que ser coesos, têm que ter disciplina interna e, sobretudo,
têm que ter conteúdo programático para o eleitor ter identidade e saber
por que ele vai votar no partido “a” e não no partido “b”. E isso nós só
vamos conseguir, Dr. Eugênio, no dia em que nós acabarmos com as campanhas
individualizadas como existe aqui no Brasil.
Eu já citei esse exemplo aqui uma vez. Eu acho que se nós citarmos
cem vezes ainda será pouco. Na eleição passada, em São Paulo, o PMDB, o
PSDB e o PT fizeram aí por volta de umas 180, 170 campanhas, porque eles
tiveram nessa faixa de candidato a Deputado Federal e a Deputado Estadual.
Se o sistema for de lista preordenada, o PT, o PMDB e todos os
outros partidos, em vez de terem feito 200 campanhas, teriam feito uma
campanha. É evidente que o preço de uma campanha deve ser infinita vez
menor do que o preço de 200 campanhas. Isso é uma coisa óbvia.
Agora, eu gostaria de fazer um esclarecimento a V.Exa., que tocou
em um assunto aqui. Nós estamos numa comissão especial para dar o parecer
sobre a PEC, mas, vendo essa insuficiência, nós fizemos, juntamente com o
nosso Presidente Rodrigo Maia, gestões junto ao Presidente da Câmara dos
Deputados e já conseguimos formar uma comissão paralela, composta dos
mesmos membros com o mesmo Presidente e com o mesmo Relator para a gente
ter o poder também de fazer o projeto de lei.
Então, a nossa Comissão aqui, no final, ela vai produzir uma PEC,
que vai ser um parecer sobre as PECs, que são 107, e vai produzir também
um projeto de lei, uma matéria infraconstitucional. E é bom que seja feito
pela mesma Comissão para não haver discordância, não haver incongruência.
V.Exa. defende o sistema distrital misto, parece, também, é o que
nós defendemos, mais adequado, e V.Exa. fala aqui no financiamento de
campanha.
Eu achei tão interessante que eu copiei hoje o que saiu no jornal
O Globo. Aqui tanto faz dizer
que foi V.Exa. que falou, como dizer que foi o Paulo Roberto Costa, porque
eles repetem igualzinho as palavras. Eu gravei hoje aqui e escrevi.
“As doações de campanha são
empréstimos a juros altos”. Isso é o Paulo Roberto Costa que está
dizendo. Que as campanhas eleitorais, o que é declarado oficialmente é
apenas um terço, nos cálculos dele, do que na verdade os partidos
gastam.
Então, o que ele diz numa reportagem hoje do jornal O Globo? — refiro-me ao Paulo
Roberto Costa, da PETROBRAS — Que quando uma empresa financia um
candidato, ela está fazendo um empréstimo a juros altos para receber de
volta aquilo que investiu.
Eu acho que quem pensa bem da realidade brasileira e quer fazer um
sistema eleitoral em favor do nosso País, tem que ter isso daqui como
reflexão, porque, na verdade, o que a prática demonstra é isso daí.
É só olhar o financiamento das empresas e acompanhar as pesquisas
eleitorais. Quando o partido “a” está na frente, recebe mais doações das
empresas. Quando o candidato “a” começa a fraquejar e o candidato “b”
começa a subir, o candidato “b”, que estava recebendo poucos recursos das
empresas, começa a receber muito mais.
O SR. DEPUTADO ESPERIDIÃO
AMIN - Começa a ser procurado.
O SR. DEPUTADO MARCELO
CASTRO - Começa a ser procurado.
O SR. EUGÊNIO JOSÉ DE
GUILHERME ARAGÃO - (Inaudível.
Fora do microfone.)
O
SR. DEPUTADO MARCELO CASTRO -
É evidente que não há uma identidade aí do financiamento de uma empresa
para o partido, porque o partido defende as causas que venham ao encontro
do interesse daquelas empresas. Defende.
Na prática, o que ocorre no Brasil? As empresas que têm negócio com
o Governo financiam todos os candidatos. Financiam mais os que têm mais;
financiam menos os que têm mais chance. Financiam mais os que estão no
poder; financiam menos os que estão fora do poder.
Isso é regra geral para demonstrar que não há vinculação alguma
programática ideológica com o partido, mas, sim, com o interesse que elas
estão defendendo.
Então, Sr. Procurador, quero parabenizar V.Exa. pela sua
contribuição valorosa. Eu acho que fica aqui uma aula muito boa para a
gente se debruçar sobre esse conteúdo que V.Exa. trouxe aqui hoje para
nós.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Com a palavra o Deputado Evandro
Gussi.
O SR. DEPUTADO MARCELO
CASTRO - Só um instantinho, Sr. Presidente. Eu me esqueci de
perguntar: como seriam essas comissões paritárias? E me permitir só uma
discordância de V.Exa.
V.Exa. não foi enfático na proibição de coligações proporcionais.
Eu acho que outro grande fator do enfraquecimento partidário é a gente
permitir as coligações proporcionais. Confunde a cabeça do eleitor.
As coligações são feitas completamente díspares de um Estado para
outro Estado e aí a gente não sabe quem está defendendo o que. Tem que
haver nitidez. Isso é importante.
O partido tem que ter nitidez de proposta para o eleitor saber em
quem ele está votando, porque está votando e para quem está votando, para
aquele partido vir aqui para o Congresso Nacional e expressar a vontade
popular. Isso é que é democracia representativa.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Com a palavra o Deputado Afonso
Motta.
O SR. DEPUTADO AFONSO MOTTA
- Eu quero cumprimentar o nosso Presidente, o nosso Relator, os
colegas Parlamentares e, de pronto, Dr. Eugênio Aragão, dizer que eu me
aproximei muito das suas criteriosas colocações.
Posso afirmar que me identifico muito com os principais conceitos
apresentados pelo ilustre colega.
Quero registrar que eu tenho tido uma preocupação, em minhas
colocações, com um enunciado que para mim é o enunciado que, a cada dia,
com colocações públicas, com o debate público, tem estado mais presente. É
a conclusão definitiva que é o esgotamento do atual sistema político.
Há preocupação de que, mesmo que nós venhamos a definir o melhor
consenso do sistema eleitoral, o melhor consenso ou a melhor aproximação
sobre financiamento de campanha eleitoral, nós deveremos concluir essa
reforma, se Deus quiser, uma reforma que vai acontecer, com o mesmo
sistema, o mesmo Presidencialismo de coalisão e fragmentado.
Então, eu tenho manifestado uma preocupação muito grande com a
governabilidade. Essa questão tem que integrar a pauta da reforma
política.
Mas eu queria me dirigir à questão partidária que eu acho que é uma
ênfase muito importante, dizendo que, eu acho que nós temos, na realidade
atual, um debate sobre conteúdo fundamental.
Eu acho o conteúdo programático, partidário, não vou dizer do
passado, mas até bem pouco tempo, que era um conteúdo de massas, com pouca
diversidade, não existe mais. Este é um ponto importante do debate.
Nós vivemos hoje mais do que a questão programática de parte do
mundo de diversidade. Esse mundo de diversidade não pode ser afastado por
um conjunto de regramentos para estimular a representação partidária.
Hoje, quando muito, podemos dizer que nos aproximamos pelo campo
que nós temos identidade política e não podemos esquecer a questão da
disputa pela política pública. Essa disputa identifica uma visão
partidária numa parte importante do território nacional.
Essa disputa pela política pública, talvez, seja hoje a
participação mais presente no espaço público mesmo de um Parlamentar. E
ainda, evidentemente, a questão temática, por assim dizer, para ser
abrangente, nós convivemos aqui com representações partidárias de fundo
temático.
Então, essas questões são fundamentais para que possamos nos situar
na valorização do partido político. Eu acho que a governabilidade é mais
importante do que a representação. As duas são importantes, mas eu
gostaria de situar.
Por outro lado, assim, V.Exa., nesse exercício, na ocupação desse
espaço público, também tem uma grande indagação, que é uma indagação para
todos nós: como nós convivemos hoje com um fundo partidário que é
financiamento público de campanha, sim senhor, e que não funciona e não
tem critério?
Nós estamos falando aqui em igualdade e em redução de custos de
campanha. Esse hoje já é um dos grandes privilégios no processo eleitoral
e a utilização do fundo partidário.
Como nós temos um horário eleitoral gratuito, que é também
financiamento público de campanha, e nós temos descritérios que dão uma
grande desigualdade no processo eleitoral? Então, eu acho que essa é uma
reflexão muito importante.
Por fim, eu queria dizer também que incluí nas minhas observações,
nas minhas contribuições também uma preocupação muito grande com limites.
A questão de estabelecer limites tanto para os recursos utilizados pelo
candidato, tanto pelos recursos utilizados publicamente quanto
eventualmente pelo setor privado é um ponto muito importante.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Com a palavra o Deputado Arthur Oliveira
Maia.
O SR. DEPUTADO ARTHUR
OLIVEIRA MAIA - Meu caro Dr. Eugênio Aragão, é um prazer recebê-lo
aqui. Parabéns pela sua fala, pelas colocações, pela contribuição que está
trazendo, na manhã de hoje, a esta nossa Comissão.
Eu quero iniciar a minha fala dizendo que alguns companheiros,
alguns Deputados que me antecederam colocaram que existe uma culpa do
Judiciário ou de algum poder por até hoje estarmos nessa situação.
Eu diria que não se trata de culpa de ninguém. Na verdade, nós
constatamos a incapacidade, real incapacidade que o Poder Legislativo teve
até este momento de construir uma legislação eleitoral que seja
satisfatória.
Nós vivemos em um sistema eleitoral que foi constituído a partir de
1988 e, de lá para cá, apesar de termos todos constatados que esse sistema
é um sistema falido, não tivemos condição, consenso político, capacidade
de atingir os três quintos dos votos desta Casa, para poder produzir algum
outro documento que fosse diferente, que fosse melhor do que
esse.
Eu diria que, de tudo que V.Exa. falou, dois pontos me chamam muito
a atenção. O primeiro diz respeito ao financiamento de campanha. Não há
duvida, Dr. Eugênio, de que há um consenso, de todos nós, de que
precisamos reduzir — reduzir drasticamente — o custo da campanha
eleitoral.
Eu quero discordar do senhor quando o senhor diz que os distritos
maiores produzem custos maiores. A minha experiência me diz o contrário. A
impressão que eu tenho é que, nas eleições municipais, por exemplo, o
custo naquele Município é muito, mas muito mais alto do que nas eleições
de Deputado.
O somatório do custo das campanhas municipais em qualquer Estado
certamente vai ser maior do que o custo de uma campanha de Governador ou
da soma das campanhas de Deputados. Esse é o meu sentimento, de sorte que
eu não penso que distritos maiores ou menores vão baratear o custo.
Penso que precisamos avançar em outras quadras, como, por exemplo,
limitar o financiamento de campanha. Temos que estabelecer um teto. Não é
possível que o céu seja o limite, que um Deputado que consiga arrecadar
100 ou 200 milhões de reais possa aplicar tudo numa campanha eleitoral,
porque isso certamente traz uma distorção para a campanha, do mesmo jeito
que não é condizente com a democracia que uma pessoa rica possa gastar na
sua campanha de maneira ilimitada. Não importa se o dinheiro é dele ou se
vem de terceiros; o que importa é que o uso do dinheiro na campanha
eleitoral causa desequilíbrio. Portanto, a origem tem pouco significado.
E aí, meu caro Dr. Eugênio, eu quero dizer que ouvi aqui alguns
colegas que me antecederam dizerem que essa questão da fiscalização
daquilo que seja visual da campanha seria uma forma de barrar o caixa
dois. Eu discordo peremptoriamente.
Eu não creio que o caixa dois esteja na propaganda visual, não
creio que o caixa dois esteja naquilo que é possível enxergar, material de
campanha. O caixa dois acontece no subterfúgio da compra de voto lá na
base, no dinheiro que é dado para o cabo eleitoral ou para o Vereador, na
distribuição comezinha, por debaixo do pano, feita da maneira mais
sórdida, na calada da noite.
É esse caixa dois que tem que ser combatido, meu caro Deputado
Fontana — não é o caixa dois da visualização, em que alguém tem duzentas
placas eleitorais e outro tem mil.
O SR. DEPUTADO HENRIQUE
FONTANA - Posso lhe pedir um aparte de 30
segundos?
O SR. DEPUTADO ARTHUR
OLIVEIRA MAIA - Claro!
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Não pode, não! V.Exa. vai terminar e os outros
vão falar.
O SR. DEPUTADO ARTHUR
OLIVEIRA MAIA - Perfeitamente.
Então, eu quero dizer que temos, sim, que criar mecanismos de
combater o caixa dois de maneira mais eficiente e, realmente, acho que
essa fórmula nenhum de nós tem ainda. Mas penso que a limitação de um teto
de gastos já seria um grande avanço, como acho que, dentro das próprias
empresas privadas, se nós estabelecermos um limite, é possível, sim,
conviver com as doações privadas.
Mais uma vez eu falo da incapacidade que nós temos de fazer aqui o
nosso avanço em relação à constituição da lei. Se, no Brasil, a Câmara dos
Deputados, o Congresso Nacional, já tivesse conseguido votar a lei do lobby, para estabelecer com
clareza o que é a legítima...
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Para encerrar, Deputado.
O SR. DEPUTADO ARTHUR
OLIVEIRA MAIA - ...ação de alguém para interferir de maneira ou de
outra nas ações e no andamento de um processo administrativo, não seria
nenhum problema estabelecermos e vermos com clareza o que é possível e
impossível de uma empresa fazer.
O SR. DEPUTADO ARTHUR
OLIVEIRA MAIA - Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Não posso cortar a palavra de um Maia. Fica
difícil para mil.
O SR. DEPUTADO ARTHUR
OLIVEIRA MAIA - Pois é, isso seria trair a bancada da nossa família.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Claro.
O SR. DEPUTADO ARTHUR
OLIVEIRA MAIA - Eu ficaria inconformado
realmente.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Com a palavra o Deputado Elmar
Nascimento.
O SR. DEPUTADO ELMAR
NASCIMENTO - Meu caro Presidente Rodrigo Maia, nosso convidado de
hoje, Vice-Procurador-Geral Eleitoral, a verdade é que nós vivemos no
nosso País um sistema absolutamente esquizofrênico, um sistema em que o
eleitor vota no candidato, mas a nossa legislação e a própria decisão do
nosso Supremo Tribunal Federal diz que o mandato é dos partidos, não é do
eleitor.
Se fizermos um plebiscito — todo mundo fala em plebiscito —,
veremos que o povo abomina os partidos políticos. Ele vai falar que é para
acabar com os partidos políticos e votar só nos
candidatos.
V.Exa. defendeu uma coisa interessante, que é a questão do
apoiamento para a criação do partido político. Aqui nós já aprovamos que
eleitor filiado a outro partido político não pode assinar lista de
apoiamento. Aprovamos isso há 15 dias.
Eu concordo com o que V.Exa. defende, no sentido de ir ao cartório
político. Agora, isso complica muito mais. A gente precisa facilitar que
partidos orgânicos, como a rede da ex-Ministra Marina Silva, sejam
criados. E talvez seja o caso de reduzir a quantidade de assinaturas,
porque os verdadeiros partidos de aluguel não vão conseguir levar o
eleitor ao cartório eleitoral para assinar um apoiamento a determinado
partido.
Quanto à questão do financiamento eleitoral, seja privado ou
público, o grande problema é o caixa dois. Tínhamos que criminalizar o
caixa dois, porque as empresas vão continuar a ter interesses aqui, em
função de projetos e demandas do Congresso Nacional e do próprio
relacionamento com o poder público. Portanto, o marco estabelece o
financiamento público, mas as empresas que estão tendo coragem de dar
dinheiro através de caixa dois vão continuar a dar esse dinheiro, e é isso
que tem que acabar.
Quanto ao distritão, permita-me discordar de V.Exa.: se não é o
ideal, talvez seja o caminho. Eu só vejo dois caminhos — a circunscrição,
defendida pelo Deputado Esperidião Amin, ou o distritão —, porque o que
ocorre hoje é que é o pior de tudo.
Por exemplo, na Bahia, do nosso partido, o Democratas, nós somos
quatro Deputados Federais, e ninguém quer se filiar ao nosso partido para
concorrer conosco. Se fossem eleitos majoritariamente os mais votados, nós
poderíamos ter um partido muito mais forte, em vez de termos que filiar
candidatos que não têm qualquer potencial de se eleger, quando na verdade
o povo vota no candidato, e não no partido. Portanto, a gente tem que
procurar chegar a um meio termo do que é possível.
E a coligação proporcional possibilita, por meio, sei lá, da
Federação, o funcionamento e a existência de partidos importantes, como o
PCdoB. É possível. O que não é possível é que não exista uma
verticalização. No Brasil, em que o partido é nacional, a gente tem as
coligações o mais díspares possível. No Rio de Janeiro, coliga-se o
partido num sentido e, na Bahia, coliga-se o mesmo partido num sentido
totalmente diferente.
Eu queria que V.Exa. falasse sobre o tema que não foi tratado aqui,
a reeleição para cargo executivo — uma experiência cujo tempo de acabar eu
acho que já passou —, bem como sobre a coincidência de eleições, que é um
tema que tem avançado aqui.
Por último, para concluir, a questão principal, que faz com que não
avance nenhuma reforma política, é a constitucionalização de temas de
processo eleitoral que não deveriam estar na Constituição. A gente deveria
ter coragem aqui de desconstitucionalizar tudo que não seja questão de
clausula pétrea, retirando da Constituição.
E quem é minoria precisa ter coragem de se submeter à vontade da
maioria. Não adianta a gente falar em plebiscito para o eleitor votar
temas que sequer a maioria dos Deputados tem condição de se aprofundar e
de conhecer, quanto mais o eleitor. Vamos ter coragem, sim, de tirar xda
Constituição, jogar tudo para legislação infraconstitucional! É preciso
coragem de fazer.
Eu vejo V.Exas. falando: “Ah, essa reforma vai ser
limitada”. Isso depende da gente. Eu me sinto preparado. Acho que
todos os Parlamentares que foram eleitos agora, recentemente, que tomaram
posse neste mês, estão preparados para fazer a reforma necessária — talvez
não seja a ideal, mas é a necessária —, para, aí sim, por meio da
legislação infraconstitucional, submetê-la talvez a um referendo. Mas é
preciso ter a coragem de fazer e mexer com o que precisa ser
mexido.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Obrigado, Deputado.
Tem a palavra o Deputado Milton Monti.
O SR. DEPUTADO MILTON MONTI
- Sr. Presidente, Rodrigo Maia, caro Relator, Marcelo, Deputado Otoni,
caro convidado, Dr. Eugênio Aragão, eu quero me somar um pouco às palavras
do Arthur, do colega aqui da Bahia.
Primeiro, nós não temos nenhuma garantia de que o financiamento de
pessoas físicas ou público garanta o fim do caixa dois. Vamos usar agora
aquilo que foi dito pelo delator, embora com palavra de delator tenha-se
sempre que tomar cuidado: dois terços do dinheiro foram para o caixa dois.
Então, se nós tivéssemos uma lei já vigente do financiamento
público, isso aconteceria do mesmo jeito. Nós não temos nenhuma garantia,
não temos aqui instrumentos capazes de fazer com que o caixa dois acabe. E
nós precisamos acabar com o caixa dois.
Nós não temos nenhuma garantia, não temos aqui instrumentos capazes
de fazer com que o caixa dois acabe. E nós precisamos acabar com o caixa
dois.
Nós temos que lembrar que uma pessoa jurídica é obrigatoriamente,
antes de tudo, uma pessoa física. Não existe pessoa jurídica sem pessoa
física! Nós podemos criar distorções, podemos arrumar atalhos para que as
pessoas jurídicas possam doar através de pessoas físicas. Então, nós
estamos tangenciando a questão.
Qual é a solução? Luz — a luz é o melhor detergente —,
transparência, limite de gastos, para trazer as campanhas de forma
igualitária. Hoje não são igualitárias, não só no tempo de televisão, não
só no fundo partidário. Nós não podemos tangenciar; temos que enfrentar a
questão de frente.
E, na minha opinião, a questão do financiamento público ou privado
é uma questão menor. Nós temos que tratar de transparência, de legislação
pesada para o caixa dois. E temos que ter condições de ter uma campanha
mais igualitária para todos.
Quanto à questão do distritão, eu até não tenho ainda uma opinião
formada, mas acho que é muito raso dizer que isso enfraquece os partidos
políticos, porque o fortalecimento do partido político se dá em duas mãos:
os partidos atrás de bons candidatos e os candidatos atrás de bons
partidos.
Não é porque nós vamos ter uma eleição majoritária que os partidos
não se interessarão por bons candidatos, ou até mesmo que os candidatos
passarão a não se interessar por bons partidos, porque nós vamos obrigar
estes a terem propostas concretas. Por que eu vou me filiar ao partido? Eu
quero saber a sua ideologia, a sua proposta. Eu não vou me filiar apenas
por uma circunstância eleitoral que vai facilitar naquele momento a minha
eleição. Então, nós precisamos analisar com cuidado.
Pode ser que, ao invés do enfraquecimento, haja o fortalecimento do
partido, com este atraindo pessoas de bem e colocando para discussão no
seu programa também propostas de bem, que possam ser adotadas por várias
pessoas. Então, eu vejo que essa é uma discussão que realmente deve ser
aprofundada.
E nós devemos deixar de lado um pouco os clichês de que isso
prejudica aquilo ou de que aquilo prejudica o outro. Nós estamos aqui para
debater e para usar o nosso conhecimento, a nossa inteligência até mesmo
para mudar de opiniões.
Eu mudo de opinião também, quando sou convencido do contrário. É
importante mudar de opinião e ver o que é melhor para o sistema político
brasileiro, o que é o melhor para o País, a forma em que a população vai
se sentir melhor representada.
Sr. Presidente, Relator, estou aqui para colaborar e também vejo
com muita simpática essa tese de nós tirarmos um pouco de coisas da
Constituição, porque parece que se engessa tudo para não mudar nada.
Então, vamos desengessar, para poder avançar.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Com a palavra, o Deputado Jean
Wyllys.
O SR. DEPUTADO JEAN WYLLYS
- Obrigado, Sr. Presidente.
Dr. Eugênio, deu para notar que as pessoas vêm para esta Comissão
com suas teses prontas para serem apresentadas aqui, e não necessariamente
para ouvir. Embora o discurso seja o discurso do debate, na verdade, todo
mundo tem sua tese pronta e sua reforma política na cabeça e as traz aqui,
inclusive com uma certa dose de deselegância em relação ao senhor.
Posso chamá-lo de você? Achei muito interessante o comentário que
você fez sobre os partidos — uma crítica, na verdade. A proposição da
constituição dos partidos é muito boa, mas num mundo ideal, e nesse mundo
ideal não só o sistema de educação funcionaria, dando às pessoas educação
política para poderem identificar o partido em que elas se encontram
ideológica e programaticamente, mas também as concessões das TVs e das
rádios passariam por um controle social e não estariam nas mãos de
políticos. Então, é fundamental que a gente pense nisso quando a gente faz
essa crítica à constituição de partido, embora eu considere sua crítica
bastante pertinente.
Eu pertenço a um pequeno partido, um partido ideológico e
programático, e faço uma provocação a você, perguntando em qual posição do
espectro político estão os partidos de aluguel, que mereceram sua crítica
e que servem na verdade para aluguel e para carreirismo de determinados
políticos.
Eu queria que localizasse, embora não esteja muito na moda falar de
esquerda e direita, ou de conservadores e progressistas. Vamos localizar,
vamos situar, já que estamos numa audiência pública e temos aqui uma
quantidade de pessoas nos acompanhando, em cumprimento à promessa do
Presidente Rodrigo Maia relativa a uma proposta feita por mim, no sentido
de que as pessoas participassem desses debates. Então, abrimos uma sala no
e-Democracia, e há muita gente acompanhando.
As pessoas levantaram algumas questões, que eu quero trazer aqui
para você também discutir. Não foram perguntas propriamente ditas —
algumas fazem colocações, muitas de senso comum —, mas há algumas questões
interessantes para trazer aqui.
Alguém pergunta: “No voto
distrital e no voto distritão, como fica o papel dos Vereadores e
Deputados Estaduais? Como distinguir essas figuras da figura do Deputado
Federal em suas atribuições?”
Outros falam de como não há transparência no Judiciário e de como
isso pode também afetar o resultado das eleições e o sistema político, já
que se cobra muita transparência do Poder Legislativo, mas o Poder
Judiciário é muito pouco transparente.
As pessoas pedem para você se posicionar em relação à exigência de
curso superior para que alguém se candidate, o que eu acho uma loucura,
porque essas pessoas querem excluir do jogo democrático aquelas que não
passaram pelo sistema formal de educação.
Há pergunta sobre financiamento de igrejas. Fala-se muito em
financiamento empresarial, mas pouco das igrejas que têm financiado
políticos e constituído bancada aqui.
Por fim, há a questão da paridade de gênero, que não foi colocada,
bem como a da garantia de porcentagem para grupos, como as nações
originárias, os povos indígenas, que não têm representação neste sistema
eleitoral e dificilmente passarão a ter.
É isso.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - As inscrições estão encerradas.
Passo a palavra ao Deputado José Fogaça.
O SR. DEPUTADO JOSÉ FOGAÇA
- Obrigado, Sr. Presidente.
Dr. Eugênio, gostei muito da sua palestra, que foi numa direção
muito precisa, com muita agudeza no trato deste dilema que nós vivemos no
Brasil hoje, que é o de escolher um caminho para um reforma
político-eleitoral.
Eu me lembro de que, logo após a Reforma Golbery, em 1980, quando
acabou a dualidade partidária de MDB e ARENA, um Deputado antigo — naquele
tempo ele já era antigo; hoje, falecido, de saudosa memória —, o Dr.
Temperani Pereira, me disse uma frase: “A partir de agora, quem é cauda de
baleia vai querer ser cabeça de sardinha”. Ou seja, nós estávamos
saindo daquela rigidez da dualidade, do bipartidarismo, e estávamos
caminhando para uma fragmentação de proporções gigantescas, como nenhuma
outra nação do mundo moderno conhece. E, realmente, a profecia dele se
realizou.
Os partidos têm uma hierarquia muito fechada, restrita, repressora,
tradicional, conservadora. A estrutura hierárquica é ainda a mesma que era
em 1920. Então, os partidos políticos impedem o fluxo natural do
surgimento e da ascensão de lideranças. Com isso, todo mundo sai de um
partido para fundar outro, e a realidade se plasmou.
Logo após a Constituinte, o então Senador Marco Maciel me disse uma
frase no Senado: “Olha, pela
legislação que nós estamos elaborando, é mais fácil fundar um partido do
que fundar uma microempresa”. Tanto o Temperani Pereira, um homem de
esquerda, quanto o Marco Maciel, um homem mais conservador, tinham inteira
razão: nós construímos a mais fragmentada democracia do planeta.
Em nenhum lugar do mundo o partido que governa tem apenas 13% do
Parlamento. No Brasil, o maior partido tem apenas 13%. Num país como a
Argentina, onde há 34 partidos com assento no Parlamento, o maior partido,
que é o Partido Justicialista, tem 46% do Parlamento. Cem partidos
participam das eleições americanas, mas só dois realmente conseguem ter
uma representação significativa, expressiva no Congresso
Nacional.
Então, a questão da fragmentação partidária, parece-me o núcleo e a
essência de toda a discussão. Como evitar essa fragmentação? Por que o
presidencialismo multipartidário não há em nenhum País do mundo? Eu
repito. Em nenhum país do mundo há presidencialismo
multipartidário.
A Bélgica tem multipartidarismo. Há um grande número de partidos
também, uma grande liberdade de organização partidária, mas formam a
coalisão e se acertam para governar no
Parlamentarismo.
A Itália também tem um grande número de partidos, mas é um regime
Parlamentarista. O único regime presidencialista com 28 partidos, diluindo
e dispersando totalmente as estruturas de poder, de mando, de comando, de
decisão, o único lugar do mundo é o Brasil. Esse é um dos pontos da abordagem
de V.Exa. que eu gostaria de ver, caro
Vice-Procurador.
Por outro lado, acho que a questão da limitação dos recursos de
campanha é essencial. A proibição e a vedação às empresas faz parte de uma
necessidade, digamos assim, “expurgante” ou moralizadora neste
momento.
É a retomada de outra cultura. Pode ser que muitas empresas até
invistam na qualidade das pessoas, na qualidade da representação e não
tenham esta visão tão mesquinha e pequena de só visar o seu interesse.
Pode uma empresa estar pensando na qualidade do Parlamento, se lhe serve
viver num País, onde haja um Parlamento decente. Mas, neste momento, a
questão cultural está pedindo que nós façamos esse expurgo das empresas,
pelo menos da questão legal nas doações.
Portanto, acho que é importante, de certa forma, reconhecer a
validade de suas palavras nessa questão.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Para encerrar,
Deputado.
O
SR. DEPUTADO JOSÉ FOGAÇA - O importante não é limitar os
recursos. Vamos limitar, sim. Mas se for igual para todos não há nenhum
problema. A Regra do jogo é a democracia, para todos, sem dúvida
alguma.
O
SR. PRESIDENTE (Deputado
Rodrigo Maia) - Concedo a palavra ao Deputado Evandro
Gussi.
O
SR. DEPUTADO EVANDRO GUSSI -
Obrigado, Sr.
Presidente. Tive que me ausentar para ir à reunião administrativa da CCJ.
Mas, no que pude acompanhar, aqui, S.Exa., Dr. Eugênio Aragão, eu primeiro
o parabenizo por tamanha lucidez e amplo conhecimento sobre o
tema.
Sem
fazer análise psicológica ou estética dos Srs. Deputados que trazem suas
ideias, que sempre presumo que são com retidão de intenções, chamou muito
a atenção a fala de S.Exa., no sentido da criminalização da política. Isso
vindo, sobretudo, de um membro do Ministério Público é algo que realmente
nos alegra. Não porque queremos que aquilo que é crime seja tratado como
crime, com suas consequências — e V.Exa. deixou muito claro. Mas uma
criminalização geral da política tem afastado, em geral, as pessoas de
bem. Porque as pessoas que são boas, que são honestas e que poderiam
oferecer um grande serviço ao País, quando se taxa, desde o início, que
são indignas, aqueles que enxergam as coisas boas, em geral, tendem a se
afastar.
Queria,
aqui, agradecer a V.Exa. nos dar uma visão melhor sobre essas comissões
que acontecem a Electtorali, na Espanha, a experiência alemã, que V.Exa.
tão bem demonstrou conhecer. Como isso, de fato, acontece, suas boas
consequências para a vida política e, claro, uma preocupação que nós e a
população sempre teremos de que isso é efetivo no controle das boas
práticas políticas e assim por diante.
V.Exa. também colocou, com muita agudeza, a questão dos grandes
custos da campanha como uma causa sensível dos problemas de financiamento
eleitoral. Ou seja, se me permite uma analogia simplista, talvez, diante
de uma hemorragia, antes de pensarmos em como melhorar o fluxo de sangue
da transfusão — Dr. Marcelo Castro, médico, espero que concorde comigo —,
que passemos a estancar a hemorragia.
Os custos são altos. V.Exa. identificou muito bem o tamanho do
nosso território. Não há nenhum País com a circunscrição, com o distrito
eleitoral como o Brasil hoje. Em São Paulo, por exemplo, há 32 milhões de
eleitores. Sabemos bem o que isso significa. E as dificuldades logísticas,
por exemplo, do Amazonas não menores. Como se pensa em colocar essa
questão? Quanto ao último ponto, V.Exa. também falou sobre a centralidade
dos partidos políticos. Por conhecer bem a experiência alemã e europeia
como um todo, V.Exa. sabe da importância que isso
tem.
Vejo hoje, humildemente, a posição e a consequência a que nos
detemos. Como disse aqui o Deputado José Fogaça, tentamos sempre estancar
a questão, ou da diversidade partidária, que não permite construção de
maiorias sólidas, assim por diante. Claro, sempre respeitando as sagradas
Minorias, mas a democracia se faz pelo princípio da Maioria. Sempre
pensamos que existem fórmulas clássicas que fortalecem os partidos, desde
suas causas.
Penso, por exemplo, na fórmula clássica. Não a estou aqui
defendendo, neste momento, embora seja simpático, mas o distrito
uninominal é uma fórmula clássica de fortalecimento partidário. Já
termino, Excelência.
O sistema alemão, embora temperado pelo princípio proporcional,
constrói isso. Assim por diante. Como V.Exa. vê essa atuação nas causas
pouco discutidas no Brasil?
Obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Concedo a palavra ao Deputado Zé
Carlos.
O SR. DEPUTADO ZÉ CARLOS
- Obrigado, Sr. Presidente.
Cumprimento V.Exa., Deputado Rubens Otoni, primeiro
Vice-Presidente; o Deputado Marcelo Castro e os companheiros que estão,
aqui, presentes e fazem esta Comissão. Cumprimento o nosso palestrante,
Dr. Eugênio Aragão, que proferiu uma bela palestra e nos iluminou com
relação àquilo que temos que avaliar.
As minhas conversas, as minhas percepções, durante esse tempo em
que faço parte desta Comissão, Sr. Presidente, é de que só há um ponto
comum entre os políticos, entre o Governo e entre a sociedade, que é
exatamente a necessidade dessa reforma. Os demais pontos que abrangem essa
reforma têm senões de uma parte ou de outra, maior ou
menor.
De qualquer forma, eu peço a V.Sa. Dr. Eugênio, que faça uma
consideração sobre os prós e os contras a respeito do voto. Se é
facultativo ou não, levando em consideração o Estado brasileiro, onde há
locais em que a conscientização política é mais forte e em locais onde
essa conscientização é mais debilitada.
Era essa a minha abordagem, Sr. Presidente. Quanto ao tempo, Sr.
Presidente, eu acho que vou ganhar o seu voto (Risos.) nessa
avaliação.
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rodrigo Maia) - Concedo a palavra à Deputada Renata
Abreu
A SRA. DEPUTADA RENATA
ABREU - Obrigada, Sra. Presidente.
Eu queria fazer um questionamento. Sei que eu sou sempre Minoria
aqui. É uma grande luta para mim poder falar alguma coisa e as pessoas
entenderem o meu posicionamento.
Eu queria falar sobre governabilidade. O que é ter governabilidade?
A meu ver, seria justamente nós discutirmos com as Minorias as coisas que
são de interesse da nossa população. Não necessariamente fazer-se aprovar
tudo que um partido “a” ou um partido “b” quer.
Eu acredito que há fragmentação. Eu pergunto: por que o Congresso
fragmentou? Por que novos partidos entraram nesta Casa? É isso. Como o
meu, que, pela primeira vez, está aqui, nesta Casa. Eu digo, entre todos
od partidos que entraram, no Congresso Nacional, 100% são Deputados
de
primeiro mandato. A renovação
pela qual o Brasil está gritando na rua aconteceu e está acontecendo. E
nós aqui, nesta Comissão, quisemos ignorar essa realidade e defender
cláusulas de barreiras para esmagar nosso nascedouro. Isso é triste!
Eu acho que nós, enquanto Parlamentares, independente dos nossos
partidos, temos que incentivar que novas pessoas, unidas à experiência de
quem aqui está, venham com entusiasmo, com vontade e com novas ideias. E
não é uma cláusula de barreira que vai ajudar o Brasil no que ele quer.
Muita gente tem defendido, inclusive a imprensa, que a fragmentação
é ruim para o País, mas ela é resultado das urnas. Elas vêm aí mostrar — e
mostrou para a gente — o que a população está querendo. E quem deu, sim,
oportunidades reais para essas novas caras da
EUGÊNIO
JOSÉ GUILHERME DE ARAGÃO
não sufocar as minorias.
Parece-me que o importante neste debateE
quando você tem um partido que não tem chance de chegar no poder, se esse
partido não ter uma solidez programática e ideológica forte, a tendência
desse partido é virar moeda de troca. Isso é um risco porque aí começam
também os toma-lá-dá-cá, e não são sempre, vamos dizer, ortodoxas as
atividades na penumbra partidária.
Eu acho que a fragmentação é um problema. Acho que é um problema,
sim, para a governabilidade. A governabilidade pressupõe partidos fortes.
É aquela distinção, é o contraste entre rua e repartição, quem é Governo e
quem está na rua. Quem está na rua quer tudo, e é legítimo, tem desejos
nos seus direitos, infinitos. Quem está no poder tem que administrá-los. E
necessariamente quem está no poder corta direitos porque os recursos são
limitados. Uma coisa é estar na rua, querer tudo, outra coisa é estar
dentro do Governo e só poder fazer alguma coisa. Realmente a fragmentação
criativa da rua fatalmente, quando chega a hora de administrar a
governabilidade, tem que passar por um funil. Não tem jeito. Não se
governa permanentemente em debate de ágora, não é possível isso. A ágora
tem o seu lugar, mas a ágora não forma administrações racionais
burocráticas no sentido weberiano, não forma. Eu acho que isso aqui é um
pouco de realismo dentro da política, realpolitik. Eu acredito, sim, mas
tem que ter lugar para as minorias e os partidos têm que se abrir para
isso, senão eles se fossilizam e o eleitor também se desinteressa pelo
partido.
Aliás, esse é um fenômeno nas democracias tradicionais todas, o
desinteresse do eleitor pela política porque, em última análise, os
partidos tradicionais fazem a mesma coisa, só muda o rótulo, mas na
verdade é tudo extrato de tomate. As pessoas começam a perceber isso e
começam a se desinteressar ou a criar agremiações de pouca
durabilidade.
Isso está acontecendo na Alemanha, por exemplo. Hoje nós temos
partidos novos, como a AfD, e partidos antieuropeus, muitas vezes. A gente
sabe que são partidos de crise. No momento em que a crise passa, esses
partidos se dissolvem, não têm durabilidade, e os partidos tradicionais
ficam, por conta de suas estruturas rígidas.
Só para ir adiantando também, a questão de culpa do Judiciário — e
me parece que aí está também a questão da transparência do Judiciário — é
outro debate. Realmente, se a gente fala de Justiça eleitoral, o
Judiciário brasileiro não é um Judiciário democrático. Nosso Judiciário é
um Judiciário burocrático. É bem estruturado, de carreira, mas falta-lhe
muito legitimidade democrática porque as pessoas que entram nessas
carreiras, na verdade, entram com objetivos que não têm necessariamente a
ver com uma visão política de mundo, têm a ver com sua conquista de
espaço, de prestígio e de poder. Burocraticamente são sistemas que
funcionam bem. A Justiça brasileira está indo para um caminho melhor em
termos de resultado, mas tem um forte déficit de
democracia.
Por exemplo, uma coisa que a gente vê na Justiça alemã é que toda
decisão judicial começa com a frase: “Em nome do povo alemão...” Isso pode
parecer bobagem, mas pelo menos o juiz tem que saber que ele está sentado
ali não por acaso. Se ele está sentado ali e se ele é uma parte do poder é
porque todo poder emana do povo e em seu nome é exercido. Aqui no Brasil
não, burocraticamente nossas decisões começam em “Vistos, etc”. (Risos.) Fica bom também. A gente
vê o contraste. "Vistos, etc.” Toda decisão judicial. A gente mostra um
pouquinho da nossa mentalidade, do “Vistos, etc”, que é uma mentalidade
árida.
Aliás, temos um grande problema. A nossa Justiça tem os poderes de
uma Justiça legítima eletiva e é uma Justiça burocrática. Por exemplo, um
juiz poder declarar uma lei inconstitucional, de certa forma, desautoriza
o Legislativo. Se o Legislativo aprovou aquela lei, depois de ela ter
passado por uma Comissão
de Constituição e Justiça que disse que ela era constitucional, chegar
um
único juiz dizer: “Eu não aplico
essa lei porque para mim ela é
inconstitucional”...
Nos
sistemas de Justiça burocrática, como, por exemplo, o sistema alemão, o
juiz não tem esse poder. A Constituição diz com todas as letras que o juiz
é vinculado à lei. Ponto. Quem pode discutir sobre a constitucionalidade
da lei é a corte constitucional, que não pertence ao Poder Judiciário. É
um órgão constitucional, não é parte do Poder Judiciário. Não há
Ministério Público na corte constitucional. A corte constitucional é outra
coisa, é um grêmio escolhido pelo Parlamento.
Existe uma regra no conselho constitucional, uma regra não escrita
na corte constitucional alemã: sempre que vaga um cargo de juiz, ele é
revezadamente ocupado pela Situação e pela Oposição. Um é pela Situação,
um é pela Oposição, um é pela Situação, um é pela Oposição. Sempre existe
esse consenso, sempre houve. Há um equilíbrio na composição da Corte
Constitucional, e é o Parlamento quem indica. É claro, ele vai
desautorizar o Parlamento.
(Intervenção fora do
microfone. Ininteligível.)
O SR. EUGÊNIO JOSÉ
GUILHERME DE ARAGÃO - Vai fazer isso através da corte
constitucional.
É o que eu digo. Isso é dentro de um
modelo...
(Intervenção fora do
microfone. Ininteligível.)
O
SR. EUGÊNIO JOSÉ GUILHERME DE ARAGÃO -
Deputado, eu estou falando que esse é um modelo burocrático. No modelo
americano, por exemplo, em que o juiz pode declarar uma lei
inconstitucional, tem que levar em consideração que o juiz é eleito. Se o
juiz é eleito pelo voto, ele tem autoridade para dizer que uma lei é
inconstitucional, mas um juiz que tem o cargo por concurso público não tem
essa legitimidade. Ele não tem legitimidade política, ele tem uma
legitimidade burocrática pela eficiência de sua
decisão.
Essa é uma questão que, parece-me, está saindo um pouco do tema,
mas já que falamos sobre transparência de Judiciário... Não é
isso?
(Intervenção fora do
microfone. Ininteligível.)
O
SR. EUGÊNIO JOSÉ GUILHERME DE ARAGÃO -
Não são escolhidos.
(Intervenção fora do
microfone. Ininteligível.)
O
SR. EUGÊNIO JOSÉ GUILHERME DE ARAGÃO -
Vamos continuar porque o tempo está avançado.
Partidos de aluguel, a que V.Exa. se referiu. Em que espectro
estão? Eu não digo que estão em espectro nenhum. Parece-me que os partidos
de aluguel, na grande maioria, são esvaziados no seu conteúdo político
porque eles são partidos de ocasião mesmo. Então não têm
espectro.
Eu só digo uma coisa: normalmente os partidos ideológicos de
esquerda não são de aluguel. Só digo isso, não são de aluguel porque há um
filtro muito rígido para seu ingresso e para ser parte dos seus quadros,
mas, tirando o aspecto programático e ideológico, se ele é pequeno ele se
presta a qualquer coisa, basta a pessoa ter condições de ser reeleita. Aí
ele entra no partido.
Eu não digo que não se deve dar chance para as pessoas, mas talvez
o modo de essa chance ser dada talvez devesse ser mudado. Acho que os
partidos deveriam ser mais permeáveis a dar chance para as pessoas que
querem começar, em vez de permitir que elas criem infinitamente pequenos
partidos.
Questão do voto facultativo. Parece-me que é um outro aspecto
importante aqui. Eu acho o seguinte: no Brasil, o voto não é obrigatório.
Não é obrigatório porque o custo de a gente não votar é o quê? É de 3
reais a multa. Não tem voto obrigatório, é só pagar 3 reais e pronto, está
tudo bem.
(Não identificado) -
Vai para a praia e justifica lá na praia.
O SR. EUGÊNIO JOSÉ
GUILHERME DE ARAGÃO - Não me parece que o voto é obrigatório, tanto é
que nas eleições passadas nós tivemos um grande número de abstenções. É
claro que, muitas vezes, foram geradas pela impossibilidade do transporte.
O eleitor que mora nos rincões do interior não tem condições nem dinheiro
para chegar à urna eletrônica. É um outro problema, um problema
social.
Num País como o nosso, de desigualdades muito grandes e de baixa
densidade de consciência política, que é uma questão de educação,
evidentemente, eu não acho ruim o voto obrigatório. Aliás, muitas pessoas
com quem eu conversei em outros países acham a ideia muito boa porque eles
têm um sério problema de legitimidade política. Hoje os países que têm
voto facultativo têm eleições esvaziadas. Às vezes são 20% do eleitorado
que tomam decisões.
(Não identificado) -
Realmente, a experiência que eu tenho... Só uma contribuição muito
pequena...
(Intervenção fora do
microfone. Ininteligível.)
(Não
identificado) -
Então vai lá. Conclua.
O SR. EUGÊNIO JOSÉ
GUILHERME DE ARAGÃO - Parece-me que, na nossa situação, dentro das
nossas condições, o voto obrigatório não é um mal. Eu acho que o voto
obrigatório é sim um processo necessário de inclusão. Nós estamos
incluindo através do voto obrigatório, ainda mais porque é um custo
simbólico, é só a chatice de ter que ir ao cartório depois pagar. Na
verdade, não chega a penalizar ninguém
profundamente.
Tenho outras questões aqui, mas me parece que pelo adiantar da
hora... Essas são as questões principais que foram perguntadas. Espero que
eu tenha atendido a todos adequadamente. Peço desculpas se algum outro
tema eu não tenha conseguido abordar com
profundidade.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE
(Deputado Rubens Otoni) - Nós é que agradecemos.
Com certeza o tempo não é suficiente para abordar temas tão
profundos e sua multiplicidade, mas queremos aqui agradecer ao Dr. Eugênio
José Guilherme de Aragão, Vice-Procurador-Geral Eleitoral, do Ministério
Público Federal, por sua presença, participação e
colaboração.
Aproveito a oportunidade para passar ao nosso Relator, Marcelo
Castro, as contribuições e sugestões dos internautas recebidas durante
esta audiência, para que possam servir de referência no trabalho
realizado.
Nada mais havendo a tratar, agradeço a presença de todos e os
convido para participarem da audiência pública na tarde de hoje,
terça-feira, às 14h30, audiência essa que terá a presença do Presidente do
Tribunal Superior Eleitoral, Sr. José Antônio Dias
Toffoli.
Está encerrada a reunião.