De: Tyrteu Vianna
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Enviada em: quarta-feira, 3 de março de 2004 10:07
Para: Antonio Carlos Magalhães
Assunto: Legal. Prostit. Brasil
A maioria das pessoas prostituídas são mulheres
Dia 08 de Março, próxima segunda-feira, é o dia Internacional da Mulher.
No arquivo em anexo apresento algumas reflexões sobre a
proposta de LEGALIZAÇÃO/REGULAMENTAÇÃO
DA PROSTITUIÇÃO NO BRASIL.
A legalização/regulamentação da prostituição1 no Brasil
A legalização/regulamentação tramita no
Congresso Nacional
O resultado de uma grande articulação nefasta
tramita na surdina no Congresso Nacional do Brasil: trata-se da
legalização/regulamentação da prostituição, proposta pelo deputado Eduardo Valverde
(PT-RO), autor do Projeto de Lei nº 4244 de 20042, que se encontra na
Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, aguardando designação de
relator.
O descalabro, que não é apenas brasileiro,
mas fruto de uma bem orquestrada trama internacional, teve o pontapé inicial
desferido pelo deputado Fernando Gabeira3 (sem partido-RJ), autor do
Projeto de Lei nº 98 de 20034, cujo relator5, deputado Aloysio
Nunes Ferreira (PSDB-SP), considerou: "Acho que mais importante que regulamentar é
tirar da prostituição a conotação de crime6. Mas não revogar o rufianismo
deixa o projeto no meio do caminho". Nunes Ferreira, em seu parecer, despenalizou o
artigo 229 do Código Penal: Manter casa de prostituição.
Além do Legislativo, apÓiam a
legalização/regulamentação da prostituição setores do Executivo e do Judiciário do
Brasil, e importantes ONGs identificadas com movimentos populares. ONGs feministas e
Organismos Internacionais que deveriam posicionar-se enfaticamente contrárias silenciam e
muitas apoiam essa que é uma antiga e corriqueira violência, principalmente contra as
mulheres.
Executivo e Judiciário apóiam a
legalização/regulamentação
Gabriela Silva (Gabi), "prostituta de
coração", no site do jornal Beijo da Rua: "Bastidores de uma campanha
política são revelados na Coluna da Gabi. 'Lula me deu um abraço e me perguntou se o
seu suor cheirava mal. Hoje, este homem é o nosso presidente', conta ela, uma
especialista em intimidades masculinas."
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos,
se mostrou favorável ao declarar "seu apoio à proposta de
assegurar às prostitutas o direito à assistência médica e aposentadoria".7
Como presidente em exercício do Tribunal
Superior do Trabalho, o ministroVantuil Abdala também manifestou-se favorável à
legalização/regulamentação da prostituição: "Após algum tempo, as prostitutas
passam a não ter mais nenhuma fonte de ganho e acabam transformadas em párias da
sociedade, o que é muito pior".8
Lembro que a Constituição assegura que todos
devem ter direito à assistência médica e a aposentadoria pode ser obtida por meio de
contribuição ao INSS, sem a necessidade de declarar o exercício da prostituição.
Embora o Ministério do Trabalho e Emprego tenha inserido recentemente essa atividade no
Código Brasileiro de Ocupações, as prostitutas não serão transformadas em párias da
sociedade, por já estarem nessa situação.
Basicamente, os pró
legalização/regulamentação da prostituição alegam:
- ser uma forma de controlar as DST/AIDS e as
prostitutas serem importantes na luta contra a AIDS.
- criar mais uma fonte de impostos.
- proporcionar aposentadoria e assistência
médica.
- combater a prostituição infantil.
- que a proibição não acaba com a mais
antiga das profissões.
A Secretaria Especial de Políticas para
Mulheres, presidida pela ministra Nilcéa Freire, lançou no final de 2004 o Plano
Nacional de Políticas para Mulheres. Porém, esse documento não explicita se a
prostituição é ou não uma violência (sexual, física, psicológica ou econômica). A
ministra e a secretaria não manifestam-se claramente sobre o assunto.
A norte-americana Donna M. Hughes, professora e
coordenadora de pesquisa da Coaliation Against Traffic of Women, autora do artigo A
Legalização da Prostituição Refreará o Tráfico de Mulheres? Não! A Legalização
apenas Legitima o Abuso, ensina: "Acima de tudo, os organismos estatais e as
organizações não governamentais deviam compreender que a prostituição é uma procura
de mercado criada por homens que compram e vendem a sexualidade feminina para seu
benefício pessoal e seu próprio prazer. As reformas legais deveriam criar soluções
para assistir as vítimas e condenar os culpados." 9
ONGs identificadas com movimentos populares
também são favoráveis
Conhecidos e representativos movimentos
populares propagam idéias/discursos pró legalização/regulamentação da
prostituição. Um exemplo é o site http://www.lainsignia.org/especiales/migratio.html,
que divulgou em janeiro e fevereiro de 2005 a série de textos "La emigración en la
industria del sexo" de Laura Agustín, da ONG Colectivo Ioé (www.nodo50.org/ioe/),
ligada à rede de ONGs Nodo50 - www.nodo50.org
ONGs feministas silenciam ou fazem coro
Em 10 de janeiro de 2005, na sede da ONU em
Nova Iorque, a professora doutora em Filosofia do Direito da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC/SP) e coordenadora nacional do Comitê Latino-americano e do
Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM-Brasil), Silvia Pimentel, tomou
posse para mandato de quatro anos da vice-presidência do Comitê para a Eliminação da
Discriminação contra as Mulheres 10. Esse Comitê monitora a implementação
pelos Estados-partes da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher, CEDAW.
Numa das raras vezes em que se pronunciou sobre
a legalização/regulamentação da prostituição, a professora Silvia Pimentel
tergevisou10a: "o art. 6º (da CEDAW) não estipula a supressão da
prostituição, mas tão-somente da exploração da prostituição da mulher. Por que
será que a Convenção não a proíbe? Será que julgamos um valor positivo a
prostituição? É óbvio que não é por aí. Ocorre que, se a proibissem, os Estados
estariam punindo as prostitutas.
Ao examinar o informe periódico (maio/1999) da
China, o Comitê CEDAW expressou que lhe preocupava o fato de que a prostituição, que
costuma ser resultado da pobreza e da privação econômica, fosse ilegal na China. E, ao
recomendar efetivamente a descriminalização da prostituição, sugeriu também que se
prestasse a devida atenção aos serviços de saúde para as mulheres que a praticavam.
Vejam o espírito de respeito à vida e à
saúde das mulheres: tomando-se em conta a pandemia de HIV, de Aids, instou ao Governo que
adotasse medidas para a reabilitação e reinserção social das prostitutas." 11
Afinal, a professora Silvia mostrou-se contra
ou a favor da legalização/regulamentação da prostituição?
Os Estados não precisam, nem devem punir as
prostitutas, mas tão-somente seus clientes e exploradores e obviamente oferecer às
prostitutas toda a assistência.
Transcrevo o artigo 6º da CEDAW: "Os
Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas, inclusive de caráter legislativo,
para suprimir todas as formas de tráfico de mulheres e exploração da prostituição da
mulher."
No momento em que o país está prestes a
legalizar/regulamentar a prostituição, os temas de estudo prediletos de Silvia Pimentel
são "galinhas mortas", ou seja, que não geram polêmica, como:
- Digressões sobre os "benefícios"
de retirar-se do Código Penal "figuras de linguagem" preconceituosas como
"mulher honesta".
- Ser contra a prostituição de crianças e
adolescentes.
- Ser contra o tráfico de pessoas e a
escravidão.
Esses temas são "cortina de
fumaça", pois sobre o essencial e polêmico assunto da hora que tramita no
congresso, boca de siri.
"Prostituição voluntária",
palavrório hipócrita
Alemanha e Holanda, países signatários da
CEDAW e que recentemente legalizaram/regulamentaram a prostituição, serão punidos pelo
Comitê da CEDAW? Qual será a punição?
Subterfúgios lingüisticos foram usados pelo
governo da Holanda para legalizar os bordéis desde 01 de outubro de 2000. O governo
holandês defendeu a legalização/regulamentação da prostituição e criticou a CEDAW,
que consideraria as mulheres prostituídas como vítimas e que a exploração da
prostituição não seria considerado um problema pelo governo quando não envolvesse o
uso da força.
O governo holandês alegou que a CEDAW não era
explícita sobre qual tipo de exploração era proibida e estabeleceu uma divisão entre
exploração "boa" e "má".
Esse trambique de linguagem também está
presente na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
contra a Mulher, assinada em Belém do Pará, em 9 de junho de 1994, que considera
violência física, sexual e psicológica a "prostituição forçada". A
prostituição está em expansão12 e não é devido a uma "opção"
das mulheres e sim à falta de opção cada vez maior. Concordo que existam
"prostitutas voluntárias" e que talvez não devam ser consideradas vítimas,
entretanto a regra não deve ser orientada pela excessão.
Em janeiro de 2005 registrou-se o maior número
de desempregados na Alemanha desde o final da Segunda Guerra. Desde 1 de abril de 2001 que
as leis alemãs do trabalho13 incitam e favorecem a prostituição de mulheres.
Na Alemanha estima-se em 400 mil as mulheres na prostituição. 75% delas são
estrangeiras e dessas, 80% oriundas das redes de tráfico de pessoas.14 Na
Holanda15a os percentuais são semelhantes. Em várias cidades da Inglaterra15b
mais de 90% das prostitutas são estrangeiras, índice semelhante aos de Madrid e da
Galícia16 na Espanha. Por que as inglesas, madrilenhas ou galegas não
"optam" por essa atividade?
Existem países que importam prostitutas,
outros exportam, como é o caso do Brasil, segundo maior exportador do mundo. Haveriam
impostos de exportação sobre esse produto? O que é mais hipócrita e selvagem:
arrecadar impostos com prostitutas estrangeiras ou compatriotas?
Nossas autoridades e entendidas feministas
talvez desconheçam as estarrecedoras conseqüências sociais da legalização (desde
1984) na cidade australiana de Victoria (anexo I). Talvez ignorem que a Suécia (anexo II)
debateu a penalização do cliente por mais de vinte anos.
A professora Silvia Pimentel e as principais
ONGs feministas, a exemplo da ministra Nilcéa Freire, omitem posicionar-se enfaticamente
sobre a legalização/regulamentação da prostituição, especialmente em relação às
propostas que tramitam no Congresso Nacional.
Seria minimamente honesto que as principais
líderes e ONGs feministas tomassem posição pública enfática sobre o tema, entre elas:
- CLADEM/Brasil - Comitê Latino-Americano e do
Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher - www.cladem.org.br
- AGENDE - Ações em Gênero, Cidadania
e Desenvolvimento - www.agende.org.br
- AMB - Articulação de Mulheres Brasileiras -
www.articulacaodemulheres.org.br
- Themis - Assessoria Jurídica e Estudos de
Gênero - www.themis.org.br
- SOF - Sempreviva organização feminista -
www.sof.org.br
- Geledés - Instituto da Mulher Negra -
www.geledes.com.br
- CEPIA - Cidadania, Estudo, Pesquisa,
Informação e Ação - www.cepia.org.br
- Anis - Instituto de Bioética, Direitos
Humanos e Gênero - www.anis.org.br
- Rede Feminista de Saúde - Rede Nacional
Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, reúne 113 entidades:
grupos de mulheres, organizações não-governamentais, núcleos de pesquisa,
organizações sindicais/profissionais e conselhos de direitos da mulher, profissionais de
saúde e ativistas feministas - www.redesaude.org.br
- CFEMEA - Centro Feminista de Estudos e
Assessoria - www.cfemea.org.br
Uma "feminista honesta" que
posicionou-se enfaticamente favorável à legalização/regulamentação da prostituição
foi a advogada Iáris Ramalho Cortês, assessora técnica e uma das fundadoras do CFEMEA,
durante o IV Congresso Brasileiro de Prevenção em DST/AIDS, realizado em Cuiabá - MT,
em setembro de 2001, no texto a "Conquista da Cidadania pelas Profissionais do
Sexo", disponível na página
www.cfemea.org.br/temasedados/detalhes.asp?IDTemasDados=38
As feministas Mônica Bara Maia, Alessandra
Sampaio Chacham e Ana Flávia Coelho Lopes atestam sua posição no cínico artigo
"Profissionais do sexo e saúde" publicado pelo Jornal da Rede Feminista de
Saúde - nº 25, disponível na página www.redesaude.org.br/jr25/html/jr25-musa.html.
Organismos Internacionais avolumam a
avalanche
Embora bastante dissimulados, os Organismos
Internacionais transparecem seu apoio16a à legalização/regulamentação da
prostituição. Alguns desses órgãos estão diretamente relacionados à questão da
prostituição, entre eles:
UNIFEM - Fundo de Desenvolvimento das Nações
Unidas para as Mulheres. Fornece assistência técnica e financeira a programas e
estratégias inovadoras que promovem os direitos humanos, participação política e
segurança econômica às mulheres. www.unifem.org
UNAIDS - Programa Conjunto das Nações Unidas
sobre HIV/AIDS. Agrega agências do Sistema Nações Unidas (UNICEF, FNUAP, PNUD, UNDCP,
UNESCO, OMS e OIT) e o Banco Mundial.
UNFPA - Fundo de Desenvolvimento das Nações
Unidas para a População.
Em 2000 os diretores executivos do UNAIDS,
Peter Piot, do UNIFEM, Noeleen Heyzer e do UNFPA, Nafis Sadik publicaram "Gender, HIV
and Human Rights: A Training Manual" 17 . Nesse documento os autores usam
e abusam do embuste lingüistico "trabalhadores sexuais". Conforme os
autores, o eufemismo teria sido adotado pela UNDP, Programa de Desenvolvimento das
Nações Unidas. Entretanto sabe-se que esse criminoso termo foi criado e difundido pelo
maremoto pró-legalização/regulamentação.
Existem autoridades e instituições 18
que por diferentes razões morais, a maioria conservadora, são contrárias à
legalização/regulamentação da prostituição. Discordo dessas razões. Penso que as
mulheres prostituídas são vítimas e devem ser amparadas e não punidas.
Aspectos de crimes, repressão e
prostituição no Brasil
Por enquanto, a prostituição no Brasil
poderia ser legalmente coibida. No entanto a polícia raramente cumpre a lei. Acionam
essas leis como um "ás na manga" e dela se valem quando bem entendem19,
apenas em determinados casos resolvem fazê-la cumprir. Mais raros ainda são os
inquéritos policiais que chegam ao judiciário, onde nada acontece e acabam arquivados.
No Brasil vários crimes estão relacionados
direta e indiretamente à prostituição. Esses crimes muitas vezes se alimentam e são
alimentados pela prostituição, estão intimamente ligados, tais como:
a) prostituição de crianças e adolescentes
b) abortos ilegais
c) agressão física e moral???
d) tráfico de drogas
e) furtos e roubos
f) tráfico de pessoas e trabalho escravo
a) prostituição de crianças e
adolescentes
Diferenciar a prostituta de prostituta criança
e adolescente, é muito hipócrita. Prostituição é prostituição. A idade menor de 18
anos da pessoa prostituída é unicamente um agravante dessa degradante situação.
A maioria das prostitutas são aliciadas com
idade inferior a 18 anos, a faixa etária varia de 8 a 15 anos, ou seja, uma idade em que
lhe é roubada a beleza da infância e a possibilidade de conhecer o amor verdadeiro.
O Jornal Nacional, da TV Globo, noticiou no
final de dezembro de 2004 que numa cidade do Estado do Amazonas, às margens desse rio,
quase 50% das menores de 18 anos se prostituiam, ou seja, 50% dessa geração de mulheres
estava comprometida. Freqüentemente têm gravidez precoce, comprometendo assim o próprio
futuro e o dos seus filhos. O necessário planejamento familiar é espectral e só existe
em relatórios e discursos governamentais.
O Governo Federal e os estaduais tem realizado
seguidamente ações anunciadas na mídia, porém são localizadas. Coisas "para
inglês ver" e para principalmente exércitos de servidores públicos da Justiça e
Segurança20 justificarem sua existência e função.
Todos sabem que a prostituição de crianças e
adolescentes acontece em todos os lugares e de forma descarada, atingindo quase sempre as
famílias em situação de miséria e pobreza. O Brasil é o país com a pior
distribuição de renda do mundo, ou seja, é o lugar onde está a maior desigualdade
social 21.
A CEPAL em 2001 revelou que a maioria dos
pobres e miseráveis da imensa região dos Andes e da Amazônia são grupos de origem
étnica e cultural indígena, andina, amazônica e afroamericana.
Já em 1985 o jornalista Gilberto Dimensteim
fez uma série de reportagens sobre tráfico e a exploração sexual de crianças e
adolescentes no norte do Brasil. O trabalho que mostrava como viviam as meninas
escravizadas em garimpos e prostíbulos da região, teve grande repercussão e deu origem
ao livro-reportagem "Meninas da Noite". Durante a apuração Dimensteim
constatou que fatores como analfabetismo, desestruturação familiar e ausência de
perspectivas de vida eram as principais causas que levavam as garotas para a
prostituição.
A pobreza e miséria são a principal razão da
prostituição. A constatação é óbvia, mas vale ser reforçada. Em junho de 2002, o
Ministério da Justiça divulgou a Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e
Adolescentes para Fins de Exploração Sexual - PESTRAF, feita por ONGs com base em estudo
piloto da Organização dos Estados Americanos - OEA. A PESTRAF aponta a fome, o
analfabetismo e ausência de perspectivas de vida, como os principais fatores que levam um
número cada vez maior de pessoas para a prostituição.
A pobreza e a miséria foram consideradas no
Relatório da Comissão Especial de Inquérito da Câmara Municipal de Goiânia (1999):
"São meninas pobres, especialmente de famílias de laços afetivo-sociais frágeis;
algumas sofreram abuso sexual e foram vítimas de violência domiciliar; moram em bairros
de periferia e sonham em mudar de vida."
Em fevereiro de 2004 o relator da ONU para o
Tráfico de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantis, Juan Miguel Petit, atestou:
nesse cenário estão a pobreza, a violência vinculada a desigualdades sociais, o crime
organizado e a lentidão na implementação das medidas previstas no ECA, Estatuto da
Criança e do Adolescente22.
Em Julho de 2000 o presidente do Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente citou Caxias-MA como um exemplo do que
acontece na maioria dos municípios brasileiros. Foi denunciada a existência no
município maranhense uma máfia da prostituição infanto-juvenil composta por
"pessoas da alta sociedade local, juízes e advogados".
Caso a prostituição seja legalizada a
tendência dos índices de menores de 18 anos prostituídas é aumentar.
O disque-denúncia ligado ao Sistema Nacional
de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil é o número 0800 99 0500.
b) abortos ilegais
Todos reconhecem que as prostitutas são as
mulheres que mais realizam abortos ilegais. Talvez, o governo tente remediar a situação
gastando o dinheiro público em mega-campanhas publicitárias e com mais exércitos de
agentes de saúde/educadores sexuais, talvez sexólogos, especialmente contratados para
conscientizar as prostitutas, e caso algum dia liberem o aborto, pode gastar em locais e
profissionais capacitados para realizarem abortos seguros.
c) agressão física e moral???
A agressão física, não raro até a morte, é
feita mais comumente por clientes, cafetões e outras prostitutas, muitas vezes na disputa
por um prostituidor ou ponto de prostituição.
Muitos juristas consideram agressão moral, por
exemplo, que uma "mulher de bem" seja insultada de prostituta, puta, quenga,
meretriz, china ou qualquer palavra que expresse o significado relativo à prostituição.
O uso de expressões como "casa da mãe
Joana" ou "casa de meretrício" para se referir a qualquer das casas
localizadas junto à Praça dos Três Poderes em Brasília, ou dizer para qualquer dos
ocupantes dessas casas "vá à puta que o pariu" ou "filho da puta"
será uma agressão moral?
Caso a prostituição seja legalizada e o uso
das palavras e expressões citadas acima sejam consideradas ofensivas, as verdadeiras
ofendidas serão somente as prostitutas, afinal o agressor está se referindo a um
trabalho como outro qualquer. Aliás, não seria como outro trabalho qualquer, e sim, o
único em que a inexperiência seria valorizada.
São pensamentos surreais. Essa atividade
sempre será humilhante, aviltante, degradante.
A legalização da prostituição é um
desestímulo para as mulheres estudarem e qualificarem-se, pois sabem que ao chegar aos 18
anos terão liberdade para prostituírem-se. Nessa idade os alunos menos relapsos estão
ingressando na faculdade. Para quê estudar? A "profissão" estará assegurada.
O preconceito e a consequente estigmatização
dos prostituídos é escancarada, como:
- O ambiente de um bordel, mesmo que seja um
dos mais luxuosos e famosos de Joinville, maior cidade de Santa Catarina, não deve ser
freqüentado por cidadãos decentes. O artigo 43 do anexo 1 do regulamento disciplinar da
Polícia Militar do Estado, prevê que o policial militar não deve "freqüentar
ambiente incompatível com seu nível social e o decoro da classe."
- "Do lado do Congresso Nacional, 30 dias
após a instalação da legislatura, aquela Casa continua enredada em brigas e cacoetes
pessoais e, mais recentemente, em discussões "filosóficas" sobre a honradez
das prostitutas, como ocorreu esta semana no Senado Federal - deixando para trás o exame
de projetos essenciais para a economia nacional",. diz Antonio Ermírio de Moraes. O
empresário reflete o pensamento comum entre os brasileiros.
É como se discutissem o sexo dos anjos. Como
prostituta pode ter honradez?
d) tráfico de drogas
A cada batida (em 2003) feita nas ruas e boates
de Salvador recolhe-se um grande número de meninas. Nas delegacias especializadas, elas
contam histórias tristes e violentas, mas depois de algum tempo em casas de passagens e
abrigos, a maioria volta para as ruas por não ter para onde ir. Quase todas são
dependentes de algum tipo de droga e precisam se prostituir para alimentar o vício.
Conforme a conselheira tutelar Eliane Delamar
Roque, do Conselho Tutelar do Continente, em Florianópolis "as meninas começam a
fumar crack e ficam absolutamente dependentes da droga. Muitas fazem o programa em troca
de uma pedra."
Drogadição é a prostituição por drogas. O índice de prostitutas consumidoras de
drogas é elevado e muitas acabam exterminadas pelo crack e pela mais popular de todas as
drogas, o alcóol, geralmente cachaça.
e) tráfico de pessoas e trabalho escravo
O tráfico de pessoas destina-se à
escravidão. É uma das modalidades de crime organizado que mais se expandem em todo o
mundo. Há rotas regionais, nacionais e internacionais de pessoas traficadas. A grande
maioria é de mulheres destinadas à prostituição.
Entretanto, a maior promotora de associações
de prostitutas na América Latina, a ONG Davida, por meio do jornal Beijo da Rua, parece
não pensar dessa forma: "Há denúncias de que o tráfico de mulheres também atinge
prostitutas. Como combater esse crime?" Indaga de forma cínica, em julho de 2002, à
subsecretária de Segurança da Mulher e Defesa da Cidadania do Rio de Janeiro, Barbara
Musumeci Soares. O jornal novamente falseia a realidade. Evita tocar nesse e em outros
assuntos verdadeiramente importantes e altamente nocivos às prostitutas. Quando aborda-os
é sempre de forma surreal.
A realidade é que o Brasil está entre os
países onde esses crimes mais acontecem e se expandem. O país é o segundo maior
exportador mundial de mulheres para prostituição.
Em fevereiro de 2003, a coordenadora do Comitê
Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual da Criança e Adolescente, diagnosticou: o
problema maior se encontra dentro do país. O tráfico internacional (para a exploração
sexual de crianças e adolescentes), ainda que preocupante, seria bem menor que o
nacional.
f) furtos e roubos
Os binômios homem-ladrão e mulher-prostituta
são tradicionais e comuns nas classes sociais que sobrevivem na pobreza e na miséria.
O índice e o número de presas (provavelmente
a maioria prostitutas) por furtos e roubos é cada vez maior. Não é raro serem parceiras
de seus companheiros nesses crimes. O golpe das "Iscas" é seguidamente
relatado. São mulheres, normalmente prostitutas, que praticam assaltos, juntamente com
seus companheiros. Geralmente, elas ficam, à noite, à margem de uma estrada, solicitando
carona. Quando o motorista, normalmente um caminhoneiro, estaciona para apanhá-la e logo
depois realizar o ato sexual, o companheiro da "Isca" faz o assalto, geralmente
à mão armada. É corriqueiro serem noticiadas mortes nessas ocorrências. Milhares
deixam de ser registradas e não aparecem nas estatísticas.
Os governos federal, estaduais e municipais
possuem diversas estruturas especializadas para minimizar os crimes descritos acima. Entre
elas, para:
- prostituição de crianças e adolescentes
Conselhos tutelares, FEBEM's e Juizados da
Infância e da Juventude.
Deveria haver pelo menos um conselho tutelar em
cada cidade, mas, segundo a ONU, apenas 3.477 de 5.578 municípios têm essas entidades. A
maioria são como câmaras de vereadores e secretarias municipais - existem e não cumprem
sua função, geralmente devido ao despreparo dos ocupantes desses cargos públicos.
- abortos ilegais
Geralmente as secretarias de saúde possuem
equipes para orientar sobre os problemas derivados da gravidez precoce e para coibir o
exercício ilegal da medicina.
- agressão física e moral???
Delegacias da Mulher comumente apenas registram
violências consumadas. Quase sempre são estupros e agressões físicas.
Secretarias da Mulher nos governos federal, estadual e municipal são relutantes e
praticamente não se manisfestam de forma pública e enfática sobre a prostituição.
Entre 1999 e 2000 foram notificadas 54.176
ocorrências de crimes sexuais. Dentre estes, 30.003 foram estupros. Entretanto, estima-se
que apenas 10% das mulheres que sofrem algum tipo de violência doméstica ou sexual
denunciam.
- tráfico de drogas
Delegacias de narcóticos e entorpecentes.
- furtos e roubos
Delegacias de furtos e roubos.
- tráfico de pessoas e trabalho escravo
GERTRAF: Decreto 1.538, de junho de 1995, da
Presidência da República: Criação do Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho
Forçado - GERTRAF, para coordenar e implementar a repressão do trabalho escravo. O grupo
é formado por representantes de sete ministérios: Ministério do Trabalho; Ministério
da Justiça; Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal;
Ministério da Agricultura e do Abastecimento; Ministério da Previdência e Assistência
Social; Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo; Gabinete do Ministro de
Estado Extraordinário de Política Fundiária. Encontra-se subordinado à Câmara de
Políticas Sociais do Conselho de Governo. A coordenação cabe ao Ministério do Trabalho
e Emprego. As ações do GERTRAF são executadas pelo Grupo Especial de Fiscalização
Móvel, que tem seis Coordenadores Operacionais, compostos de Auditores Fiscais do
Trabalho com especialização em Legislação, e em Segurança e Saúde no Trabalho, que
se deslocam com a Polícia Federal por todo o país, devolvendo a liberdade aos que
caíram na rede da servidão.
Por vezes, as estruturas governamentais
atuam conjuntamente em ações que têm um maior ou menor impacto, apenas midiático.
Outros crimes que se alimentam e são
alimentados pela prostituição e estão em fase expansão são o "turismo
sexual" e a pornografia/prostituição via Internet.
- Turismo sexual
Existem máfias internacionais que atuam
especialmente no norte-nordeste brasileiro para atender turistas estrangeiros.
Praticamente todos os hotéis do país facilitam a prostituicão e oferecem prostitutas. O
número de hotéis que oferece prostitutas ostensivamente é crescente. Muitas prostitutas
se oferecem nos halls dos hotéia. Em fevereiro de 2005 o presidente da ABIH -
Associação Brasileira da Indústria Hoteleira - propôs, para inibir a prostituição de
crianças e adolescentes no interior dos hotéis do Brasil, que fosse incriminado o
atendente, que seria o responsável pela fiscalização da idade das pessoas que
acompanhassem os hóspedes.
- Pornografia/prostituição via Internet
Confira alguns aspectos do que acontece no
Brasil. 23
Pesquisas excelentes sobre prostituição e
Internet foram publicadas por Donna Hughes.24
Associações de prostitutas e DST/AIDS
Aquele que não tiver pecados que atire a primeira pedra.
Jesus Cristo ao defender a
Madalena do apedrejamento.
Na sociedade, o movimento pró
legalização/regulamentação da prostituição está estruturando-se rapidamente por
meio da ilegal criação de associações de prostitutas25, que somadas à
inexistência de vozes críticas ao tema, inviabilizam o indispensável debate.
Sob o véu/cobertura/carapuça de combater as
DST/AIDS, a insidiosa campanha pró legalização/regulamentação da prostituição está
sendo alicerçada na criação de associações de prostitutas.
Conforme Paulo Longo: "A Rede Global de Projetos da
Indústria Sexual (Network of Sex Work Projects - NSWP) nasceu em uma conferência de
AIDS. Em 1990, um grupo de ativistas homens, mulheres e transgêneros, reunidos em Paris
num evento de organizações não-governamentais, constatou a necessidade de somar
esforços na luta contra o crescente estigma associado à AIDS." Se a luta era
contra a AIDS, por que a denominação Projetos da Indústria Sexual? Caso o
principal objetivo da ONG fosse o combate ao vírus da AIDS, um nome mais apropriado
poderia ter sido Rede Global de Combate à DST/AIDS. Acredito que aí esteja o embrião do
processo.
No mesmo texto, Paulo Longo
criminosamente distorce os fatos: "Naquele momento, ainda se utilizava o conceito
grupos de risco, que vem da epidemiologia e significa 'grupo de pessoas em
maior risco para contrair uma doença', mas que passou a significar pessoas que
representam risco para a sociedade. Prato cheio para os conservadores! Vários se
aproveitaram da oportunidade da nova epidemia para acusar os profissionais do sexo de
vetores do HIV; isso mesmo, vetores, como insetos." As prostitutas são um grupo de
risco por terem um comportamento de risco. Relatos de relações sexuais com até 15-20
parceiros por dia são comuns. O risco de espalhar a AIDS é potencializado, pois elas
são contaminadas e contaminam seus prostituidores, que, ao fazerem sexo com suas
parceiras fixas (esposas, namoradas, companheiras...) têm elevado o número e o índice
de mulheres com parceiros fixos infectadas com a AIDS26.Os hemofílicos
constituem grupo de risco, e não é devido ao comportamento, mas à perigosa necessidade
das seguidas transfusões de sangue.
Longo continua: "Em abril deste ano
(2004), nossos parceiros em Bangcoc (durante a XV Conferência Internacional sobre AIDS)
perceberam a intenção do comitê de chamar a americana Donna Hughes, feminista
conservadora e antitrabalho sexual, para a sessão de profissionais do sexo. Foi uma
imensa luta, na qual mostramos que não aceitaríamos de forma alguma a participação
dela em nenhum evento de profissionais do sexo durante a conferência." Acredito que
todos devem ter liberdade de expressão, mesmo as conservadora(e)s, porém, honestamente,
não percebi nada de conservador no texto (leia nota 9) de Donna Hughes, pelo contrário
parece-me bastante sincera e verdadeiramente preocupada com o destino de milhares de
mulheres.
O desenvolvimento do processo
Ainda segundo Paulo Longo: "Durante
oito anos, de 1990 a 1998, a Rede foi coordenada por Cheryl Overs (sua esposa), da
Austrália, e por mim. Em 1998 elegemos um coordenador da África do Sul, que atuou até
2002. No início de 2003 decidimos transferir a Rede para o Rio e me tornei
coordenador."
Longo teve vida curta. Ex-prostituto e
psicológo, faleceu em 08 de outubro de 2004, aos 40 anos. Deixou a esposa, Cheryl Overs,
co-autora do livro "Making Sex Work Safe" e estabelecida em Brighton,
Inglaterra. Aparentemente, Melissa Ditmore, estabelecida em Nova Iorque, assumiu o posto
de Longo na NSWP.
A UNAIDS e o Programa Nacional de
DST/AIDS do Ministério da Saúde publicaram em seus respectivos sites nota de falecimento
de Paulo Longo.
- www.unaids.org/html/pub/media/press-statements01/ps_paulolungo_13oct04_en_pdf.pdf
- www.aids.gov.br/imprensa/Noticias.asp?NOTCod=60074
Os trechos do texto de Paulo Longo
citados acima foram publicados na página do Programa Nacional de DST/AIDS do Ministério
da Saúde, citada acima, da qual também transcrevo: "Atualmente coordenava a
International Network of Sexwork Projects (Rede Internacional de Projetos de Profissionais
do Sexo), era membro da Internacional Aids Society (Sociedade Internacional de AIDS) e da
International Union for Health Promotion and Education (União Internacional para Saúde e
Promoção da Educação). Em reconhecimento ao seu trabalho, foi eleito recentemente
representante da América Latina no Conselho de Coordenação do Programa Conjunto das
Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS). A posse aconteceria em janeiro de 2005. No
Ministério da Saúde, Paulo Longo também deixou sua contribuição: foi consultor do
Programa Nacional de DST/AIDS entre os anos de 1991, 1992 e 1994."
A preparação do terreno no Brasil
A transferência da NSWP para o Brasil em
2003 não foi por acaso. No Brasil a trama pró indústria da prostituição encontrou
solo fértil para desenvolver-se, pois o país é: um dos principais destino do
turismo sexual no mundo. um dos maiores exportadores (2º) de prostitutas do mundo.
carente de organizações na sociedade que estabeleçam o contraponto ao maremoto
pró legalização/regulamentação da prostituição. repleto de políticos e autoridades
coniventes e/ou ineficientes. 27 amordaçado pela mídia-rufiã de
"classificados do sexo" e propagandas do gênero.28 recheado de
centrais sindicais que esperam aumentar suas bases de contribuição.
O "processo brasileiro"
"Seguramente o Brasil é um dos
países pioneiros na criação deste tipo de instituições" 29.
O modelo difundido e adotado pelas
nascentes associações de prostitutas, não apenas no Brasil, mas também na América
Latina e Caribe, tem como principais disseminadores desse processo Gabriela Silva Leite,
diretora-executiva da ONG Davida e coordenadora da Rede Brasileira de Profissionais do
Sexo; e obviamente o internacional Paulo Longo.
Aproveitando-se da fragilíssima situação em
que se encontram a imensa maioria das prostitutas, o canto de sereia de Gabriela e Longo
as leva a acreditar que enfim econtraram o sonhado porto seguro. Triste ilusão. Não
passam de uma imensa massa de manobra que servem apenas de "ponta de lança" ou
"bucha de canhão" para os poderosíssimos interesses que delas se aproveitam.
Provavelmente os principais instrumentos
de divulgação da ONG Davida sejam o jornal Beijo da Rua e o seu site
www.beijodarua.com.br. Ambos possuem o apoio da Coordenação Nacional de DST/AIDS e do
Programa das Nações Unidas para o Controle Internacional de Drogas.
Ressalto que o Prêmio Ações
Sustentáveis em HIV/AIDS (2002), conferido pelo Ministério da Saúde, em parceria com
Fundação Ford, Banco Bradesco, Volkswagen do Brasil e Usaid premiou em 1º lugar na
categoria Planejamento Estratégico a ONG Davida, "pelos excelentes resultados na
organização social de prostitutas em todo o Brasil". O Bradesco era o
responsável pela categoria Planejamento Estratégico. A premiação ocorreu em Aracaju,
no dia 21 de agosto, durante o I Seminário Nacional de Sustentabilidade: AIDS e Sociedade
Civil em Debate. A Associação de Prostitutas do Ceará (Aproce) conquistou o terceiro
lugar na categoria Captação de Recursos.
O jornal Beijo da Rua
Alguns trechos (abaixo) do jornal Beijo
da Rua publicado em seu site permite-nos identificar a "ideologia/discurso"
dessa entidade modelar para o surgimento de várias outras semelhantes no Brasil, América
Latina e Caribe.
Outubro de 2004
CONTROLE DE SAÚDE - Resultado da idéia
equivocada e moralista de que prostitutas são focos infecciosos, o controle de saúde
cria situações dramáticas. Em alguns países, há cidades ou estados com normas de
saúde diferentes, incluindo exames obrigatórios pagos para o fornecimento dos
famigerados carnês de prostituta, alguns com fotografia, digitais e endereço. Quando a
prostituta viaja para trabalhar, tem que se submeter aos controles de cada região. Há
postos de saúde onde os instrumentos não são esterilizados. No Equador, exames
ginecológicos têm que ser feitos a cada 8 ou 15 dias, de sífilis a cada mês e anti-HIV
de três em três meses.
PROPOSTAS E AÇÕES - As prostitutas consideram
que exames obrigatórios violam o direito sobre o próprio corpo. Querem atendimento
voluntário e integral de saúde e horários ampliados nos postos. Dialogam com o setor
saúde para influir em reformas e mostrar seu papel na prevenção. No México, caiu a
obrigatoriedade de exames anti-HIV. No Chile, conseguiram ao menos tirar a foto do
"carnê de saúde sexual". No Equador, querem ser ressarcidas por 25 anos de
pagamento de controle de saúde obrigatório.
Essas propostas para a saúde são no
mínimo cretinas, pois os principais difusores de associações de prostitutas, além da
forma ilegal e ilegítima de se aproveitarem dos espaços, atividades e verbas da luta
Anti-AIDS, criminosamente deturpam a realidade dizendo ser "idéia equivocada e
moralista de que prostitutas são focos infecciosos". Qual categoria de mulheres
trabalhadoras poderia apresentar índices maiores de DST/AIDS, de abortos, fazer uso de
drogas e serem presas? Esse quadro obviamente reflete uma baixa qualidade de vida e
consequentemente menor expectativa de vida.
Atletas como jogadores de futebol devem
submeter-se à exames de saúde para exercerem suas profissões. Por que as prostitutas
deveriam deixar de realizar exames preventivos? Afinal, constituem um grupo de risco por
terem um comportamento de risco.
Outubro de 2002
VÍRUS BOM "A associação atua
como um vírus bom: a gente vai se conhecendo, vendo os resultados das articulações e do
nosso crescimento e, assim, o trabalho vai caminhando", explicou Vânia, coordenadora
administrativa da APPS (na assembléia de fundação da Associação Pernambucana de
Profissionais do Sexo). A Rede Brasileira de Profissionais do Sexo acompanhou todo o
processo de organização e estava também na fundação. Gabriela Silva Leite, de
Davida, e Rosarina Sampaio, da Associação de Prostitutas do Ceará (Aproce), comemoraram
a data ao lado de representantes da Coordenadoria da Mulher e das secretarias de Saúde,
de Desenvolvimento Econômico e de Assuntos Jurídicos da Prefeitura do Recife. "A
APPS representa um novo momento no movimento de prostitutas. O modelo de colegiado pode
ser exportado para outras associações", elogiou Gabriela.
(...)
"Sem as prostitutas e seu desejo de
organização, nada teria acontecido. Mas sem Fátima, tudo certamente teria sido mais
difícil", diz Gabriela Silva Leite, que vem acompanhando o processo de criação
da APPS. Para Fátima, no momento contratada pela Prefeitura do Cabo para trabalhar
duas vezes por semana com prostitutas, o encontro representou mais um grande passo e é
motivo de orgulho. "O resultado foi positivo demais. A associação está prestes a
nascer. Ela está em trabalho de parto e a cabecinha já está apontando", avalia
ela, com a sabedoria aprendida com as parteiras tradicionais.
Novembro e dezembro de 2002
PUTA, PROSTITUTA, MULHER DA VIDA
Na conferência Identidade e Estigma no
Movimento Organizado, Gabriela Silva Leite, diretora executiva do Davida e coordenadora da
Rede Brasileira de Profissionais do Sexo, voltou a enfatizar a importância da
visibilidade das profissionais do sexo, principalmente assumindo os nomes da profissão.
Para ela, prostituta, puta, mulher da vida e outras tantas denominações deveriam ser
consideradas pelas profissionais para que o preconceito não seja reproduzido pelas
próprias trabalhadoras do sexo. Comparado a outras ocupações, como profissionais da
comunicação (na prática conhecidos como jornalistas, repórteres, fotógrafos,
cinegrafistas), o nome profissional do sexo mascara o preconceito que as próprias
prostitutas têm com a sua atividade.
Não se assumir é ser cúmplice do preconceito
e abrir mão da própria história. Isso porque, na medida em que se pensa em "sair
dessa vida30", elimina-se qualquer esforço em direção aos direitos
trabalhistas e, portanto, a melhorias nas condições de trabalho, que incluem boas
relações com donos de casa, motel e pensão e com colegas de profissão e clientes.
Gabriela relembrou o seminário AIDS e Prostituição, quando manifestou sua preferência
pelo nome puta lendo o poema de mesmo nome, escrito por nosso poeta maior: Carlos Drummond
de Andrade.
(...)
Waldo Cesar, presidente da ONG Davida, lembrou
que as prostitutas vivem um momento especial, em que contam com o apoio do Executivo e
do Legislativo não só em ações direcionadas à saúde, mas principalmente ao
reconhecimento da profissão.
(...)
A deputada estadual Cida Diogo (PT/RJ),
presidente da Comissão dos Direitos da Mulher na Assembléia Legislativa do Rio de
Janeiro enfatizou a importância da representação de todos os setores da sociedade no
poder público. "Por mais que a gente possa contribuir nessa caminhada, a luta
é de vocês. E o instrumento mais eficaz que vocês devem ter em mãos é a
organização".
Médica, ela citou a dificuldade de trabalhar a
questão da saúde do profissional do sexo. "Há ainda muito preconceito. É preciso
mudar os métodos educacionais da escola de medicina e da sociedade como um todo. Temos
que reciclar nossos profissionais".
Concordo que as pessoas/entidades tenham liberdade de expressão à la Larry Flint, mas sem aporte de dinheiro público, pois o modelo/discurso que o jornal Beijo da Rua espelha para as várias nascentes associações de prostitutas é a mais perversa e estigmatizante possível. Caso as prostitutas sigam seu exemplo, elas jamais deixarão essa aviltante condição e nunca serão cidadãs. A mais cretina dessa situações é ratificar o preconceito: "fazem porque gostam". A expressão "PROFISSÃO DO PRAZER" é um descalabro incentivo à degradação humana, conforme explicita o site do jornal Beijo da Rua.
Agosto setembro 2002
Gabriela Silva Leite, coordenadora da Rede
Brasileira de Profissionais do Sexo, disse aos convivas que a proposta é fruto da luta
das prostitutas brasileiras, que encontraram no deputado um aliado no Congresso Nacional.
Ela lembrou que se prostituir não é ilegal, mas que o ultrapassado Código Penal de 1940
pune os donos de casa por considerar que uma mulher não pode optar pela profissão
do prazer. "Tirar do crime os patrões é um importante passo para superar esse
estigma da vítima e estabelecer verdadeiras relações trabalhistas". Gabriela
informou ainda que até o governo já considera ser profissional quem trabalha com sexo. A
prova é a inclusão da atividade no Código Brasileiro de Ocupações, do Ministério do
Trabalho e Emprego.
(...)
Dois estilos de mulher
A bem comportada Rita e a fogosa tia Maria têm
estilos opostos que enriquecem a vida
Cristina Cherigatti
Rita e Maria. Uma tem 35 anos, a outra, 56. As
duas batalham na Praça Tiradentes, Centro do Rio. Uma é discreta e fala principalmente
das filhas. A outra não descuida dos netos e ao mesmo tempo curte os prazeres da vida
profissional. Se Rita mostra como se veste para a batalha, ou seja, o antes, Maria
conta o que faz no ato, quer dizer, o durante. Elas se completam e vão completar ao
leitor. Como agradam tantos clientes.
(...)
Um restaurante italiano de Ipanema, Zona Sul do
Rio, foi o cenário da apresentação a profissionais do sexo do projeto de lei que
legaliza a prostituição, de autoria do deputado federal Fernando Gabeira (PT-RJ). O
político convidou 50 ativistas e representantes da categoria para um jantar, regado a
vinho e cerveja, a fim de explicar a proposta e pedir sugestões. Pelo projeto, o
pagamento pelos serviços de natureza sexual passa a ser obrigatório por lei e manter
casa de prostituição deixa de ser crime. O favorecimento ao comércio sexual também sai
do Código Penal, assim como o tráfico de mulheres, já que o artigo só se preocupa com
quem exerce a profissão do prazer.
(...)
RIO, O ANO TODO
A reativação do Fórum mensal de
Profissionais do Sexo, a criação do evento Mulheres Seresteiras e a consolidação do
Encontro Fluminense anual foram os destaques do ano no Rio. O bloco carnavalesco Unidos da
Praça Tiradentes também se firmou e voltará a agitar o Centro da capital em fevereiro
de 2004. São Paulo seguiu o Rio e fundou o seu fórum, que vem se ampliando a cada mês.
Foi também na capital paulista que um auditório lotado por 800 funcionários de empresas
privadas aprendeu com a prostituta Gabriela que negociar fantasias sexuais é trabalho
saudável e honroso. Pecado é não usar camisinha, como gritamos aos quatros ventos
este ano, ao lado de outros movimentos. E foi só o começo.
(...)
Novembro e dezembro de 2002
"Olha a capa do BEIJO aqui, Flavio",
me disse a Margareth na beira da piscina do hotel de Salvador onde rolava gostoso o
encontro da Aprosba.
Margareth estava orgulhosa e contou sua história. Contratou um dos fotógrafos do evento
para fazer o clique no quarto do hotel. Sua intenção era essa mesma: apresentar aos
leitores do BEIJO (de preferência na capa) algumas das suas qualidades profissionais.
Não é à toa que Margareth Gomes da Silva é
a coordenadora de Comunicação da APPS. Alegre, falante, sorridente, comunicativa e
sedutora, essas são características da profissional do sexo de 40 anos, 20 na batalha, 5
filhos. Pernambucana do Recife, faz ponto na famosa Praça do Diário, Centro da cidade.
Solteiríssima, como ela mesmo diz, adora homem, dinheiro e sexo, e portanto confirma:
"Nasci pra isso".
Margareth também gosta de ir à praia e de
dançar. Seu esporte preferido é a ginástica, que mantém esse corpinho tentador. Com
ele já fez programa de 300 reais, sacudindo de delícias um gringo. "Eles pagam bem
e exigem pouco", conta.
"Amar e ser amada".
(...)
2002 - Corações e mentes de cara pro sexo
Descobrir e realizar fantasias é o segredo de
um bom programa
Um dos motivos desta minha iniciativa
é acreditar que prostitutas são as maiores vítimas do processo todo. Concordo com a
seguinte idéia: "O meio prostitucional desempenha um papel formador. Em apenas
alguns meses as jovens ficam formadas nas deformações do "meio". Ficam
formadas e encerradas. O "meio" ensina-lhes os modelos as atitudes aconselhadas
ou proibidas face ao dinheiro, face aos clientes, face aos proxenetas." 31
Fato notório é a prostituição estar
ligada diretamente à pobreza e à miséria. Entretanto, no mundo cor de rosa do site do
jornal Beijo da Rua, a única vez que a palavra "pobre" aparece é por meio de
uma citação indireta.
Na Declaração da IX Conferência Nacional de Direitos Humanos Carta de Brasília, com 29 itens, os 860 delegados pedem para a sociedade brasileira não ver o pobre, as profissionais do sexo, os gays, os transgêneros, os bissexuais e as lésbicas, os usuários de substâncias psicoativas como ameaças, como aberrações ou com o estranhamento da ignorância e da intolerância.
O testemunho de algumas prostitutas de Macaé/RJ corroboram o mundo cor de rosa do jornal Beijo da Rua:
Janaína, 21 anos, perdeu a virgindade aos
12 anos, com o namorado. Era órfã, vivia com outra família e depois foi morar num
internato para meninas até os 18 anos. "Desde os 12 anos que estou nessa vida",
conta. E garante que não está arrependida por ter ingressado na prostituição.
(...)
Já Gercyelyn, 23 anos, nascida em Ilhéus
(BA), está há dois meses em Macaé. Conta que adotou a profissão por estar cansada de
procurar emprego e nunca encontrar. "Estou chegando hoje a Macaé e estou gostando.
Acho que tudo vai correr bem para mim, por ser uma pessoa simpática", disse.
(...)
Outra profissional do sexo - que não quis se
identificar - disse que quando falta camisinha, vai apanhar direto no posto da Rua do
Sacramento. "Lá também eles nos atendem bem e nos dão muitos folhetos com
informações sobre a prevenção à AIDS", contou.
Outubro de 2004
As organizações de prostitutas
já conquistaram credibilidade e respeito de governos, sociedade civil e mídia.
Associações de Prostitutas na América Latina
e Caribe
A ponte Brasil-Peru
A estratégia geográfica para
proliferação das prostitutas no Brasil teve e têm como grande centro difusor a cidade
do Rio de Janeiro. Um forte tentáculo, provavelmente o grande difusor das associações
de prostitutas na América de língua espanhola, talvez seja o Peru.
A ONG Davida representou as prostitutas
brasileiras no Encontro Nacional e Internacional de Líderes Trabalhadoras Sexuais,
organizado pela Associação Miluska Vida e Dignidade e pela ONG Cepesju. Ángela Villón
é a presidenta da Associação Miluska, fundada em maio de 2004.
Associações de prostitutas peruanas,
cujo principal objetivo é a legalização da prostituição, empregam a mesma tática
usada no Brasil para proliferarem, aproveitando-se de forma ilegal e ilegítima dos
espaços, atividades e verbas da luta anti-AIDS. O governo peruano convidou a Associação
Miluska para integrar o Comitê Consultivo de Estratégia Sanitária para o Controle de
DST e AIDS.
Os verdadeiros líderes do processo
peruano são mais dissimulados e por isso mesmo mais difícil de serem identificados.
O Proyecto Sexualidades, Salud y
Derechos Humanos en América Latina aa Universidad Peruana Cayetano Heredia é um foco
pró-legalização da prostituição, pois organiza e promove atividades, como o
fantasioso II Foro Eletrônico Latinoamericano: ¿Trabajo Sexual, prostitución, industria
del sexo? Tensiones, estigma, derechos y políticas públicas, ocorrido entre 26 de
janeiro e 11 de fevereiro de 2005, e possível graças a uma doação da Fundação Ford a
Facultad de Salud Pública y Administración.
Carlos Cáceres, coordenador
desse "Proyecto", é conhecido no Instituto de Medicina Social (IMS) da UERJ.
Ali publicou o inútil e descritivo (estilo conto erótico): Masculinidades negociadas:
Identidades e Espaços de Possibilidade Sexual em um Grupo de Michês em Lima. En:
Barbosa, Regina Maria y Parker, Richard (organizadores). Sexualidades pelo avesso.
Directos, Identidades e Poder. Rio de Janeiro, IMS/UERJ, 1999. É conhecer alguns detalhes
sobre os pesquisadores-colaboradores desse "Proyecto".32
Falando em UERJ (Universidade
Estadual do Rio de Janeiro) lembrei que Paulo Longo e Paulo Telles publicaram o documento
"Violence against female sex workers in Brazil: Preliminary findings from a Horizons
study". Paulo Telles é responsável pelo NEPAD ( Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Atenção ao Uso de Drogas) da UERJ.33
A deputada Cida Diogo (PT/RJ), presidente
da Comissão dos Direitos da Mulher na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, foi a
autora do Projeto de Lei para a distribuição gratuita de seringas descartáveis aos
usuários de drogas injetáveis no Rio de Janeiro.
Também na UERJ está o CLAM
(Centro Latino-americano em Sexualidade e Direitos Humanos), ligado ao IMS. Sérgio Luís
Carrara dirige o CLAM. Na cerimônia de fundação do CLAM estavam presentes a
representante da Fundação Ford, Ana Toni e a então Reitora da UERJ, Nilcéa Freire,
atual ministra da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres.
O tabuleiro do poder
Defender a legalização/regulamentação
da prostituição envolve muito dinheiro. Grandes valores podem ser obtidos por meio de
verbas legais e ilegais34.
A disputa pelos espaços, atividades e
verbas, especialmente as ilegais e ilegítimas da luta Anti-AIDS, deve ser intensa. Talvez
este seja o alerta do jornal Beijo da Rua (out/2004): "Ameaças à Autonomia. ONGs
feministas ou ligadas a empresários tentam misturar-se ao movimento, falar pelas
trabalhadoras e monopolizar verbas. Alguns empresários são contra a formalização da
prostituição para não assumir seu papel e há feministas que ainda vêem o trabalho
sexual como indigno. Mostrar aos empresários os benefícios da legalização e denunciar
os que fingem ser parte do movimento."
Não gostaria de ser rotulado de
"feminista", e para ser honesto com minhas observações expostas, verei para
sempre a prostituição como algo indigno.
Todos devem posicionar-se sobre esse
assunto. Quem cala, consente, e afinal, somos culpados ou inocentes em nossas decisões.
A prostituição não deve ser
legalizada/regulamentada. Os aproveitadores da prostituição (clientes, rufiões...)
devem ser fortemente penalizados. As vítimas da exploração sexual não devem ser
punidas, mas assistidas pelo Estado. A prostituição não deve ser
legalizada/regulamentada.
Conclamo a todos os verdadeiramente
preocupados com a expansão do movimento pró legalização/regulamentação da
prostituição, a mobilizar-se numa ONG nacional semelhante à espanhola Asociación para
la Prevención, Reinserción y Atención de la Mujer Prostituida - APRAMP - www.apramp.com
Espero a resposta de tod@s.
Dedico esse documento a todas
mulheres, especialmente as pretas, pobres/miseráveis, prostituídas e presas. Sobretudo
à minha mãe.
Brasil, fevereiro de 2005.
1
Significado no dicionário
Prostituição: ato ou efeito de prostituir-se;
degradar-se; aviltar-se; humilhar-se; privar-se de dignidade; comércio do amor sexual.
A prostituição feminina é:
- Uma consequência da dominação masculina contra a mulher
- Um meio de manter essa dominação
- Uma forma extrema de discriminação
- Uma violação dos direitos humanos
- Vivenciar o risco e o perigo constantemente
- Abuso sexual
- Violação
- Abuso verbal
- Violência física e psicológica
- Racismo
- Abuso de menores
- Impunidade no uso da violência
- Deshumanização do gênero feminino
"Informe sobre el tráfico de mujeres y la prostitución en la Comunidad de
Madrid" realizado por La Comisión para la Investigación de Malos Tratos a Mujeres,
com o apoio da Dirección General de la Mujer de la Comunidad de Madrid (Consejería de
Trabajo):
www.redfeminista.org/Doc/prosti%2021-10-03%20cubierta.pdf
Não à Legalização da Prostituição - 10 Razões para a prostituição não ser
legalizada
1- Legalização / descriminalização da prostituição é um presente para os cafetões,
traficantes de mulheres e a indústria sexual.
2 - Legalização / descriminalização da prostituição e da indústria sexual promove o
tráfico sexual.
3- A legalização não controla a indústria sexual. Só a expande.
4- A legalização aumenta a prostituição de rua, que é ilegal, escondida e
clandestina.
5- Legalização da prostituição e descriminalização da indústria do sexo aumenta a
prostituição infantil.
6-A legalização da prostituição não protege as mulheres prostituídas.
7-A legalização da prostituição aumenta a procura pela prostituição. Ela incentiva a
motivação dos homens para a compra dos serviços sexuais das mulheres de uma forma muito
mais permissiva e aceitável socialmente.
8-A legalização da prostituição não promove a saúde das mulheres.
9- A legalização da prostituição não melhora as condições de escolha da mulher.
10. As mulheres em sistema de prostituição não querem a prostituição legalizada.
Dra. Janice G. Raymond, 25 de março de 2003
Diretora co-executiva da Coalisão contra o Tráfico de Mulheres-CATW
Professora Emérita da Universidade de Massachusetts, Amherst
Caixa Postal 9338
N.Amherst, MA 01059
EUA
jraymond@wost.umass.edu
http://action.web.ca/home/catw/attach/10%20Raz%F5es%20para%20a%20prostituicaoPort.doc
Classificação da "fauna" que sobrevive em torno da prostituição.
Prostitutas, mixês, gays, lésbicas, transsexuais, travestis e outros tipos associados
são confundidos.
Muitas vezes são colocados "no mesmo saco". Entretanto a diferença básica é
a seguinte:
Sexo por dinheiro...
prostitutas - São mulheres prostituídas
mixês - São homens prostituídos
Opção sexual
gays - São homens homosexuais.
lésbicas - São mulheres homossexuais.
bissexuais - Homens e mulheres homo e hetero sexuais.
transsexuais - São pessoas que realizaram uma operação para mudança de sexo.
travestis - São homens com vestes, adornos e trejeitos de mulheres.
Outros personagens costumam freqüentar o ambiente da prostituição, entre eles:
- o proxeneta/rufião ou dono de bordel.
- o cafetão/rufião
- o pedófilo, pessoa adulta prostituidora/aproveitadora de crianças.
A prostituição, tema abordado neste
documento, é um problema social muito antigo e que se torna a cada dia mais crescente em
nossa sociedade. Dizem que não pára de crescer mesmo em países de regimes autoritários
como China e Cuba.
Segundo George Bush: "O regime de Fidel Castro transformou Cuba no principal destino
do turismo sexual, substituindo o Sudeste Asiático como destino favorito dos pedófilos
dos Estados Unidos e Canadá". Para os muçulmanos do Marrocos o maremoto que atingiu
o Sudeste Asiático foi um castigo de Alá devido à prostituição ali existente. Fidel
negou, chamou Bush de alcóolatra e débil mental, delirante e fundamentalista e de
"inqualificáveis e grosseiras calúnias" que provêm de "um personagem
sinistro que nos ameaça, nos insulta e nos calunia". Palavras! Nada além de
palavras e discurso. Todos sabem que a prostituição cresce nas barbas de Fidel.
A prostituição é problema, devido às suas
causas e motivos (pobreza e miséria: material e/ou espiritual) que levam pessoas a
venderem seu corpo e exporem-se a humilhações por parte da sociedade. Sociedade que
devido a sua estrutura, as prostitui e depois as estigmatiza como verdadeiros "lixos
humanos" *.
Conforme a socióloga portuguesa Maria Inês
Gomes Rodrigues Fontinha no artigo O significado social da prostituição:
Falar sobre prostituição é assumi-la como um
problema social na perspectiva em que é uma situação que afeta um número significativo
de pessoas e é considerado por estas pessoas ou por um número significativo de outras
pessoas como fonte de dificuldade ou infelicidade e considerada suscetível de melhoria ou
resolução (UNESCO) e por isso falar de prostituição é tomar consciência de que a
prostituição é resultado de um conjunto de causas de ordem econômica, social, cultural
e política.
Falar sobre prostituição implica
necessariamente refletir um conjunto de fenômenos sociais que a ela estão diretamente ou
indiretamente ligados.
Considerando o conceito de prostituição como
a efetivação de práticas sexuais (hetero ou homossexuais) com diversos indivíduos, a
troco de remuneração e dentro de um sistema organizado, podemos afirmar que a
prostituição não se reduz a um ato individual de uma pessoa que aluga o seu sexo por
dinheiro, mas é uma organização comercial de dimensões locais, nacionais,
internacionais e transnacionais onde se encontram três intervenientes : as pessoas
prostituídas, os proxenetas e os clientes.
Os fenômenos sociais não se podem separar das
sociedades em que se integram e dos espaços em que ocorrem e uma reflexão sobre
prostituição obriga a refletir sobre a sociedade em que estamos inseridos e
obriga-nos a refletir sobre a natureza das relações homem/mulher, sobre os
comportamentos, sobre os papéis historicamente atribuídos.
E a prostituição faz-nos refletir a forma
como os homens e as mulheres vivenciam a sua sexualidade.
Sabemos que a mulher e o homem têm sido
educados de formas diferentes para vivenciarem a sua sexualidade e a prostituição
feminina tem exercido ao longo dos anos uma função social: era com mulheres prostitutas
que os jovens-rapazes iniciavam a sua sexualidade. Era comum um amigo da família
aconselhar e até acompanhar um jovem com 16/17 anos a uma "casa de passe".
Segundo a mentalidade da época ele tinha que aprender, tinha que ter experiência."
Pelo contrário, a mulher tinha que ser pura, ingênua, inexperiente. A virgindade é um
valor profundamente valorizado na mulher até ao casamento e desvalorizado no homem a
partir da idade da adolescência. Assim a prostituição é aceita, porque é legítimo
que o homem liberte as suas fantasias não com a sua companheira, mas com as prostitutas.
A prostituição, assume uma função
reguladora numa sociedade monogâmica e por isso tolerada como um mal necessário e é
legitimo que o homem procure prazer fora do lar. A prostituição liberta as tensões
sexuais que a organização social reprime. Na prática ela responde às necessidades que
não são satisfeitas no casamento ou nas uniões estáveis e contribui para atenuar os
problemas decorrentes das restrições sexuais impostas pela monogamia patriarcal
absoluta.
Mas nos tempos de hoje algumas coisas parecem
estar a mudar. Hoje rapazes e raparigas já não se encontram separados nos bancos das
escolas. Pelo contrário eles vivem uma grande proximidade física. As relações sexuais
antes do casamento vulgarizam-se para ambos os sexos e a virgindade parece ser uma coisa
que tem a ver com o desejo e a responsabilidade de cada um.
As mentalidades parecem estar a mudar e homens
e mulheres são considerados em igualdade de direitos e de deveres.
A OMS diz-nos que a sexualidade é uma energia
que nos motiva a encontrar amor, contato, ternura, intimidade. Ela integra-se no modo como
nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados. É ser-se sensual e ao mesmo tempo ser-se
sexual. A sexualidade influencia pensamentos, acções e interações e por isso,
influencia a nossa saúde física e mental. Apercebemo-nos assim claramente que na
prostituição se vive em contradição com o conceito de sexualidade. Na prostituição
todos estes atos íntimos são transformados num valor mercantil, onde a mulher é
instrumento do prazer do homem.
O meio prostitucional funciona como um mercado
de oferta e de procura. Oferta por parte da mulher que se vende. Procura por parte do
homem que a compra. E os que lucram com este negócio - o chulo e o proxenetismo
organizado. Estamos perante os agentes que constituem o sub-mundo prostitucional. Cliente
- prostituta - proxeneta. A armadilha do dinheiro fechou-se em volta dos parceiros. O peso
maior recaí sobre a mulher prostituta.
O meio prostitucional desempenha um papel
formador. Em apenas alguns meses as jovens ficam formadas nas deformações do
"meio". Ficam formadas e encerradas. O "meio" ensina-lhes os modelos
as atitudes aconselhadas ou proibidas face ao dinheiro, face aos clientes, face aos
proxenetas.
E como a escravatura também a prostituição
tem um aspecto econômico. Ao mesmo tempo que é um fenômeno cultural enraizado nas
imagens do homem e da mulher veiculadas pela sociedade, ela é também um mercado forte e
lucrativo.
A mercadoria é aqui o prazer do homem ou a
imaginação desse mesmo prazer, esta mercadoria é a oferta da intimidade da mulher ou da
criança.Também, o que é aqui alienado, na pessoa, é mais grave do que na escravatura,
no sentido habitual, pois nesta aliena-se a força de trabalho e não a intimidade.
O mercado é caracterizado por uma procura a
qual responde uma oferta. A procura é feita pelo cliente a quem chamamos de
"prostituidor". A oferta é feita pela mulher. É o caso mais simples mas o mais
raro. Na maioria dos casos, oito ou nove em cada dez, segundo os observadores na Europa,
intervém uma terceira pessoa talvez a mais importante: o organizador e explorador do
mercado, o chulo ou proxeneta, o proprietário de casa fechadas, de salões de massagens,
o fornecedor de quartos de hotel ou de estúdios.
Quando se fala de prostituição, fala-se
sobretudo de quem se vende e não de quem compra ou de quem consome o cliente. Ele é o
"eterno anônimo". É o que fica ilibado de todos os valores comprometidos neste
ato. Paga. E o ato de pagar desculpabiliza, desresponsabiliza, descompromete. Paga. Afasta
qualquer afeto, e o cliente pode assim entregar-se às suas fantasias, à sua realidade
interior - à sua, não à dela - sem ter que se preocupar com o que ela sente, pensa, ou
deseja.O dinheiro lá está para pôr os sentimentos à distância. Estamos perante o sexo
separado de todo o significado humano sexo/objeto. É muito aquilo que se joga ao
recusar-se dissociar o sexo "objeto de prazer" do "sexo órgão de
reprodução" e do sexo como meio de exprimir um amor duradouro.
Afirmamos que alguma coisa parece estar a mudar
no relacionamento entre homens e mulheres, mas a prostituição não só persiste como
aumenta, e as redes de tráfico organizam-se, adaptam-se aos tempos modernos, e cada vez
mais jovens e crianças, são vendidas, traficadas, percorrendo a Europa e até
continentes, encerradas em circuitos de violência sem precedentes.
www.retepariopportunita.it/eventi1/Archivio-e/CV-e-ponencia-in-s-fontinha.doc
Outro texto de Maria Inês Gomes Rodrigues Fontinha:
- "Prostituição e tráfico de mulheres -
Novas faces de uma velha escravatura"
www.pcp.pt/actpol/temas/mulheres/ifontinha20031003.htm
O interessante trecho do artigo
Mujeres en Situación de Prostitución: ¿Trabajo o Esclavitud sexual?. da socióloga
argentina Cecilia Lipszyc, revela:
O "trabalho sexual" não é
neutro.
Acredito que o termo "trabalho
sexual" não seja neutro. A linguagem e seu uso, muito estudado pelo feminismo, que
nega a suposta neutralidade da linguagem, é um dos mais formidáveis formadores de
pensamento e consciência, ele é estruturador básico de nossas categorias de pensamento,
portanto é um excepcional mecanismo de produção e reprodução simbólica e
ideológica. As palavras que dizemos não são inocentes, têm por trás propostas, não
apenas jurídicas mas sobretudo políticas, de política sexual.
(...)
Em primeiro lugar, as ilusões do
progressismo dos que utilizam tal emblema caem na mesma postura - quando recordamos que a
"primeira onda" de tal concepção (a prostituição como se fosse um trabalho)
no estabelecido da(o)s moralistas medievais, quando a igreja católica regulava e
arrecadava, pelo menos na Espanha, pela então denominada "mancebía".
A diferença entre a antiga e a nova onda
apoia-se em que já não se trata apenas de instaurar uma etiqueta estigmatizante para o
controle das mulheres, estejam ou não em situação de prostituição. O emblema de
"trabalho sexual" age como um paliativo frente ao desemprego estrutural. Está
claro que conseguem articular-se harmoniosamente, aspectos de índole muito diversa. Desde
supostas necessidades privativas do sexo masculino até o desespero de muitas mulheres
para satisfazer suas necessidades básicas e as de sua família. Por isto proponho um
questionamento crítico, porque, a meu juízo, se trata das políticas e éticas em jogo.
Em segundo lugar, ao evitar nomear a
prostituição termina-se apagando seus efeitos maléficos gerando-se, ao mesmo tempo, as
condições necessárias para sua promoção e expansão. Em terceiro lugar, aceito por
quem já se encontra em situação de prostituição (ou seus familiares) o eufemismo de
auto-denominar-se "trabalhadores sexuais" em algum momento pode constituir uma
válida estratégia defensiva: há que se ter presente que na situação de prostituição
a vulnerabilidade da integridade física e psíquica é a regra.
Outro texto de Cecilia Lipszyc:
- Xenofobia contra as mulheres -
www.undp.org.br/unifem/mariamaria/ano3_n3/textos/xenofobiaportugues%20.rtf
Também considero oportuno transcrever
a conceituação da feminista peruana Rosa Dominga Trapasso: Sempre é importante dizer em
primeiro lugar que a prostituição não é sinônimo das mulheres que exercem esta
atividade. Prostituição é um fenômeno social que encerra os diversos atores que a
protagonizam e que está marcada pelas estruturas econômicas e sociais que a sustentam.
No Movimiento El Pozo partimos de duas
definições deste fenômeno:
A prostituição é uma modalidade de
exploração exercida mediante uma atividade histórica e organizada, baseada em regras
sexuais, em troca de um pagamento imediato em dinheiro ou bens que são apropriados em
parte pela vítima da exploração e freqüentemente também por terceiros organizados em
torno dessa exploração - Victor Carlos Lora, advogado peruano.
A prostituição é um negócio que
impõe ganhos a um conjunto de interesses e forma parte de uma indústria
sócio-econômica que incorpora todas as características de exploração social, racista,
étnica e sexista vigentes em nossas sociedades globalizadas e patriacais - Movimiento El
Pozo.
Se apenas associamos a prostituição com
as mulheres que a exercem, estamos ocultando as verdadeiras dimensões deste problema e
protegendo os atores que lucram com a exploração sexual de mulheres e adolescentes.
Os termos Trabalho sexual e
trabalhadores sexuais refletem uma posição concentrada quase exclusivamente
sobre as mulheres encerradas nesta atividade, com a suposição de que esta atividade seja
uma opção laboral para elas.
Centrar a prostituição apenas nas mulheres que a exercem reflete a dupla moral que
persiste em nossa sociedade patriarcal e esconde as relações de dominação e
exploração constitutivas da prostituição.
Certamente, me identifico com a
intenção de superar as atitudes discriminatórias e pejorativas contra mulheres fechadas
na prostituição, mas qualificar sua atividade como um "trabalho sexual" e a
elas como "trabalhadoras" e que a prostituição é uma opção laboral viável,
vêm sem um encobrimento das relações de poder, de dominação e exploração.
A prostituição segue sendo
prostituição ainda que se profissionalize e legalize um de seus componentes, posto que
não mudam as regras do jogo nem os atores deste comércio.
*
A brutalidade corrente e quotidiana já não perturba. Porque a medida das coisas
tenebrosas se revê nos jogos de linguagem
E tal como na escrita de Sade, o acontecido torna-se uma pura abstracção.
Depois do movimento feminista no pós-guerra, cuja acção em defesa da dignidade das
mulheres, quer no Ocidente, quer por todo o mundo é histórica e notável, assistimos
nestes últimos anos a um retrocesso. A glorificação do corpo volta a reduzir-se à
mulher objecto, numa total dependência do ponto de vista masculino, mas acima de tudo,
nessa trivialização do próprio acto sexual, cada vez mais genitalizado. Não é por
acaso, que a prática do fellatio, forma rápida e eficaz de provocar o orgasmo masculino,
se banalizou ao ponto de constituir hoje a acção sexual mais disseminada, muito
particularmente nos encontros fortuitos e na prostituição.
O retorno à reificação da mulher, não representando só um atraso no relacionamento
homem/mulher, já que é evidente que uma tal situação também prejudica a
"libertação" do próprio homem, implica mais profundamente a consagração da
indignidade humana. O corpo das mulheres é de novo exaustiva e doentiamente explorado na
publicidade, na moda, no mundo empresarial e no relacionamento social. Verdadeira carne
para canhão de campanhas sem escrúpulos, nem decência, onde se confunde erotismo com
promiscuidade e desejo com perversão.
Nesta redução da mulher a uma mera fisicidade, perde-se humanidade. Depressa o objecto
de consumo apetecível se transforma num lixo inapresentável.
A sorte das velhas prostitutas, é tão só a face mais visível de um destino corrente de
todas mulheres em tempo da sua condição material.
Quando se diz que alguém "caiu" na prostituição, afirma-se precisamente esse
instante abrupto de passagem para um espaço, não-humano e não-partilhado. Na imagem
perfeita de um fosso, dentro do qual se anima a exclusão.
Os maus tratos, a tortura e o assassínio das prostitutas e prostitutos, é visto com
alguma condescendência. Afinal trata-se de seres que não são inteiramente humanos, que
não pertencem ao espaço social e com o qual todo o relacionamento é meramente
funcional. Servem de breve e veloz depósito de orgasmos, verdadeiros contentores da
necessidade urgente.
Nunca existiu tanta prostituição. Porque sobre uma condição, se impôs uma economia.
Fonte de lucros, a prostituição é promovida por todas as autoridades do globo. Sendo
considerada uma das grandes actividades económicas do planeta. Espécie cinegética para
os países pobres, questão pragmática para as democracias ocidentalizadas, a
prostituição é o destino cruel do desenraizamento cultural e da globalização
capitalista. Transformando o centro das maiores cidades do mundo noutro tipo de lixeiras
humanas. Aquelas em que o prazer transitório de uns tantos, se dá com o continuado e
extremo sofrimento de muitos outros. A extensão da prostituição no capitalismo global,
tem a sua equivalência na dimensão da perda dessa qualidade única do humano: a
dignidade.
A prostituição contemporânea não tem limites. Tudo serve o desejo de quem paga. Do
fellatio no banco do automóvel, passa-se para a prostituição infantil, consumindo
virgindades com violência e voracidade num absoluto desrespeito pela condição e pela
dignidade.
Leonel Moura, Os homens-lixo, Edições Fenda - Lisboa
2
PROJETO DE LEI Nº 4244 de 2004
( Do Sr. Eduardo Valverde)
Institui a profissão de trabalhadores da sexualidade e dá outras providências.
O Congresso Nacional Decreta:
Art.1º - Consideram-se trabalhadores da sexualidade toda pessoa adulta que com
habitualidade e de forma livre, submete o próprio corpo para o
sexo com terceiros, mediante remuneração previamente ajustada, podendo ou não laborar
em favor de outrem.
Parágrafo Único: Para fins dessa lei, equiparam-se aos trabalhadores da sexualidade,
aqueles que expõem o corpo, em caráter profissional, em locais ou em condições
de provocar apelos eróticos, com objetivo de estimular a sexualidade de
terceiros.
Art.2° - São trabalhadores da sexualidade, dentre outros:
1 A prostituta e o prostituto;
2 A dançarina e o dançarino que prestam serviço nus, seminus ou em
trajes sumários em boates, dancings, cabarés, casas de strip-tease
prostíbulos e outros estabelecimentos similares onde o apelo explícito à
sexualidade é preponderante para chamamento de clientela;
3 A garçonete e o garçom ou outro profissional que presta serviço, em boates,
dancings, cabarés, prostíbulos e outros estabelecimentos similares que tenham como
atividade secundária ou predominante o apelo a sexualidade, como forma de atrair
clientela;
4 A atriz ou ator de filmes ou peças pornográficas exibidas em
estabelecimentos específicos;
5 A acompanhante ou acompanhante de serviços especiais de acompanhamento intimo
e pessoal de clientes;
6 Massagistas de estabelecimentos que tenham como finalidade principal o erotismo e
o sexo;
7 Gerente de casa de prostituição.
Art.3º- Os trabalhadores da sexualidade podem prestar serviço de forma subordinada em proveito de terceiros, mediante remuneração, devendo as condições de trabalho serem estabelecidas em contrato de trabalho.
Art.4º- São direitos dos trabalhadores da sexualidade, dentre outros:
a Poder expor o corpo, em local público aberto definido pela autoridade pública
competente;
b Ter acesso gratuito aos programas e ações de saúde pública preventiva
de combate às doenças sexualmente transmissíveis;
c Ter acesso gratuito aos esclarecimentos das autoridades de saúde pública
sobre medidas preventivas de evitar as doenças socialmente previsíveis;
Art.5º - Para o exercício da profissão de trabalhador da sexualidade é obrigatório
registro profissional expedido pela Delegacia Regional do Trabalho.
§1º - O registro profissional deverá ser revalidado a cada 12 meses.
§2º - Os trabalhadores da sexualidade que trabalham por conta própria
deveram apresentar a inscrição como segurado obrigatório junto ao INSS, no ato
de requerimento do registro profissional.
§3º - Para a revalidação do registro profissional será obrigatório a apresentação
da inscrição como segurado do INSS e do atestado de saúde sexual, emitido pela
autoridade de saúde pública.
Art.6º- É vedado o labor de trabalhadores da sexualidade em estabelecimentos que não tenham a autorização das autoridades públicas em matéria de vigilância sanitária e de segurança pública.
Art.7º - Os trabalhadores da sexualidade poderão se organizar em cooperativas de trabalho ou em empresas, em nome coletivo, para explorar economicamente prostíbulos, casas de massagens, agências de acompanhantes e cabarés, como forma de melhor atender os objetivos econômicos e de segurança da profissão.
Art.8º - O trabalho na prostituição é considerado, para fins previdenciário, trabalho sujeito às condições especiais.
JUSTIFICAÇÃO
As opiniões acerca da prostituição são diversas, tanto na sociedade brasileira como em
outros países, do mesmo modo como são variadas as concepções políticas em relação
ao tema. Na Holanda, por exemplo, a prostituição é legalizada e ordenada juridicamente
afim de adequá-la à realidade atual e de melhor controlá-la, impondo regras para sua
pratica e penas aos abusos e transgreções*.
Assumindo a premissa de que milhares de pessoas exercem a prostituição no Brasil,
proponho este projeto com intuito de regulamentar a atividade, estabelecer e
garantir os direitos destes trabalhadores, inclusive os previdenciários. Fica
estabelecido ainda o acesso gratuito aos programas e ações de saúde pública preventiva
de combate às doenças sexualmente transmissíveis, bem como à informação sobre
medidas preventivas para evitá-las.
A prática da prostituição em território brasileiro passará a ter, entre outras
exigências, a necessidade de registro profissional, a ser emitido pela Delegacia Regional
do Trabalho e renovado anualmente. Esta e outras medidas previstas neste projeto de lei
visam dotar os órgãos competentes de melhores condições para controlar o setor e,
assim, conter os abusos.
Sala das Sessões em,
EDUARDO VALVERDE
Deputado Federal
* O caro deputado nortista deveria ser melhor alfabetizado antes de ousar propor
qualquer projeto, pois escrever "transgreções" é uma agressão à
"última flor do Lácio".
"se o povo soubesse como são feitas as lingüiças e as leis..." disse certo
governante prussiano. O povo brasileiro certamente teria outra reação à justificativa
do nobre deputado petista.
O petista justificou que as opiniões/concepções são diversas/variadas, porém mal e
pobremente citou uma única opinião/concepção - a da Holanda. Não especificou seu
ordenamento jurídico/regras. Nem abusos, transgressões ou penas.
O deputado atestou o fracasso do Estado brasileiro em possibilitar uma opção melhor a
milhares de pessoas.
Valverde intuiu regulamentar a atividade para garantir direitos que são constitucionais.
A estrutura e pessoal das DRTs oficializaram/assinalaram a cada ano e para todo o sempre a
triste sina do prostituído. As DRTs serão responsáveis pelo controle e abusos (não
especificados).
Paciente que sou não tentarei entender os prescritos: atestado de saúde sexual e
doenças socialmente previsíveis.
Socorro. Ajudem-me.
3
Em 3 de outubro, véspera das últimas eleições para deputado, churrasco e bebida foram
os argumentos finais para as putas da Vila Mimosa votarem nos candidatos promotores da
boca livre. Essas festas eram recurso muito comum nos currais eleitorais onde o
coronelismo reinava. Obviamente os sem dinheiro para bancar estas regalias eleitorais
(vários promovem até showmícios) sempre estiveram em grande desvantagem.
Serviram-se dos votos das putas:
A feminista Heloneida Studart candidata à deputada estadual pelo PT.
O sindicalista Gilberto Palmares, presidente regional do PT e também candidato a deputado
estadual que colaborou com R$ 1.200,00 reais.
O deputado federal candidato à reeleição Fernando Gabeira, principal promotor do
churrasco com R$ 2.100,00 reais. Em oportunidade anterior, Gabeira, num restaurante
italiano de Ipanema, Zona Sul do Rio, havia apresentado a profissionais do sexo seu
projeto de lei para legalizar a prostituição. Estavam presentes 50 ativistas e
representantes da categoria para um jantar, regado a vinho e cerveja.
Heloneida (primeira a chegar e sair da festa) colou bandeirinhas de campanha em cima de
materiais de Palmares que já estavam nas mesas. Ao chegar (após Heloneida ter saído), o
sindicalista ordenou a seus cabos eleitorais que tirassem as faixas de Heloneida postas
nas paredes da garagem.
Os assessores e militantes distribuíam panfletos, camisetas, santinhos e cédulas já com
os nomes dos candidatos preenchidos.
4
PROJETO DE LEI Nº 98 de 2003
(Do Sr. Fernando Gabeira)
Dispõe sobre a exigibilidade de pagamento por serviço de natureza sexual e suprime os
arts. 228, 229 e 231 do Código Penal.
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º É exigível o pagamento pela prestação de serviços de natureza
sexual.
§ 1º O pagamento pela prestação de serviços de natureza sexual será devido
igualmente pelo tempo em que a pessoa permanecer disponível para tais serviços, quer
tenha sido solicitada a prestá-los ou não.
§ 2º O pagamento pela prestação de serviços de natureza sexual somente poderá ser
exigido pela pessoa que os tiver prestado ou que tiver permanecido disponível para os
prestar.
Art. 2º Ficam revogados os artigos 228, 229 e 231 do Código Penal.
Art. 3º. Esta lei entra em vigor na data da sua publicação.
JUSTIFICAÇÃO
Já houve reiteradas tentativas* de tornar legalmente lícita a prostituição. Todas
estas iniciativas parlamentares compartilham com a presente a mesma inconformidade com a
inaceitável hipocrisia com que se considera a questão.
Com efeito, a prostituição é uma atividade contemporânea à própria civilização. Embora tenha sido, e continue sendo, reprimida inclusive com violência e estigmatizada, o fato é que a atividade subsiste porque a própria sociedade que a condena a mantém. Não haveria prostituição se não houvesse quem pagasse por ela.
Houve, igualmente, várias estratégias para suprimi-la, e do fato de que nenhuma, por mais violenta que tenha sido, tenha logrado êxito, demonstra que o único caminho digno é o de admitir a realidade e lançar as bases para que se reduzam os malefícios resultantes da marginalização a que a atividade está relegada. Com efeito, não fosse a prostituição uma ocupação relegada à marginalidade não obstante, sob o ponto de vista legal, não se tenha ousado tipificá-la como crime seria possível uma série de providências, inclusive de ordem sanitária e de política urbana, que preveniriam os seus efeitos indesejáveis.
O primeiro passo para isto é admitir que as pessoas que prestam serviços de natureza sexual fazem jus ao pagamento por tais serviços. Esta abordagem inspira-se diretamente no exemplo da Alemanha, que em fins de 2001 aprovou uma lei que torna exigível o pagamento pela prestação de serviços de natureza sexual. Esta lei entrou em vigor em 1º de janeiro de 2002. Como consectário inevitável, a iniciativa germânica também suprimiu do Código Penal Alemão o crime de favorecimento da prostituição pois se a atividade passa a ser lícita, não há porque penalizar quem a favorece.
No caso brasileiro, torna-se também conseqüente suprimir do Código Penal os tipos de favorecimento da prostituição (art. 228), casa de prostituição (art. 229) e do tráfico de mulheres (art. 231), este último porque somente penaliza o tráfico se a finalidade é o de incorporar mulheres que venham a se dedicar à atividade.
Fazemos profissão de fé que o Legislativo brasileiro possui maturidade suficiente para debater a matéria de forma isenta, livre de falsos moralismos que, aliás, são grandemente responsáveis pela degradação da vida das pessoas que se dedicam profissionalmente à satisfação das necessidades sexuais alheias.
Sala das Sessões, em 2003.
Deputado Fernando Gabeira
*
Em sua justificativa seria interessante Gabeira citar quais foram as "reiteradas
tentativas". Para acabar com a "inaceitável hipocrisia" o cliente e o
explorador/rufião deveriam ser fortemente penalizados. Segundo o parlamentar: "Não
haveria prostituição se não houvesse quem pagasse por ela.". Concordo.
Diferente do deputado carioca, penso que prevenir (pela educação) e recuperar as pessoas
prostituídas seja o único "caminho digno".
O deputado atesta o fracasso dos Estados em possibilitar uma opção melhor a milhares de
pessoas.
Sobre a Alemanha leiam a nota 13 e o trecho do texto referido pela nota.
5
COMISSÃO de constituição e justiça e de cidadania
PROJETO DE LEI No 98, DE 2003
Dispõe sobre a exigibilidade de pagamento por serviço de natureza sexual e suprime os
arts. 228, 229 e 231 do Código Penal.
Autor: Deputado Fernando Gabeira
Relator: Deputado Aloysio Nunes Ferreira
I - RELATÓRIO
Nos termos da proposição em epígrafe, passa a ser exigível o pagamento pela
prestação de serviços de natureza sexual.
O pagamento será devido igualmente pelo tempo em que a pessoa permanecer disponível para tais serviços, quer tenha sido solicitada a prestá-los ou não. Somente esta pessoa poderá exigir o pagamento.
Revogam-se, ainda, os seguintes crimes, todos do Código Penal:
- art. 228 favorecimento da
prostituição;
- art. 229 - casa de prostituição;
- art. 231 tráfico de mulheres.
Da inclusa justificação, destacamos:
(...) não fosse a prostituição uma ocupação relegada à marginalidade não obstante, sob o ponto de vista legal, não se tenha ousado tipificá-la como crime seria possível uma série de providências, inclusive de ordem sanitária e de política urbana, que preveniriam os seus efeitos indesejáveis.
O primeiro passo para isto é admitir que as pessoas que prestam serviços de natureza sexual fazem jus ao pagamento por tais serviços. Esta abordagem inspira-se diretamente no exemplo da Alemanha, que em fins de 2001 aprovou uma lei que torna exigível o pagamento pela prestação de serviços de natureza sexual. Esta lei entrou em vigor em 1º de janeiro de 2002. Como consectário inevitável, a iniciativa germânica também suprimiu do Código Penal Alemão o crime de favorecimento da prostituição pois se a atividade passa a ser lícita, não há porque penalizar quem a favorece.
No caso brasileiro, torna-se também conseqüente suprimir do Código Penal os tipos de
favorecimento da prostituição (art. 228), casa de prostituição (art. 229) e do
tráfico de mulheres (art. 231), este último porque somente penaliza o tráfico se a
finalidade é o de incorporar mulheres que venham a se dedicar à atividade.
(...)
Apensado, encontra-se o PL 2.169, de 2003, autor o ilustre Deputado Elimar Máximo
Damasceno, que, em sentido oposto ao da proposição principal, acrescenta artigo ao
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 Código Penal para dispor
sobre o crime de contratação de serviço sexual.
O novo dispositivo é incluído ao diploma repressor como art. 231A, no capítulo do lenocínio e do tráfico de mulheres (crimes contra os costumes), e a pena prevista é a de detenção, de um a seis meses.
Destacamos, da inclusa justificação:
(...)
Apesar das recentes discussões ocorridas nesta Casa acerca da legalização da
prostituição como profissão, continuamos entendendo que a venda do corpo é algo não
tolerado pela sociedade. A integridade sexual é bem indisponível da pessoa humana e,
portanto, não pode ser objeto de contrato visando a remuneração.
O quadro negativo da prostituição não envolve apenas o sacrifício da integridade
pessoal. A atividade é tradicionalmente acompanhada de outras práticas prejudiciais à
sociedade, como os crimes de lesões corporais e de tráfico de drogas
(...)
Recentemente, a Suécia, considerado um dos países mais avançados do mundo, aprovou lei
no mesmo sentido da proposição apresentada. Lá, a proposta do governo surgiu em
conjunto com um pacote para reprimir os abusos contra as mulheres, foi apoiada
eminentemente por grupos feministas e obteve o beneplácito do Poder Legislativo, em que
mais de quarenta por cento dos parlamentares são mulheres.
(...)
Trata-se de proposições sujeitas à apreciação final do plenário da Câmara dos
Deputados.
É o relatório.
II - VOTO DO RELATOR
A proposição principal dispõe sobre a exigibilidade de pagamento por serviço de
natureza sexual e revoga os dispositivos legais relativos aos crimes de favorecimento da
prostituição, casa de prostituição e tráfico de mulheres.
Bem de ver, portanto, que a proposição tem duas facetas, uma voltada ao Direito Civil, e outra, ao Direito Penal.
Iniciemos, assim, pelos aspectos civilistas.
A redação do art. 1º passa a noção da tipificação de uma nova modalidade contratual: a prestação de serviços de natureza sexual.
Dado que o projeto de lei é voltado, induvidosamente, para a prostituição, é forçoso notar que a descrição legal proposta não é perfeita, porquanto por prestação de serviços de natureza sexual pode-se entender outras atividades que não exclusivamente a prostituição, como, a título de ilustração, o concubinato.
Mas, ainda que se aperfeiçoasse a redação do art. 1º, escoimando-o de interpretações dúbias, caberia a questão: seria compatível com o ordenamento jurídico brasileiro a tipificação de contrato relativo à prostituição?
Parece-nos que não.
O novo Código Civil, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, é explícito, quando inicia o capítulo das disposições gerais do título concernente aos contratos em geral com a seguinte premissa:
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
Este dispositivo legal significa que a autonomia privada não é ilimitada, devendo ser cotejada com o respeito à ordem pública e o interesse social. Mais ainda, esta cláusula geral da função social do contrato é decorrência lógica do princípio constitucional dos valores da solidariedade e da construção de uma sociedade mais justa, respeitada a dignidade da pessoa humana.
Nesse contexto, a previsão legal de um contrato cujo objeto seria o comércio do próprio corpo para fins libidinosos não estaria em sintonia com o sistema.
Visto que a prostituição não deve dar ensejo a um contrato típico, poder-se-ia considerar o pagamento que dela decorre como uma obrigação natural?
Com MARIA HELENA DINIZ[1], relembramos que no exame das obrigações naturais é preciso apreciar o vínculo. Isto é assim porque na obrigação civil o vínculo jurídico está provido de ação, tendente a efetivar a prestação do devedor, de modo que este está juridicamente vinculado à execução da prestação estabelecida, de tal forma que o credor, quando o devedor não a cumprir, tem o direito de reclamá-la judicialmente, dirigindo-se até contra o patrimônio do sujeito passivo (...) A obrigação natural é desprovida de ação, mas, se cumprida, o direito Ihe concede uma proteção, ao recusar a repetitio indebiti; com isso, está garantida apenas pela simples exceção da soltai retentio. Caracteriza-se, como pontifica Rotondi, pelo fato de que seu inadimplemento não dá ensejo à pretensão de uma execução ou de um ressarcimento e pela circunstância de que seu cumprimento espontâneo é válido, não comportando repetição. Dessa forma, o credor retém para si, não a título de liberalidade, uma certa prestação, que não podia reclamar judicialmente, uma vez que o devedor não faz mais do que dar o seu a seu dono. Ter-se-á obrigação natural sempre que se possa afirmar que uma pessoa deve a outra determinada prestação por um dever de justiça, devido à existência anterior de um débito inexigível e não por um dever de consciência.
Feitas essas considerações, poder-se-á conceituar obrigação natural como sendo aquela em que o credor não pode exigir do devedor uma certa prestação, embora, em caso de seu adimplemento espontâneo ou voluntário, possa retê-la a título de pagamento e não de liberalidade. Se o devedor cumprir voluntariamente, o credor goza da soluti retentio, podendo reter a prestação a título de pagamento, de prestação devida. Porém, se o devedor não cumprir voluntariamente, o credor não dispõe da ação creditória, não pode exigir (judicialmente) o seu cumprimento e nem executar a obrigação
Infere-se daí os seguintes caracteres da obrigação natural:
a) não se trata de obrigação moral;
b) acarreta inexigibilidade da prestação;
c) se for cumprida espontaneamente por pessoa capaz, ter-se-á a validade do pagamento;
d) produz irretratabilidade do pagamento feito em seu cumprimento;
e) seus efeitos dependem de previsão normativa.
No Código Civil de 2002, exemplo de obrigação natural é trazido pelo art. 814, caput:
Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento, mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito.
No caso da proposição em tela, não parece viável, do ponto de vista da aceitação social, com a qual deve se preocupar o legislador, que exista uma previsão normativa dos efeitos do pagamento realizado a uma prostituta, caracterizando-o como uma obrigação natural.
Assim como não se cogita da cobrança judicial da prestação pecuniária relativa aos serviços sexuais, da mesma forma não teria cabimento a exigência, por via judicial, da prática do ato sexual se a inadimplência fosse atribuída à prostituta.
Desse modo, opinamos pela supressão do art. 1º da proposição, por entender que a prostituição não deve merecer tratamento legal, do ponto de vista do Direito Civil.
Passemos a enfocar a questão do ponto de vista do Direito Penal.
A proposição pretende revogar três ilícitos penais, todos do capítulo relativo ao lenocínio e ao tráfico de mulheres.
Com HELENO CLÁUDIO FRAGOSO[2], observamos que reúne o código, sob este
título, cinco figuras de delito, a saber:
1. mediação para satisfazer a lascívia de outrem (art. 227);
2. favorecimento da prostituição (art. 228);
3. casa de prostituição (art. 229);
4. rufianismo (art. 230);
5. tráfico de mulheres (art. 231).
São atividades que entram no conceito clássico de lenocínio, que, em sentido amplo, compreende toda ação que visa a facilitar ou promover a prática de atos de libidinagem ou a prostituição de outras pessoas, ou dela tirar proveito. Gravita, assim, o lenocínio em tomo da prostituição, que constitui complexo e difícil problema social.
O lenocínio é atividade acessória ou parasitária da prostituição e seu aparecimento está a ela historicamente ligado (...)
Nos tempos modernos, três sistemas foram aventados, em face da prostituição: (a) a regulamentação; (b) a proibição; e (c) o abolicionismo, ou abolição da regulamentação.
A regulamentação é inspirada pela idéia de estrito controle social do exercício da prostituição, a fim de assegurar a prevenção das moléstias venéreas, preservando a moral pública, pelo confinamento (...) Trata-se, portanto, de incriminação condicionada à observância das prescrições contidas na regulamentação policial. O sistema da regulamentação, executado com rigor, conduz ao aquartelamento, ou seja, ao confinamento da prostituição a certas áreas ou a certas ruas, isoladas e sujeitas a controle, bem como ao aparecimento do bordel ou casa de tolerância. Contra esse sistema tem-se dito que compreende apenas pequena parte da prostituição, sendo, portanto, de significado restrito, do ponto de vista da saúde pública, inclusive porque a fiscalização sanitária está limitada às mulheres, não atingindo os homens. Afirma-se também que marca a prostituta fundamentalmente, dificultando a sua reintegração social, facilitando, por outro lado o aparecimento de uma prostituição, num certo sentido, privilegiada. Entendem, ainda, alguns autores, que a regulamentação significa a participação do Estado numa atividade reconhecidamente imoral, estabelecendo também intolerável constrangimento à liberdade pessoal, pelas exigências feitas em relação à mulher pública. É óbvio que a regulamentação somente atinge as mulheres miseráveis e de baixa condição social, não colhendo a prostituição das camadas superiores, o que significa sempre odiosa discriminação.
O sistema da proibição é o que vigora na imensa maioria dos Estados da União americana, nos quais a prostituição é crime sujeito a graves penas (...)
O abolicionismo suprime todo e qualquer sistema de regulamentação e registro,
entendendo que o Estado não pode participar da atividade ilícita, como quem outorga uma
concessão. Limita, portanto, a atividade do Estado ao policiamento, no sentido da
preservação da ordem, da moral e da saúde pública, de forma puramente exterior e
limitada.
(...)
A tendência que hoje se observa é no sentido de uma forma atenuada de regulamentação.
No Brasil vigora o abolicionismo, mas há completa ausência de normas básicas em nossa
legislação, que possam bem orientar a ação policial. Nas grandes cidades, a polícia
exerce, conforme seja o entendimento dos chefes, desordenada e violenta repressão,
alternada com períodos de maior tolerância e abandono. Completamente desorientada, a
polícia prende, espanca e processa muitas vezes a prostituta que faz a solicitação
ostensiva nas ruas centrais das grandes cidades, mesmo durante o dia. Outras vezes,
prende, espanca e solta a mulher, que volta ao trottoir. A prostituição não é crime,
mas sim, atividade lícita. Em conseqüência, não pode a prostituta ser presa por
vadiagem (...) A prostituição não deve ser crime, não porque a essência do crime
consiste na violação de um direito, que na hipótese não existiria (como pensa o douto
Magalhães Noronha, III, 327, seguindo, aliás, a lição dos clássicos). A essência do
crime consiste na violação de um bem ou interesse jurídico, ou seja, num desvalor da
vida social, que pode não se traduzir num direito. Razões de política criminal ou seja,
de oportunidade e conveniência, desaconselham a incriminação da prostituição. Ela
parece constituir mal inafastável, que atinge o auge nos sistemas de economia
capitalista. A pobreza e a marginalização da mulher certamente estão na base do
problema.
É lícita a repressão policial da solicitação ostensiva, que pode constituir a contravenção prevista no art. 61 do Decreto-Lei nº 3.688/41.
Considerando a prostituição atividade lícita, nossa lei penal dirige-se, no entanto, aos que proliferam em torno dela: rufiões, proxenetas e traficantes, para severa repressão.
A proposição visa a revogar, do Código Penal, os crimes de favorecimento da prostituição (art. 228), casa de prostituição (art. 229) e tráfico de mulheres (art. 231).
Uma vez que a prostituição em si não é crime, estamos de acordo com a revogação do art. 229, que prevê como crime a conduta de manter, por conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fins libidinosos, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente, para puni-la com reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Com efeito, não obstante o objeto jurídico a ser defendido neste ilícito penal seja a moralidade pública sexual, é notório que existe tolerância da sociedade no que concerne à existência das casas de prostituição, o que se reflete, inclusive, na indiferença da repressão policial.
Não obstante, a conduta permanece como típica, do ponto de vista penal, cabendo, assim, ao legislador revogar expressamente o dispositivo legal que a ela se refere, para que a Justiça Criminal deixe de apená-la.
Todavia, não vejo como possam ser revogados os outros dois ilícitos penais.
O favorecimento da prostituição, tipificado no art. 228, é a conduta de induzir ou atrair alguém à prostituição, facilitá-la ou impedir que alguém a abandone.
O tipo deste ilícito penal, portanto, é iniciar a vítima na prostituição, ou opor-se a que alguém decidido a deixar a prostituição a abandone condutas que não podem ser toleradas pelo legislador porque implicam um grave constrangimento contra a vítima.
O art. 231 tráfico de mulheres, por sua vez, incrimina o lenocínio praticado em escala internacional. Do mesmo modo que ocorre com o crime de favorecimento à prostituição, o agente influencia e age sobre o livre arbítrio da vítima, no que consiste em se entregar ou não à prostituição, o que tampouco pode ser aceito pelo legislador.
A par disso, a revogação deste dispositivo legal chocar-se-ia com atos internacionais dos quais o Brasil é signatário, como a CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA O CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL RELATIVO A PREVENÇÃO, REPRESSÃO E PUNIÇÃO DO TRAFICO DE PESSOAS, EM ESPECIAL MULHERES E CRIANÇAS, aprovada pelo Decreto Legislativo nº 231, de 2003.
No que tange ao projeto de lei apensado, PL 2169, de 2003, em face de tudo o quanto foi exposto em relação à proposição principal, no sentido de que, se a prostituição em si não é crime, não deve mais ser crime manter casas de prostituição, não há como opinar pela sua aprovação, já que caminha em sentido oposto.
À luz de todas estas considerações, o voto é pela constitucionalidade, juridicidade, adequada técnica legislativa e, no mérito, pela aprovação do PL 98, de 2003, na forma do substitutivo oferecido em anexo, e pela constitucionalidade, juridicidade, adequada técnica legislativa (observando quanto a esta, apenas, que falta artigo inaugural com o objeto da lei) e, no mérito, pela rejeição do PL 2169, de 2003.
Sala da Comissão, em de
de
2004.
Deputado Aloysio Nunes Ferreira
Relator
2004_10547_Aloysio Nunes Ferreira
COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA
SUBSTITUTIVO AO PROJETO DE LEI Nº 98, DE 2003
Revoga o art. 229 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 Código Penal.
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º Esta lei descrimina a conduta de manter casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fim libidinoso, prevista no art. 229 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
Art. 2º Revoga-se o art. 229 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Sala da Comissão, em de de 2004.
Deputado Aloysio Nunes Ferreira Relator
2004.10547.020
[1] Curso de Direito Civil Brasileiro, 2º. Vol., Teoria Geral das Obrigações, Ed. Saraiva, 5ª ed., 1989, pp.59/60
[2] Lições de Direito Penal, Vol. II, Parte Especial, Ed. Forense, 5ª ed., 1986, pp.
48 e segs.
6
DECRETO Nº 5.017, DE 12 DE MARÇO DE 2004.
Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de
Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças.
Artigo 3
Definições
Para efeitos do presente Protocolo:
a) A expressão "tráfico de pessoas" significa o recrutamento, o transporte, a
transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da
força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de
autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos
ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra
para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da
prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços
forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção
de órgãos;
Protocolo Facultativo à CEDAW* : das 75 assinaturas e 52 ratificações, o
Protocolo já foi ratificado por: Belize, Bolívia, Brasil, Costa Rica, Ecuador,
Guatemala, México, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.
Assinaram, mas ainda não ratificaram o Protocolo: Argentina, Chile, Colômbia,
Cuba, El Salvador
www.un.org/womenwatch/daw/cedaw/sigop.htm
CEDAW - Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Contra a
Mulher.
CEDAW - Convention on the Elimination of All Forms of Discrimination Against Women.
O texto completo da CEDAW está disponível em www.agende.org.br/Resolução ONU - Texto
da CEDAW.doc
CEDAW e as leis brasileiras
A CEDAW - Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Contra a
Mulher. Adotada em 18/12/1979 pela Assembléia Geral das Nações Unidas. Entrou em vigor
em 03/09/1981. Foi assinada pelo Brasil, com reservas, em 31/03/1981 e ratificada, com
reservas, em 01/02/1984. Entrou em vigor em nosso país em 02/03/1984. Em 22/06/1994 foi
ratificada, sem reservas. A CEDAW já foi ratificada por todos os Estados da América
Latina e Caribe.
www.un.org/womenwatch/daw/cedaw/states.htm
DECRETO Nº 4.377, DE 13 DE SETEMBRO DE 2002.
Promulga a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher - CEDAW
Artigo 6º
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas, inclusive de caráter
legislativo, para suprimir todas as formas de tráfico de mulheres e exploração da
prostituição da mulher.
DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940.
TÍTULO VI
DOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES
CAPÍTULO V
DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE MULHERES
Mediação para servir a lascívia de outrem
Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 1º - Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o
agente é seu ascendente, descendente, marido, irmão, tutor ou curador ou pessoa a que
esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
Favorecimento da prostituição
Art. 228 - Induzir ou atrair alguém à prostituição, facilitá-la ou impedir que
alguém a abandone:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
§ 1º - Se ocorre qualquer das hipóteses do § 1º do artigo anterior:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
§ 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, além da pena correspondente à
violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
Casa de prostituição
Art. 229 - Manter, por conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar
destinado a encontros para fim libidinoso, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação
direta do proprietário ou gerente:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Rufianismo
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus
lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1º - Se ocorre qualquer das hipóteses do § 1º do art. 227:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, além da multa.
§ 2º - Se há emprego de violência ou grave ameaça:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, além da multa e sem prejuízo da pena
correspondente à violência.
Tráfico de mulheres
Art. 231 - Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de mulher que nele
venha exercer a prostituição, ou a saída de mulher que vá exercê-la no estrangeiro:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
§ 1º - Se ocorre qualquer das hipóteses do § 1º do art. 227:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
§ 2º - Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude, a pena é de reclusão, de
5 (cinco) a 12 (doze) anos, além da pena correspondente à violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
Art. 232 - Nos crimes de que trata este Capítulo, é aplicável o disposto nos arts. 223
e 224.
7
Eliane Costa da Silva, Estas Mulheres / Série de Reportagens sobre a Prostituição na
Ladeira da Montanha, projeto de conclusão do curso de Comunicação Social com
habilitação em Jornalismo, na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da
Bahia, Salvador. Orientadora: Nadja Miranda, novembro de 2003,
www.facom.ufba.br/pex/elianecosta.doc
Thomaz Bastos apóia regulamentação da profissão de prostituta
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse nesta quinta-feira ser favorável ao
projeto do deputado Fernando Gabeira (PT-RJ) que pretende regulamentar a profissão de
prostituta no país. Ao ser indagado sobre o projeto pelo deputado Enéas Carneiro
(Prona-SP), o ministro respondeu:
- A minha posição é idêntica à do deputado Gabeira.
Em seguida, Enéas prometeu, "se um dia chegar à Presidência da República",
acabar com a profissão de prostituta no país porque, segundo ele, "essas mulheres
vendem o corpo", e prometeu dar "trabalho digno" para elas.
Fernando Gaberia, presente à audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e
Defesa Nacional da Câmara, rebateu Enéas:
- As prostitutas não vendem o corpo, elas prestam serviços sexuais - afirmou o deputado,
provocando risos dos participantes da comissão.
Época Online, 14 de agosto de 2003
8
Idem nota 4, citando o site de notícias do TST de 14 de agosto de 2003.
9
Aproximadamente três quartos das mulheres traficadas não sabem que se destinam a clubes
de strip, bordéis ou para as ruas, onde são vendidas a compradores ansiosos. A maioria
das mulheres procura escapar à pobreza, à violência e à falta de oportunidades mas,
uma vez sob o controle de "chulos" ou traficantes, são apanhadas pela
prostituição por coação e violência física, sexual e económica. Sem recursos, as
mulheres submetem-se na esperança de ganharem dinheiro suficiente para se libertarem da
escravidão e encontrarem uma saída. A sujeição das mulheres a vários actos sexuais
não desejados resulta em trauma quer psíquico, quer físico. As sobreviventes da
prostituição declaram que cada acto de prostituição é sentido como uma violação. De
modo a suportar as múltiplas invasões dos seus corpos recorrem a drogas e álcool para
entorpecer a sua dignidade e integridade física. Por vezes, a sua saúde física e
emocional fica destruída.
Acima de tudo, os organismos estatais e as organizações não governamentais deviam compreender que a prostituição é uma procura de mercado criada por homens que compram e vendem a sexualidade feminina para seu benefício pessoal e seu próprio prazer. As reformas legais deveriam criar soluções para assistir as vítimas e condenar os culpados.
A maioria das leis existentes sobre prostituição foram formuladas na assunção de que a prostituição é uma actividade imoral, em que as mulheres são as participantes mais imorais. No entanto, as leis que banem a prostituição normalmente só incriminam as mulheres. Ouvindo as experiências de mulheres prostitutas e ultrapassando as análises moralistas, os grupos de direitos das mulheres definiram a prostituição como uma forma de violência sobre as mulheres. Todas as reformas legais deveriam assentar neste pressuposto. Assim, os governos deveriam descriminalizar a prostituição feminina - o que é o mesmo que deixar de empurrar as mulheres para a prostituição. Considerando o mal para as mulheres, já documentado, que são traficadas e prostituídas, só é lógico que não sejam criminalizadas por serem vítimas desse tipo de abusos. A descriminalização também pode significar que as mulheres não temam a prisão se procurarem assistência e possam ter mais apetência para testemunhar contra os "chulos" e traficantes.
Mas não deve haver qualquer tipo de descriminalização dos "chulos", traficantes, proprietários de bordéis ou homens que prostituam mulheres. Todas as reformas legais devem apontar para acabar com esses criminosos.
A prostituição não deve ser legalizada. A legalização significa que os estados impõem regulamentações que permitem que as mulheres possam ser prostituídas. De facto, regulamentar significa que, sob certas condições, é permitido explorar e abusar de mulheres. Em vários países da Europa Ocidental os estados admitem "zonas de tolerância". Outros propõem a legalização. A maioria dos argumentos a favor da legalização baseia-se na tentativa de distinção entre prostituição "livre" e "forçada". Tendo em conta as condições de extrema exploração na indústria sexual, estas distinções são apenas abstracções, que na melhor das hipóteses alimentam debates académicos. Não têm, no entanto, qualquer significado para as mulheres sob o controle de "chulos" e traficantes.
Certamente, a indústria sexual não faz distinções entre "livre" e forçado" e a minha pesquisa revela que os homens que compram mulheres e crianças para a prostituição também não distinguem. A legalização e a regulamentação apontam para a redefinição da prostituição como uma forma de trabalho, tal como o indicam termos como "trabalho sexual". Dar um novo nome pode apagar a imagem da prostituição, mas não acaba com a violência e a exploração. Apenas permite legitimar criminosos e membros de organizações criminosas como homens de negócios normais, trabalhando lado a lado com o estado na venda de corpos de mulheres. Na Holanda, onde dois terços das mulheres na prostituição são imigrantes e metade são emigrantes ilegais traficadas, a legalização levou ao aumento da prostituição e do tráfico.
A prostituição é uma forma extrema de discriminação sexual. Legalizar este tipo de violência feminina restringe a liberdade das mulheres, bem como os seus direitos de cidadania. Se as mulheres se podem transformar numa comodidade legitima para os homens, então é-lhes atribuída uma cidadania de segunda categoria. É a subversão da democracia.
As emoções e corpos das mulheres devem pertencer apenas a elas próprias. Não podem ser negociadas ou vendidas. O objectivo da indústria sexual são mulheres jovens, normalmente com menos de 25 anos, muitas vezes ainda adolescentes. Se um estado permite o florescimento da prostituição, uma certa quantidade de cada geração de mulheres jovens será perdida. A prostituição causa profundos males à mente e ao corpo. As mulheres que sobrevivem ao espancamento, violação, doenças sexualmente transmissíveis, drogas, álcool e abuso emocional, saem da prostituição doentes, traumatizadas e muitas vezes tão pobres como quando entraram.
A maior parte do mercado sexual pelo mundo fora é opressiva e a única forma de proceder é reconhecer a violência e exploração que nele existem e criar as soluções adequadas. A legalização só beneficia os traficantes e "chulos" e compromete as mulheres, bem como o seu estatuto de mulher no longo prazo. Nas palavras de uma sobrevivente da prostituição: "A legalização não acaba com o abuso, torna-o legal."
A Legalização da Prostituição Refreará o Tráfico de Mulheres? Não! A
Legalização apenas Legitima o Abuso
Donna M. Hughes é a professora e coordenadora de pesquisa da Coaliation Against Traffic
of Women, uma organização não governamental internacional que criou uma nova
Convenção das Nações Unidas contra a exploração sexual. Ocupa a cadeira de Estudos
Femininos da Eleanor Carlson Universidade de Rhode Island. Disponível em
www.apf.pt/temas/tema_502.htm
Mais informações em www.uri.edu/artsci/wms/hughes/hughes.htm
10
O Comitê CEDAW é formado por 23 especialistas independentes eleitas pelos Estados-parte
da Convenção para um
mandato ad honorem (não remunerado) de (quatro) anos, as quais atuam não como
representante dos Estados, mas sim por
sua competência, capacidade e compromisso individual reconhecidos no campo dos direitos
humanos das mulheres.
ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O USO DO PROTOCOLO
A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
(CEDAW) e o Protocolo Facultativo à CEDAW são instrumentos diferentes, embora
intimamente relacionados. O Protocolo amplia as funções do Comitê criado pela CEDAW
para monitorá-la, as quais até então estavam restritas ao exame de relatórios
periódicos dos Estados-partes da CEDAW.
VIAS PARA PETICIONAR PERANTE O COMITÊ NO PROTOCOLO FACULTATIVO
O Protocolo prevê a competência do Comitê da CEDAW para receber e analisar
comunicações contra um Estado-parte, por violações aos direitos nela consagrados.
Inclui também um procedimento de investigação, através do qual o Comitê pode
instaurá-lo se houver informação fidedigna que indique uma violação grave ou
sistemática dos direitos estabelecidos na CEDAW. Para que o Comitê possa exercer tais
competências em relação a um Estado, é necessário que este seja parte da CEDAW e do
Protocolo Facultativo. É necessário, também, que se avalie, a partir de um caso
concreto, uma ou outra via de acesso ao Protocolo.
Quem pode peticionar?
Pessoas ou grupos de pessoas que aleguem ser vítimas de uma violação de quaisquer dos
direitos enunciados na Convenção; Terceiro em nome da(s) vítima(s), desde que tenha o
consentimento da(s) vítima(s), a não ser que possa justificar a atuação em nome
dela(s) sem o consentimento. OBS: não precisa de advogado(a) para peticionar.
Contra quem se apresenta a comunicação?
Somente é possível peticionar contra Estados-partes do Protocolo que tenham violado os
direitos reconhecidos na Convenção. Atos ou omissões de atores não estatais podem
também gerar responsabilidade estatal na esfera internacional. A comunicação sempre
será referida como: Fulano(s) de tal contra o Estado X.
Em que momento se apresenta a petição?
Não há prazo para a apresentação da comunicação. A exigência é que a violação
denunciada tenha ocorrido posteriormente à entrada em vigor do Protocolo para o Estado
denunciado, vale dizer, depois de decorridos três meses da data em que o Estado depositou
o instrumento de ratificação junto à Secretaria Geral da ONU. Se ocorrida anteriormente
à vigência do Protocolo no Estado, somente será cabível a comunicação no caso em que
se denuncie a continuação da violação, ou seja, desde que a violação subsista no
tempo.
Aonde os fatos têm de ter ocorrido?
Os Estados só podem ser responsabilizados por violações ocorridas no marco de suas
jurisdições, isto é, a princípio, em seu território.
O que se pode denunciar?
Quaisquer dos direitos enunciados na Convenção(CEDAW). Mas, alguns direitos não
expressos no texto da Convenção podem ser alcançados pela comunicação. Isso porque o
Comitê, através de suas Recomendações Gerais, apresenta interpretações ampliadas do
alcance das formulações de direitos contidas neste instrumento. Por exemplo: o Comitê
entende, segundo a RG No. 19, que na definição de discriminação estabelecida na
Convenção inclui-se a violência de gênero.
O trâmite da petição
Em geral, o Comitê, ao receber uma comunicação: Examina se atende aos requisitos
formais (apresentação por escrito, identificação dos peticionários e das vítimas);
Verifica se foram esgotados os recursos internos disponíveis, ou se são aplicáveis
algumas das exceções a essa regra (tramitação no âmbito nacional indevidamente
prolongada ou que dificilmente proporcione solução efetiva); Determina se a
comunicação é admissível ou não.
A comunicação poderá não ser admissível, quando:
Se refira a uma questão que já tenha sido analisada pelo Comitê ou por outro
procedimento internacional; Seja incompatível com as disposições da Convenção; Seja
manifestamente infundada ou insuficientemente corroborada; Sua apresentação constitua um
abuso de direito; Os fatos sobre os quais se refere tenham acontecido antes da entrada em
vigor do Protocolo para o Estado denunciado, exceto no caso de violações de direito
continuadas.
Pautas gerais do trâmite:
Confidencialidade: preserva o conteúdo da comunicação de publicidade ao público em
geral, pela situação de vulnerabilidade das denunciantes e riscos que possam correr.
Prazos: recebida a comunicação, o Estado tem prazo de seis meses para apresentar, por
escrito, ao Comitê explicações ou declarações sobre a denúncia e as eventuais
medidas adotadas para reparar a situação. Fontes de informação provas: na
análise do mérito, o Comitê tem ampla liberdade para fazer uso de toda informação e
prova úteis para o esclarecimento da denúncia, desde que divulgadas para as partes
envolvidas; Adoção de observações e recomendações: ao final, o Comitê elabora suas
opiniões e recomendações, e deve comunicá-las às partes
interessadas; Mecanismos de acompanhamento: implementa uma instância de comunicação
permanente entre o Estado e o Comitê para acompanhar o cumprimento das medidas
recomendadas em relação à situação denunciada. Assim, após feitas as recomendações
pelo Comitê, o Estado tem o prazo de seis meses para informar sobre as medidas adotadas.
Também se autoriza o Comitê a convidar o Estado a apresentar informação adicional
sobre as medidas e solicitar que informe sobre elas no procedimento de relatórios,
previsto na CEDAW.
Medidas provisórias
São medidas destinadas a proporcionar à(s) vítima(s) proteção diante de possíveis
danos irreparáveis. O Protocolo admite esse pedido no marco do trâmite da
comunicação e a partir do momento em que esta é recebida, imprimindo seu caráter de
urgência. Como consequência, o Comitê poderá solicitar ao Estado que adote medidas
necessárias para evitar possíveis danos, sem que tal decisão suponha uma opinião do
Comitê sobre a admissibilidade ou fundamento da denúncia.
Procedimento de investigação
Tomando conhecimento da existência de uma violação grave ou sistemática
dos direitos estabelecidos na Convenção, o Comitê tem autorização para convidar
o Estado a colaborar na análise da informação e apresentar suas observações. A
investigação é confidencial e o Comitê tem amplos poderes para sua implementação,
podendo usar de toda informação fidedigna à sua disposição. Podem também encarregar
um ou mais de seus membros a realizar um investigação especial sobre o tema e apresentar
um relatório urgente ao Comitê. Também poderá, com o consentimento do Estado, incluir
uma visita in loco. O Comitê produzirá um relatório com suas observações e
recomendações e informará ao Estado que terá seis meses para apresentar suas próprias
observações. Também se prevê um mecanismo de acompanhamento do cumprimento das
Recomendações, autorizando o Comitê a convidar o Estado a incluir informação sobre as
medidas adotas por ocasião da apresentação do relatório, previsto na CEDAW, ou de
forma independente, e depois de decorridos os primeiros seis meses da apresentação do
Relatório Final. Contudo, o Protocolo faculta aos Estados a ratificação com reservas no
que se refere à competência do Comitê para o procedimento de investigação.
AGENDE: Endereço: SCLN 315 Bl. B, Sala 101 - CEP 70774-520 - Brasília/DF
Tel (55-61) 273-3551 - Fax (55-61) 273-5801
http://www.agende.org.br/usodoprotocolo.asp
29ª Sessão do Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher (Comitê CEDAW) traz os principais pontos do documento referente às Recomendações do Comitê CEDAW ao governo Brasileiro
O Comitê está preocupado com o impacto da pobreza sobre as mulheres brasileiras afrodescendentes, mulheres indígenas, chefes de família e outros grupos de mulheres socialmente excluídas ou marginalizadas e com sua posição em desvantagem no que se refere ao acesso à educação, saúde, saneamento básico, emprego, informação e justiça. Nesse sentido, o Comitê insta ao Estado assegurar que suas medidas de combate à pobreza dêem atenção prioritária às mulheres afrodescendentes, indígenas, chefes de família e a outros grupos de mulheres socialmente excluídas ou marginalizadas, mediante programas e políticas devidamente financiados dirigidos às suas necessidades específicas (parágrafos 35 e 36).
O Comitê manifesta sua preocupação com relatos de que mulheres indígenas estão sendo sexualmente abusadas por forças militares e garimpeiros em terras indígenas. O Comitê observa que o Governo está considerando desenvolver um código de conduta para regular a presença das forças armadas em terra indígenas. Assim sendo, solicita ao Estado que tome as medidas necessárias para promover a conscientização sobre a situação das mulheres e meninas indígenas e assegurar que a violência sexual contra elas seja investigada e punida como um crime grave. Também insta ao Estado que adote medidas preventivas, incluindo prontamente investigações disciplinares e programas de educação em direitos humanos para as forças armadas e pessoal encarregado do cumprimento da lei (parágrafos 39 e 40).
O Comitê está preocupado com o aumento da incidência de várias formas de
exploração sexual e tráfico de mulheres e meninas no Brasil, tanto internamente quanto
nas zonas de fronteiras. Está particularmente preocupado com a participação de pessoal
policial e com sua conivência com a exploração e tráfico e com a impunidade dos
abusadores, agressores, exploradores e traficantes, como relatado pelo Estado. O Comitê
observa a falta de dados desagregados por sexo e a informação insuficiente sobre a
exploração sexual de crianças e adolescentes de rua. Nesse sentido, o Comitê recomenda
a formulação de uma ampla estratégia para combater o tráfico de mulheres e meninas, o
qual deveria incluir a investigação e punição dos ofensores e a proteção e suporte
para as vítimas. Recomenda a introdução de medidas voltadas a eliminar a
vulnerabilidade das mulheres aos traficantes, particularmente das mulheres jovens e
meninas. Recomenda que o Estado edite uma legislação antitráfico e faça da luta contra
o tráfico de mulheres e meninas uma alta prioridade. O Comitê requer ao Estado incluir
ampla informação e dados em seu próximo relatório sobre a questão, bem como sobre a
situação das crianças e adolescentes de rua e sobre as políticas adotadas para
enfrentar estes problemas específicos (parágrafos 41 e 42).
BOLETIM ELETRÔNICO Nº 08/2003
OS DIREITOS DAS MULHERES NÃO SÃO FACULTATIVOS
AGENDE - Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento
Brasília, 12 de Agosto de 2003
Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento, enquanto ponto focal no Brasil da Campanha
Mundial Os Direitos das Mulheres Não São Facultativos pela ratificação e uso da CEDAW
(Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher,
ONU, 1979) e seu Protocolo Facultativo.
10a
As palavras que encobrem.
Porém não é de ética que falamos, mas da sociedade humana contemporânea. Na
instituição da prostituição e do tráfico de pessoas, para exploração sexual e
profissional, advertimos sobre a fragilidade dos discursos acadêmicos, das disposições
legais e o ambíguo e enganoso jargão das instituições.
Em nome da pós-modernidade, a semântica taxativa foi abaixo, rotunda demais para
certo paladares. A partir da temática social e econômica, com freqüência se constroem
discursos que tendem à trivialização e à tergiversação, elevadas hoje à categoria
de posição "objetiva".
"Acredito reconhecer nesta atitude uma das conseqüências do pânico que
produz assumir posições consideradas politicamente incorretas, a partir dos setores
supostamente progressistas, ou a partir do instituído pelas agências de financiamento*.
Estas últimas difusoras do "pensamento único" (o único autorizado por uma
invisível e onipresente polícia de opinião)[2]."
(...)
A experiência histórica da Holanda no tráfico de escravos a tornou especialista
na construção de uma excelente linguagem encobridora, para mostrar transparência em uma
das suas mais importantes fontes de recursos, a indústria sexual. A partir da temática
social e econômica, com freqüência se "produzem" discursos que tendem à
confusão e à superficialidade, elevadas hoje à categoria de visão
"objetiva".
[2] Libres de no serlo Marie Victoire Louis Le Dipló/agosto 1999.
Palavras Cruzadas, Sara Torres
Militante feminista argentina, integrante de organismos de Direitos Humanos em Política
Sexual (UFA União Feminista Argentina, Grupo Política Sexual 1972/1976). Educadora
sexual. Pesquisadora sobre prostituição. Referente na Argentina da Coalizão Contra o
Tráfico de Mulheres (CATW)
*
No Brasil e no Peru ONGs feministas, prostitutas e outras envolvidas diretamente com o
tema da prostituição são subvencionadas quase que todas pelas mesmas agências de
fomento. É relevante analisar a organização da "rede" que as ONGs feministas
formaram, estão plenamente interconectadas. A orquestrada indicação de Silvia Pimentel
à CEDAW não deixa dúvidas.
11
NOTAS TAQUIGRÁFICAS DA AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE O "PROTOCOLO FACULTATIVO À CEDAW -
CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A
MULHER", CONVOCADA PELA SENADORA EMÍLIA FERNANDES (PT/RS)
DATA: 21 DE MAIO DE 2002, ÀS 18 HORAS
LOCAL: SALA 13 (COMISSÃO DE SERVIÇOS DE INFRA-ESTRUTURA DO SENADO)
12
Comprova-se facilmente a expansão da prostituição observando-se os classificados de
qualquer jornal de agora e os classificados do mesmo jornal há 10 anos. Entretanto apenas
para exemplificar cito uma cidade no Oeste e outra no Leste de Santa Catarina, estado com
melhor IDH do país.
Chapecó - O caso da expansão da prostituição em Chapecó, oeste catarinense, repete-se
em praticamente todo o Brasil. Nos anos 80 a cidade ficou conhecida como "Capital da
Prostituição". Aí, vieram campanhas e atitudes enérgicas da polícia e a
prostituição acabou coibida, principalmente na praça Coronel Bertaso no centro da
cidade. Porém, a atividade se mudou para a avenida Fernando Machado, onde se
estabeleceram vários prostíbulos. Nada impediu que as prostitutas voltassem às ruas.
Primeiro, no começo da década de 90, tarde da noite. Depois, logo que anoitecia e agora
em plena tarde.
Joinville - Sexo explícito em plena luz do dia. E o que é pior, na rua, em pleno centro
da cidade. O que poderia ser enredo de um filme de Fellini, acontece quase todos os dias
em Joinville, na rua Itajaí, tradicional reduto de prostitutas e travestis. O problema
irrita moradores das redondezas, em sua maior parte pessoas idosas de famílias
tradicionais (março/1998).
Reportagens publicadas no jornal A Notícia.
Na Europa
A common destination country for Ukrainian women is Greece. There the demand for women in
prostitution is increasing, which creates the demand for trafficked women and makes it so
profitable. According to one survey from 1991 to 1996, the prostitutes clientele
increased by 60 percent and the number of promiscuous sexual contacts
increased by 100 percent.
B. Lazarus, 1998 as cited in Ira Emke-Poulopoulos, August 2001.
14
The Transnational Political Criminal Nexus of Trafficking in Women from Ukraine
Donna M. Hughes and Tatyana A. Denisova
Trends in Organized Crime
Vol. 6, No. 3-4: Spr.-Sum. 2001
http://www.uri.edu/artsci/wms/hughes/tpcnexus
15a
Na Holanda, onde dois terços das mulheres na prostituição são imigrantes e metade são
emigrantes ilegais traficadas, a legalização levou ao aumento da prostituição e do
tráfico. Conforme nota 9.
15b
-Glasgow: 99%
-Edinburgh: 90%
-Leeds: 95%
-Middlesborough: 100%
-Nottingham: 100%
-West Surrey: 95%
"The 2002 Trafficking in Persons Report: Lost Opportunity for Progress,"
Testimony on "Foreign Government Complicity in Human Trafficking: A Review of the
State Department's 2002 Trafficking in Persons Report," U.S. House Committee on
International Relations, Washington, D.C., 19 June 2002
http://www.uri.edu/artsci/wms/hughes/lost_opp.pdf
16
Mulheres latino-americanas são leiloadas para bordéis espanhóis
Em Portugal, estão promovendo leilões de mulheres, que são arrematadas por aqueles que
dão "o melhor lance" e levadas para Galícia, na Espanha, para serem
prostitutas, denunciou Ana Míguez, presidenta da organização feminista Alecrim, durante
depoimento à Comissão Especial sobre a Prostituição do Senado espanhol.
A Alecrim conseguiu resgatar sete destas moças, quase todas procedentes do Brasil. A
associação, que vem trabalhando desde 1994 a favor das mulheres prostituídas, mantém
um refúgio para onde são conduzidas as jovens que são salvas da exploração sexual.
Somente na Galícia, existem 352 clubes e cerca de oito mil prostitutas, segundo cálculos
da Alecrim, porém a cifra pode ser superior já que a polícia estima o funcionamento de
aproximadamente 400 estabelecimentos. Na Espanha, calcula-se que umas 300 mil mulheres se
dedicam profissionalmente ao sexo. Cerca de 95% das mulheres que trabalham nos clubes
galegos são estrangeiras, principalmente dominicanas, colombianas e brasileiras.
"Não faz muito tempo que podíamos dizer que em Galícia não havia grandes máfias
organizadas. A partir dos dois últimos anos que se começa a descobrir a conexão das
redes entre Galícia, Portugal e América Latina", ressaltou Míguez na comissão do
Senado. Ainda segundo ela, estas máfias estariam dando início à criação de
"agências de viagens" para introduzir mulheres na Espanha.
http://www.flacso.org.br/index.php?id=168
El 90 % de las 50.000 mujeres que se prostituyen en Madrid son inmigrantes
(ABC, España, 2003-10-30)
La mayoría no lo hace por gusto. Más bien al contrario: son forzadas y secuestradas para
vender su cuerpo por las mafias de trata de blancas en un porcentaje que ronda el 70%.
Escapar de la miseria es otra de las causa que acaba atrapando a otras mujeres en las
procelosas redes de la prostitución (30%). En unos casos vienen engañadas con la promesa
de una oferta de trabajo bien remunerado, y en otros, saben a lo que se van a dedicar,
pero ignoran las condiciones. Quieren sobrevivir. Así lo explicó Rosario Carracedo,
miembro de la Comisión para la Investigación de Malos Tratos, que ayer presentó un
estudio elaborado en colaboración con la Dirección de la Mujer. El rostro de la
prostituta es el de una inmigrante ilegal (90%), muy joven o incluso menor de edad -a
éstas las recluyen en prostíbulos para que no sean visibles-, bajo el control de las
redes que las explotan.
España, punto de destino
Las de Europa del Este y subsaharianas soportan mayor presión, que desciende en el caso
de las latinoamericanas, que son explotadas por sus propios compañeros. El 10% restante
son españolas de mediana edad, toxicómanas y con un largo deterioro. Sus jornadas
laborales duran más de 10 horas y se las cambia continuamente de sitio, según el
informe. España dejó de ser hace una década un lugar de paso para convertirse en punto
de destino para un mercado, el del sexo, que ha crecido un 25%y factura 1,2 billones de
pesetas al año. En ello influyó la despenalización coercitiva del proxeneta en el
Código Penal de 1995. «Esperemos que con su modificación el panorama varíe». En todo
el país hay medio millón de meretrices y en Madrid 50.000. El «negocio» del sexo se ha
modernizado y los hombres recurren a él como si se tratara de un «hobby», indicó
Milagros Rodríguez, de la Comisión. «Las mujeres son un producto que el cliente usa sin
más». De ahí que destaque la «doble moral» del consumidor -más del 17% de los
hombres- que quiere variedad, y de la sociedad que ejerce como un gran «proxeneta».
¿Las soluciones? «Difíciles por la cantidad de millones que mueve. Una de ellas sería
la de legalizar a las extranjeras para que puedan reinsertarse y más ayudas económicas,
pero jamás la vía de la reglamentación porque la violencia no es regulable ni
negociable y encima engorda el negocio»
http://www.mujernueva.org/articulos/articulo.phtml?id=2424&td=5&tse=NOT
16a
Idem nota 10a
A OMS (Organização Mundial de Saúde) começou a tratar do tema da prostituição
com o asséptico rótulo de "trabalho sexual", sem nenhuma fundamentação. Em
sua publicação The Sex Sector [4], a OIT (Organização Internacional do Trabalho)
sustenta que a existência da chamada "indústria sexual" é um fato justificado
pelo dinheiro que produz[5] ".
ONUSIDA (UNAIDS) e LUSIDA, na Argentina, implementam projetos de prevenção de HIV-AIDS,
convocando pessoas em prostituição como promotoras para executá-los desde que estas se
agrupem como "trabalhadoras sexuais" ou "trabalhadores do sexo".
[4] Lin Lean Lim: The Sex Sector, ILO, Suíça, 1998.
[5] Leonor G. Nuñez, "Salud, trabajo y prostitución" Foro Internacional de
Mulheres Contra a Corrupação. Bs. As. 2002.
-----//-----
Escrevendo sobre a ONU Cristina Zurutuza em "(Relaciones Entre) Las Naciones Unidas y
La Sociedad Civil" avalia: baste mencionar que uno de sus obstáculos es su modalidad
altamente burocratizada, y algunos de sus mecanismos de funcionamiento que desdicen la
democracia y la transparencia que pregona.
-----//-----
Segundo o "Informe sobre el tráfico de mujeres y la prostitución en la Comunidad de
Madrid" realizado por La Comisión para la Investigación de Malos Tratos a Mujeres,
com o apoio da Dirección General de la Mujer de la Comunidad de Madrid (Consejería de
Trabajo): La Organización Internacional del Trabajo (OIT) no tiene un enfoque
específico respecto a
la explotación sexual de las mujeres, es más, a veces se ha mantenido ambiguo en el
debate internacional sobre la regularización de la prostitución.
(...)
Tal y como señalábamos al analizar los instrumentos específicos de Naciones Unidas, lo
cierto es que varios de los elementos de vacío o puntos frágiles que veíamos entonces,
se repiten nuevamente, con mayor o menor intensidad, en el resto de Organismos e
instrumentos de intervención internacionales. En este sentido, destacan las tendencias a
disociar trata y explotación de la prostitución.
Tal y como señala Marcovich, la lucha contra la trata no debe desembocar en una
separación entre el tráfico y la explotación de la prostitución, porque lo único que
hace es perjudicar a las víctimas.
www.redfeminista.org/Doc/prosti%2021-10-03%20cubierta.pdf
17
Gender, HIV and Human Rights: A Training Manual
© The United Nations Development Fund for Women, 2000
ISBN: 0-9679502-28
http://www.unifem.org/index.php?f_page_pid=73
18
O presidente norte-americano George W. Bush e o Papa João Paulo II devem ser as mais
conhecidas autoridades conservadoras contrárias à prostituição.
Bush e o Papa fazem parte do grupo que por razões fundamentalistas cristãs, judias,
hindus ou islâmicas defendem a repressão da sexualidade das mulheres.
Ideologias radicais como o nazismo e o comunismo, também condenam a vítima prostituída.
No Brasil, maior nação católica do mundo, a igreja está muito confusa e retardada.
Não se posiciona sobre a legalização da prostituição, e nem mesmo sobre a CEDAW. Leia
mais em http://www.providaanapolis.org.br/falhcnbb.htm
19
DIÁRIO DO NORDESTE (CE) - POLÍCIA
CASA DE MASSAGENS FECHADA
Uma casa de massagens situada na Avenida Leste-Oeste, 1035, na Orla Marítima de
Fortaleza, foi fechada na madrugada de ontem, pelas autoridades. Uma denúncia anônima
chegou à Polícia, dando conta de que o responsável pela casa de massagens Trivial
Drinks, estaria realizando um aborto em uma das garotas de programa que trabalhavam
lá. Foi solicitado reforço e fomos com policiais militares da 5ª Companhia do 5º
BPM (Centro) até o local. O responsável pela casa, Carlos Alberto Pinto Neto, insistia
em não abrir a porta. Tocamos a campainha, batemos no portão, até que ele apareceu e
permitiu que entrássemos, explicou o delegado que estava de plantão no 34º
Distrito Policial (Delegacia Central), Donato Moésio.
Inicialmente nada de anormal foi encontrado, mas ao ser revistado o andar superior da
residência, foi confirmada a denúncia que havia sido feita. No andar térreo da
casa de massagens não encontramos nenhuma irregularidade, mas no andar superior, em um
dos quartos, detectamos que realmente tinha sido realizado o aborto na jovem Michele
Uchôa Almeida, de 19 anos. lembrou.
RUFIANISMO - A Polícia também encontrou outras quatro jovens, com idades entre 19 e 21
anos, que confessaram trabalhar naquele estabelecimento, dividindo o lucro dos programas
com os responsáveis pela casa. Havia uma tabela de exploração sexual naquele
local: para programas com estrangeiros as garotas cobravam R$ 120,00 e para programas com
brasileiros, o preço era de R$ 80,00. E segundo elas, metade do lucro era delas e a outra
metade do dono da casa. Isso caracteriza exatamente o rufianismo, que quer dizer tirar
proveito de prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se
sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça, explicou o delegado José
Antunes Teixeira, titular do 34º DP que acompanhou o desenrolar das investigações,
durante toda a manhã de ontem.
PRESOS - Carlos Alberto foi autuado em flagrante por rufianismo e por provocar aborto com
consentimento de terceiro (artigos 230 e 126 do Código Penal Brasileiro, respectivamente,
cujas penas variam de um a quatro anos de reclusão, além do pagamento de multa), e
Michele, a jovem que estava sendo submetida ao aborto clandestino, foi presa por permitir
a prática do crime (artigo 124 do CPB, e sua pena pode ficar entre um e três anos de
detenção).
Ela foi conduzida ao hospital, a fim de receber atendimento adequado, onde permanecia sob
observação até o fechamento desta edição. Continuamos realizando algumas
investigações e acabamos descobrindo que havia outro responsável pela casa de
massagens, uma espécie de sócio de Carlos Alberto. Tratava-se do advogado português
Antônio Alberto de Assis Sales Pinto Batista, que também foi preso e autuado por crime
de rufianismo, explicou o delegado Donato.
http://www.aids.gov.br/imprensa/Noticias.asp?NOTCod=56242
A Polícia Militar prendeu Rinalta Maria Arruda da Silva, 30 anos, estudante, acusada
de tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou
fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça (Rufianismo). A prisão foi
realizada pelo Policiail Militar Alex Freitas, do 1º BPM. Após denúncia anônima ao
COPOM, a guarnição deslocou-se à Av. Sete Setembro, 2376, bairro Nossa Senhora das
Graças, para averiguar a ocorrência.
No local, os componentes da guarnição depararam-se com Rinalda Maria recebendo a
importância de cem reais das mãos de Manoel Henrique Soares, 31 anos. Junto a eles
estaria Soraya de Lima, 30 anos, mulher de programa, com quem Henrique teria
mantido relação sexual.
Ao perceber a presença da Polícia Militar, a acusada tentou esconder o dinheiro em baixo
de uma geladeira, tentando assim escapar das acusações de Rufianismo, porém seus gestos
foram percebidos pelos Policiais Militares.
Soraya disse que era agenciada por Rinalda Maria na prática da prostituição. A suspeita
também teria confessado aos Policiais Militares que há três meses vem agenciado
mulheres para sustentar os filhos e os estudos, caracterizando assim, o crime de
Rufianismo.
http://www.pm.ro.gov.br/modules.php?name=News&file=article&sid=540
Prisão
O casal Nelson Linhares dos Santos, 36, e Rita de Cássia Eyng, 31, foi preso em flagrante
na quarta-feira à noite, em Taió, acusado de manter casa para favorecer o rufianismo
(tirar proveito da prática de prostituição). Para agravar ainda mais a situação dos
dois, durante a blitz a Polícia Civil encontrou no interior da Boate Paraíso, nas
margens da rodovia SC-422, a adolescente N.C.M., 17, entre as mulheres que faziam
programas no estabelecimento. Nelson admitiu que era o proprietário da boate.
http://an.uol.com.br/1999/fev/19/0pol.htm
Mulheres vão para a cadeia por rufianismo
Balneário Camboriú - Uma parceria entre a Polícia Civil e o Conselho Tutelar de
Balneário Camboriú, no Litoral Norte, resultou na interdição de uma casa de
prostituição que mantinha uma adolescente de 17 anos trabalhando no local. A dona do
estabelecimento, situado na Quinta Avenida, bairro dos Municípios, N.O., 52 anos, e a
gerente da casa I.B.N., 47 anos, foram presas e levadas à Delegacia de Proteção a
Mulher, à Criança e ao Adolescente. As envolvidas na exploração sexual foram
enquadradas no crime de rufianismo (tirar proveito da prostituição), que prevê pena de
um a quatro anos de reclusão.
A operação tinha caráter preventivo e previa vistoriar cerca de oito casas noturnas,
suspeitas de exploração sexual infantil. O presidente do Conselho Tutelar Newton Achutti
adiantou que uma nova operação surpresa irá vistoriar o restante das casas de
prostituição.
http://an.uol.com.br/2004/jul/03/0pol.htm
Rufianismo
Em recente e sigilosa operação desencadeada pelo Ministério da Justiça contra
prostituição infantil, agentes da Polícia Federal surpreenderam o comissário da
Polícia Civil de Santa Catarina, Noé Ortiz, lotado na delegacia de Entre Rios, no Oeste,
gerenciando a boate Eros Del Sex, na marginal da BR-101, em Balneário Camboriú. Duas
adolescentes de 17 anos foram detidas. Noé, preso em flagrante e portando uma pistola
calibre 40 da Secretaria de Segurança Pública, está sendo processado disciplinarmente e
pode perder o cargo.
http://an.uol.com.br/2003/abr/06/0sar.htm
Rufianismo (Prostituição) - Policiais da Delegacia de Polícia de Indaiatuba
prenderam Cleusa Aparecida Corandini dos Santos, 37 anos e Jaci Barbosa da Cruz, 41 anos.
O casal é proprietário de uma casa de prostituição. Na ocasião foram conduzidas até
a delegacia, para prestar depoimento, oito mulheres, entre elas uma adolescente, que
confessaram estarem no local para fazer "programas".
http://www.policia-civ.sp.gov.br/prisoes/2002/agosto.htm
Fortaleza, Ceará - Sábado 26 de maio de 2001
Paulista preso e autuado por crime de rufianismo
O publicitário paulista David Palazzim Silva, 35 anos, foi preso em flagrante na
madrugada de ontem, acusado de crime de rufianismo e falsa identidade.
David foi detido por policiais militares na Praia do Futuro, em companhia de quatro
mulheres e duas adolescentes. Ele estaria agenciado prostitutas para um grupo de
vereadores - que não foi determinado na ocorrência policial se eram da Capital ou do
Interior - que se divertia numa barraca próxima à Praça 31 de Março. Na 2 DP
(Aldeota), para onde foi levado, o publicitário (que se diz também promotor de eventos e
arquiteto), negou que estivesse tentando obter lucro da prostituição alheia (fato que
caracteriza o rufianismo), mas as garotas sustentaram a acusação.
http://diariodonordeste.globo.com/2001/05/26/017.htm
RUFIANISMO
Homem sorteava prostitutas na internet
A Delegacia de Ordem Social de Curitiba vai indiciar, por crime de rufianismo, o dono de
um site que funcionou até ontem promovendo sorteio de prostitutas pela internet. Com
endereço eletrônico em Curitiba, R.G., 23 anos, mantinha no site uma carteira
de fotos de mulheres disponíveis numa espécie de bingo. Mediante
o pagamento de R$ 10 depositados em uma de três contas bancárias indicadas na
página , o cliente concorria a uma noite com a mulher que escolhesse. O crime de
rufianismo tirar proveito de prostituição alheia pode levar a uma
condenação de até quatro anos de prisão, segundo o Código Penal. (Agência Folha)
Brasília, sexta-feira, 21 de junho de 2002
http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20020621/pri_bra_210602_251.htm
20
Relatório da missão especial da Organização das Nações Unidas sobre exploração
sexual de crianças e adolescentes no Brasil, divulgado em Genebra (18/02/04),
responsabiliza a polícia e o Poder Judiciário pelo problema, apontado como "somente
a ponta de um grande iceberg", e cobra reformas imediatas nas duas instituições.
No texto, o relator da ONU para o Tráfico de Crianças, Prostituição e Pornografia
Infantis, Juan Miguel Petit, diz que testemunhou "horrores" ao visitar o país
em novembro de 2003. Em 12 dias, ele passou por Brasília, Belém, Salvador, São Paulo e
Rio de Janeiro, além de receber informações de outras regiões.
(...)
Reformas
No caso da polícia, o relator da ONU se mostra preocupado com as acusações de
corrupção e de envolvimento dos próprios policiais na exploração sexual. Na
avaliação da organização, isso representa um risco grande de corporativismo e
impunidade.
Como solução, as Nações Unidas recomendam a adoção de programas de capacitação
profissional dos policiais sobre direitos humanos e maior interação com a sociedade.
Sobre o Judiciário, a ONU defende uma reforma tendo como perspectiva os direitos das
crianças. O texto diz que juízes devem "ter um papel ativo na área social de
proteção aos direitos das crianças e integrar a rede de proteção formada em sua
comunidade".
O relator também critica a falta de defensorias públicas autônomas. Em São Paulo, por
exemplo, a defesa gratuita é oferecida pela PAJ (Procuradoria de Assistência
Judiciária), subordinada à Procuradoria Geral do Estado.
No âmbito legislativo, são três as principais recomendações: ampliar a definição de
tráfico, incluindo as rotas internas; tratar os crimes sexuais como crimes contra a
pessoa, não contra os costumes; adotar medidas para combater as infrações ligadas à
internet.
Folha de S.Paulo em 19/02/2004.
21
No Brasil, renda média dos mais ricos é 150 vezes maior que a dos mais pobres
A concentração de renda no Brasil gerou cinco categorias de grupos sociais, segundo
indicadores do desenvolvimento, publicados pelo Banco Mundial (maio/2000).
os miseráveis, que correspondem a
24 milhões;
os pobres, 30 milhões;
os quase pobres, 60 milhões;
a classe média, 50 milhões,
e os ricos, 2 milhões.
Bernardo Koche considera que a questão social no Brasil hoje está igual ou pior
que na primeira república, período entre 1889 e 1930. "É a elite que se apossa do
estado. Naquele momento, era cafeicultora. Hoje, é tecnocrata e associada ao capital
internacional, sem preocupação com o mercado interno.
Relatório do Unicef divulgado ontem aponta que, no Brasil, a pobreza é a maior
ameaça a crianças e adolescentes
Para ONU, 45% dos jovens estão na miséria
RICARDO WESTIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA - Folha online
Pobreza, conflitos armados e Aids são, no início do século 21, as maiores ameaças
às crianças e aos adolescentes no mundo, de acordo com o relatório anual do Unicef
(Fundo das Nações Unidas para a Infância), divulgado ontem. No Brasil, dos três
problemas apontados, o que mais preocupa o órgão da ONU é a pobreza.
Segundo o relatório "Situação Mundial da Infância 2005", 45% das crianças e
dos adolescentes do Brasil vivem abaixo da linha da pobreza. Isso significa que, de todos
os 60,3 milhões de brasileiros com menos de 18 anos, 27,4 milhões vêm de famílias em
que cada membro sobrevive com menos de R$ 4,33 por dia (menos de meio salário mínimo por
mês).
Para ilustrar como "milhões estão perdendo a infância", o Unicef cita o
Brasil logo no primeiro parágrafo de seu relatório: "Meninos e meninas revirando
pilhas de lixo em busca de alimento em Manila, obrigados a carregar uma AK-47 pelas
florestas da República Democrática do Congo, forçados a se prostituir nas ruas de
Moscou, privados dos pais pela Aids em Botsuana, mendigando comida no Rio de
Janeiro".
Para compor o documento, o Unicef usou, no caso do Brasil, números do IBGE (Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e de outros órgãos do governo dos
últimos três anos.
A representante do Unicef no Brasil, Marie-Pierre Poirier, faz uma comparação para citar
onde o índice chega a alarmantes 96%: "Podemos dizer que a pobreza brasileira tem a
cara da criança do semi-árido nordestino".
Apesar de citar uma imagem negativa do Brasil na abertura do relatório, o órgão da ONU
faz elogios ao programa brasileiro de Aids e ao Bolsa-Escola.
O Unicef divulgou uma classificação de 193 países com base no bem-estar de crianças e
adolescentes. O critério é o índice de mortalidade infantil (morte antes dos cinco anos
de idade). Quanto mais próximo dos primeiros lugares, pior a situação.
O Brasil aparece em 90º lugar, com 35 mortes em mil nascimentos. Em 2003, ocupou o 93º
lugar, com 36 mortes por mil.
A tendência de queda é mundial: no início dos anos 60, uma em cada cinco crianças
morria antes do cinco anos; hoje, há 1 morte por 12 nascimentos.
Fonte: Folha online-10/12/2004
http://www.unicamp.br/nepo/principal/online/miseria.htm
22
O Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê:
Art. 87
A política de atendiento dos direitos da criança e do adolescente far-se-à através de
um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
III- Serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas
de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão.
Art. 130
Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou
responsável , a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o
afastamento do agressor da moradia comum.
Art. 240
Produzir ou dirigir representação teatral, televisiva ou película cinematográfica,
utilizando-se de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornografia:
Pena: reclusão de 1 a 4 anos e multa.
Parágrafo único- Incorre a mesma pena quem, nas condições referidas neste artigo,
contracenar com criança ou adolescente.
Art. 241
Fotografar ou publicar cenas de sexo explícito ou pornográfico envolvendo crianças ou
adolescentes.
Pena: reclusão de 1 a 4 anos.
23
Caderninhos na Internet
(...) Hoje em dia, qualquer garota de programa acima da linha de pobreza já conta com seu
próprio site na Web.
Kelly, de 19 anos, tem sua página há três, hospedada no site de uma pequena agência de
modelos carioca. Ela paga cerca de R$ 50 por mês à agência para manter sua página no
ar, e só: de resto, Kelly trabalha por conta própria.
Por enquanto, somente 20% dos seus clientes chegam pela Internet, localizando Kelly ou a
agência através de mecanismos de busca. Os outros 80% encontram Kelly através dos
classificados de O Globo.
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=272ENO001
O custo dos anúncios é pesado, mas Kelly não tem outra opção. Via de regra, seus
clientes vêem seu anúncio no jornal, se interessam, vão ao site, abrem as fotos, gostam
e só então ligam para marcar o programa. Não poderia haver melhor exemplo da
integração entre nova mídia e mídia tradicional.
Marta, de 26 anos, também trabalhando por conta própria, poderia dar algumas boas dicas
à Kelly: a página de Marta fica dentro do site da Destack, conhecida agência de
modelos. Como a Destack aparece bem nos mecanismos de busca, quase todos os clientes de
Marta hoje já chegam pela Internet e ela está progressivamente deixando de anunciar nos
classificados. Afinal, a matemática é simples: Marta paga R$ 60 por mês à Destack para
manter a página no ar, enquanto o anúncio mais barato sai por R$ 49 ao dia.
Nem todas as meninas, entretanto, hospedam suas páginas em agências.
Fabyana de Castro, 27 anos, a única das meninas com quem falei que aceitou se
identificar, tem domínio próprio e um site luxuoso e muito bem acabado. Pudera: Fabyana
atende no Rio, São Paulo e Brasília, acompanha executivos ao exterior e sua hora custa
R$ 200.
Para Fabyana, o site tem se revelado um excelente negócio: "Fica mais fácil de o
cliente te encontrar e de marcar. Ele faz tudo sozinho. E ele te vê!" Não só o
cliente pode conferir várias fotos, de várias partes do corpo de Fabyana e de vários
ângulos, ele ainda pode fazer tudo isso com privacidade e sem medo de ser identificado
por binas ou celulares.
O Fim do Atravessador
A Internet permite que, com um investimento irrisório, as moças possam ser encontradas
facilmente pelos clientes sem precisar de atravessadores, rufiões ou anúncios nos
classificados. O próprio delegado da extinta Divisão de Fiscalização de Diversões
Públicas, Júlio César Mulatinho, confirma a tendência: "Com o lançamento de seus
sites, [as prostitutas] começam a fugir da figura do agenciador."
Pesquisas recentes sobre comércio eletrônico comprovam que, mesmo quando a compra não
é efetuada on-line, a decisão de compra é muitas vezes feita na Internet. Para produtos
mais sofisticados e consumidores idem, como carros de alto luxo, estima-se que quase toda
compra inclui algum elemento de pesquisa ou comparação de preços e acessórios pela
Web.
Profissionais do sexo como a Fernanda e a Kelly estão descobrindo que seus clientes
também tomam suas "decisões de compra" on-line.
Pouco a pouco, à medida que os mecanismos de busca ficarem mais sofisticados e os
clientes forem aprendendo as vantagens de escolher suas acompanhantes pela Internet, pode
ser que os classificados dos jornalões fechem por pura falta de anunciantes.
(...)
Globalização do Sexo
No mundo globalizado, o capital persegue a mão-de-obra mais barata - e a mais bonita.
Sites pornográficos internacionais vêm buscar suas meninas aqui no Brasil.
Soraya, 32 anos, mãe de dois filhos, começou faculdade de Astronomia, mas desistiu:
"Muita matemática."
Exibicionista nata, ela passava suas noites em salas de bate-papo provocando os homens.
Depois que comprou uma webcam, câmera que transmite imagens ao vivo pela internet, passou
a provocar muito mais a platéia cativa.
Um dia, desempregada, ouviu de uma amiga que poderia ganhar muito dinheiro para continuar
fazendo o que já havia feito de graça tantas vezes: "A única diferença pra mim
foi que passei a mostrar o rosto."
Para preservar o anonimato das modelos, esses sites são, em sua maioria, vetados aos
brasileiros: "Temos como bloquear os endereços de IP do Brasil," explica
Soraya.
Os clientes entram em salas de bate-papo e começam a conversar com as modelos
disponíveis, via teclado, microfone ou webcam. As modelos fazem o que podem para excitar
o cliente, o que não é muito difícil. Difícil mesmo é manter o diálogo picante em
inglês fluente, "mas isso elas vão aprendendo no serviço".
Devidamente excitado, o cliente precisa então comprar um show ao vivo para poder ver
mais. Em média, o preço mínimo é de US$ 30 por cinco minutos. Caso o cliente seja mais
pobrezinho, ele pode comprar um show pré-gravado por um dólar o minuto.
O show ao vivo é relativamente simples: sob as instruções do cliente ou não, a modelo
lambe aqui, passa o dedo ali, enfia um objeto acolá. Vale o consenso: as modelos não
são obrigadas a fazer nada que não queiram, e os clientes sabem disso.
Dependendo das regras do estúdio brasileiro, as modelos podem ganhar salário fixo,
comissão ou ambos. Os turnos são de oito horas, mas como o trabalho é relativamente
tranqüilo, muitas dobram. Essas mais diligentes tiram cerca de R$ 4.000,00 por mês.
Os estúdios evitam contratar prostitutas, pois elas tendem a passar mais tempo tentando
marcar programas do que atiçando os clientes para os shows ao vivo. Todas as modelos do
estúdio que visitei tinham algum tipo de "amigo" estrangeiro que conheceram
através do site, dos quais recebem todo tipo de presente. No dia da entrevista, chegou
pelo correio um bracelete para Soraya, de um cliente agradecido.
Ela mesma ficou pouco nessa vida. Em menos de dois meses de shows ao vivo, conheceu seu
atual namorado através do site e ele pediu para que ela passasse para trás das câmeras.
Soraya transferiu-se para a parte administrativa e hoje é gerente de um próspero
estúdio na Barra da Tijuca, onde trabalham cerca de vinte e uma meninas em três turnos
diários, vinte e quatro horas por dia. Ela e o namorado planejam se casar até o final do
ano.
Soraya sabe que a linha entre o seu negócio e a prostituição é tênue: "Afinal,
é sexo por dinheiro, mas 100% seguro.
Prostituição, jornalismo e internet
Alexandre Cruz Almeida
http://liberallibertariolibertino.blogspot.com
24
- Use of the Internet for Global Sexual Exploitation of Women and Children
www.uri.edu/artsci/wms/hughes/internet.pdf
- The Use of New Communications and Information Technologies for Sexual Exploitation of
Women and Children
www.uri.edu/artsci/wms/hughes/new_tech.pdf
- Group of Specialists on the Impact of the Use of New Technologies on Trafficking in
Human Beings for the Purpose of Sexual Exploitation
www.uri.edu/artsci/wms/hughes/eg-s-nt_final_report
25
Associações de prostitutas
São 25 associações formais e 10 informais, com 25 mil filiados no total. Eugênio
Bucci, 05/12/2002, Jornal do Brasil.
Associação de Prostitutas do Ceará (Aproce)
Associação Pernambucana de Profissionais do Sexo
Fio D'Alma
Associação das Damas do Rio
Associação da Vila Mimosa (Amocavim)
Davida
Gempac, de Belém do Pará
Aprosba - Associação das Prostitutas da Bahia
Núcleo da Associação Sergipana de Prostitutas na Cidade de Lagarto
Associação dos Profissionais do Sexo de Joinville Filhos da Noite
26
Fidelidade só na cabeça
"Quando minha mãe descobriu que estava com o HIV, o mundo caiu lá em casa.
Jamais pude imaginar que aquela mulher, exemplo de força e alegria, pudesse contrair o
vírus. Acho que é porque a gente nunca olha os nossos pais como pessoas que fazem sexo
e, como nós, têm seus desejos e suas fraquezas. Eles são pais, são os nossos ídolos,
as pessoas que puxam a nossa orelha para a gente melhorar. Mas aquele exame em cima da
cama não deixava dúvidas. Nem ele nem os outros três que ela fez na seqüência,
motivada pelo dermatologista.
A angústia começou no aniversário de casamento dos dois. Era janeiro de 1999. O calor
motivou minha mãe a mudar o visual. Afinal, não é sempre que um casal comemora 25 anos
de casamento. Ela estava bonita. A pele bronzeada numa estância hidromineral no
Meio-oeste do Estado contrastava o brilho dos olhos verdes. Estava meio gordinha, mas
feliz. Programava o jantar na chácara, a compra de um vestido novo, as lembranças e a
roupa que meu pai deveria usar no sábado.
Mas uma coisa a deixou chateada. Uma dermatite que ficou exposta na pele com o corte de
cabelo. Era uma mancha estranha que as comadres logo trataram de identificar: pereba de
piscina. Trata daqui, trata de lá e nada. Até que ela percebeu manchas semelhantes nas
axilas do meu pai. Uma visita ao dermatologista, duas, três. Uma série de exames e a
indignação: teste de HIV? Pra quê? Mal sabia ela que aquela seria uma das menores
indignações.
Nossa cidade ainda não tinha um centro especial para o teste. O exame laboratorial foi
para outra cidade. Acho que levou mais de uma semana para ela ter o resultado obtido junto
à presença de uma psicóloga. Entender aquela notícia não foi fácil. Meu pai era o
único homem da vida dela. Ela foi 'caxias'. Casou virgem, mesmo com seis anos entre
namoro e noivado. Nunca precisou de transfusão de sangue, não usava alicate de unha de
ninguém. Como? Era só isso que se perguntava.
Até que alguém teve a idéia de sugerir que meu pai fizesse o teste também. Ele não
quis. Brigou. Disse que não tínhamos confiança nele. Acabamos fazendo o teste. Ele, eu
e meus dois irmãos. Só o dele deu positivo. E foi duro para ele aceitar. Foi ele quem
trouxe o vírus para casa numa viagem que fez para o Rio Grande do Sul com os amigos. O
pacto de fidelidade entre os dois não funcionou sempre. Sem camisinha, ele contaminou a
minha mãe.
Deprimida, mamãe adoeceu. Os vizinhos começaram uma série de boatos. Enfraquecida, ela
se mudou para uma casa de amigos no litoral, onde vive até hoje. Ela não fala sobre o
meu pai, guarda tudo sozinha. Desafoga a tristeza andando horas a fio pela manhã. Meu pai
acabou se mudando para lá também. Eles vivem juntos, mas não dividem mais a mesma cama.
Mesmo assim é ela quem lembra o horário dos remédios e cuida da alimentação dos dois.
Eu já senti raiva do meu pai, mas agora o que sinto é um orgulho muito maior da minha
mãe. Ela é vítima, mas do jeito dela procura dar a volta por cima. Minha irmã mais
nova começou a namorar este ano, mas há três já tinha camisinha na gaveta. A dona
Gladis é durona. Diz que não foi educada para exigir camisinha do marido e nem a
oferecer na hora do sexo, mas acredita que a história deve mudar com os netos. Ela não
quis falar sobre essa experiência, mas também não me proibiu. Pediu apenas que deixasse
o alerta: o pacto de fidelidade existe na cabeça, mas não existe na prática."
an.uol.com.br/2003/ago/10/0ger.htm
27
Entidades oficiais apoiam, muitas vezes com dinheiro público, essa escandalosa
situação, entre elas:
- Coordenadoria da Mulher e das secretarias de Saúde, de Desenvolvimento Econômico e de
Assuntos Jurídicos da Prefeitura do Recife.
- Coordenação de DST/AIDS de Pernambuco.
- Acioli Neto coordenador de DST/Aids do Recife
- Liliana Ribeiro, assessora técnica de prevenção da Coordenação Nacional de DST/AIDS
do Ministério da Saúde.
- Denise Serafim, da Coordenação Nacional de DST/AIDS.
- O Prêmio Ações Sustentáveis em HIV/AIDS (2002), conferido pelo Ministério da
Saúde, em parceria com Fundação Ford, Banco Bradesco, Volkswagen do Brasil e Usaid.
Premiou em 1º lugar na categoria Planejamento Estratégico a ONG Davida, "pelos
excelentes resultados na organização social de prostitutas em todo o Brasil". O
Bradesco era o responsável pela categoria Planejamento Estratégico. A premiação
ocorreu em Aracaju, no dia 21 de agosto, durante o I Seminário Nacional de
Sustentabilidade: AIDS e Sociedade Civil em Debate. A Associação de Prostitutas do
Ceará (Aproce) conquistou o terceiro lugar na categoria Captação de Recursos.
- Projeto Esquina na Noite, trabalho preventivo junto aos profissionais do sexo, idéia
concebida pela Rede Brasileira de Profissionais do Sexo e financiada pelo Ministério da
Saúde, por meio de cinco coordenadores regionais (Davida, no Sudeste; Gempac, no Norte;
Gapa-MG, no Centro-Oeste; NEP, no Sul, e Aproce, no Nordeste).
- Jorge Ferreira, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura do
Recife.
- Fátima Viera, a principal organizadora da Associação Pernambucana de Profissionais do
Sexo, foi contratada pela Prefeitura do Cabo para trabalhar duas vezes por semana com
prostitutas.
- Ministério do Trabalho e Emprego incluiu a categoria na Classificação Brasileira de
Ocupações. Isso ajudará no reconhecimento e na regulamentação da atividade e
permitirá benefícios como aposentadoria, levantamento de dados pelo IBGE e políticas
públicas direcionadas aos profissionais do sexo.
- A convite do governo federal, o movimento organizado passou a integrar o Fórum Nacional
do Trabalho, que articula a reforma trabalhista e sindical.
- A ONG Davida em parceria com a Coordenação Nacional de DST e UNDCP promoveu o Encontro
Fluminense de Profissionais do Sexo. Na mesa de abertura Denise Serafim, da Coordenação
Nacional de DST/AIDS, e Margareth Simões Ferreira, da Superintendência Estadual de
DST/AIDS do Rio de Janeiro.
- A ONG Davida publica o jornal Beijo da Rua com o apoio da Coordenação Nacional de
DST/AIDS e do Programa das Nações Unidas para o Controle Internacional de Drogas.
- Os funcionários do Programa de DST/AIDS de Macaé/RJ, segundo a enfermeira Luciene
Barcelos, têm outro objetivo: incentivar a criação de uma Associação das
Profissionais do Sexo de Macaé.
28
Classisex é rufianismo
Pela natureza do serviço a mídia não pode alegar desconhecer a origem do dinheiro que
recebe. O anúncio revela a origem do dinheiro para pagá-lo. O jornal O Globo do Rio de
Janeiro arrecadaria aproximadamente 11 mil reais* em cada edição com
"classisex". A casa de "strip-tease" Bokarra de Florianópolis oferece
na Rede Globo em Santa Catarina o Domingo Maior, sessão de filmes exibidos domingo à
noite.
A Campanha Nacional contra a Baixaria na TV coordenada pelo deputado Orlando Fantazzini
(PT-SP), divulgou pela primeira vez o ranking das empresas que anunciam em programas que
não protegem os direitos humanos e a cidadania.
Os sabonetes Albany - principal anunciante da novela Senhora do Destino, da TV Globo -,
ficaram em primeiro lugar no ranking como a empresa que financia a baixaria na televisão
brasileira. A novela totalizou 20,7% das mais 16 mil denúncias recebidas pela campanha.
O ranking aponta o anunciante ao lado do programa mais votado entre os meses de novembro
de 2003 e janeiro de 2005.
*
Classificados que Vendem
O Globo publica diariamente cerca de 100 a 150 anúncios de acompanhantes e termas. O mais
simples sai por R$ 49 ao dia, enquanto um anúncio de quatro colunas por custar até mesmo
R$ 500.
Na quinta-feira, 4 de março de 2004, por exemplo, havia 120 anúncios simples e 24 de
variados tamanhos. Estimando todos os valores por baixo, esses ¾ de página tiveram uma
renda bruta de cerca de R$ 11.000,00 ao jornal. Vale lembrar que, aos sábados e domingos,
os preços são consideravelmente mais altos.
Não chega a ser rufianismo e exploração ao lenocínio, claro, crimes nos quais o
agenciador da praia foi enquadrado, mas não podemos deixar de reparar que a publicação
deve lucrar muito mais com a prostituição do que os atravessadores que andam pela orla
oferecendo garotas de programa aos turistas. Pior, O Globo ganha sempre; o pobre
agenciador só se conseguir fechar o programa.
Prostituição, jornalismo e internet
Alexandre Cruz Almeida
http://liberallibertariolibertino.blogspot.com
Os empresários da mídia detém um dos maiores poderes de nossos tempos, mas são
rufiões estilo "cara de pau".
Os empresários da mídia não respondem a regulamentação alguma pelo que veiculam, e
continuaram assim especialmente após o enterro do natimorto Conselho Federal de
Jornalismo. Esses empresários jamais serão enquadrados pelo utópico código de ética
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão: Preâmbulo
Os empresários da Radiodifusão Brasileira, congregados na Associação Brasileira de
Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), considerando suas responsabilidades perante o
público e o Governo, declaram que tudo farão na execução dos serviços de que são
concessionários ou permissionários, para transmitir apenas o entretenimento sadio e as
informações corretas espelhando os valores espirituais e artísticos que contribuem para
a formação da vida e do caráter do povo brasileiro, propondo-se sempre a trazer ao
conhecimento do público os elementos positivos que possam contribuir para a melhoria das
condições sociais. Por outro lado, na execução da tarefa que lhes foi atribuída,
exigirão total respeito ao princípio da liberdade de informação, independente de
cesura, juntamente com a imprensa, não aceitando quaisquer outras restrições que não
sejam as determinadas pelas leis em vigor e as estabelecidas pelo presente Código, neste
ato aprovado pela unanimidade dos associados.
Art. 25 - As reclamações serão sempre apresentadas por escrito, com perfeita
individualização dos fatos e referências exatas quanto ao horário, dia e emissora que
efetuou a transmissão ou praticou o ato impugnado, acompanhadas de fita de vídeo ou fita
de áudio nos casos de transmissões radiofônicas. As reclamações anônimas não serão
distribuídas. As reclamações que não estiverem acompanhadas das fitas de gravação
só serão distribuídas quando versarem sobre fatos públicos e notórios. Quando houver
dúvida razoável quanto à notoriedade do fato, o Secretário-Geral requisitará a fita
à emissora, desde que, dentro do prazo legal em que a emissora está obrigada a guardar a
fita.
Art. 26 - As queixas poderão ser formuladas e encaminhadas à ABERT, por órgãos da
Administração Federal, pelas emissoras associadas à ABERT, por órgãos ou
associações de classe ou por telespectadores e ouvintes, respeitadas as determinações
dos artigos anteriores.
Art. 27 - As penas serão de advertência sigilosa, ou de determinação da suspensão das
transmissões impugnadas ou atos impugnados, sempre acompanhadas da obrigação de
divulgar campanha nos termos deste artigo. O não atendimento das determinações da
Comissão acarretará a expulsão dos quadros da ABERT.
I - Julgadas culpadas, as emissoras, além das penas mencionadas no caput deste artigo,
serão condenadas a divulgar, no mínimo seis e no máximo vinte mensagens de 30 segundos
rotativa e diariamente, durante uma semana, no mínimo, e um mês no máximo, para
divulgação de campanhas educativas. Nas reincidências a pena será acrescida, de acordo
com a gravidade de 25% até 100% quanto ao número e duração do tempo das inserções.
II - Extingue-se a reincidência em cada período de dois anos contados da data da
primeira infração.
III - As condenações serão comunicadas à Diretoria da ABERT que contatará os órgãos
públicos, notadamente os Ministérios da Justiça, Saúde, Educação e Bem Estar Social,
sobre a existência de campanhas de seu interesse e que tenham alguma relação com a
natureza da infração, para que sejam colocadas no ar pela empresa condenada. Não
havendo resposta ou campanha disponível a Diretoria designará o tema e aprovará as
mensagens que serão feitas pela empresa condenada, estabelecendo-lhe o prazo para seu
início. A Diretoria decidirá, caso a caso, se as mensagens deverão ou não ter
referência ao Código de Ética. As penas serão adstritas às áreas de cobertura em que
deu-se a infração.
29
Conforme o tendencioso pró-indústria sexual Boletín Ciudadanía Sexual Nª 11- El
Proyecto Sexualidades, Salud y Derechos Humanos en América Latina, de la Universidad
Peruana Cayetano Heredia - encontrado no site www.ciudadaniasexual.org
30
Seus pais foram assassinados. Vítima de abuso sexual cometido por um primo aos 7 anos, L.
tornou-se prostituta aos 10 anos, depois de fugir da casa de parentes onde morava de
favor. Um aliciador levou-a para prostíbulos de cidades do interior e de Brasília. Desde
então, ela já fez três abortos clandestinos e diz que já foi estuprada várias vezes
sob efeitos de drogas por clientes. Hoje, com 16 anos, é atendida por uma instituição
de apoio a crianças e adolescentes vítimas de abuso. Estou tentando sair dessa
vida, mas ainda não consegui. Prostituição é alimentada por laços
familiares frágeis, psicóloga Isabel Czepak, jornal O Popular,13/10/2003, Goiás.
Hoje seu grande sonho é deixar a Ladeira da Montanha e a prostituição, mas a falta de dinheiro e de perspectivas inviabilizam isto. "Tudo que eu quero, é sair daqui e botar uma barraquinha para vender café, cigarros e outras miudezas".O problema é que nem ela, nem o companheiro que trabalha com turismo, ganham o suficiente para fazer uma poupança e comprar uma casa em outro lugar. O pouco que Carmelita consegue arrecadar com os programas é utilizado para despesas do dia a dia com alimentação, higiene e vestuário. Os 53 anos pesam na hora de atrair clientes novos que dificilmente escolhem as mulheres mais velhas. Idem nota 4.
Natural de Vitória do Espírito Santo, Liliane, 19 anos, está há um ano batalhando ali. Cobra entre 15 e 20 reais por um programa que dura, de acordo com ela, uns 15 minutos. O preço do aluguel do quarto também é 5 reais. Sua vinda para Salvador não foi muito feliz, pois precisou deixar a filha recém-nascida com o pai. A prostituição parece ter sido a única opção para esta jovem negra de cabelo tingido de loiro e piercing no nariz, que só estudou até a 4ª série do ensino fundamental. O lugar onde atende é pobre e sujo, mas ela ressalta a vantagem de não ter patrão, não trabalhar nos finais de semana e ganhar até 500 reais por mês, mais do que muita gente recebe em um emprego formal. Com o dinheiro paga o aluguel da casa onde vive no subúrbio e ainda guarda alguma coisa para realizar os sonhos de sair da zona, voltar a estudar e recuperar a filha. Até lá fica das 8h às 19h sentada na porta. Ela agora desceu com mais um dos sete ou oito clientes que atende por dia mas logo estará lá sentada de novo. Idem nota 4.
A noite começa a cair. Temo que ela desista da entrevista e pergunto sobre sua estada na Ladeira da Montanha. Ela faz um gesto de quem não entende minha curiosidade e responde: "aquele lugar é o inferno. Não vejo a hora de sair dali ". As queixas não se resumem às constantes brigas com as outras prostitutas. Priscila já foi vítima de facadas, espancamentos e escapou, por pouco, de morrer soterrada dentro de um dos casarões. A tragédia aconteceu em dezembro de 2002, quando a parte superior do imóvel desabou sobre seus ocupantes. Todos escaparam com vida, mas o medo passou a rondar a casa. Ela não mora mais no bar que desabou, porém dorme na rua toda vez que chove. Idem nota 4.
"Não agüento mais esta vida. As vezes, sinto vontade de desistir de tudo". Esta frase torna-se mais absurda quando se identifica sua autora, Priscila uma prostituta de 30 anos. O corpo magro e debilitado denuncia as dificuldades que passa no dia a dia, não tendo, muitas vezes, o suficiente para se alimentar. No rosto de expressão sempre triste e cansada, raramente brota um sorriso. Talvez por isso aparente ter bem mais idade que o registrado na sua cédula de identidade. O nosso primeiro encontro acontece na reunião da Aprosba em uma terça-feira de março de 2003. Arredia a entrevistas, não concorda em contar sua história, mas me promete falar com mais calma outro dia. Idem nota 4.
"Já fui casada, tenho dois filhos, mas ainda pretendo encontrar um grande amor
e abandonar essa vida. O mais perigoso na profissão são as drogas. Já usei cocaína
por muito tempo. Agora, mais experiente, aconselho as outras meninas a não usarem porque
não vale a pena. Quero parar com isso tudo um dia. Fabiane, 28 anos, garota de programa.
(..)
Cada garota tem uma história triste para contar. As oito mulheres, porém, alimentam
um sonho em comum: deixar a prostituição. "Quero parar com essa vida
quando perceber que posso sustentar meu filho de cinco anos", planeja Juliana, uma
linda morena de 23 anos. Jornal A Notícia, 07/02/1999, Santa Catarina.
Priscila explica que a vida na rua Fernando Machado está cada vez mais violenta.
Muitas companheiras, segundo ela,
freqüentemente são espancadas por clientes. "Por isso eu quero deixar esta vida.
Assim que meu marido sair da cadeia vou
viver com ele, longe daqui", garantiu, dizendo que o marido não sabe que ela se
tornou prostituta e que por causa disso não
deixa de usar preservativo em todas as suas relações. "A vida não tem
preço", arrematou consciente. Jornal A Notícia, 22/03/1998, Santa Catarina.
31
O significado social da prostituição, Maria Inês Gomes Rodrigues Fontinha. Confira
trecho na nota1. Texto completo disponível em
www.retepariopportunita.it/eventi1/Archivio-e/CV-e-ponencia-in-s-fontinha.doc
32
Peter Aggleton Carlos F. Cáceres Gloria Careaga Sergio Carrara
Anna-Britt Coe Claudia Dides Tim Frasca Ana
Güezmes María Alicia Gutiérrez Alejandro Modarelli María Esther
Mogollón Guillermo Murillo José Olavarría
Nancy Palomino Richard Parker Mario Pecheny Susanna Rance
Roger Raupp Rios Gracia Violeta Ross Fernando
Seffner Bonnie L. Shepard Horacio Sívori Richard Stern Jaime
Tellería Veriano Terto Jr. José Toro-Alfonso
Nelson Varasdíaz Roxana Vásquez Adriana R. B. Vianna Ivonne Szasz
Richard Parker (Estados Unidos/Brasil)
Jefe del Departamento de Ciencias Sociomédicas, Escuela Mailman de Salud Pública,
Universidad de Columbia; Profesor de
Medicina Social, Instituto de Medicina Social, Universidad Estatal de Río de Janeiro; y
Presidente y Director de ABIA
(Asociación Brasilera Interdisciplinaria sobre SIDA).
Ana-Britt Coe
Se graduó de la American University (Washington D.C.) como licenciada en Sociología y
Estudios Latinoamericanos,
obteniendo de la misma universidad la maestría en Sociología Aplicada. Trabaja en la
defensa de los derechos sexuales y
reproductivos desde hace diez años. Ha laborado en el programa internacional de
Católicas por el Derecho a Decidir,
trabajando conjuntamente con las organizaciones afiliadas en diversos países de América
Latina. Desde 1998, ha sido
encargada del programa en el Perú del Centro para la Equidad en Salud y Género (CHANGE),
una ONG dedicada a vigilar e
incidir en las políticas exteriores estadounidenses en materia de salud sexual y
reproductiva. Sus actividades principales son la
investigación, monitoreo de políticas, y advocacy.
Tim Frasca
Periodista estadounidense. residente en Chile desde hace 20 años. Ayudó en la fundación
de la Corporación Chilena de
Prevención del SIDA, el primer grupo gay vinculado al VIH/SIDA en el país. al final de
los años 80 y fue su director ejecutivo
durante siete años. En 2001 fundó CIPRESS, para responder a la creciente epidemia de
VIH/sida entre mujeres en Chile y
promover vínculos entre la reivindicación gay y la promoción de los derechos
reproductivos y sexuales.
Nancy Palomino
Educadora, diplomada en Antropología de la Pontificia Católica del Perú, con Maestría
en Salud Pública de la Universidad
Peruana Cayetano Heredia. Docente e investigadora en temas de género, violencia contra
las mujeres, sexualidad.
Coordinadora de la Unidad de Sexualidad y Salud Reproductiva de la Facultad de Salud
Pública y Administración de la
Universidad Peruana Cayetano Heredia.
Sergio Carrara
Científico social, Doctor en Antropología Social del Museo Nacional de la Universidad
Federal de Rio de Janeiro, Profesor
adjunto del Instituto de Medicina Social de la Universidad del Estado de Rio de Janeiro,
Coordinador del Centro
Latino-Americano en Sexualidad y Derechos Humanos. Es autor de los Libros: Tributo a
Vênus: A luta contra a sífilis no Brasil
da passagem do século aos anos 1940 (1996); Crime e loucura: O aparecimento do Manicômio
Judiciário na passagem do
século (1998).
Carlos Fernando Cáceres
Médico e investigador social en salud, obtuvo su doctorado en salud pública en la
Universidad de California en Berkeley.
Actualmente es Profesor Principal de la Facultad de Salud Pública en la Universidad
Cayetano Heredia, en Lima, donde realiza
investigación en sexualidades, salud y derechos sexuales, y coordina la Maestría en
Género, Sexualidad y Salud Reproductiva.
Es también investigador del Centro de Estudios de Prevención de SIDA de la Universidad
de California en San Francisco, y
miembro de la Red de Epidemiología en VIH/SIDA para América Latina y el Caribe,
organizada con apoyo de ONUSIDA.
En 1998 promovió la conformación de una Red de Investigación en Sexualidades y VIH/SIDA
en América Latina, y ha
participado también de iniciativas comunitarias de lucha contra el SIDA y por los
derechos sexuales. Se ha desempeñado
como consultor internacional en investigación y políticas de salud, y es autor de
numerosas publicaciones.
Ivonne Szasz
Chilena, Residente en México. Maestra en Sociología (UNAM) y doctora en Ciencias
Sociales con especialidad en Estudios
de población (por El Colegio de México). Profesora- Investigadora del centro de Estudios
Demográficos de El Colegio de
México. Coordinadora del programa Salud Reproductiva y Sociedad de la misma
institución. Temas de Investigación.
Temas de investigación: Género y Sexualidad, Género y Salud, Género y Migraciones.
José Toro-Alfonso
Profesor de sicología en la Facultad de Ciencias Sociales de la Universidad de Puerto
Rico. Es el Director Asociado del
Programa de Adiestramiento en Investigación de BIOCIDA y del Centro Universitario de
Servicios y Estudios Psicológicos
del Departamento de Sicología de la Universidad. Consultor y evaluador de programas
comunitarios de prevención de
BIOCIDA. Como Investigador trabaja temas relacionados al género, masculinidad,
sexualidad, violencia doméstica en parejas
gay, prevención de VIH. estigma, redes de apoyo para personas seropositivas y adherencia
al tratamiento. Fue fundador del
Colectivo de Concientización Gay de Puerto Rico y Director Ejecutivo de la Fundación
SillA durante 10 años antes de
integrarse de lleno a la Facultad de Ciencias Sociales.
Jaime Tellería
Antropólogo, es director ejecutivo de la ONG CISTAC. Es investigador y activista de los
derechos de las personas y la
ciudadanía sexual. La ONG Boliviana CISTAC (Centro de Investigación Social y
Capacitación), fundada en 1989, se
especializa en el desarrollo de métodos y materiales interactivos en las áreas de
derechos, sexualidades y masculinidades.
Claudia Dides Castillo
Socióloga, Magister (c) en Estudios Género y Cultura. Universidad de Chile.
Investigadora en sexualidad, género, bioética y
salud reproductiva. Investigadora de Corporación de Salud Y Políticas Sociales.
Investigadora del Programa de Estudios de
Género y Sociedad. Universidad Academia Humanismo Cristiano. Ha sido profesora de la
Facultad de Ciencias Médicas de la
Universidad de Santiago y Subdirectora de su Centro de Bioética.
Maria Alicia Gutiérrez
Socióloga, Master en Estudios Europeos, Universidad de Bradford, Inglaterra. Candidata
doctoral de la Facultad de Ciencias
Sociales de la Universidad de Buenos Aires. Docente e investigadora de la Universidad de
Buenos Aires. Investigadora visitante del CEDES. Integrante del Foro por los Derechos
Reproductivos. Coordinadora del Grupo de Genero de CLACSO.
Bonnie Shepard
Gerente de Programas en el François-Xavier Bagnoud Center for Health and Human Rights,
Harvard School of Public Health,
y Coordinadora del Programa en America Latina para Catholics for Free Choice. Master en
Administración Pública, Harvard
University. M.Ed., Boston University. Miembro de la Junta Directiva de Our Bodies,
Ourselves (Boston Women's Health
Book Collective).
María Esther Mogollón. (Perú)
Feminista. Periodista, U. de La Habana. Maestría en Género, Sexualidad y Salud
Reproductiva, en la Universidad Peruana
Cayetano Heredia. Diploma en Ciencias Políticas y Económicas en la UNMSM. Integra el MAM
Fundacional. Staff
internacional de AWID y la Red Internacional para los Derechos Humanos (Brasil).
Roger Raupp Rios
Maestro y Doctor en Derecho, Universidad Federal de Rio Grande do Sul, Brasil. Profesor en
la Facultad de Derecho de la
Unritter y de la Escuela Superior de la Magistratura Federal. Juez Federal. Académico
Visitante de la Escuela de Leyes,
Universidad de Texas en Austin (2002) y de la Universidad de Columbia, Nueva York (2003).
Autor de los libros: A
Homossexualidade no Direito (Porto Alegre: Editora Livraria do Advogado, 2001) y O
Princípio da Igualdade e a
Discriminação por Orientação Sexual (São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002).
Mario Pecheny
Mario Pecheny es doctor en ciencia política de la Universidad de París III. Actualmente
es docente de Filosofía y Métodos de
las Ciencias Sociales en la Universidad de Buenos Aires, investigador del Consejo Nacional
de Investigaciones Científicas y
Técnicas (Argentina), con sede en el Instituto Gino Germani de la UBA, y consultor de
ONUSIDA para la Task Force en
HSH-VIH/sida en América Latina y el Caribe. Autor y coautor de libros y artículos, sobre
la identidad gay, los derechos
humanos y la discriminación; así como numerosos artículos y capítulos sobre salud,
sexualidad y derechos humanos.
Ana Guezmes. (España/Perú)
Feminista, y médica con especialidad en salud pública. Integrante del Comité
Coordinador del Programa de Estudios de
Género de la Universidad Nacional Mayor de San Marcos. Investigadora asociada del Centro
de la Mujer Peruana Flora
Tristán, integrante del Consejo Directivo del Foro Salud y coordinadora del Observatorio
de la Salud del Consorcio de
Investigaciones Económicas y Sociales.
Horacio Sívori
Es candidato doctoral del Programa de Postgrado en Antropología Social del Museo
Nacional, Universidad Federal de Rio de
Janeiro. Actualmente se encuentra en Buenos Aires realizando trabajo de campo etnográfico
para su proyecto sobre los
saberes médico-psicológicos, el activismo GLTTB y el mundo social del SIDA. Practica la
etnografía en espacios urbanos
desde fines de la década de 1980. Se licenció en antropología en la Universidad
Nacional de Rosario, con una tesis sobre las
residencias médicas como rito de pasaje.
Fernando Seffner
Ees maestro en la Facultad de Educación de la Universidad Federal de Rio Grande do Sul,
en Porto Alegre. En su disertación
de maestría en el área de sociología de la salud, hizo una investigación acerca de la
cuestión de vivir con SIDA Actualmente
está concluyendo su tesis de doctorado, con una investigación acerca de la bisexualidad
masculina en Brasil. Este proyecto de
investigación empezó con una beca de la MacArthur Foundation en Brazil, orientada por
Richard Parker y posteriormente por
Vera Paiva.
Gloria Careaga
Es maestra en Psicología Social. Profesora de la Facultad de Psicología de la
Universidad Nacional Autónoma de México.
Actualmente se desempeña como Secretaria Académica del Programa Universitario de
Estudios de Género en la misma
universidad. Su interés se ha centrado en el tema de los Derechos Humanos, desde donde ha
abordado el análisis de la
población y el desarrollo, así como la incorporación de la perspectiva de género en
sus análisis.
Rocío Valverde Aliaga
Es socióloga graduada en la Pontificia Universidad Católica del Perú, Maestra en Salud
Pública graduada en la Universidad
Peruana Cayetano Heredia, y especialista en metodologías de investigación cualitativa.
Como investigadora social en el campo
de la salud ha focalizado su experiencia en el campo de la sexualidad, salud sexual y
salud reproductiva, desarrollando
numerosos estudios en diversas regiones del país. Es investigadora asociada de la Unidad
de Sexualidad y Salud Reproductiva
y docente en el departamento de Ciencias Sociales de la Pontificia Universidad Católica.
Ha publicado varios trabajos en el
área.
José Olavarría
José Olavarría, sociólogo, profesor investigador de FLACSO, miembro del Area de
Estudios de Género, responsable de los
estudios sobre hombres y masculinidades; doctorando en ciencias sociales UBA; profesor
universitario. Autor de libros y
artículos sobre género, hombres, masculinidades, paternidades y sexualidades.
Alejandro Modarelli, (Argentina).
Escritor, periodista, crítico cultural entre 1997-2000 en el diario La Nación de Buenos
Aires, autor, entre otros libros, de
"Fiestas, baños y exilios-Los gays porteños en la última dictadura",
Sudamericana, 2001. Activista GLBT, Comunidad
Homosexual Argentina.
Veriano Terto Júnior
Psicólogo (UERJ) , MS en Psicología (PUC-RJ) y Doctor en salud Colectiva (IMS/UERJ),
actualmente es Coordinador
General de la Asociación Brasileña Interdisciplinaria de SIDA (ABIA), institución donde
trabaja desde 1989. Participó del
movimiento homosexual brasileño en los comienzos de los años 80, y desde 1989, participa
en el movimiento social de lucha
contra el SIDA en Brasil. Con Richard Parker organizó las publicaciones Entre Homens:
homossexualidade no Brasil y
Solidaridade: ABIA na Virada do Milenio, además de una serie de otras publicaciones de
ABIAA, y es autor de un conjunto
de artículos sobre homosexualidad, SIDA y seropositividad.
Gracia Violeta Ross
Eegresada de la carrera de Antropología, actualmente trabajando su tesis de grado con
relación a los significados del VIH para
las mujeres viviendo con VIH en la ciudad de La Paz. Gracia Violeta ha asumido roles de
liderazgo en la Comunidad
Internacional de Mujeres viviendo con VIH (ICW) y en la Red Latinoamericana de personas
viviendo con VIH y SIDA
(REDLA) así como en la RED Boliviana de personas con VIH (REDBOL).
Rubén Mayorga
Ees médico internista e infectólogo, con estudios de post grado en los
hospitales de l'Assistance Publique - Hôpitaux de Paris y en el Instituto Pasteur.
Activista en la lucha contra el SIDA ha sido
Director Ejecutivo de la Organización de Apoyo a una Sexualidad Integral frente al SIDA,
OASIS, en 1995. Fue coordinador
general de las nueve organizaciones gays que conforman Asociación para la Salud y
Ciudadanía de América Latina (ASICAL)
de 2000 a 2003 y, ahora, es coordinador del componente de Incidencia Política. Rubén
también es un activista de derechos
humanos de la diversidad sexual y delegado de las ONG de la región ante la Junta de
Gobierno del ONUSIDA desde 2000.
Desde OASIS y ASICAL Ha tenido diferentes publicaciones sobre SIDA, exclusión social y
orientación sexual y sobre
hombres que tiene sexo con otros hombres.
Richard Stern
Ees Director de la Asociación Agua Buena pro Defensa de las personas viviendo con el
VIH/SIDA. La Asociación trabaja en
12 países con un enfoque en el acceso a anti-retrovirales. Richard Stern es Doctorado en
Psicología Clínica.
Peter Aggleton, (Reino Unido)
Ees Profesor en Educación y Director de la Unidad de Investigaciones del Instituto de
Educación Thomas Coram de la
Universidad de Londres. Es autor y/o editor de más de 20 publicaciones vinculadas al
campo de la sexualidad, salud sexual y
el VIH/SIDA, y es el editor de la revista Culture, health and sexuality. Ha
trabajado internacionalmente en el campo de la
salud sexual y reproductiva por más de veinte años y ha sido consultor senior para la
WHO, UNAIDS, UNDP, UNESCO,
UNICEF y otras numerosas agencias internacionales. Es director de evaluación del
Proyecto: Diálogo Global para la Salud
Sexual y el Bienestar de la Fundación Ford.
Roxana Vásquez ( Perú)
Abogada. Feminista. Directora de DEMUS. Ha sido Coordinadora del Comité de América
Latina y el Caribe para la Defensa
de los derechos de la Mujer, CLADEM.
33
Usuários de drogas injetáveis
O projeto de redução de danos para usuários de drogas injetáveis no Rio de Janeiro já
atingiu mais de 1500 pessoas desde 1996. Mais de 300 usuários de drogas injetáveis foram
encaminhados para tratamento de abuso de drogas e mais de 650 foram testados para HIV e
hepatite. O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (NEPAD) fornece
aconselhamento, preservativos, troca de seringas e vacina para hepatite B, assim como o
encaminhamento para outros serviços de atendimento social e de saúde. O projeto atua
tanto na sua própria sede quanto na comunidade.O NEPAD tem financiamento do UNDCP, do
Ministério da Saúde e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mas só conseguiu
atingir uma parcela dos usuários de drogas injetáveis, necessitando de novos
investimentos paraa expansão de suas atividades para outras comunidades
carentes.US$56.000 possibilitariam a duplicação das atividades em um ano, com mais
agentes trabalhando nas comunidades pobres.US$130.000 financiariam a replicação do
projeto em outras três cidades. Para maiores informações, contate Paulo Telles, em
prtelles@hotmail.com
http://www.unaids.org/html/pub/Topics/Partnership-Menus/PDF/BRAZILvulnerable_en_pdf.pdf.
Paulo Longo e Paulo Telles "Violence against female sex workers in Brazil:
Preliminary findings from a Horizons study reference point foi moviment of
legalization."
Risk and Violence Research for Sex Work, No. 4 (2001)
Observe:
Chamada da NSWP para artigos em "Research for Sex Work" No. 8
Sex Work and Experiences with Law Enforcement. Deadline for all submissions is 15 March,
2005; the maximum number
of words is 1200.
Outros brasileiros que publicaram na "Research for Sex Work":
Health, HIV and Sex Work: The Influence of Migration and Mobility
Research for Sex Work, No. 5 (2002)
A profile of mobile sex workers in Belo Horizonte, Brazil Alessandra Chacham and
Monica Maia (MUSA, Brazil)
Risk and Violence
Research for Sex Work, No. 4 (2001)
Taking a look at sex work, risks and violence in Brazil Maria Waldenez de Oliveira,
Joyce Moreno and Luciana Furlanetto
Pereira (Federal University of São Carlos, Brazil)
Empowerment
Research for Sex Work, No. 3 (2000)
Legalisation and decriminalisation: The Brazilian experience Gabriela Leite (Davida
- Brazilian Network of Sex Workers, Brazil)
34
Verbas legais e ilegais
a) Verbas legais
Ao longo do texto há vários exemplos citados. Verbas legais provém de ONGs nacionais e
internacionais, políticos e órgãos estatais.
- ONGs nacionais e internacionais
A Cooperação Britânica para o Desenvolvimento agência que financiou o Encontro
Nacional e Internacional de Líderes Trabalhadoras Sexuais em Lima, Peru.
- políticos
Além dos citados no texto. Leia a nota 2.
- órgãos estatais
b) Verbas ilegais
Oriundas das diversas máfias ligadas a prostituição formadas principalmente por
bordéis e traficantes de pessoas.
ANEXO I
ACEPTACION SOCIAL DE LA PROSTITUCIÓN: LEGALIZACION DE LAS CASAS DE PROSTITUCIÓN EN
VICTORIA, AUSTRALIA
Por Sheila Jeffreys, Catedrática de Ciencias Políticas, Asociada al Departamento de
Ciencias Políticas. Universidad de Melbourne, Australia.
Sobre la Prostitución
Cuando se legaliza o despenaliza la prostitución, se crea en la sociedad una actitud de
aceptación hacia la prostitución, con efectos perversos no solo respecto a las vidas de
las propias prostitutas sino también para todas las mujeres de esa sociedad que deben
convivir con la aceptación establecida. Esta situación, degradante, la aceptación de la
prostitución es la existente en Victoria, Australia. El normalizar la práctica de la
prostitución la ha convertido en algo ordinario y habitual. Existen burdeles en numerosas
calles. Los niños y jóvenes pasan por delante de los burdeles en su camino hacia la
escuela y compran sus trajes de baño en una tienda que se encuentra frente a otro burdel.
Los propietarios de los burdeles pertenecen al club Rotario y son considerados como
ejemplares en su actividad en periódicos respetables. Los burdeles están registrados en
la Bolsa. Se calcula en 60.000 los hombres a la semana, utilizan los servicios de las
mujeres dedicadas a la prostitución.
En el momento actual se considera en numerosos países la legalización o despenalización
de la prostitución ejercida en burdeles, como una solución o remedio para evitar los
numerosos problemas asociados con los hombres que controlan a las mujeres dedicadas a la
prostitución. Quienes hacen campaña en este sentido consideran la legalización de las
casas de prostitución en Victoria como un ejemplo positivo a seguir, el desideratum de la
prostitución internacional. Por esta razón es importante examinar cuidadosamente lo que
ha significado la legalización de la prostitución para las mujeres de Victoria. Ha dado
lugar a una aceptación social de la prostitución.
Legalización
Las casas de prostitución se legalizaron en Victoria en 1984. En 1995 se despenalizó su
existencia en Nueva Gales del Sur. Incluso se ha legalizado la existencia de Casas de
prostitución en el Territorio de la capital de Australia, en el que se encuentra la
capital Canberra, así como en Queensland. La propuesta de legalización en Australia Sur
ha sido denegada mientras que, sin embargo, se está promoviendo en Australia Oeste y en
Tasmania. También se encuentra sometido a debate en el momento actual en Nueva Zelanda.
Los argumentos aducidos para la legalización en Victoria, fueron:
- Ejercer un control sobre la actividad de las casas de masaje ilegales
- Prevenir y evitar la expansión de esta actividad.
- Finalizar con la prostitución callejera, en la idea de que las mujeres dedicadas a la
prostitución preferirían ejercer su actividad en las casas de prostitución legalizadas.
- Proporcionar una mayor seguridad a las mujeres dedicadas a la prostitución evitando
malos tratos, crímenes y violaciones, considerando que se encontrarían protegidas en las
casas de prostitución legalizadas. Esta consideración, al parecer, fue aceptada en aquel
momento por todas las organizaciones feministas.
Quienes desearon dirigir una casa de prostitución, hasta ese momento llamados proxenetas
y desde entonces considerados respetables hombres de negocios, tuvieron que solicitar la
licencia correspondiente y necesaria. Se constituyó una Cámara de Control de la
Prostitución con objeto de emitir las correspondientes licencias y controlar esta
actividad. Una de las responsabilidades de la Cámara era la inspección médica mensual
de las mujeres dedicadas a la prostitución.
La actividad ilegal
Según fuentes de la Policía de Victoria se estima en 400 las casas de prostitución
ilegales frente a 100 legalizadas (Murphy, Padraic. Las Casas legalizadas claman
contra la existencia de sex shops ilegales. The Age 3/6/02) Las casas de
prostitución ilegales aparecen por todas partes y son difíciles de detectar, suponiendo
que quisiera actuarse en este sentido. No entra dentro de las atribuciones u obligaciones
de la Policía la investigación y seguimiento de las casas de prostitución sean legales
o ilegales, desde el momento que se decide su legalización o despenalización. Se
encuentran bajo el control de los gobiernos locales. La corrupción existente en la
Policía de Nueva Gales del Sur fue la causa aparente que dictaminó la despenalización
de las casas de prostitución, para que así éstas estuvieran fuera de los cometidos de
la Policía. Son los Consejos locales los que deben encargarse del control de las casas de
prostitución pese a carecer de personal o de recursos necesarios. En este sentido los
Consejos locales deben acudir a investigadores privados para introducirse en las casas de
prostitución y pagar por actividades sexuales. En Yarra, Melbourne, una investigación
realizada en los últimos meses de las casas de prostitución ilegales costó a los
contribuyentes 42.000 dólares, (Melbourne Yarra Leader 30/9/02). Los investigadores que
operan en las casas de prostitución legales extienden certificados en que constan los
servicios que se les han ofrecido. Estos se presentan a un magistrado que, con esta
evidencia, puede prohibir la entrada a la propiedad. Esta disposición penaliza a los
propietarios de la casa y el terreno pero no a los operadores de la casa de prostitución
quienes sencillamente cambian de edificio.
Existen pocas dudas de que esta actividad ilegal está fuera de control. La legalización
o despenalización no evita la existencia de casas de prostitución ilegales. En Melbourne
la Policía investigó y vigiló a un sospechoso natural de Hong Kong que manejaba seis
casas de prostitución sin licencia en el extremo este de Melbourne, con unos ingresos de
8.000.000 de dólares, obtenidos en los tres últimos años.
Los efectos de la despenalización de las casas de prostitución en Nueva Gales del Sur en
1995, han sido similares. Las casas de prostitución según informes, se han multiplicado
por 400 y en su mayor parte no han solicitado, como deberían hacerlo, las licencias
correspondientes a los Consejos locales. Los Consejos son incapaces de mantener personal
especializado que entre en las casas de prostitución ilegales y puedan demostrar que no
cumplen la normativa establecida.
Prostitución callejera
En el momento de la legalización se consideró que las mujeres que ejercían la
prostitución en la calle con enorme riesgo de malos tratos e incluso muerte, se
establecerían en las casas de prostitución legalizadas para tener mayor seguridad. Lo
anterior también proporcionaría una mayor facilidad y mejor comportamiento de los
hombres que buscaban la prostitución en la calle. De hecho, la prostitución callejera en
Melbourne es un grave problema social. El Gobierno llevó a cabo una investigación a
propósito de los problemas derivados del comportamiento de los hombres en St. Kilda en
2001 (Attorney General´s Street Prostitution Advisory Group Interim Report sept. 2001).
La cantidad de mujeres dedicadas a la prostitución callejera aumentó rápidamente en la
zona citada hasta un numero de 350. Los clientes consumaban el sexo con las mujeres
prostitutas en patios de vecindad y portales del vecindario.
Los preservativos usados, excrementos y un sinfín de otros deshechos constituyen un
problema. La recomendación del Informe fue el establecimiento de zonas de tolerancia en
las cuales los hombres pudiesen encontrarse con las mujeres y solicitar sus servicios, y
el establecimiento de casas seguras en las cuales pudieran establecer el
contacto carnal. Las casas seguras se habrían constituido evidentemente, en
casas de prostitución estatales aun cuando el Consejo esperase que organizaciones
caritativas como el Ejercito de Salvación las dirigiese. La recomendación fue archivada
debido a su impopularidad entre los residentes y la previsión de unas próximas
elecciones. En Sydney, en Nueva Gales del Sur, las zonas de tolerancia se han establecido
para que las mujeres dedicadas a la prostitución puedan encontrarse con sus clientes y
acudir a casas seguras en las cuales pueden alquilar habitaciones. Esta línea
de actuación se ha manifestado absolutamente insatisfactoria. Las mujeres dedicadas a la
prostitución no acuden a las zonas establecidas, y prefieren moverse por las zonas
residenciales (Australian Broadcasting. Street Prostitution. The Law Report. Radio
National 30/4/2002)
Tráfico con seres humanos
La legalización y despenalización han llevado al incremento de la actividad de la
industria de la prostitución. La trata de mujeres para abastecer las casas de
prostitución legales e ilegales, es un resultado inevitable. Los empresarios del sexo
encuentran dificultades para abastecer con mujeres de la localidad, una actividad en
expansión y de esta manera las mujeres son objeto de un mayor tráfico, son más
vulnerables y más aprovechables. Las mujeres objeto de la trata son colocadas tanto en
las casas de prostitución legales como ilegales de Victoria. Pueden trabajar legalmente
en casas de prostitución legales con permisos de trabajo si los traficantes solicitan
para ellas el estatus de refugiada. Los traficantes de Victoria venden las mujeres a las
casas de prostitución legales o ilegales, por un precio de 15.000 dólares cada una.
(Sullivan, Mary & Jeffreys, Sheila 2002: The Failure of Legalized Brothel
Prostitution in Victoria, Australian Coalition against Trafficking in Women). Las
mujeres están atrapadas por sus deudas de tal forma que los beneficios de su esclavitud
no van a parar a ellas. Existen algunas investigaciones en marcha sobre varias casas de
prostitución de los suburbios, sospechosas de utilizar mujeres traídas del sudeste
asiático con visados de turismo. La Policía sospecha que se encuentran forzadas a
realizar el sexo con unos 800 hombres para pagar sus deudas a los traficantes, antes de
recibir ninguna compensación económica (Murphy 2002 informe anterior). Parece, según un
portavoz de la Policía, que vuelan hasta aquí, tras haber sido escogidas a la
carta. Se estima en 1 millón de dólares semanales las ganancias que reporta el
tráfico de mujeres.
¿Están más seguras las mujeres en las casas de prostitución legalizadas?
La prostitución callejera encierra grandes peligros (Farley, Melissa et al. 1998.
Prostitution in five countries: Violence and post-trauamtic stress Dissorder,
feminism and the Psychology, vol. 8, No 4 pgs. 4405-426).
Las mujeres corren el riesgo de ser violadas o asesinadas, golpeadas o acuchilladas. Las
mujeres dedicadas a la prostitución son objeto de odio por parte de las mujeres y los
hombres y por la sexualidad que parece que representan. Esto incide en la violencia de que
son objeto. En la prostitución ejercida en los burdeles estos problemas extraordinarios,
supuestamente, se reducen. Consideremos lo que sucede en las casas de prostitución
legalizadas de Melbourne, supuestamente el desideratum de la prostitución. Uno de mis
estudiantes investigó en una casa de prostitución legalizada, entrevistando a diversas
mujeres, tanto antes como después de los encuentros mantenidos, acerca de los límites
que ellas intentaban establecer para controlar lo que los hombres podrían hacerles y
hasta qué extremo lo supuesto se ajustaba a la realidad (Barclay, Ingrid Interactive
Proceses in Brothel Prostitution Honours Thesis. Political Cience, University of
Melbourne 2001).
La casa de prostitución objeto de la investigación de esta estudiante, contaba con una
sala en la que se efectuaba las presentaciones. Todas las mujeres aguardaban en dicha
sala. Los hombres entraban de uno en uno para hacer su elección y las mujeres debían
competir para ser elegidas. Debían mostrarse y agradar a los hombres y luchar entre ellas
ofreciendo lo que podían hacer. Algunas eran capaces de ofrecer sexo sin preservativos si
precisaban de dinero. Entonces subían a la habitación. Las mujeres a menudo se aplicaban
cremas suavizantes porque los hombres podrían mostrarse insatisfechos si tenían la
impresión de que las mujeres no estaban sexualmente excitadas y algunos se negarían a
pagar a causa de este hecho. A partir de aquí las mujeres debían intentar controlar el
encuentro. Los hombres en ocasiones querían de todo un poco por ejemplo el
acceso a través de cualquier orificio y poder tocar cualquier parte del cuerpo de la
mujer. La mujer debía luchar para contenerle sin por ello perder al cliente. Los hombres
podían retorcer los pezones e introducir sus dedos por el ano de las mujeres. Una mujer
relató, que por el coito anal añadía 500 dólares, pero que siempre era de acuerdo con
el tamaño, dado que un pene más grande suponía mayor dolor. Otra mujer contó que un
hombre había comenzado a lubricar su puño y cuando ella le preguntó que para qué lo
hacía él manifestó su intención de penetrarla así. La solicitud de esta penetración
con el puño, sugiere que el incremento de las prácticas violentas y degradantes llevadas
a cabo, en la pornografía, con mujeres enseñan a los hombres aquello que pueden hacer
con las mujeres, primero con prostitutas y posteriormente en su relación habitual. Lo
mismo es aplicable al sexo anal.
Una mujer al finalizar un encuentro suele tomar una ducha de unos 10 minutos con agua muy
caliente para eliminar la suciedad de su cuerpo. Antes del encuentro, al intentar atraer
al cliente, la mujer hace atrevidos y osados contornos. Su piel erizada de temor pensando
en lo que debe soportar. Los hombres pagan por el acoso sexual. Las mujeres deben pensar
en otra cosa usando técnicas psicológicas de disociación, o drogas y alcohol, para
sobrevivir a la terrible prueba. Las mujeres dedicadas a la prostitución no son una clase
de mujer diferente porque puedan soportar las manos y los penes en sus cuerpos, más
fácilmente que otras. Es cierto que en muchos casos existe una violencia sexual previa,
bien sea en la infancia o en la adolescencia, de tal forma que la violencia en la
prostitución pueda parecerles menos severa que otras formas de violencia que hayan
sufrido (HOIGARD Cecilie and Finstad, LIV.1992. Back streets: Prostitution, Money
and Love Cambridge: Polity), pero las mujeres prostitutas odian la violencia diaria
de la prostitución como cualquier otra mujer lo haría. Aquellas que aceptan la
prostitución como una ocupación legítima, aceptan también que ciertas mujeres puedan
ser consideradas exclusivamente como objetos de deseo tal como otras mujeres, no
prostitutas, encuentran que son tratadas en sus lugares de trabajo y vidas.
Esta es la historia de la forma de prostitución más respetable del mundo. Aquí en
Australia existen disposiciones que obligan al cumplimiento del Occupational Health
Safety (OHS) (Sanidad y Seguridad laboral) en casas de prostitución admitidas por
las autoridades estatales, pero solo para el pequeño número de casas de prostitución
legalizadas. Es difícil el mantener lo dispuesto en el OHS en un trabajo en
el cual las mujeres están a menudo en riesgo de violencia y enfermedades que atentan
contra su vida, donde pueden ser requeridas para recoger heces, orina y semen, donde deben
sufrir el daño psicológico que comporta la disociación, y el acoso y abuso sexual. Las
reglas existentes en otros lugares de trabajo establecen el aislamiento de sustancias
peligrosas, el uso de guantes, etc., mientras que en la prostitución una sustancia
potencialmente letal, el semen, se introduce en el cuerpo de la trabajadora.
Las mujeres prostitutas no están en disposición de llevar guantes ni aislar el semen en
recipientes especialmente preparados. Deben aceptar el semen en sus caras o en cualquier
orificio.
Casas de prostitución sadomasoquistas
Las casas de prostitución sadomasoquistas (SM) son un floreciente aspecto de la actual
industria de la prostitución por dos razones. Una es que el sadomasoquismo se ha
convertido en un sector del mercado altamente provechoso con clubes, equipamiento,
pornografía y casas de prostitución exclusivas. Otra es que el sadomasoquismo, en
Australia permite una vía para el establecimiento de casas de prostitución ilegales. Las
casas de prostitución sadomasoquistas no solicitan, frecuentemente, la licencia exigida
dado que en ellas no se ejerce el sexo. Se presentan como lugares de terapia y que ofrecen
fantasías sexuales. De hecho, el Consejo de mi localidad está actualmente buscando
pruebas de que se practica el sexo en las casas de prostitución sadomasoquistas,
enfrentándose a una gran dificultad para lograrlo. En las casas de prostitución
sadomasoquistas se ejercen muy diversas formas de violencia contra las mujeres. No se
limitan solamente a presentar dominatrices que actúan violentamente contra
los hombres. Las mujeres se presentan como esclavas sexuales y pueden sufrir terribles
palizas, según los consejeros del Centro para Crisis de Violaciones de Australia, que
trata de asistirlas.
Adiestramiento de hombres en la violencia sexual
Un número apreciable de supervivientes de la prostitución la denominan como el comercio
de la violencia sexual o la violación comprada. (Giobbe, Evelina. 1991. Prostitution:
Buying the Right to Rape. In Ann Wolper Burgess. Rape and Sexual Assaults III: A
Research Handbook). En la prostitución los hombres pagan por observar (como en la
pornografía), por llevar a cabo en los cuerpos de las mujeres una serie de prácticas
que, como en su forma no comercial, son precisamente las prácticas de la violencia sexual
masculina que las mujeres tratan de eliminar de sus dormitorios, sus calles, su infancia y
sus lugares de trabajo. No sugiero que la prostitución es la única razón por la que la
violencia sexual existe, ya que existe en diversas culturas donde no hay prostitución, y
debe entenderse en términos de dominación del hombre. Sin embargo la industria del sexo
inicia y enseña a los hombres estas prácticas. La práctica más habitual es el
intercambio sexual no deseado en el cual la mujer prostituta psicológicamente se aísla
para sobrevivir mientras que el hombre la penetra sin preocupación alguna por la
personalidad y sentimientos de la prostituta. En las líneas telefónicas eróticas las
mujeres deben aislarse psicológicamente, disociarse, para sobrevivir a las charlas
abusivas de los hombres que han pagado para hablar. En las llamadas telefónicas obscenas
los hombres, algunas veces los mismos, cometen una intrusión y amenazan a las mujeres en
sus propios domicilios. En la prostitución los hombres emplean un lenguaje grosero y
ordinario con las mujeres y las acosan sexualmente tocando aquellas partes de sus cuerpos
que quieren proteger y solicitando a las mujeres prácticas que ellas no quieren realizar.
En la calle y los lugares de trabajo los hombres hacen exactamente lo mismo, exceptuando
que no pagan por ello. El placer puede acentuarse cuando no existe en absoluto
consentimiento por parte de la mujer. En la prostitución las mujeres son flageladas o
deben vestirse como niñas o adolescentes. Todo esto conduce y anima a los hombres al
abuso y la brutalidad sexual con menores.
Regularización de la prostitución
La decisión de legalizar las casas de prostitución en Victoria ha significado un fracaso
en todo su contenido. Cuando se tomó esta decisión, no se consideró la forma en que
podría afectar el estatus, las vidas y las relaciones de todas las mujeres del estado. La
aceptación social de la prostitución incide en el mundo de los negocios, las medidas
legislativas de la calle, la prensa local y afecta a las relaciones que las mujeres tienen
con sus compañeros masculinos y con aquellas con quienes trabajan. La legalización ha
establecido la conducta de los hombres que hacen uso de la prostitución. Como resultado
de este clima de aceptación, los mejores clubes de strip-tease se
establecieron en Victoria en 1993 y hoy funcionan bajo el eufemístico nombre de Clubes
de Caballeros. Una encuesta del Gobierno del Estado se llevó a cabo con prontitud
como consecuencia de los rumores acerca de que en estos clubes se ejercía la
prostitución. Esto es difícil de probar.
Donde no hay esta aceptación de la prostitución, como en Glasgow, ha surgido una
resistencia comunal a los lugares de `strip-tease y los clubes no han sido
autorizados. En el momento actual hay una campaña contra estos clubes en Dublín,
Irlanda. En Australia la idea de tal campaña no es imaginable, dado que la explotación
sexual de las mujeres por los hombres es aceptada como resultado de años de legalización
de las casas de prostitución.
Con el crecimiento de la industria de la prostitución ésta es aceptada como algo normal
por las nuevas generaciones de jóvenes. En 1998 se estimó en 60.000 los hombres que, en
Victoria, se relacionaban semanalmente con mujeres dedicadas a la prostitución, y hay que
pensar que razonablemente este número haya aumentado en la actualidad. Generaciones de
hombres y jóvenes asumen el hecho de la prostitución. Estos hombres serán turistas del
sexo y viajeros que utilizarán a las mujeres dedicadas a la prostitución en otros
países, muchas de las cuales habrán sido objeto de la trata para llegar a esos tristes
destinos.
Normalización y aceptación de la prostitución
Existen ciertas restricciones respecto a la ubicación de las casas de prostitución
legalizadas. Se supone que no deben encontrarse próximas a iglesias o escuelas. Las casas
de prostitución ilegales no están sujetas a estas restricciones. Las casas de
prostitución legalizadas se encuentran, sin embargo, en las calles comerciales más
importantes y en los barrios residenciales. Constituyen sencillamente, una parte más de
la vida de la ciudad. Los hombres abandonan las casas de prostitución con una sonrisa de
satisfacción, mientras pasan junto a personas que compran acompañadas de niños. Los
anuncios de las casas de prostitución y de los clubes de alterne aparecen masivamente en
las calles principales, ofreciendo mujeres como objetos para ser usadas por los hombres.
En el Centro de Exhibición del Estado, la Exhibición Anual de la Industria del Sexo,
SEXPO, tiene lugar una muestra de la industria del sexo. Las casa de prostitución y los
clubes de alterne exhiben mujeres que pueden ofrecer pornografía, mientras que delante de
miles de ciudadanos se ejecutan exhibiciones de desnudos y danzas sexuales, todo ello con
el patrocinio estatal. Las páginas locales gratuitas de los periódicos contienen
anuncios de casas de prostitución de la localidad denominadas Delicias orientales o
románticas (The Melbourne Times, 11 Diciembre 2002).
Un sector rentable del mercado
Las páginas financieras así como las noticias referidas a las finanzas encuentran que la
explotación de la industria sexual está en alza y auguran los beneficios de invertir en
la prostitución. El periódico The Age dedicó la portada de su sección de
negocios a la SEXPO de 1998, con un estudio de la industria del sexo en Australia,
estimando un gasto anual de 1,2 millardos de dólares australianos. La casa de
prostitución, Daily Planet, se comercializará en la Bolsa de Australia en
2003.
Consideración del proxenetismo como un negocio respetable
Un ejemplo de la respetabilidad alcanzada por una proxeneta dueña de una casa de
prostitución, es la dedicada en la sección My Diary´ del periódico Sunday Age el
13 de octubre de este año (The Sunday Age Agenda 13/10 2002) Los personajes relacionados,
habitualmente mujeres, suelen ser ciudadanos prominentes del mundo del trabajo de
Melbourne. En una ocasión fue la directora de un colegio privado femenino y la última
semana lo fue una sombrerera especializada en sombreros de señora propios para asistir a
las carreras de caballos. Cuando escribieron sobre una mujer tailandesa llamada Chailai
Richardson, la dueña de la casa de prostitución, la describieron como la
propietaria y directora de la mejor casa de prostitución de la ciudad, en Flinderss St.
El diario presentaba a esa mujer y a continuación detallaba su quehacer diario durante la
semana.
Se nos relataba que Richardson conoció a su marido hace 11 años cuando estaba
construyendo la casa de prostitución. Es la vicepresidenta de la Asociación tailandesa.
La gran mayoría de las mujeres que ha sido objeto de la trata o que ha sido vendida a la
esclavitud, tanto a casas de prostitución legales como ilegales de Melbourne, son
tailandesas. En su gran casa de prostitución trabajan 100 mujeres. Explica que las
señoritas están muy ocupadas. Encuentran dificultoso llevar a cabo la
totalidad de su trabajo a veces... el sábado fue tranquilo. Los viernes y sábados suelen
venir muchos hombres jóvenes. Potencia su negocio cuando tiene lugar alguna
convención en la ciudad, tal como la Convención celebrada recientemente en el World
Trade Center, con asistencia de 3000 hombres procedentes de Tailandia. Ella verifica que
las mujeres lleven corsé. Lo que no les gusta mucho porque pica, pero realza su
atractivo cuando las mujeres se desnudan. Los jueves hay un espectáculo de strip-tease
después del que muchos clientes se quedan y buscan la compañía de una mujer. Concluye
diciendo estamos aquí para superarnos, hacer lo mejor posible y conseguir todo lo
que podamos.
En Melbourne un artículo a propósito de una proxeneta, tal como el aparecido en el
diario Sunday, uno de los principales de la ciudad, no provoca comentario
adverso alguno, ni cartas de protesta por parte de los lectores. La dirección de una casa
de prostitución es una ocupación ordinaria, como puede ser la directora de un colegio.
La mayor parte de las mujeres que poseen o dirigen casas de prostitución, han sido
prostitutas. En esta industria no se puede promocionar nadie y no hay otra forma de salida
que haciendo lo expuesto.
Relaciones entre hombres y mujeres
La Aceptación de la prostitución daña la posibilidad de alcanzar una relación
igualitaria, respeto y sinceridad entre hombres y mujeres, en el hogar, el lugar de
trabajo y en todos los aspectos de la convivencia. Las nuevas generaciones educadas en la
aceptación y comprensión como algo normal de la
prostitución, se verán afectadas indefectiblemente en su relación con las mujeres,
familiares, compañeras de trabajo y amigas. Debe tenerse en cuenta la dificultad
existente para las mujeres en alcanzar una relación igualitaria con los hombres. La
existencia de casas de prostitución, clubes de alterna, la pornografía y la promoción y
anuncio de esas formas de explotación sexual, lo harán mucho más difícil. La industria
de la prostitución concurre grandemente a crear la idea que los hombres y los
adolescentes tienen de las mujeres, esto es que son objetos de uso sexual en lugar de
seres humanos iguales a ellos.
La industria del sexo lleva a la mente de los hombres, que controlan el mundo de los
negocios y de la política una actitud excluyente de las mujeres. En los llamados clubes
de caballeros se paga a las mujeres para que se coloquen frente a los hombres y
estos puedan contemplar su desnudo y afeitado órgano genital y ano. Hace algún tiempo
los clubes de caballeros eran exclusivos de la clase alta y a ellos asistían
solamente ciertas personalidades para discutir y alcanzar objetivos económicos y
políticos. Los nuevos clubes de caballeros, que no son sino burdeles, en los
que se ofrece a los hombres mujeres para bañarse con ellas, para que bailen sobre sus
mesas y por supuesto disfruten de otros servicios sexuales, se han vuelto
mucho más democráticos. Cualquier hombre que pague la entrada es admitido. Pero todavía
sirven para hacer acuerdos. Los hombres entablan conocimientos y extienden sus intereses
con otros clientes, acuerdan negocios y mantienen reuniones corporativas. Las Compañías
más importantes alquilan las salas de reuniones y trabajan para ser posteriormente
agasajados por mujeres desnudas, en los descansos en que se sirven refrigerios o a la hora
del almuerzo. ¿Que significa esto para las oportunidades de igualdad de las mujeres en
estas compañías? Las ejecutivas pueden atender las reuniones y sufrir la pena y disgusto
de contemplar a otras mujeres tratadas de esta manera, o bien pueden rehusar su asistencia
y perder posibilidades de promoción. Las ejecutivas no pueden considerarse iguales o
equiparadas en un ambiente de aceptación de la prostitución donde sus colegas masculinos
pueden reforzar sus negocios y acuerdos, proporcionando mujeres prostitutas a sus
clientes, o bien visitando burdeles junto con estos clientes.
Las trabajadoras legalizadas profesionalmente son las más afectadas. En
Melbourne los clubes de alterne se encuentran en el distrito legal. Las abogadas
contemplan como sus compañeros masculinos acuden a los clubes para almorzar y alternar,
preguntándose porque es tan difícil convertirse en colegas. Las secretarias de
dirección deben mentir a las esposas que telefonean preguntando dónde se encuentran sus
maridos. Esta actitud de los hombres ante la prostitución afecta a numerosas y muy
diversas clases de mujeres.
La existencia de la industria del sexo y lo entrelazado que se encuentra con la forma de
hacer negocio en los hombres de Australia, llevan a la idea de que la igualdad con las
mujeres en el mundo de los negocios, es un escarnio. En un mundo de aceptación de la
prostitución los adolescentes, hombres y mujeres, crecen en un ambiente en el cual las
mujeres son vendidas a los hombres, desnudas o semidesnudas, haciendo carantoñas,
abriéndose de piernas sobre las mesas, en los rincones dedicados a la pornografía, en
las tiendas de videos, en las tiendas de videos musicales. Las adolescentes aprenden que
son carne para ser comprada por los hombres, intercambiada y consumida. A los chicos se
les cuenta que es razonable comportarse así con las chicas porque les gusta y están para
eso. Los adolescentes chicas y chicos crecen en una ambiente en el cual una mitad de la
raza humana está dispuesta para el servicio sexual de la otra mitad. La industria del
sexo es un negocio secreto de los hombres en el cual los hombres se adentran a través de
la explotación sexual de determinadas mujeres, mientras que sus madres, esposas, amigas e
hijas lo desconocen.
Las visitas en grupo a lugares de explotación sexual se está convirtiendo en algo
natural de la vida social de los hombres. Las despedidas de soltero, previas a las bodas,
se celebran explotando sexualmente a mujeres. En sus fiestas contemplan juntos
pornografía y se inician en la práctica de observación de mujeres que sufren abusos.
Destrucción de la relación heterosexual
Los hombres no pueden ser iguales que las mujeres en la relación sexual, mientras que se
dediquen a la explotación sexual de otras mujeres. Los 60.000 hombres que semanalmente
utilizan los servicios de mujeres prostitutas en Victoria, probablemente tienen parejas
femeninas. Conforme crece la industria más hombres la utilizan y más mujeres la sufren
directamente. ¿Que pueden hacer las mujeres cuando sus compañeros abusan de las mujeres
dedicadas a la prostitución? Aunque se conserve el secreto y la mujer no conozca lo que
su marido hace, se establecen los principios que destruirán la base de la veracidad y
honradez que deben presidir cualquier relación de igualdad.
O la mujer se entera del comportamiento del marido y tendrá que plantearse cual será su
relación con ese hombre. Probablemente lo abandonará. Sus hijas se harán la reflexión
sobre cual es el significado de que su padre contemple los genitales depilados de mujeres
de su misma edad en el club de alterne local, o las penetren mientras psicológicamente
disocian su mente para sobrevivir, mujeres que en su totalidad también son hijas de otros
hombres.
El ideal de una relación igualitaria entre hombres y mujeres desaparece inevitablemente
conforme los hombres se ven mas atrapados por la aceptación de la prostitución. La
expansión de la industria del sexo y la iniciación de más clientes masculinos está en
oposición directa con la posibilidad de una relación de igualdad entre hombres y
mujeres.
Sexo en una sociedad que acepta la prostitución
Los hombres y jóvenes que viven una aceptación de la prostitución, han sido enseñados
que la penetración de una mujer que psicológicamente disocia su mente para sobrevivir,
es sexo. Este hecho tiene una gran trascendencia, no solo en las mujeres
prostitutas, en la pornografía y en la prostitución, sino sobre todas las mujeres que
mantienen relaciones sexuales con los hombres. El propósito del feminismo ha sido
determinar una sexualidad autodefinida por las mujeres, agradable y
respetuoso. La idea del placer que tienen las mujeres puede incluir una sensualidad que
abarca todo el cuerpo, pueden incluir afecto, incluso amor, como la base de una relación
sexual aunque pueden no incluir el intercambio sexual, o cualquier forma de servicios
directos al hombre que las mujeres no se sientan inclinadas a realizar. Quien sabe, pero
el sexo anal puede no estar en la lista contemplada por la imaginación de las mujeres.
Probablemente una sexualidad autodefinida por las mujeres estará basada sobre aquello que
a la mujer le proporciona su placer sin tener que representarlo ante el hombre. Sería
como llegar a una sexualidad basada en el respeto y no una igualdad en la degradación o
violencia, aunque fuese una sexualidad en la cual la igualdad y la reciprocidad fueran
igualmente para ambos. Una sexualidad autodefinida por la mujer no incluiría
probablemente el sentimiento de que la mujer debe permitir al hombre penetrarla o sino no
se le permitirá dormir, o el hombre estará de mal genio, o no le dará el dinero para la
casa o no dispondrá de dinero para alimentar a los hijos. Una mujer puede desear sexo
cuando por un impulso que le sobreviene, aunque puede siempre necesitar y querer un
cariño tierno que no precisa el sexo.
Realmente esto puede sonar algo raro o curioso. Pero es en gran parte debido a que los
últimos 20 años la industria del sexo ha establecido un concepto de qué es el sexo, en
completa oposición a lo que muchas mujeres han dicho que deseaban. A través de la
pornografía y otras formas de la prostitución los industriales del sexo han creado una
clase de sexualidad en la cual los hombres pagan para tener acceso a la mujer que
desesperadamente querría estar en cualquier parte que no fuera allí, y precisa de una
disociación psicológica para sobrevivir. El hombre es capaz de penetrar su boca, ano o
vagina con su pene, dedos o lengua y agarrar otras partes de su cuerpo aún sin
consentimiento. No concibe ni atiende la personalidad o el placer de la prostituta. Esto
es la pornografía del sexo y otras formas de prostitución.
Esto constituye también la clase de sexo que las mujeres encuentran más
dificultoso en su relación con los hombres. Aún así la industria del sexo por su
influencia en políticos y media, es capaz de vender esta explotación sexual comercial
como si real y verdaderamente se tratase de sexo. La industria del sexo es el más
poderoso educador sexual en las sociedades occidentales. Ninguna otra fuente de
información sexual puede competir con la finalidad y poder de los proxenetas como
educadores sexuales. Generaciones de hombres y jóvenes están siendo inducidos a esta
visión de lo que representa el sexo por la exaltación y el aliciente del orgasmo. Esto
está en oposición al gran esfuerzo de las mujeres que intentan ser valoradas por los
hombres por algo más que por el sexo, por el valor del afecto que no precisa de una
relación sexual y valorar debidamente el sexo, que no consiste en ser solamente un
agujero para la penetración por parte de los hombres, mientras las mujeres se abstraen
pensando en los problemas que surgirán al día siguiente en el trabajo. La industria del
sexo ha determinado el uso de la mujer por parte de los hombres como un objeto con
orificios para alojar penes y dedos mientras la mujer mentalmente se disocia para
sobrevivir emocionalmente al sexo. ¿Puede haber algo más confuso que esto? ¿Para quién
es este sexo? ¿Cuales son sus implicaciones?
Una implicación es que los hombres y los jóvenes requieren de las mujeres y las jóvenes
para que les exciten, una actuación acorde con las fantasías que han aprendido con la
prostitución. Las mujeres deben adoptar determinadas posturas, vestir y adornarse con
extraños objetos de carácter fetichista, y someterse a determinadas prácticas que,
probablemente odien, para obtener la aprobación de los hombres. Como resultado están las
noticias de los periódicos que relatan la felación colectiva que deben efectuar las
jóvenes quinceañeras en determinadas fiestas, como norma habitual. Cada vez más mis
jóvenes estudiantes femeninas me cuentan que el sexo anal se ha convertido en una
práctica que se espera realizar en cualquier relación sexual. Las prácticas de la
pornografía y la prostitución han formado a los hombres y los jóvenes mientras que
raramente alcanzan y convencen a las jóvenes y a las mujeres.
Las mujeres carecen de recursos o de una industria que les permita reflejar que desean del
sexo, fuera de la burbuja tumultuosa creada por la industria del sexo. Nosotras carecemos
de voz, a menos que aceptemos hablar incluidas en la voz de la industria del sexo, para
expresar cuanto amamos el sexo que esta industria vende. Una sexualidad más allá de la
industria del sexo sería algo muy distinto, algo que cada vez cuesta más imaginar, en
tanto que la industria del sexo maneja por completo cuanto se relaciona con el sexo y se
presenta como un educador sexual. Una sexualidad más allá de la
prostitución sería una sexualidad igualitaria en la que mujeres y hombres, mujeres y
mujeres, hombres y hombres, encuentran placer en el otro en total igualdad de amigos y
compañeros.
Creación de una situación ajena a la aceptación de la prostitución
En tanto que la industria de la prostitución se extiende y su influencia es cada vez
mayor en muy diversos aspectos de la vida, se hace muy difícil imaginar que un concepto
nuevo favorable a la condición igualitaria de las mujeres podría tener lugar con una
cierta probabilidad de éxito. En tal contexto las mujeres intimarían con los hombres
para su propio placer, no por el precio de una cama para la noche o de drogas. En este
nuevo contexto los hombres y los jóvenes aprenderían que pueden estar en igualdad con
las mujeres y que la relación con las mujeres debe estar basada en la dignidad y respeto
mutuos, tanto en el trabajo, como en la familia y la amistad. En aquellas sociedades donde
la Aceptación de la prostitución aún no ha sido establecida, por la legalización y
despenalización de las casas de prostitución es de la mayor importancia rechazar todo lo
que la prostitución comporta para la mujer. En tales sociedades es más que posible
imaginar y soñar con un mundo libre para las mujeres y trabajar en su creación.
www.regeringen.se/content/1/c6/02/26/85/4758aca1.pdf
ANEXO II
SOBRE LOS CLIENTES DEL SEXO
Maria Jacobson
Sven-Axel Månsson es Profesor de Trabajo Social en la Universidad de Gotemburgo, Suecia.
Durante la primavera de 2002 apareció casi todas las semanas en la prensa sueca, en la que, con la paciencia propia de un didacta ha defendido una ley sueca que pretende incidir sobre el comercio sexual criminalizando al consumidor. Ha trabajado en esta ley durante unos 20 años.
Ha estado en el cuerpo legal del Código los últimos tres años, aunque fue contestada
tanto antes como después de su introducción, en Suecia e internacional-mente. No
obstante, dos años después de su introducción en el cuerpo legal, el 80% de los suecos
se manifiestan satisfechos con la ley.
Sin embargo hoy en día muchos empiezan a cuestionar si es correcto el límite a la que,
hoy en día, ha sido llevada. Las investigaciones sobre el sistema legal llevadas a cabo,
han puesto de manifiesto que en la actualidad los guardianes de la ley, la policía,
actúan más protegiendo a quienes compran sexo de lo que trabajan para que se cumpla esta
ley.
Sven-Axel Månsson expresó al aceptar ser entrevistado, sin mayor preparación, por la
revista NIKK, que: Las características inherentes al hombre juegan un papel muy
importante en esta situación creada. La policía, una institución dominada por los
hombres, a la que se solicita el cumplimiento de una ley que amenaza lo que se considera
como valores tradicionales del hombre. Su capacidad para cumplir con este objetivo está
en claro compromiso con el hecho de que el policía siempre se encontrará más
identificado con los compradores de sexo que con los vendedores.
A la mañana siguiente a mi entrevista con Sven-Axel Månsson cuando me dirigía a mi
trabajo me encontré con anuncios hechos a mano y pegados a las luces de tráfico de la
calle principal que tengo que tomar para ir a mi trabajo: ¡STRIPTEASE! Llame al 1234 56
78 90, podía leerse. Los carteles estaban de cara al tráfico. Un profesional del sexo,
típico de nuestros días, había descubierto el posible mercado de los conductores
atrapados en un atasco y había pensado: ¿porqué no facilitarles una llamada telefónica
a un espectáculo de striptease mientras aguardan el cambio de luces del
semáforo?
En todos los frentes
El turismo sexual, el tráfico, pornografía, prostitución, sexo por Internet, el sexo en
general el mundo parece haber entrado en una espiral del sexo. Månsson, el sueco
emblemático de investigación sobre género, violencia, sexualidad y prostitución ha
usado el concepto de invasión: estamos invadidos por una sexualidad falocentricamente
putificada de carácter conservador.
Década de 1970: Black business
Sven-Axel Månsson ha estudiado la prostitución desde mediados de los setenta. Todo
empezó con una investigación en los clubes nocturnos de Malmö para las autoridades
sociales de la ciudad, que llevó a cabo junto con su colega Stig Larsson. El resultado
fue Black Business (Negocios Sucios), un informe que indicaba que la industria del sexo se
había convertido en un problema social de importancia. El informe alertaba y
responsa-bilizaba sobre el papel del estado de bienestar sueco a este
respecto, que hasta el momento había considerado la prostitución como un problema de la
Ley y el orden social y por consiguiente totalmente apropiado para ser combatido
por la Policía - y las prostitutas como personajes descarrilados, despojos sociales.
El informe condujo a un proyecto a cuatro años vista sobre la prostitución en Malmö,
donde Sven-Axel Månsson era simultáneamente investigador y trabajador social. Su
finalidad persuadir a las prostitutas para que abandonasen sus actividades. En 1977
Månsson fue invitado a integrarse en el Comité encargado, por primera vez en Suecia, de
la investigación sobre la prostitución. Entre otros expertos del Comité se encontraba
la psicóloga Hanna Olsson, que más tarde escribió Catrine och rättvisan
(Catrine y la justicia), un estudio de un proceso legal sobre un caso criminal relacionado
con el asesinato y desmembración de una prostituta.
La susodicha investigación causó una autentica conmoción. Analizaba la
prostitución desde un nuevo punto de vista: por una parte se contemplaba como un reflejo
de las relaciones habituales entre hombres y mujeres de la sociedad, como un todo; por
otra se resaltaba el papel y la responsabilidad de los hombres en la industria del sexo.
La Presidencia del Comité, un político del ala conservadora, no estuvo de acuerdo con
los expertos a propósito de esta opinión. Todos los miembros que llevaron a cabo la
investigación, excepto uno, fueron despedidos. Apoyados por asociaciones feministas y de
mujeres, publicaron como consecuencia Prostitution. Description. Análisis.
Suggested Actions (Prostitución. Descripción. Análisis. Acciones recomendadas)
que apareció simultáneamente con el informe oficial de la investigación en 1981. Ese
mismo año publicó su tesis doctoral The Promoters and Profiteers of the Sex Trade:
on the Relation between Pimp and Prostitute.
1984: Centrandose en los hombres
Igualmente Månsson había estudiado a los vendedores. Su siguiente libro
publicado en 1984, volcaba su atención sobre los hombres y se llamó Faceless sexuality.
The buyers of sex. Desde entonces ha estudiado este tema en varios libros y ensayos, el
más reciente de ellos, publicado en 2001, lleva por título Men´s practices in
prostitution: The case of Sweden. En dos ocasiones Sven-Axel Månsson volvió a trabajar
en el proyecto relacionado con las prostitutas de Malmö, recientemente en la obra The Way
Out: on Women leaving Prostitution, escrita conjuntamente con Ulla-Karin Hedin en 1998.
Entre sus tópicos de investigación se encuentran: el tráfico, la violencia contra las
mujeres, el SIDA/HIV y la homosexualidad.
Cuando se recomendó, después de la segunda investigación sueca sobre la prostitución,
que tanto los usuarios como las prostitutas deberían ser perseguidos, Månsson dimitió
como protesta.
Los hombres que tienen problemas en sus relaciones con las mujeres, los resuelven
comprando sexo. Por consiguiente, la prostitución es un problema masculino. Debe
considerarse un error total el castigar a las mujeres, fueron sus argumentos.
La actual ley que estipula sobre los servicios sexuales entró en vigor 1999 y penaliza a
los hombres que compran sexo.
Ley profeminista contra la violencia
Esta es una legislación profeminista contra la violencia, que protege a las mujeres
por ser más vulnerables. La ley es también un intento de forzar a los hombres a que
dejen de contemplar el sexo con las mujeres y el cuerpo de las mujeres como un privilegio
del hombre un punto de vista que muchos hombres no han abandonado y que aun
mantienen. La aceptación tácita, de este hecho, entre la gran masa de los hombres es un
problema mayor que el antifeminismo individual.
La prostitución es una relación y situación específica que se encuadra dentro de
la relación general entre los sexos o géneros dice Månsson. Sin tener en
consideración las variaciones experimentadas con el paso del tiempo en diferentes
culturas, en lo referente a la dominación y la subordinación, en todas ellas se
encuentra aceptada la expresión del dominio y la sumisión, en todas se encuentra el
hecho del dominio del hombre sobre el cuerpo de la mujer. En nuestra sociedad se
manifiesta entre otras cosas por la criminalidad de la violación y otras manifestaciones
de la violencia, la pornografía y el negocio del sexo.
La ley al respecto en Suecia puede parecer provocativa, en tanto que es un desafío a la
impunidad y falta de responsabilidad del hombre y, al mismo tiempo, discute el
posicionamiento de la masculinidad del hombre como mantenedor de la especie.
Como se expuso al principio de este articulo, esta ley ha sido objeto de un vivo debate
tanto antes como después de su promulgación. Una encuesta de opinión celebrada en
Suecia a principio del 2001, mostraba que el 80% de los suecos estaban de acuerdo con su
contenido.
Durante 1999 la prostitución callejera disminuyó a la mitad, aunque el comercio en sí
no pudo disminuirse. De hecho se desplazó a pisos, burdeles, hoteles y casas de masajes,
una realidad incuestionable que puede argüir contra la ley demostrando que en realidad
fue un fiasco. Recientemente, sin embargo, se han considerado ciertas sugestiones que
interpretan que la disminución de la industria del sexo en las calles, puede ser
considerada no como un fallo de la ley sino, más bien, como un fallo del sistema
legal. Los periodistas suelen preguntar frecuentemente hasta que punto se aplica la ley,
más que cuestionar la ley en sí misma.
El segundo periódico de Suecia, Göteborgs-Posten (El Correo de Gotenburgo), publicó
recientemente una serie de artículos, en los que incidía, que tanto la policía como los
tribunales imponen a los compradores de sexo, penas de menor envergadura que a
otros criminales. Desde que la ley entró en vigor hace 33 meses, 249 hombres fueron
acusados de comprar sexo a cambio de dinero, en su mayor parte en la calle, 26 confesaron
y fueron multados sin pasar por un tribunal. 33 fueron condenados a pagar una multa por un
tribunal.
Comprensión e identificación con los compradores de sexo
La policía se esfuerza en erradicar la prostitución callejera. Es dudoso, sin
embargo, que esto sea la acción más apropiada. La ley que contempla la compra de sexo es
parte de un extenso grupo de leyes a propósito de la violencia ejercida contra las
mujeres, la legislación denominada kvinnofrid [1]. El sistema legal precisa coordinar las
acciones que propenden combatir todas las formas de violencia contra la mujer. Aunque,
además, deba verificarse un cambio de actitud en el ámbito masculino.
También es un hecho revelador que si así lo solicitaban, los hombres, la correspondencia
del tribunal de justicia no se remitía a su casa, las autoridades hacían una excepción
en lo habitual, considerando si el hombre estaba casado o cohabitaba y tenía hijos.
Contemplo este hecho como un acto de corporativismo masculino: la policía es una
fuerza formada por hombres, de carácter masculino y ambiente conservador. Es evidente que
jamás la policía expresará su convicción de que el comercio sexual no es un acto
ilegal por lo que de alguna forma protegen a aquellos hombres que compran sexo.
Considero que en cierto aspecto se identifican, como hombres, con quienes lo hacen.
Pocos días después de mi encuentro con Sven-Axel Månsson tuve la oportunidad de
escucharle de nuevo, esta vez en la radio. Comentaba un posible caso de proxenetismo a
través de anuncios aparecidos en diversas revistas pornográficas, y que aún habiendo
sido denunciado por un periodista la policía se había inhibido por completo sin
investigarlo ni por supuesto descubrirlo. Como una reacción a la denuncia, la policía de
Estocolmo anunció de inmediato, que había destinado quince policías a investigar a
tiempo completo, el susodicho caso de tráfico sexual.
La legalización refuerza el estigma
Desde un punto de vista internacional la nueva ley ha causado, simultáneamente,
escepticismo y curiosidad. El lobby favorable a la legalización de la
prostitución es francamente influyente dentro de la EU. Tanto los Países Bajos como
Alemania equiparan la prostitución con cualquier otra actividad comercial. Una
consecuencia absurda de este hecho puede ser, por ejemplo, el que personas en paro sean
encaminadas a esta profesión, de la misma manera que lo son a otra clase
actividades.
Uno de los argumentos utilizados en pro de la legalización de la prostitución es
el considerar que el reconocimiento social de la prostitución liberaría a las
prostitutas del estigma y la vergüenza que llevan aparejadas el trabajo que realizan.
Quienes así argumentan no tienen en consideración el hecho evidente que significa el ser
usado por otro para satisfacer su sexualidad, el ser penetrado continuamente y considerado
como un objeto del sexo deshumanizado.
Personalmente considero que la legalización contribuye a incrementar este estigma,
dado que el cuerpo de la mujer deberá ser explotado con mayor intensidad al encontrarse
en un mercado legal; la competencia será tan intensa como lo es en cualquier otro mercado
legítimo, donde tener éxito significa hacerse notar, ofreciendo lo más atrevido y lo
más original en cuanto al producto se refiere. El concepto prostituta/Madonna, lo que
lleva implícito el considerar la sexualidad femenina como buena y mala a la vez
resultará reforzado. El estigma que sufre una prostituta se convertirá en una
herramienta comercial legalizada.
La comercialización del sexo da como resultado la acentuación de diversos conflictos:
así los existentes entre libertad y supresión, entre tradicionalismo e igualdad, entre
pobreza y bienestar, entre humanidad y explotación. ¿Deben considerarse los cuerpos de
las mujeres y los menores como mercancías negociables? ¿Los cuerpos de qué mujeres y
menores son objeto de la trata? La ONU, la EU, las organizaciones de derechos humanos, las
directivas y la legislación al respecto deben enfrentarse con una industria de enormes
proporciones.
De acuerdo con un estudio llevado a cabo por la compañía Datamonitar, se
vendieron a través de Internet productos relacionados con el sexo por un valor de 10
millardos de coronas Suecas, en el año 1999. Los empresarios de productos relacionados
con el sexo están considerados como cualesquiera otros industriales por la comunidad de
negocios mundial. Un ejemplo bien conocido es el del productor de pornografía sueco,
Berth Milton, cuyo Private Media Group es una de las mayores compañías
europeas en este campo e incluso cotiza en el Nasdaq stock exchange.
La industria del sexo no solo usa la tecnología que proporciona Internet, sino que
contribuye a mejorar su desarrollo. Por ejemplo, los fabricantes y en general los
relacionados con el sexo, fueron pioneros cuando se desarrolló el sistema de compra
on-line con tarjetas de crédito. La tecnología que mantiene a los navegantes
en la misma dirección de web, fue desarrollada por los productores de
páginas web pornográficas.
La sexualidad de carácter conservador y toda la gama posible dentro de la industria
del sexo, donde la sexualidad masculina es tenida como una constante, está magnificada
por la cultura popular y la media. Las mujeres, más que nunca lo han sido, son
presentadas como objetos y los beneficios de la prostitución son continuamente
ensalzados.
La subordinación de la mujer adquiere un carácter sexual, como lo es la
dominación masculina. Es un ejemplo clásico de cómo se pueden politizar y generalizar
aspectos privados de la vida. La relación sexual es presentada a menudo como una
expresión de camaradería e igualdad, tanto en lo que se refiere a la pornografía como
en la cultura popular. Dada la posición de dominio social que poseen los hombres pueden
incluso comprarse la pasividad sexual de una prostituta a la que se solicitará que haga
el papel de dominadora.
Las mujeres en el mercado del sexo se encuentran estereotipadas a menudo con tintes
racistas, salvajes, indómitas. Las mujeres africanas son un ejemplo de
degradación, tratadas como animales, mientras que se las considera humildes. Las mujeres
asiáticas destinadas a estimular las fantasías de los clientes.
¿Porqué los hombres compran sexo?
Los hombres, por otra parte, aparecen como un grupo más anónimo. Sven-Axel Mansos ha
entrevistado a numerosos hombres, identificando algunas de las razones por las que compran
sexo, lo que le lleva a clasificarlos en diversas categorías:
Aquellos hombres que viven una relación estable y buscan algo distinto
Consideran que su relación no funciona y que su vida sexual no es satisfactoria. La
compra de sexo les proporciona una diversión sin necesidad de contrapartida. Este grupo
incluye también aquellos hombres que pretenden obtener deseos y fantasías sexuales que
no pueden, o no se atreven, a solicitar de sus parejas. Las fantasías que evoca la
prostitución parecen superar la relación con una prostituta. Esa relación está siempre
disponible para la satisfacción del hombre. Esa idea es a la vez atractiva y repulsiva,
lo que incrementa la excitación y la curiosidad en los hombres.
Aquellos hombres que experimentan problemas en su relación con las mujeres
son los que no pueden conseguir una relación con la mujer de otra forma
Las razones básicas que hacen fallar las relaciones de estos hombres pueden ser la
timidez, miedo, edad madura, disfunciones físicas o mentales. Expresan su deseo,
fundamental de relacionarse con una mujer que no tiene porque ser una prostituta. La
prostituta se convierte en algo fácil de obtener y la compra del sexo responde más a una
expresión de soledad y problemas de relación que un deseo o apetito sexual. También
puede encontrarse detrás de esta actitud un deseo de dominio y venganza contra las
mujeres en general. Resumiendo es una falta de personalidad y miedo, y muy probablemente
falta de claridad de ideas, más que deseo y sexualidad. Los hombres pueden considerar que
las mujeres modernas poseen grandes expectativas fuera de toda realidad respecto a ellos y
sus actitudes, cuando en realidad siguen aferrados a ciertos criterios e ideales
tradicionales propios del hombre.
Aquellos hombres que abusan sexualmente, pues algunos de sus sentimientos y
comportamientos se expresan a través de la sexualidad
Otras clases de comportamientos han sido formuladas, entre otras, por los sociólogos
noruegos Prieur y Taksdal:
Perdedores hombres convencionales que se encuentran frustrados por el
hecho de que las relaciones convencionales entre hombres y mujeres están cambiando y se
aferran al modelo tradicional de dominación y subordinación
Fiddlers habitualmente hombres jóvenes incapaces de mantener una
relación estable y que contemplan el sexo como otra forma de consumo, una especie de
McSex sin mayor contenido. Su visión de la sexualidad está dominada por la pornografía
y la violencia.
¿Sexo en Internet porqué y cómo?
Para este último grupo Internet representa que el sexo es más fácilmente
asequible que lo era antes dice Sven-Axel Månsson. Hoy en día no es preciso
salir a la calle. Una persona sentada en casa o en la oficina, puede comprar sexo o
contemplar pornografía.
De acuerdo con una consulta hecha en un mes de 2001, uno de cada cinco hombres suecos
menores de 35 años, visitó una página web directamente relacionada con el sexo.
Sven-Axel Månsson junto a un equipo de investigación del Departamento de Social
Work de Gotemburgo, comenzó este año un proyecto relacionado con la existencia del
sexo en Internet buscando el porqué y el cómo, las causas por las que se produce.
El grupo trabaja en colaboración con dos investigadores norteamericanos y el estudio
obtenido se comparará con el correspondiente americano, que se encuentra finalizado. Se
investigará la relación entre la demanda y la oferta.
No es tan simple como considerar que la demanda es la parte de mayor peso. La
explotación de mujeres pobres lleva a una gran oferta y competición. Esto, a su vez,
incrementa el aumento de la indecencia y como consecuencia se ofrecen servicios más
sofisticados, donde entre otros medios se encuentra Internet. Es el mercado la fuerza
solicitadora y que marca la pauta. La demanda se conforma con el producto ofrecido, y no
al contrario, lo que va en contra de ciertas teorías de mercado tradicionales.
Internet es un buen ejemplo de cómo ha cambiado la logística de la industria del
sexo en la última mitad del siglo XX. El terreno abonado para el tráfico del sexo se
basa en la pobreza y la degradación de la mujer. Los viajes organizados, y últimamente
los viajes de negocios, han llevado al turismo sexual. Para muchas mujeres de países
pobres este ha sido su primer paso en su camino a los burdeles y el tráfico de sexo en
Europa, los EE.UU. y otros países.
El tráfico y los servicios ofrecidos en las casas
La separación o diferencia entre la oferta de servicios sexuales y los servicios propios
de las casas, es muy tenue dentro del tráfico internacional de mujeres. Sven-Axel
Månsson junto con un grupo de investigadores de India, Pakistán, Tailandia e Italia se
encuentran inmersos en un estudio adicional cuyo objetivo primordial es el tráfico o la
trata de mujeres.
La otra semana, contemplaba un programa de televisión que investigaba acerca de los
programas au pair. Trabajar como au pair comporta supuestamente un
intercambio y aprendizaje del idioma. El programa mostraba que la mayor parte de las
au pair en Suecia proceden de los países menos desarrollados de Europa
Oriental y trabajan para familias acomodadas en los barrios más elegantes de las grandes
ciudades. Habitualmente son molestadas sexualmente y forzadas a proporcionar servicios
sexuales. Este mercado del que Suecia forma parte, aunque pretendamos ignorarlo-
carece absolutamente de cualquier tipo de regulación.
¿Y qué hay de los carteles y anuncios de STRIPTEASE de los postes de las luces de
tráfico? Los arranqué en el camino de vuelta a casa.
Este artículo fue publicado originalmente en la revista NIKK 1-2002, Cuerpos a través de las fronteras prostitución y tráfico.
[1]
N. del T. Bajo este concepto se engloban, en Suecia, aquellas leyes o disposiciones que
procuran prevenir los malos tratos a la mujer.
www.regeringen.se/content/1/c6/02/26/85/4758aca1.pdf